Momento crucial para afirmação da identidade nacional

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Do Portal Luis Nassif

O desenvolvimento do capitalismo é um processo de luta pela afirmação das identidades nacionais, que ocorre no contexto de fortes desequilíbrios de poder econômico e político, entre as nações que saíram na dianteira e as que lhes seguiram os passos.

As armas dessa luta, utilizadas pelas nações pioneiras, vão desde formas sutis de dominação cultural, com a propagação de credos religiosos, doutrinas exóticas de segurança, falsas concepções científicas da realidade, propaganda, difusão de informações distorcidas, passando por formas desleais de concorrência econômica, até a adoção de formas mais condenáveis, como a corrupção de autoridades, a espionagem, sanções econômicas e as guerras declaradas e não declaradas.

A história mostra que a experiência brasileira não tem fugido a essa regra. A industrialização do país deu-se sob a permanente pressão dos países centrais e dos grupos internos associados a esses interesses. Desnecessário é insistir em que lideres que se destacaram pela luta em favor do desenvolvimento nacional, como Getúlio, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e outros menos notórios, acabaram perseguidos ou mortos por suas posições e ações em prol do desenvolvimento nacional.

A ditadura militar, durante os anos que vão de 1964 a 1985, revelou-se extremamente contraditória a respeito do desenvolvimento nacional. De um lado, fiel a suas origens de movimento militar apoiado e fomentado pelos Estados Unidos no auge da Guerra Fria, voltou-se para destruição implacável das organizações políticas, movimentos populares e lideranças de orientação nacionalista. De outro, buscaram sentar as bases econômicas de um projeto de prosseguimento do processo de industrialização nacional, o qual acabou fracassando por falta de suporte popular e aumento da dependência econômica do exterior.

As forças políticas que derrotaram a ditadura, depois de vinte anos de repressão, não se mostraram suficientes fortes para fazer o país voltar à rota do desenvolvimento. Enquanto isto, no plano internacional, ocorria o fortalecimento das forças econômicas e políticas que buscavam impulsionar o processo de globalização, sob a liderança das grandes corporações internacionais e, paralelamente, debilitar os estados nacionais e suas pretensões de autonomia no cenário internacional.

A partir dos anos 90, com os governos Collor e FHC, especialmente este último, o país foi conduzido celeremente a abrir mão de qualquer pretensão de maior autonomia em seu processo de desenvolvimento. A desestruturação do aparelho de estado, a política econômica de abertura ao mercado internacional e aos fluxos de capital estrangeiro e a entrega da maioria das empresas estatais ao grande capital privado nacional e estrangeiro apontaram na direção de uma rendição definitiva ao capitalismo liberal comandado pelas grandes corporações privadas internacionais.

A subida ao poder de Lula, apoiado pelo PT, um partido de bases essencialmente populares, reabriu a possibilidade de o país voltar a ter perspectivas de enveredar por uma senda de desenvolvimento com maior autonomia frente ao processo de globalização internacionalizante. 

O período de bonança econômica durante os governos de Lula e o grande apoio popular por ele conquistado junto à população, face à melhora na distribuição da renda, funcionaram como atenuadores das pressões pelo aprofundamento de reformas de cunho liberal, ao mesmo tempo em que requereram e justificaram o fortalecimento do papel do estado na condução do processo de desenvolvimento.

 A chegada de Dilma ao poder, coincidiu como término do ciclo de bonança em face do agravamento da crise internacional e o aumento da pressão das forças políticas internas e internacionais que defendem o aprofundamento da liberalização da economia, insatisfeitas com o afastamento do centro do poder político em que se encontram há mais de dez anos.

O governo Dilma, pôs em prática medidas de política econômica para reduzir a taxa de juros da dívida pública e manteve a política de exploração das reservas de petróleo do Pre-sal sob o regime de partilha (o que contraria poderosas forças vinculadas às grandes corporações privadas do petróleo no mundo). Além disto, tentou impulsionar a expansão da infraestrutura econômica com investimentos públicos. Teve, porém, de recuar no primeiro e no último dos aspectos mencionados e tem, no caso da exploração do Pre-sal, caminhado na direção de aceitar a participação de empresas internacionais na exploração de reservas provadas descobertas pela PETROBRAS no campo de Libra, ainda que mantendo o regime de partilha.

