Dólar, Geopolítica e Crise Econômica, por Roberto Regensteiner

A crise econômica tem impactado fortemente parcelas cada vez maiores das sociedades e agora apresenta problemas de difícil solução.

Dólar, Geopolítica e Crise Econômica, por Roberto Regensteiner

Entre junho e agosto de 2019 deram-se fatos políticos e econômicos que indicam que a crise econômica internacional está se aprofundando. Destaco neste texto os seguintes anúncios:
– Há uma recessão global à vista, feito por uma autoridade no assunto
– A constituição do Instex e do Sistema de Pagamento BRICS anunciadas no G20, em Osaka (jun-19)

Há um tsunami se formando: é a crise econômica mundial

Dissecação da crise antes que aconteça

Nouriel Roubini é um economista digno de atenção pelos acertos que teve na previsão da crise financeira do sub-prime (especulação com os títulos das hipotecas residenciais estadunidenses, 2007-8). É coautor de um livro sobre crises econômicas e o futuro das finanças publicado em 2010[1].

No artigo “Anatomia da Recessão que se aproxima”[2], (agosto de 2019 e já traduzido pelo OUTRAS PALAVRAS[3]),  disseca a crise antes que exploda. Alerta que os mecanismos de política econômica dos países centrais, concentrados em “Quantitative Easing” (maciças injeções de moeda e liquidez) e redução das taxas de juro, hoje dominantes, são remédios para a crise passada e inócuos para os problemas futuros. Alerta para o advento de uma próxima “recessão global” que reduzirá a “demanda agregada”. Identifica como possíveis detonadores da recessão global que vê se aproximar:

– As guerras comercial e cambial
– O suprimento de petróleo
– A escalada da guerra tecnológica dos EUA contra a China (artificial intelligence (AI), robotics, 5G, etc).

É com estas tintas que pinta um cenário futuro de “stagflation” (estagnação com inflação, termo cunhado nos anos 1970 quando se disseminou esta “doença”) para a qual serão necessários novos medicamentos, como por exemplo, a política fiscal.

Em suma, Nouriel Roubini é um estudioso com espírito prático: consultor, professor, interlocutor de organismos oficiais e de corporações, intelectual orgânico de uma fração do capitalismo mundial que defende a saúde do sistema financeiro e toma conhecimento dos fatos e os enfrenta. Escreve como conselheiro de um capitalismo que deveria usar uma boa teoria econômica e se comportar racionalmente (o que parece que não acontece…).  Às vezes se expressa como médico de família preocupado com a saúde de um ente querido que evolui mal.

Nouriel Roubini foi dos poucos economistas do establishment que arriscou a reputação e advertiu sobre a crise do sub-prime. Agora avisa que outra crise se aproxima. Convém dar ouvidos.

PERSPECTIVA HISTÓRICA

Visto de forma ampla o encadeamento histórico dos fatos, a crise que se avizinha é resultante da longa etapa histórica que, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, se desenvolve entre altos e baixo, booms econômicos e crises. As crises se apresentam menos intensas (quando aparentemente seus efeitos se restringem a um país menor) ou mais intensas (como a dos preços do petróleo dos anos 1970, que sacudiu o mundo, ou a de 2008 que se vincula de perto com a próxima).

As Moedas Nacionais como campo de batalha

“Transformando o dólar em arma” foi o título do artigo[4] que reportou encontro recente do G20[5], em Osaka  (28- 29/6/2019).  Naquele âmbito anunciaram-se medidas práticas no sentido da desdolarização do comércio internacional, que caracterizaram – conforme o autor Patrick Lawrence a mais incisiva contestação ao domínio do dólar sobre o comércio internacional.

Alemanha, França e Reino Unido anunciaram que o Instex[6] estaria operacional. Trata-se de um empreendimento conjunto dos três países e um biombo institucional atrás do qual pretendem comercializar com o Irã sem a mediação do dólar[7] e a salvo das sanções dos EUA.

