Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Moro e o crime organizado. A visão que Karl Marx não teve, por Armando Coelho Neto

Moro e o crime organizado. A visão que Karl Marx não teve

por Armando Rodrigues Coelho Neto

A greve geral foi um sinal de alerta. Muito a se questionar, mas nada a comemorar. Quem faz o mais faz o menos. O congresso mafioso (parte dele financiado pela Odebrecht) é o mesmo do golpe.

O ex-Supremo Tribunal Federal (antes conhecido como “grande balcão de negócios”) é o mesmo que calou sobre o “impeachment tabajara”. Juízes continuam a dizer que precisam julgar em consonância com a opinião pública. Mas são eles que vazam informações para formar essa mesma opinião.

O pensamento único, capitaneado pela Rede Globo de televisão, continua dando sustentação a maior farsa política e jurídica do século.

Fato: o crime organizado está no poder. Partido político não é organização criminosa. Ainda que a Globo (por exemplo) tente impor outra ideia do que possa ser crime organizado, a doutrina jurídica internacional pontifica que crime organizado ocorre quando todos os poderes de um país têm membros do crime como suporte.

Isto posto, mesmo que delegados da PF tenham apregoado que o PT aparelhou as instituições, nunca apontaram sequer um carcereiro petista no órgão. Pelo contrário, aquela Swat de proveta virou comitê do Aécio. Os mais extremistas, quando não fizeram tiro ao alvo no rosto de Dilma Rousseff, publicaram em suas páginas sociais: “PF a única e real oposição ao PT”.

Crime organizado é um conceito com o qual Marx Karl Marx não teria trabalhado. Mas, ele falava de supraestrutura social – expressão distante das apostilas policiais. Grosseiramente, supraestrutura seria o ponto nevrálgico no qual se produzem e se disseminam ideias que legitimem as ações do Estado em prol de interesses dos grupos dominantes. Traz a ideia de consolidação e perpetuação de domínio. Seria um processo no qual se promove a sedimentação da base jurídico-política e a estrutura ideológica vigente numa sociedade.

Nela, Estado, Religião, Artes e as formas de comunicação, etc. teriam papel inexorável. O mestre e doutor em sociologia Cristiano das Neves Bodart lida bem com esse tema. Portanto, o verdadeiro crime organizado se consolida quando domina a suprafraestrutura. Toma conta de empresas, influencia eleições, estabelece a cultura cartorial e corporativa, assume o controle do Estado.

Desse modo, compra certidões, sentenças com votos inéditos e rebuscados; sepulta doutrinas jurídicas e recria outras; traz para tempos de paz teorias de guerra (a tal teoria do domínio do fato serve de prova disso).

Desse modo, hoje, mais que nunca, a Odebrecht mostrou quem efetivamente tinha o domínio do fato e atiça a superestrutura. Uma capacidade de influência forte, proativa em favor da ganância, do lucro, do poderio. Longe, muito longe, portanto, do insólito e inexpressivo poder decisório de Lulas, Zés Dirceu e outros.

Quando Lula foi eleito (primeiro mandato), este servidor disse num grupo fechado da Polícia Federal que o PT não chegou ao poder. Apenas venceu eleições. Riram. Complexo demais para filhote da ditadura entender. Mas, por decoreba, repetiam que na vigência do crime organizado “o Presidente da República não manda, obedece”.

Mais à frente, um alto barnabé da PF disse quase que textualmente: “Não sei quem manda nesse país. Converso com Lula, ele chama ministros, especialistas, diz quero isso e aquilo para a PF. Ele mostra dedicação, empenha a palavra. Sinto sinceridade, mas nada acontece. Não sei quem manda o País, nem onde trava”.

Com a reeleição da Presidenta Dilma Rousseff (Fora Temer!), um ex-Auditor Fiscal, hoje advogado, com trânsito na área, disse que a presidenta estava sendo sabotada na área econômica e que havia um paredão de oportunistas a impedir até um simples aconselhamento. Era o Estado aparelhado contra o PT, de forma a deixar claro que o controle do país sempre esteve fora do poder legalmente instituído.

O exercício da Presidência era tão inexpressivo quanto os atos do impostor Temer, hoje coagido pela Farsa Jato e refém das forças estranhas que o cercam. Isso não é defesa do impostor. O fato é que ele “mesoclisando” e um sapo coaxando não faz diferença.

O PT tentou ser pragmático nesse lamaçal sem a expertise do tucanato. Lula e Dilma foram vítimas do oportunismo até de supostos “aliados”. Foram pródigos em concessões, perfumarias e postulados de boas intenções. Foram autores e vítimas num contexto que dei de chamar sociedade de Moros, Marinhos, Mesquitas, Malafaias e maçons (há maçons e maçons).