 O momento de fragilidade do governo atual diante do arrefecimento do crescimento econômico nos últimos dois anos tem sido aproveitado pelas forças que se opõe a uma maior autonomia do desenvolvimento do país frente ao modelo comandado pelas grandes corporações internacionais. O principal porta-voz internacional do pensamento liberal, a revista “The Economist” publicou esta semana, como matéria especial, o artigo, “Has Brasil blow it?”, nitidamente voltado para desacreditar as ações do atual governo de maior teor intervencionista, entre outras coisas buscando atribuir a retração dos investimentos privados ao excesso de intervenção do governo. Conforme a tradução de seu título, o artigo visa transmitir a ideia de que o Brasil deixou de aproveitar as oportunidades que estiveram a seu dispor, supostamente por erros cometidos na condução da economia. 

 Deixaram, assim, de considerar que sem o maior ativismo estatal imprimido, particularmente a partir do início da crise mundial, muito provavelmente o desempenho econômico do país teria sido bem inferior ao alcançado. Também negligenciaram o fato de que desde os governos de Lula tem sido travada uma batalha incessante para reduzir as enormes desigualdades sociais construídas ao longo do tempo, recuperar a infraestrutura econômica, abandonada durante os governos Collor e FHC, e remontar o aparelho do estado, deliberadamente destroçado no mesmo período.

À palavra de ordem de a “The Economist” seguiram-se imediatamente pronunciamentos de protagonistas importantes das forças pro-liberais, como FHC e José Serra, batendo na mesma tecla do excesso de intervencionismo. Não é sem razão, que eles defendem o modelo de concessões para exploração do petróleo brasileiro, criado durante os governos em foram dirigentes do país. Na visão deles, entregar as empresas estatais e os recursos naturais do país ao capital privado, engordando os lucros das grandes corporações internacionais, é uma forma eficiente e válida de desenvolver o país e atender as necessidades de nossa população.

Este é um momento crucial da vida econômica e política do país, pois se vier a ocorrer uma vitória nas próximas eleições das forças política pro-liberais, certamente será completado o processo de incapacitação definitiva do Brasil, aprofundado nos governos Collor-FHC, para levar adiante um processo de desenvolvimento proclive a afirmar a identidade nacional no contexto das nações.

As forças de esquerda precisam urgentemente tomar consciência dessa situação, de modo a que nas próximas eleições sejam capazes de derrotar as forças pro-liberais que pretendem voltar ao governo. Mas, precisam também se mobilizar para impedir que o atual e o futuro governos se submetam a pressões que o desviem da rota da maior autonomia e da construção de uma identidade nacional.

Não é do interesse do povo brasileiro que nos transformemos em um Canadá, pais de imensos recursos naturais, mas que se transformou num mero território submisso politicamente aos governos das grandes potências e economicamente aos interesses das corporações internacionais. O Brasil precisa e pode ter voz e vez no cenário internacional e afirmar-se como uma nação com personalidade própria, dotado de capacidade para resolver os problemas de sua população e para ter participação genuína na configuração da ordem econômica, política e social do mundo. 

(*) Flávio Lyra –  Economista. Cursou doutorado de economia na UNICAMP. Ex-técnico do IPEA.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

14 Comentários

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  1. Excelente artigo.Concordaria

    Excelente artigo.

    Concordaria em cada linha do autor se a política em seu sentido mais autêntico ainda existisse.

    Flávio Lyra conclama a a união das esquerdas para que o neoliberalismo não se enraíze mais ainda.

    Mas, que esquerda?

    O governo Lula que, como ele menciona, atingiu altíssimos índices de aprovação e grande taxa de crescimento não foi capaz de avançar em mudanças estruturantes.

    Partidos ditos de esquerda como o PSOL cada vez mais aliados ao entreguismo do centro.

    O PSB que sai do governo neste momento em que o próprio autror do texto diz ser  “Este é um momento crucial da vida econômica e política do país, pois se vier a ocorrer uma vitória nas próximas eleições das forças política pro-liberais, certamente será completado o processo de incapacitação definitiva do Brasil, aprofundado nos governos Collor-FHC,”

    O PDT, que de suas bandeiras não sobra mais nada, nem o Brizola Neto sempre escamoteado pelo partido.

    Não está claro que os partidos políticos não defendem mais ideologias, que estão mais preocupados em atender aos interesses corporativos e setoriais?

    No mais, qual o país do mundo que não abraçou o neoliberalismo e se submeteu às grandes corporações?

    A China?

