Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Noventa anos da Grande Depressão de 1929, por Andre Motta Araujo

Que os NOVENTA ANOS do início da Grande Depressão sirvam de lembrança e lição para os que hoje não sabem combater a recessão brasileira.

Noventa anos da Grande Depressão de 1929

por Andre Motta Araujo

Em 24 de outubro próximo se dará o 90º aniversário do chamado “crack da Bolsa” que deu início a uma década de crise econômica profunda, chamada de a Grande Depressão de 1929, fato que provocou enormes cataclismas políticos que levaram o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Sem a Grande Depressão provavelmente o Partido Nacional Socialista não faria maioria no Parlamento alemão em janeiro de 1933 e Hitler não seria Chanceler. Por causa da crise de 29, o desemprego na Alemanha chegou a 40%, nos Estados Unidos foi de 25% e lá a crise só começou a ser combatida com a eleição de Franklin Roosevelt em janeiro de 1933.

Roosevelt simplesmente mudou o rumo da política econômica da Presidência de Herbert Hoover, que o antecedeu, política que era deixar que o mercado sozinho curasse a crise, como pensam os neoliberais brasileiros de hoje, operou o Estado para resolver a crise com medidas que só um Estado pode praticar.

Hoover e o Chairman do Federal Reserve, Eugene Meyer, não tinham plano algum para sair da Depressão, achavam que o mercado resolveria.

Aconselhado pelo economista inglês John Maynar Keynes, Roosevelt demitiu o presidente do FED, mesmo sendo o banco central americano teoricamente independente (uma lenda) e jogou dinheiro na economia em grande escala através de contratação de 6 milhões de desempregados para consertar estradas, tuneis, pontes e parques, apenas para gerar renda financeira, criar demanda e fazer a economia sair do chão.

Ao mesmo tempo, fundou uma grande empresa estatal, a Reconstruction Finance Corporation, que resgatou 8.000 bancos que tinham fechado e milhares de outras empresas em dificuldades financeiras. A RFC chegou até ao Brasil, onde criou a Rubber Reserve Company, depois Rubber Development Company em Manaus, posteriormente transformada em Banco de Crédito da Borracha S.A. e hoje é Banco da Amazonia S.A., é de fato e de direito a mesma empresa Rubber Reserve.

Foi Roosevelt e sua política do New Deal quem resgatou a economia americana, tarefa completada a partir de 1940 com as encomendas de guerra da Inglaterra e depois do próprio EUA. Já em 1942 não havia desemprego nos Estados Unidos, a economia andou bem até 1970.

A GRANDE DEPRESSÃO NA ALEMANHA

Na Alemanha, a Depressão teve efeitos ainda piores do que nos EUA. A política econômica da República de Weimar, após o debacle da Bolsa em outubro de 1929, foi conduzida pelo Chanceler Henrich Bruning, um economista, na linha ortodoxa de “cortar” tudo, salários e despesas do governo, como se faz no Brasil de hoje. Aprofundando a crise, Bruning tornou-se impopular por ter aumentado muito o desemprego, deixou o cargo em 1932, assumindo Franz von Papen e seguido por Kurt von Schleitcher, predecessores imediatos de Hitler.

Bruning fugiu para os EUA e tornou-se professor da Universidade de Harvard, morreu em 1970.

Ao assumir o poder em 1933, na mesma época em que Roosevelt assumia os EUA, Hitler  tomou medidas econômicas do mesmo teor :

EXPANDIU O GASTO PÚBLICO COMO REMÉDIO CONTRA A DEPRESSÃO, exatamente o contrário do que pensavam e faziam os “economistas de mercado”.

ENTRA EM CENA HJALMAR SCHACHT

Hjalmar Schacht era de uma família rica e culta da Jutlandia, formado em filosofia pela Universidade de Kiel, foi crítico teatral em jornais de Kiel.

Tornou-se célebre em 1923-1924 quando com um engenhoso plano acabou com a hiperinflação alemã, a maior da história, conhecido desde então como Plano Schacht, usando uma moeda de transição ancorada em uma moeda forte, foi o modelo exato usado no Brasil pelo Plano Real, até nos detalhes.

Nessa época Schacht, Comissário da Moeda da República de Weimar e depois presidente do Reichsbank, o típico “economista das circunstâncias”, podia tanto acabar com inflação como fabricar moeda, o que fez de 1933 a 1938, triplicando o PIB alemão em cinco anos, mesmo que para a guerra.

Schacht conheceu Hitler na casa de Herman Goering e foi por ele nomeado presidente do Banco Central alemão em março de 1933. Em 1934 Schacht tornou-se Ministro da Economia do Terceiro Reich e com medidas ousadas e nada ortodoxas, como a emissão de “bônus rotativos” conhecidos como MEFO bonds, na verdade criação de moeda nova para financiar o rearmamento e a construção das “autobahns”, Schacht em dois anos acabou com o desemprego.

Já escrevi aqui vários artigos sobre Schacht, que foi o inspirador da criação do BIS-Banco de Liquidações Internacionais, conhecido como o “Banco Central dos Bancos Centrais” ou Banco do Basileia. Schacht foi julgado no Tribunal de Crimes de Guerra de Nuremberg, absolvido, morreu em 1970.

A CRISE DE 1929 DEMONSTROU QUE SÓ O ESTADO ACABA COM RECESSÃO

Além de suas consequências históricas, as medidas anti-recessivas praticadas por dois regimes políticos completamente distintos na mesma época, apontam para uma conclusão. Só o Estado por medidas expansionistas de gastos públicos tira uma economia da recessão, o mercado privado NÃO TEM ESSA CAPACIDADE, como de forma teimosa e cega querem fazer crer os neoliberais brasileiros.

