Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Crise política: entre a farsa e a tragédia, por Aldo Fornazieri

Crise política: entre a farsa e a tragédia, por Aldo Fornazieri

A crise política brasileira – fica a cada dia mais evidente – é uma grande farsa. Todos os principais atores não são o querem parecer ser. Intensões reveladas, interesses, fatos, movimentos desnudam a incompetência de uns e o engodo, o embuste e a trapaça de outros. Dima Rousseff está investida com a magistratura de presidente, mas não governa. O mais alto cargo político do país e exercido por alguém que tem aversão à atividade política.

Mas de tudo isto que está aí, Dilma é o mal menor. É verdade que se ela governasse, adotasse as decisões corretas e exercesse a função política de presidente, a crise já poderia ter arrefecido. Seja pela sua teimosia, seja pela sua sinceridade, Dilma isolou-se do próprio PT. Ambos, Dilma e PT, isolados na sociedade entregaram mais poder ao PMDB depois de torpedearem esse aliado incômodo, mas que é vital para salvar o próprio governo. A reforma ministerial, contudo, vem se revelando um arranjo desarranjado na sua origem. O PMDB ganhou poder, mas não garante a estabilidade política.

Se a crise econômica é real, a crise política veio sendo construída e agravada artificialmente por atores que só pensam no poder pelo poder, sem nenhum apreço pelo interesse público. São corruptos que, em nome da moralidade, querem o impeachment. Aécio Neves e o PSDB, junto com o resto da oposição, elegeram e deram sustentação a Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados. A oposição e muitos dos que protestaram nas ruas viram em Eduardo Cunha o justiceiro, o paladino da moralidade, o homem que varreria a corrupção do Brasil com o processo do impeachment. Preservado pela mídia, Cunha, mesmo com todas as evidências de suas ilicitudes, é visto como um político esperto, astuto, porque ele tem a condição de vigar os derrotados, de fazer descer a guilhotina sobre o pescoço do inimigo. Como podem Aécio e a oposição imaginar que a farsa que representam não é percebida pelos indivíduos sensatos que ainda restam neste país?

Aécio Neves e Eduardo Cunha estão associados formal ou informalmente a Augusto Nardes e a Gilmar Mendes. Nardes, sobre quem recaem suspeitas de malfeitos, violou as normas do TCU e se pôs a fazer campanha em várias mídias e em diferentes ambientes pela recusa das contas do governo. Setores da sociedade e da mídia querem transformar o parecer do TCU num substituto da vontade popular. Se as pedaladas são condenáveis, o fato é que foram praticadas por Lula e por FHC e eram toleradas pelo TCU. O que este Tribunal deveria ter requerido era um ajuste de conduta, para que daqui por diante as pedaladas não fossem mais praticadas.

Querer arrancar o impeachment a partir do parecer do TCU, no qual existem vários togados tisnados por denúncias de corrupção, significa, mais uma vez, transformar corrupção em juíza da moralidade. Não se pode dar a este TCU a seriedade que ele não tem. Como bem definiu Joaquim Barboza, ele não passa de um playground de políticos fracassados. Os tribunais merecem respeito se forem isentos, integrados por magistrados sérios e honestos.

Gilmar Mendes, de juiz do STF, transformou-se num sedicioso político. Milita em favor da desestabilização institucional do país. Vaticina sentenças e acusações ao arrepio de qualquer prudência – virtude maior de quem julga. Conseguiu transformar o TSE em bunker da conspiração. Depois de aprovar as contas de campanha de Dilma e Temer, o TSE, sem medir as consequências agravadoras da crise por seu ato, abre uma investigação sobre as mesmas, ampliando o campo das incertezas.

Da Farsa às Tragédias

A crise política, como farsa fabricada e remodelada a cada semana ao sabor dos acontecimentos, não deixa de produzir consequências graves, pois ela se conecta com a crise econômica, que é real. As incertezas políticas, as pautas-bomba, a falta de apoio para aprovar o ajuste fiscal, a irresponsabilidade fiscal da oposição ao aprovar o fim do fator previdenciário contribuíram com a perda do grau de investimento, estão elevando o endividamento das empresas, criam resistências à queda da inflação e geram desemprego.