    Ainda, este é mais um artigo que tenta alertar sobre a importância da política, da ideologia, que deve anteceder à gestão, exatamente a gestão, a grande bandeira de Collor e FHC que segundo o autor arrasaram o Brasil em sua autonomia.

    Mas, quantos pensadores mesmo entre os considerados de esquerda que não repercutem o eufemismo do crescer, da gestão, esquecendo que um país. principalmente em um mundo globalizado só crescerá distribuindo riqueza se assim for a vontade política, de princípios ideológicos, o que jamais será permitido enquanto repetirmos bovinamente os lemas crescer, crescer, crescer, gestão, gestão, gestão.

    A história mostra que no regime militar o Brasil alcançou altíssimas taxas de crescimento ao mesmo tempo em que a nossa população perdia direitos em educação com desmonte das escolas públicas e na área da saúde, enquanto o país avançava para índices de desigualdade social e miséria recordes.

    Linguagem, conceitos e eufemismos são armas importantes usadas pelos senhores do andar “de cima” concebidos por jornalistas e economistas capitalistas para maximizar a riqueza e a eficiência do neoliberalismo. Na medida em que críticos progressistas e de esquerda adotam estes eufemismos e seu quadro de referência, as críticas e alternativas que propõem são limitadas pela retórica do sistema.

    1. Excelente

      O texto é excelente pelo ponto de vista e pela facilidade que aborda temas tão complexos e tão singulares da vida política do país.

      Melhor ainda a explanação do Assis sobre o mesmo tema com uma didática de dar inveja a qualquer mestre em administração política.

      Parabéns.

  2. O título de Doutor do

    O título de Doutor do articulista, certamente um referencial a ser respeitado, não nos impede de avaliar seu texto como demasiadamente parcial no que se supõe ser a uma análise acerca da afirmação nacional, supostamente pela via econômica do capitalismo e do estatismo. 

    Parcial porque claramente procura defender ou realçar uma vertente política-ideológica, o que necessariamente não é errado. Desde que. é claro, se respeite e não se oculte o factual correspondente. 

    Para facilitar a análise se faz necessário o fracionamento:

    O desenvolvimento do capitalismo é um processo de luta pela afirmação das identidades nacionais…………….

    Aqui o autor mistura no mesmo balaio dois processos que só incidentalmente ocorrem no mesmo tempo e espaço. Se há uma coisa que é o Capitalismo não possui é qualquer preocupação com nacionalismos, o que o autor chama de “identidades nacionais”. Se pode surgir localmente, como surgiu no século XVIII na Inglaterra, sua expansão e desenvolvimento só se dará mediante a internacionalização. Poderia ser diferente para um sistema econômico que se lastreia basicamente na existência de mercados? Capitais não conhecem bandeiras nem hinos nacionais. 

    A história mostra que a experiência brasileira não tem fugido a essa regra. A industrialização do país deu-se sob a permanente pressão dos países centrais e dos grupos internos associados a esses interesses…

    A experiência brasileira se dá menos por essa permanente pressão(sic) dos países  que chama de centrais e mais por elementos fornecidos em quatro momentos cruciais no século XX: a primeira guerra mundial, a revolução de trinta, a segunda guerra mundial e o soerguimento de uma indústria de base no segundo governo Vargas. 

    Nos entreguerras pela necessidade de substituição de importações. Após a Revolução de 30 por razões políticas(enfraquecimento das tradicionais oligarquias regionais agrárias, por Vargas) e a crise do Café. E no segundo governo de Getúlio pela, aí sim, implementação de um capitalismo de Estado que redundou na construção da chamada indústria de base, em especial a siderúrgica e energética.

    A ditadura militar, durante os anos que vão de 1964 a 1985, revelou-se extremamente contraditória a respeito do desenvolvimento nacional. De um lado, fiel a suas origens de movimento militar apoiado e fomentado pelos Estados Unidos no auge da Guerra Fria, voltou-se para destruição implacável das organizações políticas, movimentos populares e lideranças de orientação nacionalista. De outro, buscaram sentar as bases econômicas de um projeto de prosseguimento do processo de industrialização nacional, o qual acabou fracassando por falta de suporte popular e aumento da dependência econômica do exterior.