Pior ainda, as medidas de AJUSTES POR CORTES DE GASTOS aprofundam a recessão e aumentam o desemprego. Essa lição a História já ensinou repetidas vezes, mas eles não aprendem, continuam insistindo. Um Keynes e um Schacht são produzidos a cada Século, já os tolos e teimosos “economistas neoliberais” são produzidos em abundância a cada dia.

Que os NOVENTA ANOS do início da Grande Depressão sirvam de lembrança e lição para os que hoje não sabem combater a recessão brasileira.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

9 Comentários

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  1. A Grande Recessão de 29 não causou nenhum ‘DonSebastianismo’ por lá. Prolongou o Mandato de um Presidente popular mas não o transformou num Caudilho. A Democracia e alternância de Poder foram preservadas. Diferentemente do Brasil, que procurou pelo caminho que parecia fácil. E vocês sabem no que resultado os caminhos que nos parecem fáceis. METAMORFOSE !!! Cabeça vira rabo. E também estamos por 90 anos pagando por Nossas Escolhas Erradas. A Liberdade e o Desenvolvimento ainda clamam por Voto Livre e Facultativo.

  2. A ironia que só a história, o roterista dos roteiristas, é capaz: roosevelt através do new deal evitou que os estados unidos implodissem socialmente. Mas o que tirou definitivamente

  3. Muito bom, podemos prever que virá, em algum momento, a grande recessão por aqui? Quem irá resolve-la por aqui? Quem sabe precisamos disso.

    1. Caro Garibaldi, creio que nem estamos mais em recessão. Caímos numa depressão econômica; e estes xiitas neoliberais vão destruir o país por 30 dinheiros

  4. A ironia que só a história, o roterista dos roteiristas, é capaz: Roosevelt através do new deal aplicação prática da teoria de Keynes evitou que os estados unidos implodissem socialmente. Mas o que tirou definitivamente os estados unidos da depressao de 29 foi a entrada na segunda guerra guerra iniciada pela Alemanha sob jugo nazista que só conseguiu se reerguer economicamente graças ao gênio de schacht como ministro da economia de Hitler que por sua vez foi eleito em 33 tendo como principal cabo eleitoral a crise de 29 nos EUA.
    Se você gritar Antígona Keynes e Schacht homens de cultura vasta saberiam do que se trata. Já paulo posto Ipiranga Guedes pensaria se tratar do site antagonista.

    1. E mais ironia ainda: entrar em guerra não só tirou os EUA de uma recessão que, fique claro, esse mesmo país criou no mundo, como também ensinou o caminho para que a iniciativa privada do país ganhasse dinheiro de outros países: instaurar terrorismo e divulgar – sim, a máquina de propaganda do EUA tem essa arma e não titubeia em usá-la – que o que há é uma guerra. Para outros ataques posteriores, a que os EUA chamam de guerra, passou a não importar mais “vencer”: a vitória tem sido financeira. Assim, fingindo resignação e até clamando que “não perdeu a guerra” os EUA podem se retirar, por exemplo, do Afeganistão, do Vietnã e poderia até se retirar de países árabes hoje que sua indústria armamentista privada já estaria no lucro. As forças armadas dos EUA perdem a “guerra” mas a indústria privada de lá lucra… O único país que usou armas cruéis como a bombas napalm, por exemplo.

      Na verdade nem se precisou fantasiar ataques como se fossem guerra, como se observou nas armas nucleares que esse país terrorista atacou as Ilhas Bikini. Era só para ver o que aconteceria com humanos expostos à radiação… Se bem que nesse caso, a propaganda foi usada e, com a ajuda de vaidosas modistas francesas, tratou-se de dissociar o termo “bikini” ao genocídio que cometeu e associá-lo a coisas agradáveis. Tem um documentário não muito novo, 2016, o pessoal deve conhecer, feito pelo inglês John Pilger, “The Coming War between America and China”, com entrevistas ao pessoal dos EUA que diz que, depois de ter investido tanto dinheiro em aparato militar, para repor estoque e continuar lucrando, essa empresas tem que usar as forças armadas dos EUA para usar essa produção industrial. A solução, segundo esses estadunidenses, é criar uma guerra contra a China…

      Não são, os EUA, um país exemplo à civilidade, à Humanidade. Criam a depressão e criam o terrorismo de estado que os tira da depressão.

  5. JB.
    prezado andre araujo.
    gostaria de ter suas observacoes sobre as consequencias da substituicao do cheque pre datado pelo cartao de credito.
    em minha cidade de petropolis havia um comercio dinamico de roupa, malharias, que funcionava baseado em compras com cheque pre datado
    Os bancos forneciam taloes de ate 100 cheques que tinham livre transito com o comercio de malhas, que prosperou com este sistema apesar dos riscos que corriam com eventuais cheques devolvidos.
    Era uma forma de emissao de moeda pelas pessoas, que em sua maior parte cobriam os cheques com sua revenda da mercadoria.
    as compradoras, sobretudo mulheres , sacoleiras, que usavam este meio de pagamento, a sua substituicao pelo cartao de credito beneficiou os bancos, mas o comercio local nunca mais foi o mesmo.

  6. E André, como é que após notícias seguidas que nossa produção industrial cai dia após dia, seguida pelo PIB nosso de cada dia, assistimos a bolsa quebrando recordes? Que dividendos esse povo tá esperando? Ou é especulação em outro nível?

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