No mesmo evento, o núcleo dos BRICS formado por Rússia, China e Índia anunciou um novo Sistema Internacional de Pagamentos em que o dólar e instituições bancárias e operadoras de cartões de crédito estadunidenses que integram o SWIFT ficam de fora[8]. Este novo sistema de pagamentos dará suporte ao comércio dos BRICS e de terceiros países.

Para avaliar os impactos destes gestos na hegemonia do dólar é necessário compreender os Acordos de Bretton Woods estabelecidos em 1944 ainda antes do término da 2ª Guerra.

Acordos de Bretton Woods (ABWs)

O alicerce sobre o qual foram estabelecidos os ABWs foi a garantia de que os EUA converteriam 35 USD por onça (31,1034768 gramas) de ouro, mediante a qual os demais signatários aceitaram o papel central da moeda estadunidense na economia mundial e concordaram com regras para manter as variações na cotação de suas respectivas moedas dentro de certas margens usando práticas pré-definidas. Acreditava-se que, com esta lógica, poder-se-iam evitar as crises cambiais (espirais de desvalorização nas taxas de câmbio, controle de reservas e um cardápio de medidas protecionistas[9]) que contribuíram para a agudização dos conflitos comerciais e econômicos que desaguaram na 2ª Guerra Mundial.

Os ABWs incluíam a criação de novas instituições econômicas (FMI, Banco Mundial, como instrumentos de crédito e financiamento) entre outras peças de uma nova arquitetura institucional que então se desenvolveu, e por meio da qual os EUA, a nova potência imperial, viriam a exercer sua hegemonia. A URSS declinou de assinar os ABWs alegando que tais instituições seriam filiais de Wall Street[10].

Como era de se imaginar os EUA abusaram do direito de imprimir dólares para financiar seus investimentos no exterior em iniciativas em que se combinaram privilégios para si (Plano Marshall, Plano MacArthur, Aliança para o Progresso etc.) e esforços para impedir avanços socialistas (entre os quais a longa guerra contra o Vietnã entre 1955 e 1975). Estes abusos monetários originaram pressões cada vez mais intensas dos seus parceiros para a realização da troca de dólares por ouro, estabelecida nos ABWs, configurando uma situação insustentável, pois não haveria ouro suficiente para fazer face às cobranças[11].

Rompimento dos Acordos

Vinte e sete anos depois dos ABWs, em 15 de agosto de 1971, o presidente Nixon deu por revogada a cláusula de paridade do dólar que passou a flutuar em relação ao ouro. Beneficiou, assim, economicamente, os EUA com receitas de senhoriagem (diferença do valor de face do papel moeda e de seu custo de produção), lucros inflacionários e de outras maneiras, causando simetricamente prejuízos a terceiros, nem tanto aos países socialistas, vistos como principais inimigos do pós-guerra e que não embarcaram nesta proposta, mas principalmente aos demais parceiros[12] que a subscreveram. Ao tomar esta medida, Nixon colocou fogo no rastilho de uma bomba de tempo cuja carga destrutiva foi sendo potencializada aos poucos pela evolução dos acontecimentos.

…e consequências

Com a missão explícita de evitar que aquele ciclo vicioso do pré-guerra voltasse a se repetir, o FMI foi ganhando musculatura à medida que os problemas “monetários” foram aparecendo já desde a década de 1950. Pouco se discutiu abertamente sobre o grande prejuízo causado por Nixon à comunidade internacional. Não obstante o “mau-comportamento” impune dos EUA, o FMI passou a atuar cada vez mais desenvoltamente em terceiros países, fazendo recomendações aos que não se “comportavam” seguindo as boas teorias econômicas que privilegiavam os interesses dominantes, auditando medidas corretivas e, assim, sinalizando aos demais países credores a atitude que deveriam tomar ou então sofrer sérias consequências, caso adotassem uma medida vista como inadequada, como por exemplo, moratória ou negação de pagamento.