    A ditadura promoveu perseguições por ânimo político, certo. Mas apenas por “orientação(econômica) nacionalista? Desconheço. Se no plano político-ideológico o país se alinhava de maneira irrestrita ao EUA, no plano econômico remanesciam desconfianças e desencontro de interesses que remanescem desde as décadas de vinte e trinta quando surge o movimento tenentista, essencialmente nacionalista. 

    Os descompassos na política econômica vigente na ditadura, na qual se sobressaem os grandes projetos de infraestrutura baseados em inversões estatais, máxime nas áreas do transportes, energia  e petroquímica, foram as crises do petróleo(econômica) e o refluxo dos capitais(financeira) que financiaram parte dessa expansão. 

    Ao contrário do que afirma o articulista, o que não faltou foi apoio popular ao regime em função do conservadorismo da classe média e as altas taxas de crescimento que vigoram até 1974. Só após o esgotamento do modelo em decorrência dos fatores retro mencionados e que começa a paulatina erosão do regime autoritário. 

    Após essas pontuações, recuso comentar o que vem à frente tendo em vista se tratar, a meu juízo, mais de um libelo político do que  análise política-econômica  percuciente. Não porque negue totalmente o que expõe, especialmente no que concerne à desestruturação do Estado nos governos Collor e FHC e o retorno do protagonismo do mesmo na Era Lula, e, sim, por sonegar informações e dados que possam entender melhor os fenômenos em causa.

    Collor, por exemplo, não foi só um vilão. Foi o primeiro a ter coragem de afirmar que o “rei estava nu”, ou seja, se não abríssemos nossa economia estaríamos fadados eternamente à párias no cenário econômico mundial e à meter engoela adentro da população produtos de quarta categoria(informática e veículos). 

    O errado nele e em FHC foi a “mão pesada” demais nesse processo de inflexão. Saíriam do 8 e passaram para o oitenta. Olvidaram da nossas tradições e experiências nas áreas político-econômica de cunho historicamente estatista dado nossa sempre latente deficiência de capitais próprios privados. Desembarcaram de mala e cuia no neoliberalismo que emerge a partir do final da década de 80.

    No meio, fizeram coisas boas, sim. Faltou ao economista coragem ou vontade de citá-las. 

     

     

     

     

    1. Identidade nacional

      Bom dia JB Costa,

      Gostei da sua análise, lúcida e apartidária, mostrou coisas boas e ruins dos governos anteriores, e a encruzilhada que o país está metido, não é a toa que o governo Lula/ Dilma está na forma de concessão, passando à iniciativa privada boa parte dos investimentos em infra-estrutura, bem como, a exploração das reservas de petróleo ao capital internacional, coisa impensada à totalidade da esquerda brasileira, em face da falta de recursos do Estado brasileiro. Agora uma pessoa que se diz economista fazer uma comparação sobre a altivez do povo do Canadá pejorativamente, foi a gota d’água, acho que o cubano trocaria seu nacionalismo pela qualidade de vida da população canadense.

  3. …………….  nao eh

    …………….  nao eh recente q andamos em circulo alternando direita e esquerda.

    mas patente estah q nao ha interesse em retomar os vagoes no trilho.  estah bom demais os desmandos no congresso nacional, no judiciario – onde os interessados tem seus agentes infiltrados.

    o povo – ora o povo eh mero detalhe…!!   vivemos um faz de conta …  depois o governo se queixa q nao houve compradores para concessao de rodovias ou extraçao de oleo ja descoberto pela petrobras.

     

     

  4. O problema de fugir ou

    O problema de fugir ou desconhecer a Realidade dinâmica dos fenômenos  é que ela, mais tempo, menos tempo, emerge em qualquer tempo no futuro com face indesejável quando geralmente  já desfrutamos de condições mais desfavoráveis para entendê-la ou enfrentá-la. Tudo por conta do nosso  orgulho e autossufiência tão enraigados. Quantas oportunidades ao longo da nossa breve história perdemos? 

    Se efetivamente causas  exógenas contribuíram para o nosso subdesenvolvimento, negar é impossível que fatores de caráter eminentemente endógenos também deram seu quinhão de contribuição, Perdemos oportunidades no Império, na Velha República, na Ditadura Vargas, ns governos democráticos, nas ditaduras militares e nos períodos pós-democratização. 

    Não obstante essa distribuição, muitos teimam ainda em sempre “olhar para fora” no momento de analisar nossos entraves. A culpa é sempre do “outro”. Não fosse por esse detalhe estaríamos hoje na “terra onde floresce o leite e o mel”.

