Ecossocialismo: Um caminho possível, por Márcia Moussallem

Obras de pensadores como Manuel Sacristan, Raymond Williams, Rudolf Bhro, André Gorz, entre outros autores, foram fundamentais para a construção desse projeto.

do Observatório do Terceiro Setor

Ecossocialismo: Um caminho possível

por Márcia Moussallem

Nas últimas décadas o mundo tem sido palco de grandes avanços e retrocessos em todos os campos. Presenciamos o crescimento da direita e da extrema direita em nível mundial. Políticas de austeridade, Estado mínimo, ausência de políticas públicas para a maioria da população, entre outros. O receituário neoliberal presente nas décadas de 80 e 90 na maioria dos países, em especial na América Latina, retorna com toda a força.

Por outro lado, verificamos o aumento gigantesco da devastação do planeta de maneira assustadora. Desmatamento das florestas, poluição da água, do ar e do solo, queimadas, extinção de espécies vegetais e animais, derretimento das geleiras, aquecimento global, etc.

Nesse cenário alarmante se torna necessário compreendermos que devemos construir outro paradigma para a humanidade. O capitalismo chegou ao seu ápice de destruição que coloca em cheque a sobrevivência do planeta. Qual é o preço que estamos pagando em nome do progresso? Do consumo desenfreado em nome da felicidade ilusória?

Diante dessas contradições inerentes do capital e de um retrocesso sem precedentes, verificamos que uma parte da sociedade, por meio de diversos movimentos sociais, instituições e organizações, tem discutido e debatido a construção de outros paradigmas. Questões voltadas para nova social democracia, socialismo democrático e ecossocialismo tem sido pautas destacadas nesse cenário.

Cabe ressaltar nessa arena o Ecossocialismo, que surge nos anos 70 na Espanha, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Obras de pensadores como Manuel Sacristan, Raymond Williams, Rudolf Bhro, André Gorz, entre outros autores, foram fundamentais para a construção desse projeto. Em 2001 é publicado o manifesto Ecossocialismo Internacional (França e Estados Unidos) e em 2007 a Rede Ecossocialista Internacional.

Segundo Michael Lowy (autor do livro “O que é o Ecossocialismo?”), “o Ecossocialismo trata-se de uma corrente de pensamento e de ação ecológica que faz suas aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que o livra das suas escórias produtivistas. Para os ecossocialistas a lógica do mercado e do lucro – assim como a do autoritarismo burocrático de ferro e do socialismo real – são incompatíveis com as exigências de preservação do meio ambiente natural (…) os trabalhadores e suas organizações são uma força essencial para qualquer transformação radical do sistema e, para o estabelecimento de uma nova sociedade, socialista e ecológica (…) uma proposta que almeja não só a transformação das relações de produção, do aparelho produtivo e do padrão de consumo dominante, mas sobretudo construir um novo tipo de civilização, em ruptura com os fundamentos da civilização capitalista/industrial ocidental moderna”.

O mesmo destaca que esta corrente não é politicamente homogênea, mas que existe uma partilha de temas comuns, em defesa de uma nova civilização no combate ao atual ao modo de produção e de consumo. Enfatiza também que mesmo Marx e Engels não tendo centralizado nos seus escritos temas ecológicos, a crítica do capitalismo é de fundamental relevância para o entendimento que envolve as questões ecológicas. Salienta que em muitas de suas análises são colocados dois problemas: a degradação das florestas e do solo (“Dialética  da natureza”).

Por fim, pensadores destacam que o ecossocialismo implica em um projeto socialista que não vise somente um novo modo de produção, mas um novo paradigma de civilização. Uma sociedade fundada “numa sociedade sem classes, do ‘ser’ sobre o ‘ter’, da realização pessoal pelas atividades culturais, lúdicas, esportivas, artísticas, políticas, em vez do desejo e da acumulação ao infinito de bens e produtos”.

Essa é a utopia que seguimos e que abre o caminho da esperança rumo à construção de uma “Ética Social e Moral” em tempos de barbárie. Possível? Sim! Como Paulo Freire dizia: “Tudo é difícil, mas é possível pois somos nós os sujeitos  da história”.

MÁRCIA MOUSSALLEM – É socióloga, assistente social, mestre e doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUC-SP. Tem MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora da PUC-Cogeae/SP  e da FGV-Pec/SP.

Redação

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