Essa tal sociedade é a própria supraestrutura. Nela, a Farsa jato é a negação de si mesma. Seus rompantes morais, legalistas, redentores e messiânicos esbarram no sangue cultural que corre nas esclerosadas veias de seus protagonistas.

A Farsa Jato segue contraditória, finge combater o crime fortalecendo outra facção. Finge um jogo político de um lado a serviço de outro. Nega ambos os lados quando quebra empresas sinalizando com a alternância corporativa. É como se o pais precisasse mudar de dono.

Sob outro ângulo, quando tenta destruir Lula/PT, atinge conceitualmente a possibilidade de uma sociedade inclusiva e mais justa – a única força que poderia ameaçar a tal supraestrutura simbolizada por Moros, Marinhos, Malafaias… Seriam os oficiantes da Farsa Jato cúmplices ou inocentes úteis?

Eis que, o país que há pouco debatia direitos trabalhistas para empregadas domésticas, está domesticado pela supraestrutura, com a expectativa de que outras categorias a elas sejam equiparadas (no mais desumano dos sentidos). E Sérgio Foro permanece como lanterna que mais cega do que ilumina.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalistas e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

11 Comentários

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  1. Ótimo artigo, escrito por

    Ótimo artigo, escrito por quem conhece o sistema.

    Para mim isso está claro desde o início. Globo plantou o ódio, Moro é a solução, PF-MPF-STF-CNJ-FIESP-OAB são os meios, e Lula-Pt os inimigos a serem literalmente mortos.

    Há muita simbologia nesse caçada ao Lula da Silva. Há muitas mensagens em se perseguir o outsider, o selfmade-man, o nordestino, o sindicalista, que não fala inglês, o ex-presidente do povo e que sofreu chacota do dia que entrou até o dia que saiu do Planalto. Não importa as estatísticas, não se admite que um caboclo governe do povo para o povo, não se admite a criação de novas elites.

    Moro et caterva agem convictos. A mesma convicção dos racistas científicos cujo um dos nossos expoentes foi celebradíssimo Silvio Romero. Não por acaso o Brasil dá esse passo enorme para trás, para se reencontrar com ideias do início do século XX que comprovavam por A + B o destino fúnebre de mestiços, negros e índios, e sua incapacidade genética de pensar e se governar.

    PT cometeu seus erros, mas não são por esses erros que é malhado diuturnamente, mas por aquilo que ele representa – a ascensão dos mestiços. Os coxinhas que ainda defendem a morte de Lula não por acaso deixaram cair a máscara e hoje se orgulham do preconceito escrito na testa e não mais se constrangem em se assumir bolsonazis ou moristas.

    São Paulo-PSDB deu o golpe simplemente para assumir o poder. Não basta roubar, tem de governar. A ironia é que o estado que mais se vangloria de ser trabalhador é na verdade o reduto do parasitismo herdado de Europeus. O légitimo representante de Wall Street, da City, do rentismo improdutivo e de um globalismo escravocrata travestido de democracia ocidental.

  2. Três elementos de prova, não de convicção, da minha tese

    Prezados leitores,

    Há quase três anos – portanto pràticamente desde que foi deflagrada a golpista e midiático-policial-judicial operação – tenho afirmado verbalmente, e por escrito, que a chamada operação “Lava a Jato” é na verdade uma Fraude a Jato e uma ORCRIM institucional, composta por policiais federais, procuradores do MP e juízes, com destaque para sérgio moro. Várias foram as provas e demonstrações que apresentei disso. Basta os interessados lerem as reportagens-denúncia de Marcelo Auler, para chegar a essa conclusão. Além disso, basta elencar os crimes continuados cometidos por policiais federais, procuradores do MP, por sérgio moro e desembargadores do TRF4 e ministros do STF, para reunir um calhamaço de provas cabais.

    Neste artigo, escrito por um ex-DPF, que é jornalista e advogado, há afirmações e provas, também cabais, de que os hoje ocupantes do poder – com apoio, colaboração e participação não só dos integrantes da Fraude a Jato, mas dos tribunais superiores e das três Armas – formam, sim, uma ORCRIM. Observemos com atenção alguns trechos:

    “Fato: o crime organizado está no poder. Partido político não é organização criminosa. Ainda que a Globo (por exemplo) tente impor outra idéia do que possa ser crime organizado, a doutrina jurídica internacional pontifica que crime organizado ocorre quando todos os poderes de um país têm membros do crime como suporte.”