Dilma pode e deve ser criticada pelos seus vários erros. Mas ela não é corrupta e isto é reconhecido até por líderes da oposição, como Fernando Henrique Cardoso. Provocar o impeachment só porque ela não é popular e porque há uma crise ou várias crises abrirá um grave e perigoso precedente para o futuro da estabilidade democrática. Além do mais, tal impeachment seria claramente um golpe. A farsa da atual crise política chegaria ao seu paroxismo se o ativismo irresponsável de tribunais, associado a políticos corruptos, se erigissem em juízes imorais da moralidade.

A crise econômica cobra soluções urgentes e por isto a crise política precisa ter um fim. Políticos e juízes precisam respeitar o resultado das urnas. O combate à corrupção deve continuar com o trabalho do Ministério Público, da Justiça e da Polícia Federal. Os políticos – tanto os governistas quanto os de oposição – precisam trabalhar com responsabilidade para que o próximo presidente encontre um país minimamente arrumado para que o desenvolvimento econômico e social possa ser retomado.

A corrupção é a verdadeira tragédia desse país. Ela naturalizou a farsa e o embuste. Transforma políticos corruptos em pessoas honoráveis, desde que estejam a serviço dos interesses de poder de determinados grupos. A corrupção deslegitimou os partidos e as instituições e sequer os políticos se preocupam com esta situação. Ela semeou a desesperança. Desengana a juventude e ceifa o seu futuro.

A corrupção é trágica porque impede que se enfrentem as tragédias dos 50 mil assassinatos por ano, dos mais de 50 mil mortos no trânsito. A corrupção, sempre associada à incompetência, degrada o ensino, leva a saúde pública à falência, sonega o transporte de qualidade e gera desemprego.

A corrupção é trágica porque vilaniza os espíritos e bloqueia as potências da sociedade e do país. A maior parte dos partidos e dos políticos que estão aí só vê no poder uma forma de enriquecer, de favorecer financiadores e grupos privados. Têm as milionárias despesas pessoais bancadas pelo dinheiro da corrupção. Contas em paraísos fiscais são abastecidas com dinheiro que deveria ser investido em creches, em postos de saúde.

Os partidos fortalecem-se sem raízes sociais e populares, mas com os favores e com o clientelismo político. Os seus conflitos estão dissociados dos conflitos reais da sociedade e o povo é tiranizado com carecimentos crescentes e com tributos injustos, que favorecem a concentração de riqueza.

Os partidos e os políticos, em sua demagogia, manipulam a linguagem, fingindo representar quem já não representam, fingindo ser quem não são, fingindo uma honestidade que não têm e se arvoram uma sabedoria superior que mal disfarça a arrogância dos medíocres. A falta de humildade e de simplicidade é o corolário da ausência de virtudes que transforma a política numa farsa permanente e permanentemente produtora de tragédias.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

14 Comentários

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  1.  
    Um contragolpe aos

     

    Um contragolpe aos “taradinhos do impeachment”!E desferido por um grande empresário!”Toma”, golpistas canalhas de meia tigela IMUNDA!RisosÔ! $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ Com CPMF, em 2016 já estaremos recuperados, diz empresário THAIS BILENKYDE NOVA YORK 12/10/2015 02h00 Empresário e membro do conselho de administração da Klabin —uma das grandes produtoras e exportadoras de papel do país—, Israel Klabin, 89, critica a presidente Dilma Rousseff por uma visão “imediatista” e “centralizadora”, mas aposta em uma recuperação econômica mais rápida do que o esperado.A condição para isso, afirma, é que o Congresso aprove a recriação da CPMF em caráter provisório. Nesse sentido, o empresário considera urgente a aprovação pelos parlamentares do ajuste fiscal proposto pelo governo.”O verdadeiro problema está nas mãos do Congresso, que olha antes para os interesses corporativos”, critica.Klabin conversou com a Folha, na terça-feira (6), em Nova York, durante premiação do centro de estudos e políticas públicas Woodrow Wilson.(…) FONTE, pasme: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1692959-com-cpmf-em-2016-ja-estaremos-recuperados-diz-empresario.shtml

