Hoje vi o filme Coringa. Confesso que fiquei com pena do ator Joaquin Phoenix. Ele vai ter que rebolar muito para sair do personagem em que mergulhou de maneira tão profunda. A atuação dele é simplesmente fantástica, muito acima da média.
O roteiro do filme também foi muito bem articulado. A narrativa oscila entre aquilo que leva necessariamente a um fim previsível – todo muito já conhece o Coringa – e o caminho tortuoso e, de certa maneira, imprevisível que o pagliacci socialmente e mentalmente vulnerável segue até assumir sua nova personae.
O Coringa interpretado por Joaquin Poenix é especialmente verossímil porque emerge como produto doente de uma sociedade adoecida. Ele é o lixo social que se torna “mais do que humano”, um verdadeiro anti super-homem nietzschiano. Isso ocorre quando o palhaço desempregado, humilhado e agredido finalmente resolve vomitar todo o veneno que engoliu por causa de suas relações toxicas, superficiais, violentas.
O desprezo estatal e a segregação econômica promovidas pelo neoliberalismo são visíveis nesse bom filme. Sem eles não existe um cenário urbano/social capaz de gerar e parir um Coringa.
Em 1966, quando Cesar Romero interpretava o Coringa, Batman era um programa infantil de TV. Nos anos 1990 ele se tornou um protagonista de cinema para adultos. Nos anos 2000 as adaptações cinematográficas das Histórias em Quadrinhos se tornaram o que há de mais representativo da dramaturgia norte-americana. O novo Coringa é um marco dessa tendencia de aprofundamento e aperfeiçoamento dramático de personagens originalmente caricatos e superficiais.
Prepare-se. Em alguns dos seus melhores momentos esse filme causa uma certa repugnância catártica. Depois dela, vem uma profunda empatia pelo que existe de humano em todas as vitimas esquecidas e invisíveis do mundo em que vivemos. Imperdível e vale cada centavo do ingresso.
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