O Brasil precisa vencer o brasil! Por Dora Incontri

O Brasil precisa vencer o brasil! Por Dora Incontri

O pesadelo em que estamos inseridos é tão brutal, que mal dá vontade de escrever. Parece que tudo já foi dito, analisado, pensado, gritado mesmo… e nada acontece. Já nos tornamos o epicentro da pandemia no mundo e não temos ministro da saúde, agora temos a tentativa de esconder números, que já eram subnotificados. O nazifascimo à brasileira avança, ameaça, se instaura. E não conseguimos acordar do sonho mau, da distopia que se estabelece diante de nosso nariz. Reações há: mas insuficientes, ineficientes ainda, pálidas, acanhadas às vezes.

Quero aqui chamar o Brasil com maiúscula para vencer esse brasil minúsculo, fascitoide. O Brasil que amamos, que nos dá orgulho, é o Brasil da melhor música popular do mundo, com Tom, Caetano, Gil, Noel, Egberto e infinitos outros, é o Brasil da literatura profunda de Guimarães Rosa e Machado de Assis, da poesia de Castro Alves e Cecília Meirelles, da pintura de Tarsila e Portinari… e assim sendo injusta com tantos outros e outras que deixei de citar… É o Brasil do vizinho solidário, das lutas das mulheres e dos negros, da ciência em ascensão nas Universidades públicas, da participação no cenário mundial como mediador de civilidade e paz. É o Brasil das lutas indígenas para preservar nossa biodiversidade. É o Brasil que se prometia do futuro, mas cujo presente nunca chega.

Em oposição, esse brasil minúsculo é o que desacredita da arte e da ciência, que é violento e canalha, racista e homofóbico, feminicida e classista… é o brasil que fez a ditadura de 64 e a está revivendo, o que gosta de tortura e já é sádico mesmo dentro de casa, na pancadaria contra as crianças e as mulheres, e é racista com a doméstica, que é corrupto até a medula e que está aceitando e louvando um genocida.

O problema é que esses brasis se misturam dentro de nós, fora de nós, em todas as camadas. Há extremos de grandes pessoas e de grandes canalhas, mas muita gente fica no recheio do avanço e do retrocesso, do sadismo e da consciência. Há homens de esquerda machistas e autoritários, há pessoas que apoiam esse desgoverno e são generosas na intimidade. Há de tudo um pouco.

Por isso, a situação é confusa, mas é preciso levantar a cabeça, abrir os olhos e acelerarmos nossas lutas (inclusive na rua, inclusive na salvaguarda urgente das instituições democráticas, inclusive na militância incansável), para permitir que o Brasil vença o brasil, dentro e fora de nós.

Como espírita, tenho certeza de que grandes brasileiros que estão do lado de lá, esses que lutaram contra o arbítrio, que levantaram bandeiras nobres, lembro aqui de Darcy Ribeiro, Betinho, Paulo Freire, Dom Paulo Evaristo Arns, estão nos olhando e atuando pela inspiração e pelo bom ânimo junto àqueles que estão na linha de frente para barrar o nazifascismo, para nos afastar de num novo período de trevas no país… Oremos e lutemos! É só o que posso dizer!

Conexões – espiritualidade, política e educação - Dora Incontri

Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora

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Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora

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  • Parabéns pelo texto. A indignação e perplexidade, palavras chaves. Jamais imaginamos descer neste inferno. Jamais o retorno da barbárie fascista. Vamos para a resistência e quando sairmos dela, vitoriosos, não devemos nos confirmar ao status quo, devemos avançar com o doce gosto da palavra utopia na boc

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