  2. Com um golpe só.

    Os partidos e os políticos, em sua demagogia, manipulam a linguagem, fingindo representar quem já não representam, fingindo ser quem não são, fingindo uma honestidade que não têm e se arvoram uma sabedoria superior que mal disfarça a arrogância dos medíocres. A falta de humildade e de simplicidade é o corolário da ausência de virtudes que transforma a política numa farsa permanente e permanentemente produtora de tragédias.

     

    …é o corolário da ausência de virtudes que transforma a política numa farsa permanente e permanentemente produtora de tragédias.

     

    Em outras palavras, o descaso e a certeza da impunidade, torna o criminoso descoberto, flagrantemente imputado, um debochado. Debocham descaradamente da sociedade e alardeiam isto publicamente com a cara mais deslavada. 

    Com um golpe só a sociedade poderia se livrar deste cancer que vitima o Brasil. Leis duras e eficientes que em primeira instancia e sem direito a apelação, obrigaria o criminoso a restituir o roubado imediatamente.

    Enquanto o criminoso ficar algum tempinho com a liberdade pessoal limitada e com todo o patrimonio desviado, nada muda e o deboche continua sendo a resposta da corrupção.

    A prefeita ostentação ta ai com toda sua graça feminil apenas esperando passar o contratempo de ter sido descoberta afim de usufrir do amealhado durante sua passagem pela prefeitura.

    1. DEvolva o que é meu

      A  IMPUNIDADE  NA  JUSTIÇA  BRASILEIRA

      Mais uma prova cabal que a justiça brasileira é vergonhosa, incompetente e injusta é o caso recente da prisão do jornalista Pimenta Neves, depois de 11 anos de tramitação no poder judiciário, tendo passado por todas as instâncias possíveis. O caso foi sendo protelado, protelado, protelado… até as últimas conseqüências, é claro, usando as brechas da lei, tudo legal. O réu mesmo confessando o crime só foi preso agora, depois de 11 anos.

      É incrível. Como se diz nas ruas, “ladrão de galinha vai para a cadeia, mas rico fica solto.” Ou seja, no Brasil, a lei foi feita para os pobres, as cadeias e os presídios estão superlotados de pessoas de origem humilde, negros, pardos e das camadas mais pobres da população. Pobre não tem dinheiro para pagar advogado bom, não tem dinheiro para se defender; então acaba na cadeia e, muitas vezes por crimes leves como roubar uma pasta de dentes no supermercado. Já o rico, mesmo cometendo os crimes mais hediondos e até confessando o crime para a polícia, não vai para cadeia, fica solto esperando julgamento; com dinheiro ele vai recorrendo, de uma instância para outra, para mais outra, até chegar à última instância. Aí, já se passaram anos e anos, décadas e décadas; e às vezes é absolvido (por fôrça dos argumentos da defesa) ou é solto por falta de provas ou continua solto por prescrição da pena.

       

       

       

       

       

  3. Nunca se toca no ponto: falta de lideranças políticas

    – Por que Dilma foi levada a candidata pela mão mais forte das esquerdas, no caso, do maior partido, PT ?

    – Até o mundo mineral (plagio Mino Carta), pelo menos os mais próximos, sabia que ela não teria gosto pelo Executivo.