    Que tal amadurecermos e de vez em quando darmos uma olhada para o próprio umbigo?

    Exemplos abundam ao longo da nossa trajetória. Vão desde a nossa insistência em modelos que vão na contramão da história, a citar a adoção de exploração  econômica com base na mão de obra escrava, até os despedícios de oportunidades como os ocorridos após os dois conflitos mundiais, nos quais não soubemos o que fazer com os capitais auferidos com a venda de matérias-primas destinadas aos esforços de guerra na Europa. 

    Num salto mais adiante, a partir de 64,  nos defrontamos com os militares que sobraram em termos de projetos megalomaníacos e que faltaram no que tange ao discernimento de prever uma crise que se mostrava iminente. No caso, a crise do Petróleo de 1974. 

    Na dimensão política, que ótima oportunidade jogamos fora após a árdua luta pela redemocratização e a feitura da Carta de 1988, uma das mais modernas no Mundo!  Momento ímpar ignorado, no qual um verdadeiramente Pacto Social e Político poderia ter sido firmado.  Lapso que até hoje causa efeitos deletérios nas nossas vida. 

    Se alcançamos a tão sonhada estabilização econômica  e conseguimos avançar no contrôle das engrenagens do Estado com o Plano real nos governos Itamar Franco e FHC, quanto não deixamos de ganhar por força da insistência (ou dolo mesmo) num modelo já empiricamente falho naquela conjuntura(Neoliberalismo)?

    Pois é. Temos agora o ufanismo da redução da desigualdades; do pleno emprego; da restauração do Estado como agente indutor do crescimento; da inserção e mobilidade social. Politicamente, três governos com apoio popular inquestionável. A pergunta que deve ser feita é: e daí? Chegamos no Fim da História? Jogaremos no lixo mais essa chance de darmos consistência ao nosso desenvolvimento? Podemos colocar para escanteio a soberba e o ufanismo de ocasião e dar vez ao pensamento crítico construtivo à busca de novos caminhos e o assentamento dos velhos que ainda são pertinentes? 

    Nassif num artigo na semana passada chamou a atenção para um detalhe importante: falta-nos VISÃO ESTRATÉGICA. Isso é fato. Não existe essa de crises imprevisíveis totalmente, nem incapacidade de projetarmos com uma margem aceitável de acerto o futuro, merce de alguns dados serem randômicos. 

    Esse modelo econômico atual tende  logo  a se esgotar por falta de consistência. É de caráter essencialmente conjuntural. Precisamos nos valer dela – conjuntura favorável – para fortalecermos as estruturas básicas do sistema, a começar por políticas mas áreas da tecnologia, inovação, informação, educação e meio ambiente. 

    Como estaremos daqui a dez, vinte, trinta anos? Melhores ou piores? Visão estratégica não é prever o futuro. Isso é da seara dos advinhos. Não é criar planos disso, planos daquilo, a exemplo do PAC, uma mera peça de execução, e não de planejamento.  É, sobretudo, com honestidade,  projetar os dados do presente para o futuro levando em conta as ambiências externas e internas. 

    Isso certamente não cabe em discussões ou militâncias políticas apaixonadas cujo exaurimento  se dá a cada dois anos, ou no máximo quatro. 

  5. Sério mesmo que o modelo que

    Sério mesmo que o modelo que o Brasil não deve seguir é o do Canadá? Um dos países que – malgrado não tenha muita voz no plano internacional e ande a reboque dos EEUU – possui um dos maiores PIB’s per capita e melhores indicadores de justiça social do planeta? Não tinha um exemplo melhor (ou pior) não?

    Concordo com a questão sobre as identidades nacionais, mas discordo desta contraposição colocada “direita-entreguista, esquerda-nacionalista”. Os norte-americanos, exemplo maior de planejamento de longo prazo, estão longe de ser esquerdistas, muito pelo contrário.

    O que aparentemente (não tenho ainda uma opinião formada sobre este assunto) influi enormemente para as elites de um país serem entreguistas ou não é trabalho para psicólogo, pro divã.

    Ou pra historiador. 

    Nossas elites sempre lucraram entregando a riqueza para as metrópoles. Sempre assimilaram a cultura e as instituições do poder de plantão (antes portugal, depois inglaterra, frança, hoje eeuu) e enxergaram o Brasil como inferior ao mundo desenvolvido. Nunca se viram capazes de superar os seus patrões, e estão OK com isto, pois lucram muito com este escambo de riquezas.

