DEM pra quem?, por Leonel Brizola Neto

Imagem via http://www.leonelbrizolaneto.com/camara/noticias/dem-pra-quem/?meuid_post=camara

Sugestão de Roberto Bitencourt da Silva

O vereador carioca Leonel Brizola Neto (PDT) publicou artigo em seu blog (1), em que questiona a possibilidade de fusão partidária entre o PDT e o DEM (2). Um eventual casamento que seria realmente esdrúxulo, ofensivo à memória da tradicão trabalhista brasileira e às históricas e ousadas lutas de Leonel Brizola. Seguem abaixo as ponderações do neto do ex-governador gaúcho e fluminense.

DEM pra quem? 

“A melhor recompensa, a sincera e justa homenagem a um homem de valor, é seguir o caminho traçado por este, respeitar-lhe a memória, defender a lógica dos seus atos, tornando assim, um espírito presente, à alma do povo.” (Luís da Câmara Cascudo)

Jean-Luc Godard, cineasta e crítico do imperialismo, dizia que devemos comemorar o desaniversário daquilo que nos seria mais caro. O desaniversário, ao contrário do que a primeira vista pode parecer, é a comemoração permanente, o reavivamento constante em nossa memória dos nossos heróis. Louvar diuturnamente os exemplos que valem a pena ser louvados, transpondo-os a nossa ação. Infelizmente os personagens mais importantes da história brasileira vivem de efemérides. Leonel de Moura Brizola não foge a regra. Ano passado, nos dez anos de seu desaparecimento, foi lembrado, cultuado, reverenciado, cortejado e, após o apagar das luzes dos fogos de artifícios, deixado de lado. Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, formam a jangada do trabalhismo. Quem quiser navegar por mares nacionalistas tem necessariamente que manobrar essa jangada.

Quando governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola percebeu que São Paulo se desenvolvia as custas do subdesenvolvimento de outras regiões, especificamente o Estado que governava. Com argúcia ampliou esse conceito e cunhou o termo perdas internacionais como a mola propulsora do imperialismo. Os países ricos exploram os países pobres. O desenvolvimento gera o subdesenvolvimento. No léxico brizolista entreguismo significa desfibramento, traição ao país, aliança com os interesses das multinacionais e canalhice. Nacionalismo ou entreguismo? De que lado se está? Essa é a pergunta seminal do brizolismo.

A grande dicotomia da política brasileira atualmente está no embate Lacerda versus Brizola. O legado brizolista trazendo no lombo a defesa das riquezas nacionais e o liberalismo lacerdista privatizante abaixando a cabeça ao capital internacional. Fazendo uma genealogia do lacerdismo moderno temos no seu início a UDN que se metamorfoseou em Arena que após a redemocratização se vestiu de PDS que depois virou PFL e, por fim, DEM. Um dos políticos mais controversos do país, para ser elegante, passou por todos esses partidos: Antônio Carlos Magalhães. Coronel na política baiana foi Governador, Ministro de José Sarney e Senador. ACM se notabilizou pela sua amizade com o grande magnata das comunicações Roberto Marinho, inclusive, quando Ministro das Comunicações deu força para a Globo comprar a NEC em troca da retransmissora da Globo na Bahia passar para suas mãos.

Em 1986, quando Brizola foi a única voz que se ergueu contra a farsa do Plano Cruzado, o Governo Sarney, ACM e Roberto Marinho montaram uma estratégia de propaganda que conseguiram fazer com que Moreira Franco vencesse as eleições para o Governo do Rio, tendo como sua linha auxiliar o global Gabeira que tirou votos do professor Darcy Ribeiro. Brizola foi acusado de ser contra a estabilização dos preços que trouxe a miragem da redução da inflação. Brizola estava certo e mais uma vez a verdade histórica saiu derrotada.

Se ACM descende de Lacerda e se o DEM descende do PFL, cujo o maior nome era ACM, como fundir DEM com o PDT sem rasgar o passado, as lutas, as tragédias pelas quais foi forjado o pensamento político mais belo do Brasil? O suicídio de Vargas, a encampação da ITT e Bond & Share, a Campanha da Legalidade, a Golpe de 64 que derrubou João Goulart, o espetacular direito de resposta de Brizola no Jornal Nacional foram em vão? É de uma irresponsabilidade inadjetivável essa brincadeira de mau gosto. Não dá para fundir Brizola e Lacerda. Não dá para criar a síntese dialética entre nacionalismo e entreguismo. Isso é tripudiar sobre a memória de Brizola. É nas entrelinhas dizer que toda a sua luta foi uma aventura sem importância. O que está por trás dessa movimentação? Quais os interesses que se escondem nessa ideia abominável? Barganha por cargos? Ocupação de fatia do poder para satisfazer vaidades?