    “Portanto, o verdadeiro crime organizado se consolida quando domina a supra-fraestrutura. Toma conta de empresas, influencia eleições, estabelece a cultura cartorial e corporativa, assume o controle do Estado.

    Desse modo, compra certidões, sentenças com votos inéditos e rebuscados; sepulta doutrinas jurídicas e recria outras; traz para tempos de paz teorias de guerra (a tal teoria do domínio do fato serve de prova disso).”

    O texto inteiro está repleto de provas de que as verdadeiras ORCRIMs estão hoje no poder. E dentre elas, as institucionais são as mais perigosas, pois além de criminosas elas podem perseguir e privar de liberdade os cidadãos que as denunciam, como eu e muitos outros leitores dos blogs e portais progressistas.

     

  3. PT nunca deixou de ser oposição
    Bem esclarecedor! Vai ao encontro do que eu sempre disse: PT NUNCA foi situação, só oposição. Sim! mesmo quando Lula e Dilma chefiaram o Executivo.

  4. Também não tenho a menor

    Também não tenho a menor dúvida de que o crime organizado é hoje quem assina decretos e pauta a mídia. O golpe arrebentou (ou talvez o que tenha feito foi apenas mostrar a fragilidade) as bases do nosso “sistema” de contrapesos e freios.

  5. O Brasil tem donos

    Deste excelente texto, reptio as conclusões que cheguei:

    O Brasil tem donos, assim como todos os povos e países tem donos. E mesmo o mundo tem donos. São o que se chama elite, são os donos do Poder.

    Todo aqulee que tem poder é é dono de algo, não aceita perd~e-lo e não gosta de mudanças, pois quer que a situação prossiga, quer anter seu poder. Quando o PT começou a espalhar meras sementes de inclusão e mudança social tímidas, toda nossa clase alta, média e elite reacionária se desesperaram, e agora estão destroçando tudo que tenha sido mudança. Querem o Brasil mais travado e reacionário possível. Querem a senzala de volta.

    O Brasil foi criado pelos portugueses com a seguinte orientação: Esta terra existe pra suprir os luxos e riquezas dos donos da Metrópole. Estes, os verdadeiros donos, nunca nem viriam ao Brasil. Escolheriam seus tenentes, este viriam ao país e teriam um contrato social: mantenham reenciando o grosso do lucro pros seus senhores na metrópole, e poderão em troca, explorar livremente a terra e seus habitantes. E nossas metrópoles exploradoras já foram Portugal, Holanda, Inglaterra e são so Estados unidos atualmente. um dia, talvez sejam a China. Nossa eleite, os Donos locais, estão satisfeitos com esta situação e são mediocres e covardes pra querer ees mesmos usarem todo o potencial da terra pra tentarem ser mais que donos locais e passarem a ser Donos do Mundo, como os Koch e os Bush são, por exemplo.

  6. SIMPLESMENTE ÓTIMO.

    Valeu Armando, estou ficando cada vez mais rico com suas jóias em forma de texto. Muito bom mesmo, principalemente que exitem maçons e maçons, é isso mesmo. Aquilo que apoiou o golpe passa longe.

  7. “Foram autores e vítimas num

    “Foram autores e vítimas num contexto que dei de chamar sociedade de Moros, Marinhos, Mesquitas, Malafaias e maçons (há maçons e maçons).”

    …sociedade de merda, “aliteralmente” falando.

  8. outra ordem

    Eu colocaria a globo, e quem nela manda, they, que não sabemos, na frente de qualquer organização criminosa que toma conta do país. Depois os outros, alguns são crianças mal educadas que são atiçados, outros bobos de barriga pra frente.

    globo bandida e o mercado. O resto é resto.

    Ironia, o LULA, só mesmo um gênio político conseguiria isto, já os derrotou hoje mesmo, o ataulpho reconhece, está eleito e espera só a eleição. E eles terão que dar um novo grande golpe no país. E um novo grande golpe destroi a eles próprios.

  9. Odebrecht, JBS, Bradesco, e

    Odebrecht, JBS, Bradesco, e outros bancos, empreiteiras, frigoríficos, cervejarias. financiaram e elegeram mais de 70% do congresso atual. Essas empresas deveriam explicar para a população e para não haver mau entendido com seus deputados se apoiam ou não a reforma da previdência, seriam essas empresas muitas sonegadoras as maiores beneficiarias das reformas impopulares de Temer, ou financiaram e elegeram esse congresso para outras medidas?

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