A sustentar esta atividade crescente um batalhão de burocratas, acadêmicos e especialistas multilíngues. No cenário internacional, recorrer ao FMI equiparava-se ao indivíduo “caloteiro” em termos morais. E segue se equiparando, como se vê no que ocorre hoje na Argentina em que Macri negocia com o FMI uma moratória de US$ 57 bilhões.

Recorrer ao FMI significava politicamente (e continua significando) submeter o país aos ditames dos credores, não por coincidência super-representados nos mecanismos decisórios da instituição em que o poder é proporcional ao capital e, historicamente, mais interessados em perpetuar a situação dos eternos pagadores de juros dos países dependentes do que em criar as condições para sua autonomização econômica.

Apesar de que ao longo das décadas do pós-guerra, FMI, Banco Mundial e o revigoramento do papel do BIS (Bank for International Settlements, em Basiléia, Suíça, um fórum dos bancos centrais que busca normatizar e coordenar ações, considerado, exageradamente, o banco central dos bancos centrais)[13] se constituíram em novos e fortalecidos amortecedores dos problemas econômicos internacionais, as mesmas “forças do livre mercado” que levaram às crises cambiais do entreguerras voltaram a se manifestar e a provocar uma variedade de respostas aos “desequilíbrios” econômicos internacionais.

No limiar da submissão de sua política monetária ao dólar, alguns países como Equador e Panamá[14], dentre outros, adotaram-no como moeda nacional ou fixaram nele a cotação de suas moedas. Os países europeus perseguiram uma estratégia diferente. Através de uma obra-prima de engenharia institucional, ao longo de décadas e em várias fases, criaram o EURO, a moeda europeia, que em 2002 passou a circular em número cada vez maior de países e, em 20 anos, passou a ser considerada internacionalmente uma das moedas de reserva pelos bancos centrais para efeito de liquidação das transações internacionais, uma dentre poucas a gozar deste privilégio.

Outra forma recorrente de reação foram as trocas multilaterais diretas entre os países, sem a interveniência do dólar e com resultados variados.

Também a constituição dos BRIC (Brasil,  Rússia, Índia e China, ao qual depois se agregou o S de South África) em 2009 pode ser entendida em grande parte por esta ótica da defesa de interesses econômicos específicos contrapostos ao dólar e à hegemonia econômica dos EUA. Desde o início desta união seus participantes afirmavam a necessidade de uma nova moeda global e se propunham a cotar e transacionar mercadorias e investimentos sem a mediação do dólar. Em 2014 criaram um banco de investimentos (NDB) para financiar projetos e administrar um fundo de reserva para contingências. Paralelamente a China estruturou a Belt & Road Initiative, a Nova Rota da Seda, um ambicioso programa interligando dezenas de países mediante projetos de infraestrutura que se desdobrarão ao longo das próximas décadas e que vai se constituindo no mais importante foco de dinamismo da economia mundial, rivalizando com os EUA na conjugação de interesses econômicos com países europeus e asiáticos.

Tudo somado, o fato é que desde 1944 o dólar se estabeleceu como moeda dominante mediante os Acordos de BW. Em 1971, o representante máximo dos EUA, chutou,  oficialmente, a escada da paridade. Daí em diante crises cambiais espalharam-se às dezenas, a ponto de se tornar objeto de mensuração estatística, supervisionadas pelo FMI, um organismo internacional especializado no assunto, mediador de interesses conflitantes entre possuidores de dinheiro, em que o equilíbrio entre o poder de voto e o poder do dinheiro enviesa em favor do último. Criado para prevenir o problema, não consegue realizar sua missão e não consegue evitar que a doença reapareça, revelando-se, impotente para resolver o problema, quando não prescrevendo remédios que agravam a enfermidade.

O próximo round

A hegemonia econômica e política dos EUA estabelecida ao final da 2ª Guerra e até agora mantida sofre importantes e multifacetados questionamentos.

A crise econômica tem impactado fortemente parcelas cada vez maiores das sociedades e agora apresenta problemas de difícil solução.