A defesa do Brasil está acima de vantagens pessoais. Comemoremos o desaniversário de Brizola todos os dias levando adiante sua práxis política. O mínimo que se espera de quem está à frente do partido que Brizola construiu depois que lhe roubaram, sordidamente, a sigla do PTB é que respeite sua história.

Em tempo: o PDT só é pequeno para quem o faz pequeno.

Leonel Brizola Neto (PDT-RJ) é vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

(1) Consultar: http://www.leonelbrizolaneto.com/camara/noticias/dem-pra-quem/?meuid_post=camara 

(2) Consultar: http://www.bahianoticias.com.br/noticia/166542-dem-e-pdt-estudam-fusao-diz-coluna.html 

Redação

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Terno roto

    O terno do Brizola esta roto de tanta volta que deu no caixão.

    Oh coisa estranha fusão DEM – PDT! O Corvo e Getúlio no mesmo balaio!

  2. Como baiano, assino embaixo.

    Como baiano, assino embaixo. Já imaginou Brizola pedindo para esquecer o que ele fez? Ou ainda vê-lo de mãos dadas com o Maluf ou o Sarney?

    Não. Brizola foi feito de uma receita que parece ter deixado de forjar outros iguais.

     

  3. E quem pensa no país

    E quem pensa no país atualmente? Quem pensa está acuado por todos os lados, igualzinho em 1964. Os demais querem mesmo é o seu quinhão do país, mesmo que o entregue às potências estrangeiras. O golpe já se deu e não percebemos, só falta homologar.

  4. Que não se deixe que o Lupe e

    Que não se deixe que o Lupe e sua turma acabe com o PDT , vai ficar parecendo com o PMDB um partido que esta sempre mamando nas tetas isto desde o tempo da Ditadura .

     

    1. Vai ficar?

      Já é.

      Do pouco que ainda se salva no PDT temos o Brizola Neto.

      Olha essas pérolas do PDT no Senado: Perrela “Meia Tonelada”, aecista de carteirinha, dispensa apresentações, e Cristovam Buarque, que em 2010 depois do Serra perder pra Dilma ele foi a um jantar de apoio ao derrotado Serra. Tudo por casa de birrinha,ele brigou com Agnelo por causa da indicação do Secretário de Educação no DF, usou isso como desculpa pra brigar com o PT inteiro (que fez campanha pra eleger ele pro Senado) e até hoje detona a Dilma e declara amor ao Serra sempre que pode.

      Reguffe se elegeu senador aqui no DF falando mal do PT. E muito mal! É outro que sempre que pode ataca o PT com discurso-padrão da mídia. Virou o típico leitor da Veja…

      Pedro Taques no Senado era unha-e-carne com a turma do PSDB e o “mosqueteiro da ética” Demóstenes Torres. O maior doador do Taques em 2010 foi um empresário investigado na Operação Ararath, da PF, Fernando Mendonça. A filha dele trabalhou no gabinete do Taques no Senado.

      Nem vou falar do Lupi…

  5. Oposição: “não quero mais brincar disso!”…

    É o mesmo processo da Kátia Abreu, Kassab, Eduardo Paes… Chega uma hora que eles cansam de brincar de Oposição e querem virar Governo. Aí inventam um partido, pra escapar da infidelidade partidária.

    É isso que o ACM Neto está querendo: um partido novo pra sair do DEM, que ele já cansou dessa coisa de ser Opô, e depois vai chamar Dilma de “Mainha” alegremente…

  6. Paredão pro Lupi

    “Lembremos que Leonel Brizola metaforicamente queria espremer Fernando Henrique Cardoso no paredão. Imagina quem do PDT de hoje Brizola colocaria no paredón.” extraído do blog do vereador Leonel Brizola

  7. Virou quase uma legenda de aluguel!

    Fui PDTista desde o seu início. Mas faz tempo que deixei de ser. Não é mais o mesmo partido. Lamento que Neto não tenha conseguido manter a pureza dos seus princípios. Foi assaltado por oportunistas de vários matizes. Voto ainda em alguns poucos de sua legenda, mas cometi erros, como ter contribuído para eleger Miro Teixeira. Hoje o traíra (chaguista)está em outro partido.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador