Monstro de três cabeças, por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Quem está destruindo o fundamentalismo de mercado e defendendo uma política desenvolvimentista de intervenção moderada do Estado na economia não são os partidos de esquerda

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Monstro de três cabeças

Ontem a vitória do Partido Conservador no Reino Unido marcou mais um capítulo da crise do neoliberalismo e do seu projeto de globalização. Como foi o caso da eleição de Trump em 2016 e o referendo do Brexit no mesmo ano, o vitorioso foi o nacionalismo conservador.

A esquerda em todo mundo vem fazendo a crítica do neoliberalismo desde os anos 1980, mas afinal quem está destruindo o fundamentalismo de mercado e defendendo uma política desenvolvimentista de intervenção moderada do Estado na economia não são os partidos de esquerda, mas os partidos conservadores nos dois países onde, em 1980, a “virada neoliberal” – a transição da social-democracia desenvolvimentista para o neoliberalismo – foi mais marcante.

O projeto da globalização dos Estados Unidos fracassou porque o grande vitorioso da liberalização comercial foi a China; o neoliberalismo fracassou no plano econômico por essa mesma razão e fracassou no plano político, porque os trabalhadores brancos ou a baixa classe média nos Estados Unidos e no Reino Unido foram objetivamente prejudicados pela liberalização comercial.

Enquanto isso o Brasil mergulha no neoliberalismo com Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes. Mas, como analisou muito bem hoje Fernando Haddad, esse governo não é apenas neoliberal, é também autoritário, com o ministro Sérgio Moro e fundamentalista, com a ministra Damares Alves. Haddad denominou-o “geringonça”, mas eu prefiro denominá-lo um monstro de três cabeças.

Redação

3 Comentários

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  1. Nassif: pelo visto você não parece iniciado em Mitologia grega. Três cabeças? Tá subestimando. Trata-se da própria Hidra de Lerna. E com maior poder de regeneração, quando decepada uma das cabeças. Também mata só com o hálito. Só estamos aguardando Hercules, para liquidar esse monstro criado pelos VerdeSauvas.

  2. Enquanto a esquerda não construir um discurso que reconquiste a clasee média, dificilmente voltará ao poder. As famílias estão acossadas pelo fantasma do desemprego, pela “uberização” da economia formal e pelo aumento colossal do custo de vida nos centros urbanos. Quem, há dez anos conseguia pagar escola dos filhos, aluguel+condomínio e plano de saúde com folga, parece que hoje só consegue dar conta entrando no cheque especial. Parece bobagem, se compararmos essa situação com o desatre social das camadas mais pobres, mas mesmo assim, esse é um problema que não pode ser ignorado. Bolsonaro foi eleito também com o voto do ressentimento dessas classes, que têm visto seu padrão de vida cair drasticamente. O custo de vida em grandes centros subiu muito acima da inflação e isso deveria ser atacado pela esquerda, através de projetos factíveis e direcionados a esse setor.

    Projetos de investimento em habitação, não como o MCMV, mas algo volatdo para quem mora de aluguel, nos moldes da Alemanha. Permitir a exploração do aluguel de imóveis com um preço-alvo voltado para o assalariado. Moradia é um direito, e os preços não podem ser completamente fixados pelo mercado, deveria haver uma porcentagem significativa de imóveis nos grandes centros cujo o valor do aluguel esteja de acordo com a renda familiar. Quando eu morei na Zona Sul do Rio entre meados de 2010 e final de 2014, vi meu aluguel saltar de aprox. R$ 800,00 para quase R$ 2.000,00 num apartamento de um quarto! Um salto e tanto! Se houvesse essa reserva, os preços subiriam, mas não tanto. Outro ponto fora de controle é o valor dos condomínios, que são exorbitantes, sem uma explicação minimamente plausível.

    Com relação a educação, os valores das mensalidades estão ficando completamente impagáveis! R$ 3.800,00 por uma creche??? Isso não tem sentido! Uma forma de se evitar esse crescimento mexponencial seria expandir para todo o país a rede Colégio Pedro II (CPII). Uma escola de excelência, que tem apresentado resultados equivalentes, quando não superiores, aos da rede particular.

    Com relação à saúde, uma medida interessante seria estabelecer que o valor das mensalidades dos planos de saúde devam ser de acordo com a renda, além disso, uma forte regulação do serviço prestado, para garantir a qualidade e evitar discriminação.

    São ideias seminais que precisam ser trabalhadas, mas abondonar a Classe Média a própria sorte, não me parece nada inteligente. Afinal de contas, o fator econômico é sempre o mais importante.

    1. Quem abandonou a classe média a própria sorte foi ela mesma com sua inacreditável ignorância política e econômica.
      Daqui a alguns anos não haverá mais classe média no Brasil, pelo menos a baixa e média. A alta classe média vai resistir ou até aumentar, por hora.
      O resto será toda ela de novos pobres. E merecem por acreditar em Aécio, Moro, Bolsonaro, globo, etc etc.
      QUE SE FODAM.

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