Mas à medida que vai ficando clara a necessidade de ajustes econômicos e que estes ajustes não são feitos, os problemas tornam-se mais agudos.

Desde 2018 a relação com a Huawei (empresa chinesa campeã em tecnologia de redes) é expressivo da sequência errática, de morde-e-assopra, praticada por Trump e que tem caracterizado também sua atuação em outros temas como Coreia do Norte, Irã e Venezuela, entre outros. Fizeram-se uso tanto de medidas extra-econômicas, como a prisão da diretora financeira (e filha do maior acionista), ocorrida no Canadá, como de medidas comerciais, como a tentativa de proibir a compra de produtos da Huawei pelas empresas sobre as quais o governo dos EUA consegue exercer sua influência. Estas proibições foram postergadas e aliviadas à medida que as empresas ofereceram resistência, tendo em vista sua dependência quanto a suprimentos fornecidos pela Huawei e, também, quando se caracterizou que ela é cliente importante de grandes corporações que perderiam faturamento. A diretora financeira foi depois liberada mediante fiança e possivelmente, também, devido à severa condenação na China de canadenses que aguardavam julgamento por transgressões cometidas.

No final de julho de 2019, Trump decretou aumento nas tarifas de importação de produtos chineses. A China desvalorizou o yuan[15] praticamente neutralizando o movimento.

À queda da taxa de juros do Federal Reserve realizada em 31 de julho[16], o Banco Central Europeu respondeu na mesma moeda[17] um mês depois. Há diversas espirais como estas acontecendo. O preço do ouro segue tendência de aumento em meio a grande volatilidade. São sintomas da mesma enfermidade que, no entreguerras, veio à tona como espiral de crises cambiais que expressavam assimetrias no comércio internacional  e se desdobraram em agudas disputas comerciais chegando naquele então à beligerância miltar, aos campos de concentração e aos fornos crematórios.

Os mesmos sintomas dos anos 1930s voltam a se manifestar agora num organismo 70 anos mais velho (e talvez) com alguns “anticorpos” apreendidos ao longo da história.

Há analogias e diferenças entre os anos 1930s e 2019, mas este assunto fica para a próxima.

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O poderio econômico que sustentou a hegemonia política dos EUA, estabelecida ao final da 2ª Guerra, foi sendo erodido ao longo destas sete décadas pelo próprio desenvolvimento, no qual o avanço tecnológico (que descarta cruelmente seres humanos tornados inúteis, compromete o futuro das gerações, desperdiça e inutiliza o meio ambiente, promove a extinção massiva de espécies de vida e dos meios de que a vida depende) tem papel relevante.

A falência do banco de investimentos Lehman Brothers, em outubro de 2008, entrou para a história como o momento em que o Governo dos EUA perdeu o controle do processo e deu curso a uma crise financeira com epicentro em empréstimos baseados em títulos de hipotecas de cidadãos dos EUA e que se espalhou pelas principais economias capitalistas desenvolvidas.

O que parecia ser um problema “apenas” financeiro e que, como tal tinha sido aparentemente contido, expressava problemas econômicos e tendências de fundo que permaneceram atuantes e até se intensificaram.

Em 2017,  a eleição de Trump como presidente dos EUA inaugura um período em que controvérsias se acentuam, se generalizam e graças à integração entre mídia e sistemas informatizados envolvem um número cada vez maior de pessoas num ambiente em que crescem a agressividade e a ampliação do uso de recursos extra-econômicos. A cena que se desenrola em 2019 vai expondo uma trama internacional em que o governante de turno dos EUA é personagem principal, o dólar é um coadjuvante presente permanentemente e novos atores ganham protagonismo.

O resultado líquido destes processos resulta num ambiente em que agressões e medidas defensivas vão sendo adotadas em sucessiva escalada, cujo fim não está à vista e vai se intensificando.

