Nos anos 90, políticos, empresários, governantes como que pediam audiência aos donos de jornais – e diretores de redação. No Painel da Folha, cada menção aos visitantes era quase uma honraria para eles. Ser recebido em almoço por Frias, um troféu.
Nos anos 80, as sucursais do Estadão no Rio de Janeiro – com Villas Boas Correia – e em Brasília – como Carlos Chagas – eram quase uma embaixada. Eles, mais Fernando Pedreira e Oliveiras Ferreira eram figuras referenciais para a política nacional. Quando o modelo Folha explodiu, a partir das diretas, Otávio Frias de Oliveira mantinha conversas de Estado com José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e o próprio Lula. Só não manteve com Fernando Collor devido à profunda ojeriza despertada em Frias por sua imagem arrogante.
Ao longo das décadas, vários jornalistas econômicos, de alguma forma influenciaram as políticas públicas. Conseguiam esse espaço mesmo tendo lado na disputa política e econômica, porque havia uma espécie de exercício do caráter, a capacidade de respeitar até os adversários políticos, criando expectativas de que argumentos racionais e legítimos poderiam comovê-los. Durante décadas, aliás, os editores de Economia do Estadão praticamente definiam as políticas do café.
Perdeu-se essa aura em algum momento da década de 2.000, quando a primeira divisão da imprensa embarcou na guerra cultural de Roberto Civita. A partir dali, não se respeitou mais nada, nem adversários, nem programas meritórios como a Bolsa Família, políticas de inclusão na Universidade, Luz Para Todos, Cisternas, programas que mudaram a face da miséria no país.
De lá para cá, pouca coisa mudou. Os colunistas de ódio foram afastados, as manchetes se tornaram mais moderadas, mas perdeu-se totalmente a dimensão política. E o maior exemplo é o estilo blogueiro adotado nos editoriais da Folha, como foi o caso do ataque a Fernando Haddad, em editorial, reduzindo a página de editoriais ao nível das verrinas do universo dos blogs.
Nem se trata da linha política e econômica da Folha, que há anos aboliu qualquer veleidade de diversidade. Aliás, a diversidade, para o jornal, é apenas uma forma de fortalecer as posições fechadas do jornal em torno de dogmas políticos e econômicos. Mas fiquemos por aí. Se é essa a intenção do jornal, qual a lógica de um editorialista mão pesada ofendendo gratuitamente atores de peso do jogo político gratuitamente? Incompetência editorial, apenas isso. Gasta munição como um cowboy bêbado de filme do faroeste, mirando os transeuntes na porta de bar. Quando precisar fazer uma crítica estratégica relevante, percebrá que gastou a munição em bobagens.
De fato, neste momento em que o mundo político procura ansiosamente caminhos para o tal pacto nacional contra Bolsonaro, se houvesse jornais com dimensão política, eles seriam os agentes principais desse jogo, trazendo as discussões, abrindo espaço para as partes mediando, enfim, um pacto tão ansiosamente aguardado quanto as vacinas.
Mas não adianta. Os jornais definitivamente perderam totalmente a dimensão política. Tornaram-se vítimas dos CEOs genérico de redação.
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É comovente a “boa vontade” do Nassif com essas maquinas de propaganda…
Aliás, só não é maior do que a do Haddad, e do próprio Lula. Será mesmo que acreditam que algum dia esses caras vão dizer “erramos, a lava jato foi injusta e o PT, PT, PT é, sim, um legítimo postulante ao poder”?
Eu lembro bem disso, das notinhas que saíam no final da coluna Painel, nos anos 80:
“Fulano de Tal foi recebido ontem em almoço nessa Folha…”
É um mundo morto esse, parece que estou falando da Revolução de 30.