    (Isso me lembra muito o caso Recife: o 2 vezes prefeito lançando um seu secretário pra poder continuar mandando. Os louros ficariam com ele, e os ônus, os desgastes… as previsíveis dificuldades

    1. A FALTA PROPOSITAL DE LIDERANÇAS NO MESMO CAMPO

      Lideranças sindicais cortam asas de possíveis concorrentes NO MESMO CAMPO, perpetuam-se no poder (ou seus prepostos, dá na mesma). Eis a falta proposital de lideranças. Amostras deve haver Brasil afora. Os caciques. As raposas. A velha política coincidente com as de Sarneys, etc etc. Um amigo, brilhante advogado trabalhista falecido e anunciado pelo GGN, quando era do Banco do Brasil e ativista (de asas cortadas) se referiu ao “coronelismo sindical” dos sindicalistas bancários de São Paulo. Claro, hoje está tudo tão mudado… Na política partidária também, tá tudo tão mudado…

       

      1. Ah! (Recife, continuando, apesar de já ter opinado por aqui)

        o Secretário foi eleito, seu cabo eleitoral 2 vezes prefeito, tinha muita força. No meio do caminho do mandato se desentenderam (nem vou citar as versões, nem a principal e mais plausível delas, porque não posso provar, mas a lama veio a público). Para reeleição, o novo prefeito (o ex-secretário) sofreu (justa ou injusta, não entro no mérito) todo o tipo de boicote e campanha contrária, a partir mesmo de seu pai ou padrasto.

        1. Ruim com eles, Pior sem eles – e Viva o realismo,e o pragmatismo

          Nessas ocasiões,não poderia faltar emissário da Direção Nacional q veio a Recife e fez ainda mais estragos.(Uma OBS:tenho desconfianças sobre a composição e as reuniões democráticas,as decisões idem,em instâncias partidárias e sindicais,e na Direção Nacional.Mas, “ruim com eles, pior sem eles” – diz um ditdo.Filme parecido já via no PCB. Stalinista?Só ele,né? Somos uma sociedade autoritária,claro q,daí,partidos autoritários,caciques,e massa e base facilmente cordatas,manipuláveis. Sem falar na vaidade humana.Ninguém toca nisso nessas longas análises?????…

          1. O GGN Portal/Blog cumpre seu papel

            necessário atingir uma camada de simpatizantes democratas, de centro, de centro esquerda, de esquerda (coisas tão relativas, claro). Mas, se tento ver limitações em mim próprio, fica mais cômodo e fácil enxergar limitaçõles no GGN/Portal/Posts do Dia. Algumas são de uma parcialidade espantosa (semana passada , elevada a título, um looooongo artigo em defesa do Charlie Hébdo. A visão da midia,k dos governantes europeus, do mundo levado a opinião única. Postei comentário em que também citava um blog com outra visão. Não existe o absoluto, a liberdade de imprensa absoluta.

          2. Flor de Ir Embora

            Ao contrário do post-título Brasilianas, que, se não me engano,  foi repetido e carregou consigo um post em que este Nickname elogiara, o título sobre o Charlie não carregou comentário dissonante (a bem da verdade, não carregou comentários concordantes. Gota d Água.). Flor de Ir Embora – ver no Multimídia do Dia.

  4. A crise não andou nem 1/3 do que têm pela frente

    Muita água por baixo da ponte ainda.

    Dilma, tenha calma, não se precipite, deixe que as situações amadureçam, não existe nada, nem ninguém no Brasil mais poderosa do que você.

    Têns a faca e o queijo na mão, por isto o desespero dos opositores, sabe que são liquidados como moscas na frente do detefom.

    Com calma, paciência e perseverança conseguirás o que parecia ser uma missão impossível.

    O ditado : Um pensamento concentrado e perseverante é capaz de conseguir coisas que pareciam impossíveis.

    Como por exemplo, diminuir as práticas nefastas na administração pública no trato do dinheiro do povo.

  5. EXCELENTE FRASE ALDO “DILMA É

    EXCELENTE FRASE ALDO “DILMA É O MAL MENOR”

    ELA SE ENCAIXA NO QUESITO HONESTIDADE

    REALMENTE ELA NÃO TÁ EM LISTA NENHUMA

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