Devemos ser indiferentes a Bolsonaro?, por Luis Leiria

Todos recordamos que fascismos dos anos 30 na Europa também foram eleitos sem que os outros governos europeus mostrassem grande incómodo. As consequências que essa indiferença provocou marcaram a História para sempre.

do Público.pt

Devemos ser indiferentes a Bolsonaro?

por Luis Leiria

A indiferença frente a Bolsonaro significa ignorar os pedidos de socorro que soam pelo Brasil. Todos recordamos que fascismos dos anos 30 na Europa também foram eleitos sem que os outros governos europeus mostrassem grande incómodo. As consequências que essa indiferença provocou marcaram a História para sempre.

Ana Sá Lopes (ASL) criticou, em editorial do PÚBLICO, a posição assumida pelo Bloco de Esquerda de considerar inaceitável a visita oficial do Presidente Bolsonaro a Portugal, prevista para o início de 2020, e de pedir o seu cancelamento.

Para ela, não faz sentido manifestar ao povo irmão brasileiro solidariedade contra os atropelos à democracia praticados pelo Presidente do Brasil, porque foi esse mesmo povo que o elegeu “em eleições até agora não declaradas ilegais.”

Para ASL, tratou-se apenas de “mais uma imbecilidade de Bolsonaro”, “nada de novo” vindo de quem já antes glorificara o torturador Brilhante Ustra. Nada que justifique o cancelamento de uma visita de Bolsonaro a Portugal. “O BE quer romper relações com o Brasil?”, fulmina ASL.

Diante da avalanche de provocações neofascistas do Presidente do Brasil, os portugueses deveriam ficar impávidos e recebê-lo como a qualquer dignitário. É como se Portugal fosse uma espécie de hotel aberto a qualquer governante de qualquer país do mundo com quem tenhamos relações. Se fosse assim, não precisaríamos de um chefe de diplomacia. Bastava um chefe de protocolo.

O ataque a Felipe Santa Cruz foi grave porque mostrou que a Bolsonaro sobra a crueldade e falta a empatia com o ser humano. E, sobretudo, porque desrespeitou os fundamentos do Estado Democrático de Direito, entre eles “a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos”, como bem disse a OAB.

ASL tem razão quando diz que Bolsonaro nunca escondeu a sua admiração por torturadores. Mas no impeachment de Dilma ele era apenas um aspirante a candidato à presidência. ASL erra ao tratar Bolsonaro como um fulano que comete muitas “imbecilidades”. As atitudes do Presidente do Brasil parecem disparatadas mas  são pensadas e têm alvos precisos: destruir a liberdade de imprensa, proteger os lucros do agronegócio, incentivando o desmatamento da Amazónia, reabilitar a ditadura militar de 1964-1984, entre outros.

A indiferença frente a Bolsonaro significa ignorar os pedidos de socorro que soam pelo Brasil. Todos recordamos que fascismos dos anos 30 na Europa também foram eleitos sem que os outros governos europeus mostrassem grande incómodo. As consequências que essa indiferença provocou marcaram a História para sempre.

Mais um motivo para não ficarmos indiferentes. O Bloco não propôs qualquer rutura de relações com o Brasil. Mas, nas relações diplomáticas entre Estados, um deles pode (e neste caso deve) manifestar o seu desagrado com o que se passa de grave no outro. Por exemplo, cancelando uma visita. Atitude que fica ainda mais facilitada, neste caso, diante da afirmação de Augusto Santos Silvade que o MNE não pode cancelar uma visita que ainda não foi marcada. Ótimo. Se não foi marcada, embora tenha sido dada como certa para o início de 2020, é só não a marcar.

Jornalista reformado, fundador do portal Esquerda.net e militante do Bloco de Esquerda

Redação

1 Comentário

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  1. Graças ao miliciano louco varrido, o brasilsil enfrentará uma eleição inesperada no ano que vem.
    Se o grandíssimo Trump que detesta preto, chicano, muçulmano, pobre, oriental de olho puxado, não escondendo que só gosta mesmo é de branco e rico, se este extraterrestre de topete bonito não conseguir a reeleição, como ficará o nosso jênio “dia sim, dia não” ?
    O idiota certamente ficará pendurado no pincel, já que abriu mão da China, mandou o BRICS pro inferno, criou caso com o Irã e logo fará o mesmo com outros países do Oriente Médio, França e Alemanha não querem nem ouvir falar no camarada, nem mesmo o democrata que venha a derrotar o republicano valente terá interesse no imbecil, pois ninguém gosta de quem vive a se arrastar pelo chão.
    Ontem, vi um vídeo em que o desnorteado aparece vestido com uma roupa da Harley- Davidson, marca que é um verdadeiro ícone americano, então fico sem saber o limite de subserviência deste infeliz que já arrebentou com o país que não é dele.

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