Esquerda precisa reeditar frente histórica, como a que combateu a Ditadura, diz Helena Chagas

Para o campo da centro esquerda, a divisão da direita é o melhor dos cenários, mas está longe de ser uma certeza. E o raciocínio vale com o sinal trocado. Divididas como estiveram em 2018, as forças progressistas tendem de novo a morrer na praia

Foto: Agência Brasil

Por Helena Chagas

Em Os Divergentes

Direita ou esquerda, quem se dividir vai morrer na praia

A maior preocupação política de Jair Bolsonaro hoje não é com a possibilidade de as forças de centro e de esquerda crescerem e irem para as ruas. Esta é a segunda maior preocupação. Apesar do desgaste recorde nas pesquisas, ele conta disputar a reeleição com um candidato de esquerda e repetir a lógica da polarização que lhe deu a vitória em 2018 graças ao antipetismo. O maior medo de Bolsonaro hoje está no campo da direita, personificado em possíveis adversários como João Doria, Luciano Huck e outros – o que explica os movimentos tresloucados que visam a acirrar a radicalização política e a agradar os setores que o apóiam. Bolsonaro está “fidelizando” o seu público mais hidrófobo.

O apoio ao presidente da República gira hoje em torno de 30% dos eleitores. Apesar da tendência a decrescer em razão de seguidos desgastes na imagem presidencial, ainda há, na visão bolsonarista, gordura a queimar. Por esses cálculos, se o presidente chegar a 2022 com um núcleo duro de 20% de aprovação, já estaria no segundo turno para disputar com um candidato de esquerda. Mas esses planos podem ser atropelados se algum outro candidato de perfil conservador crescer e dividir os votos no campo da direita.

Por isso, a briga com Doria, por exemplo, começou tão cedo e vai ficar mais e mais dura. O governador é hoje o nome preferido do establishment econômico do país, e sempre terá a força de São Paulo a alavancá-lo. Mas sabe que só chega lá se o presidente da República se desestabilizar e desmoralizar de forma a perder qualquer chance de disputar a reeleição. Por isso, mesmo quem torce por Doria e quer se ver livre de Bolsonaro acha que, nas atuais condições de temperatura e pressão, o governador paulista poderá optar pela reeleição e esperar tempos melhores em 2026.

Para o campo da centro esquerda, a divisão da direita é o melhor dos cenários, mas está longe de ser uma certeza. E o raciocínio vale com o sinal trocado. Divididas como estiveram em 2018, as forças progressistas tendem de novo a morrer na praia. E isso vale desde já, no enfrentamento que os partidos de esquerda e centro-esquerda deveriam estar liderando contra os desmandos diários, as medidas autoritárias e os preconceitos absurdos de Bolsonaro.

Passados seis meses de governo, chegou a hora de as forças de centro e de esquerda reeditarem as frentes que foram decisivas em determinados momentos da história, como o fim da ditadura. Sobretudo porque, ao radicalizar para tentar manter a fidelidade de seu público, Bolsonaro já largou muita gente que votou nele ao longo do caminho. Esse eleitor duplamente desiludido, que, lá atrás, largou o PT para votar em Bolsonaro e agora se decepcionou com ele, anda perdido por aí.

Redação

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Que “centro” é esse meu deuxxx?

    FH? Ha!

    Ciro Gomes? Ha, ha!

    “A esquerda” deveria, primeiramente, parar com essa de “autocrítica” e passar a enfrentar a direita, acusar diuturnamente a boçalidade e a mentira, sem deixar de lembrar o que fez e quais as propostas para o futuro. Só isso ai já dá uma pauta extensa denais pra esse pessoal articular um discurso e conseguir transmitir. Só assim pode recuperar um pouco dos sete milhões de votos perdidos entre 2014 e 2018. Golpistas e antipetistas não se convence, se combate.

    1. A “esquerda” precisa criar e consolidar, junto à sociedade, a ideia de que é a melhor alternativa, quanto mais socialismo, melhor. Isso não se faz através de contradizer as acusações da “direita” nem de denunciar as mentiras que a “direita” diz de si mesma, isso se faz através da divulgação de resultados positivos de ações socialistas, dos pontos positivos do socialismo. A propósito, a mesma fórmula que a “direita” usa.