A volatilidade nas cotações entre moedas e preços das mercadorias vai aumentar expressando maior volatilidade dos mercados financeiros, provocando outras crises cambiais, grandes deslocamentos de valores econômicos, aumento na agressividade comercial, atritos políticos e militares, nos quais vão se configurando alianças. No momento é impossível atinar onde vai dar a escalada, sendo necessário acompanhar passo a passo.

Estes eventos indicam situações em que a hegemonia estadunidense estabelecida ao final da 2ª guerra está sendo contestada na prática, tornando os EUA um jogador com menos poderes, sendo excluído de circuitos importantes onde era dominante e reagindo a isto agressivamente e sem uma linha claramente definida, baseada nas intuições de Trump com um olho nas eleições e os ouvidos emprenhados por assessores.

É cada vez mais difícil para os EUA manter, como outrora, o domínio dentro do campo econômico em que participantes cada vez mais expressivos, oriundos da China, Rússia, Japão, União Europeia, entre outros, mostram-se cada vez mais capazes de conquistar títulos e ampliar seu espaço.

Os campeões do rugby e do baseball, nos quais importa é fazer o próximo ponto, enfrentam os campeões dos milenares go e xadrez, em que a partida termina na enésima jogada.

Como bem o demonstrou Karl Marx, já no 1º capítulo de sua obra-prima, os sistemas monetários – longe de serem criação ou invenção dos Estados (que, no entanto, tem sobre as moedas grande influência), – foram (e são) decorrência do desenvolvimento do intercâmbio mercantil cujas origens estão entre os povos da Antiguidade (alguns dos quais ainda hoje em atividade, sem solução de continuidade).

Enquanto o modo capitalista de produção permanecer dominante, o sistema monetário permanecerá como instrumento do processo de acumulação que é, simultaneamente, impulsionador da crise e um seu vetor resultante. Depois que o capitalismo se for, também a moeda se transformará, deixará de ser um objeto de fetiche e adoração e, se continuar a existir, será um recurso intelectual a serviço do desenvolvimento humano.


[1] Roubini and Mihm,“Crisis economics: a crash course in the future of finance”. Penguin Books. 2010.
De origem turca, educado na Itália e nos EUA, onde reside e leciona, circula pelo mundo inteiro. Socialmente é muito presente como palestrante em fóruns frequentados por mídias, academias, altos escalões das burocracias, governamentais, de órgãos multinacionais e em entrevistas para meios financeiros (Bloomberg, Financial Times, Project-Syndicate, tuiteiro frequente). Tem vocalizado frontalmente discordâncias com Trump em tuítes e artigos. É do tipo que debate em publico, abertamente. Por exemplo, ante o fenômeno inédito dos bitcoins , uma proto-forma de moeda em encarnação eletrônica, Roubini se lançou ferozmente contra a especulação piramidal que houve (e segue havendo) em torno das “moedas digitais”.

[3] Em português no OUTRAS PALAVRAS: https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/anatomia-da-proxima-recessao-global/

[5] Grupo dos 20 países supostamente mais importantes do mundo. Começaram a se reunir em 1975 como G6 (EUA, Alemanha, Japão, Itália, Reino Unido e França), passaram a G7 (ao incluir o Canadá). Em síntese  eram a a aliança dos países capitalistas que se reuniam fora da ONU, informalmente, para combinar e exercer força política. Passou a G8, em 1997, ao incorporar a Rússia após a demolição do muro.

[6] INSTEX (Instrument in Support of Trade Exchanges): Desde 2015 as relações do mundo ocidental com o Irã vinham sendo governadas por um Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, na sigla em inglês, de Joint Comprehensive Plan of Action, em que participaram Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia) por meio do qual a antiga Pérsia aceitou submeter-se a medidas de controle do desenvolvimento de sua tecnologia nuclear mediante uma normalização de suas relações comerciais.

Em maio de 2018 os EUA se retiraram do acordo e passaram a pressionar os demais subscritores a bloquear comercialmente o país.