    O entreguismo é um processo contínuo.

    Os países hoje desenvolvidos, subsidiaram fortemente sua indústria local antes de propagarem desregulamentação para os países pobres, e nós caímos igual patos nessa conversa. Nós nunca nos vimos capazes de lidar com nada.

    Acabamos (por omissão) com a indústria nacional de carros porque os veículos estrangeiros seriam melhores, privatizamos nossas empresas porque o governo seria incapaz de administrá-las, formamos grandes players internacionais em……exportação de carnes, e hoje o papo é o mesmo, temos que partilhar nosso petróleo com estrangeiros porque a Petrobras não dá conta da demanda. 

    Realmente, há que se reconhecer que os governos do PT são menos entreguistas do que os passados. Mas falta um planejamento de longo prazo, falta vislumbrar aonde queremos chegar e lançar as medidas necessárias para tanto, o que pode requerer anos, décadas.

    O problema é que planejar não dá votos, pois pro eleitor do ano que vem não interessa o que vai ocorrer daqui há 20 anos, então o que vemos é o improviso, o estadista das ocasiões, o que dá prioridade total ao que vai ser melhor eleitoralmente a curto prazo (mesmo que maléfico a médio e longo).

    Então, eu acho que o buraco é muito mais embaixo do que medidas pontuais ou guerra esquerda vs direita. Se pelo menos tivéssemos sido uma colônia de povoamento, igual os EUA, com a descoberta tardia de nossas riquezas, o negócio Talvez poderia ter sido melhor. 

    Mas parece que ainda teremos muito trabalho pela frente para ocorrer uma mudança de mentalidade, pois com esta elite, mídia e políticos que temos, fica difícil. 

    A comparação com a China é sempre recorrente, mas estamos  falando de uma nação com milhares e milhares de anos de história, que só em pequenos períodos foi subordinada ou se tornou colônia de outros países, e que em muitas épocas históricas foi uma das nações mais desenvolvidas do planeta (senão a mais).

    Argumentam que China é uma ditadura, então é muito mais fácil planejar. Ok, concordo plenamente. Mas uma comparação breve com o projeto de desenvolvimento dos chineses com o ocorrido em nossa ditadura militar é de fazer doer a bile. 

    É claro que estou abordando de uma maneira bem simplista a questão, desconsiderando as imensas contradições contidas no processo chinês (questão ambiental, trabalhista, liberdades públicas, etcétera), mas quando colocamos a discussão vista sob o prisma único da identidade nacional, fica muito claro que no Brasil falta (bem como sempre faltou, com breves intervalos) um projeto claro de desenvolvimento para o nosso país.

    1. Muito bom o seu

      Muito bom o seu comentário.

      Eu acho que o Brasil precisa encontrar seu caminho para o desenvolvimento como nação. Limitar tudo esquerda (socialista/comunista) e direita (neoliberal) nos prende e impede de escolhermos uma via viável para um desenvolvimento. Tanto o socialismo quanto o neoliberalismo fracassaram. 

  6. Respeitando os pontos de

    Respeitando os pontos de vista acerca da identidade nacional, com históricos dos políticos de direita e esquerda, discordo do modo de distribuição das tendencias sociais, imagináveis no modo utopico; dependentes, em última análise, da concepção da essência (valor do trabalho), a qual prevaleceria na projeção da futura afirmação humana da sociedade, entre a auto-criação das relações de troca do objeto e o dinheiro.

     A história das nações se fazem com praticas reais de existência e não através de comparações históricas, em que as sociedades são suprimidas pelo valor virtual dos banqueiros e os títulos públicos nas mãos dos especuladores internacionais. É preciso que haja uma regra internacional de criação do espaço exterior do Estado, que conduza a afirmação do valor do trabalho dentro da origem natural do investimento público, como uma forma nacional de organizar a produção e sobre as mudanças de reservas da capacidade entre nações; e isto é um atributo natural do homem, para mediar o reflexo, para si próprio, do dinheiro necessário ao processo histórico. 

     

  7. Armas do Diabo

    A dominação sobre as nações não é feita pela tecnologia, está pode ser apreendida e copiada, ou mesmo desenvolvida, o que garante a supremacia é o complexo de inferioridade, que mata o espírito contestador, que de outra forma, com as vantagens comparativas do Brasil, seriam, invencíveis.

    Acorda, Dilma!

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