      Por exemplo, um filme, um livro, uma peça de teatro ou uma canção nascidos para fixar a ideia de que o capitalismo é bom não mostrará a pobreza que o capitalismo inevitavelmente cria. (E cria mesmo… de onde vem o poder absurdamente grande de um capitalista senão do trabalho alheio?) O capitalismo permite e propicia concentração e não distribuição, e isso é sabido a ponto de, quem tentar negar será considerado mentiroso ou louco. Por isso aquelas “obras” não dizem que há pobreza e sim que uma pessoa qualquer – você, por exemplo – pode entrar no “clube dos ricos”, tirando assim o foco da coletividade e pondo-o no indivíduo.

      (Ainda desconfio muito desse negócio de “Nova Democracia” justamente por isso, por colocar o foco no Homem e não na sociedade… Que homem é esse que está no foco da “Nova Democracia”? O pião, balconista de loja, o dono de uma loja de shopping, o mendigo, o dono do Wal Mart, o político, o funcionário público… quem desses é o foco da “Nova Democracia”, lembrando sempre que cada um desses têm interesses antagônicos e inconsciliáveis: para um ganhar o outro tem que deixar de ganhar…)

      Mas voltando ao assunto, o que a “esquerda” precisa fazer (como se a “esquerda” estivesse perdida e não soubesse o que tem que fazer), a meu ver desde Chaplin passando por Costa-Gavras e chegando a Ken Loach, a mera denúncia de que o capitalismo traz truculência, injustiça e pobreza em seu bojo para que não funciona bem. Filmes de denúncia que não terminam bem para os socialistas, por mais bem intencionados que sejam, não criam no imaginário popular nem a real cara do capitalismo e menos ainda as belezas do socialismo. (Menção honrosa ao “Encouraçado Potemkin” e ao “Que horas ela volta?”).

      A meu ver, o que a “esquerda” precisa fazer é parar de dar bola para o que a “direita” diz da “esquerda”, parar de ser reativa, e criar no imaginário popular SEM NENHUMA MENTIRA, as possibilidades de prosperidade individual e o resultado dessas prosperidades no coletivo, através de alternativas ao capitalismo. Tem um ponto de difícil superação: aquela história de que a classe média até aceita passar a pão e água desde que pão e água sejam privilégios de poucos e não direitos de todos. Mas até para isso o socialismo tem resposta: prestígio. O que se destaca não é superior aos outros exceto em prestígio. E esse prestígio não se realiza através de apenas ter dinheiro. A história de Grigori Perelman é exemplo.

      Bem… acabei escrevendo mais do que imaginei quando comecei a escrever mas a ideia é essa: assim como um dia João Gilberto decretou que “chega de saudades”, diria que “chega da ‘esquerda’ sofrer”. Creio que a “esquerda” teria bons resultados mostrando que é, sim, uma alternativa viável e cheia de possibilidades.

      (Já viram que gatona é a Sabrina Fernandes?)

  2. Frente de “esquerda”… é impressionante como alguém ainda acredita neste papo.
    Nem na ditadura houve uma “frente de esquerda”, ali foi a frente do “não aguentamos mais os militares”…

  3. não existe essa esquerda a não ser em alguns partidos, sindicatos e intelectuais q se encontram em butecos. O resto é cada um pro seu lado. Nem sei como se deram essas polarizações tal o individualismo e alienação da maioria. Talvez o medo de virar crente seja a única coisa q possa unir os da suposta esquerda. Uma prova óbvia q essa esquerda não existe foi a fraca oposição aos roubos de direitos trabalhistas e previdenciários. E digo mais, se Haddad tivesse ganha não governaria, seria derrubado. Acho q até Ciro não governasse. A raivosidade deles veio para ficar e eles não aceitaram passivamente q um candidato q não seja o deles ganhe as próximas eleições. Teria q haver um caos social na economia etc para q se recupere a alternância pacífica como foi em eleicões passadas

    1. É isso.