Além da capacidade de produção do urânio necessário à fabricação de artefatos nucleares, o Irã é um dos países que se encontra de frente para o Estreito de Hormuz, porta de entrada e saída do Golfo Pérsico, uma espécie de veia jugular pela qual transitam mais de 20% do petróleo cru internacional do qual o Irã é também um dos maiores exportadores.

Desde antes do bloqueio econômico a Cuba (1959), em um fato histórico que se repete, os EUA, no exercício de seu poder, sancionam economicamente pessoas, empresas e países que descumprem suas diretivas políticas governamentais mediante o uso de sanções que vão do fechamento de fronteiras e portos à imposição de multas e sequestro de fundos bancários .

O mencionado artigo de Lawrence afirma que o INSTEX consiste “no mais importante desafio até hoje feito à hegemonia do dólar como meio de troca e reserva de valor” . Se na era da cibernética e do GPS conseguir-se-á manter escondido dos EUA quem está contrariando os desejos imperiais, a resposta é um claro não. Fica óbvio, então, que estamos diante de uma escalada de tensões com epicentro na Casa Branca e que tem vetores amplos e profundos no estado e na sociedade norte-americana.Em 20/9, tendo demitido Bolton, Trump tuíta desejos de aproximação para uma negociação direta com o Irã evidenciando a força dos ventos turbulentos deste momento.

[7] https://www.strategic-culture.org/news/2019/07/04/goodbye-dollar-it-was-nice-knowing-you/

[8]  “BRICS countries, excluding for South Africa, have their own domestic national payment systems – China has UnionPay, India developed RuPay and Brazil has ELO. In Russia, it is the Mir payment system, launched by the Central Bank of Russia in 2015, a year after Western sanctions against the country were introduced.”  https://www.rt.com/business/452737-brics-own-payment-system/

[9] Eichengreen,B., Sachs, J.. Exchange Rates and Economic Recovery in the 1930s. The Journal of Economic History, Vol. 45, No. 4 (Dec., 1985), pp. 925-946. p.928.

[10] “Soviet representatives attended the conference but later declined to ratify the final agreements, charging that the institutions they had created were “branches of Wall Street”.” https://en.wikipedia.org/wiki/Bretton_Woods_system#Dollar_shortages_and_the_Marshall_Plan

[11] Pelo menos desde 1965, De Gaulle, o presidente francês vocalizava publicamente a questão (v. https://www.youtube.com/watch?v=W5Qjeun0NPo) e trocava seus dólares pelo ouro de Fort Knox.

[12] Hoje a cotação dólar ouro supera os US$ 1.400, ou seja, uma mudança de mais de 4.000% nesta relação.

[13] Kaminsky,G., Reinhart,C.. The twin crisis: the causes of banking and balance-of-payments problemas. p.427. A tabela 1 sintetiza um estudo com 76 crises cambiais em 26 países no período 1970-1995. Entre 1970 e 1979 há uma média de 2,6 crises anuais que se eleva para 3,13 crises no período subsequente 1980-95.

[14] “Mesmo que oficialmente Equador e Panamá ainda tenham moedas próprias (sucre e balboa panamenha), ambas as economias fazem uso e são balizadas pelo dólar norte-americano. Os motivos que levaram os países a optar pelo uso do dinheiro estrangeiro em vez da moeda nacional são diferentes. O Equador devido à crise, inflação e desvalorização do sucre na década de 1990; já o Panamá pela ampla movimentação de moeda estrangeira em sua economia. Mas o objetivo é o mesmo: conter pressões inflacionárias… Outras nações menores também adotam o dólar como moeda principal: El Salvador, Timor Leste, Porto Rico – que é território norte-americano -, Ilhas Virgens Britânicas, Micronésia, Turcas e Caicos e Zimbábue.” in https://www.terra.com.br/economia/operacoes-cambiais/operacoes-empresariais/contra-inflacao-equador-e-panama-abrem-mao-de-moeda-propria,a260701c4014e310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html

[17] https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/09/12/banco-central-europeu-bce-medidas-estimulo-economia-inflacao-baixa-juros.htm

Redação

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