Na direção do abismo, por Lindinaldo Freitas de Alencar

No final, trata-se da disputa para aumentar a transferência de recursos do Estado brasileiro para o sistema financeiro.

Na direção do abismo

por Lindinaldo Freitas de Alencar

Em meio a anúncios de cortes no orçamento do governo atingindo em cheio a educação, Forças Armadas e diversas áreas, o governo se reveza entre suas lutas internas tresloucadas e fazer do país uma nação refém da reforma da previdência.

Sobre a previdência se gestou enorme mito, história para boi dormir, como se diz por aí. A ideia é bastante simples: ao fazer a reforma, o Brasil sinaliza ser um país em que o governo está comprometido com a situação fiscal, gerando confiança para que os tão sonhados investimentos sejam realizados, o que retomaria o crescimento econômico. Há ao menos duas indagações que qualquer pessoa dotada de raciocínio deve se fazer: há garantia de que tal teoria irá funcionar? É passível de verificação empírica e histórica essa formulação? Para ambas a resposta é simplesmente NÃO.

A reforma da previdência não está pautada com o propósito de torná-la mais justa socialmente e sustentável financeiramente. Ela se impõe unicamente pela necessidade de liberar ainda mais o orçamento do governo para manutenção da política de pagamento de juros da dívida. No final, trata-se da disputa para aumentar a transferência de recursos do Estado brasileiro para o sistema financeiro. Mas se os investimentos não acontecerem após a reforma? A lógica é simples: a situação fiscal do país ainda não será boa o suficiente para gerar a confiança necessária, novos cortes, novas reformas serão impostas para que se busque a santa confiança dos investidores, capturando cada vez mais o orçamento para alguns.

Enquanto isso, o desemprego continua galopante, entre os desempregados, desalentados e subocupados, já são cerca de 30 milhões de brasileiros. A indústria já acumula queda de 2,2% esse ano, destruindo empregos de melhor qualificação. A previsão para o investimento público em 2019 é a menor em 14 anos e não há qualquer desenho de política econômica voltada para retomada do emprego e da economia que não dependa da tal confiança dos investidores.

Analistas do próprio mercado já falam em uma segunda década perdida para a economia brasileira. Entretanto, mantida a política atual, dificilmente será perdida para o mercado financeiro que enjaulou o orçamento público, domina as instituições e tornou o país inteiro refém de seus interesses.

Para a esmagadora maioria da população o que fica é o desemprego, relações de trabalho cada vez mais precarizadas e o rebaixamento dos serviços públicos diante do apequenamento do orçamento para as despesas sociais.

O governo Bolsonaro conseguiu em pouco tempo demonstrar que é incapaz de conduzir o país em torno de um projeto voltado ao desenvolvimento nacional, pelo contrário, trata-se do governo da divisão, da picuinha, da imposição das ideologias dos seus em um processo de guerra permanente contra tudo e contra todos.

Para alegria de poucos, o Brasil continua à deriva, sendo empurrado pelos ventos do mercado, satisfazendo seus desejos e vontades, mesmo que sob às custas de levar o país na direção do abismo.

Redação

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