      E, acrescento: nem “centro” existe mais; todos, todos se associaram aa boçalidade e aa mentira. O próprio Ciro Gomes, se enganou com uma conversa mole de centrista mas sem abrir mão do antipetismo. Queria voto do PT, PT, PT como agindo assim?

      Desde 2012, setembro de 2012, que os “todos contra o PT” já percorria os salões (ja no primeiro semestre de 2013 estavam desembarcando nas ruas…). Ou seja, o plano “A” era o Aécio, mas o plano “B” já estava pronto, com artigo nos jornais e tudo. Perderam uma, duas, três, quatro eleições presidenciais e melaram o jogo, sem nenhum escrúpulo.

      “Centro”…Pfff!

  4. A “esquerda” precisa criar e consolidar, junto à sociedade, a ideia de que é a melhor alternativa, de que quanto mais socialismo o estado praticar, melhor. Isso não se faz através de contradizer as acusações da “direita” nem de denunciar as mentiras que a “direita” diz de si mesma ou da “esquerda”. Isso se faz através da divulgação de resultados positivos de ações socialistas, dos pontos positivos do socialismo. A propósito, a mesma fórmula que a “direita” usa.

    Por exemplo, um filme, um livro, uma peça de teatro ou uma canção nascidos para fixar a ideia de que o capitalismo é bom não mostrará a pobreza que o capitalismo inevitavelmente cria. (E cria mesmo… de onde vem o poder absurdamente grande de um capitalista senão do trabalho alheio?) O capitalismo permite e propicia concentração e não distribuição, e isso é sabido a ponto de, quem tentar negar será considerado mentiroso ou louco. Por isso aquelas “obras” não negam que há pobreza e sim que uma pessoa qualquer – você, por exemplo – pode entrar no “clube dos ricos”, tirando assim o foco da coletividade e pondo-o no indivíduo.

    (Ainda desconfio muito desse negócio de “Nova Democracia” justamente por isso, por colocar o foco no Homem e não na sociedade… Que homem é esse que está no foco da “Nova Democracia”? O pião, balconista de loja, o dono de uma loja de shopping, o mendigo, o dono do Wal Mart, o político, o funcionário público… quem desses é o Homem da “Nova Democracia”, lembrando sempre que cada um desses têm interesses antagônicos e inconciliáveis: para um ganhar o outro tem que deixar de ganhar…)

    Mas voltando ao assunto, o que a “esquerda” precisa fazer (como se a “esquerda” estivesse perdida e não soubesse o que tem que fazer), a meu ver desde Chaplin passando por Costa-Gavras e chegando a Ken Loach, a mera denúncia de que o capitalismo traz truculência, injustiça e pobreza em seu bojo não funciona bem. Filmes de denúncia que nunca terminam bem para os socialistas, por mais bem intencionados que sejam, não criam no imaginário popular nem a real cara do capitalismo e menos ainda as belezas do socialismo. (Menção honrosa ao “Encouraçado Potemkin” e ao “Que horas ela volta?”).

    A meu ver, o que a “esquerda” precisa fazer é parar de dar bola para o que a “direita” diz da “esquerda”, parar de ser reativa, e criar no imaginário popular SEM NENHUMA MENTIRA, as possibilidades de prosperidade individual e o resultado dessas prosperidades no coletivo, através de alternativas ao capitalismo. Tem um ponto de difícil superação: aquela história de que a classe média até aceita passar a pão e água desde que pão e água sejam privilégios de poucos e não direitos de todos. Mas até para isso o socialismo tem resposta: prestígio. O que se destaca não é superior aos outros exceto em prestígio. Não ganha milhões e sim uma coroa de louros, de um loureiro comum só que concedida com honrarias. Esse prestígio não se realiza através de apenas ter dinheiro. A história de Grigori Perelman é exemplo.

    Bem… acabei escrevendo mais do que imaginei quando comecei a escrever mas a ideia é essa: assim como um dia João Gilberto decretou que “chega de saudades”, diria que “chega da ‘esquerda’ sofrer”. Creio que a “esquerda” teria bons resultados mostrando que é, sim, uma alternativa viável e cheia de possibilidades.

    (Já viram que gatona linda, elegante, inteligente e sabida é a Sabrina Fernandes?)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador