O golpe, a armadilha das estradas e o aprendiz de feiticeiro, por José Manoel Ferreira Gonçalves

São iniciativas que atendem apenas ao interesse de empresas que já atuam no transporte e que pretendem auferir mais lucros, sem qualquer apreço pelo desenvolvimento econômico orgânico e pela integração nacional a partir da revitalização dos modais de transporte.

BR-060, que liga Brasília a Goiânia – Agência Brasil

O golpe, a armadilha das estradas e o aprendiz de feiticeiro

por José Manoel Ferreira Gonçalves

Os fatos da semana do sete de setembro mostraram um país sem rumo. As ameaças de parar o Brasil fracassaram, tanto nas manifestações a favor do atual governo, quanto nas estradas, onde apoiadores do presidente tentaram impedir a circulação de pessoas e mercadorias. Porém, apesar de escaparmos ilesos, pelo menos momentaneamente, de um golpe contra as instituições democráticas, os incidentes não escondem o fato de permanecermos reféns de uma gestão federal incompetente em vários aspectos, inclusive no transporte.

Chamado para ajudar a apaziguar o ânimo entre os caminhoneiros, o atual ministro da infraestrutura vai acumulando feitos discutíveis, como a tão propalada captação de recursos em leilões que arrecadaram R$ 30 bilhões em 2021 (muito pouco diante da meta prometida, R$ 260 bilhões até o final do mandato de Bolsonaro; ou seja, nem mesmo a questionável agenda de queima de ativos públicos o governo está conseguindo cumprir).

Em outra frente, Tarcísio Freitas defende a autorização para prorrogar concessões de ferrovias por mais décadas a fio, o que será o sepultamento definitivo da possibilidade de recuperarmos o transporte sobre trilhos no país.

Nada disso é verdadeiramente benéfico à nação. São iniciativas que atendem apenas ao interesse de empresas que já atuam no transporte e que pretendem auferir mais lucros, sem qualquer apreço pelo desenvolvimento econômico orgânico e pela integração nacional a partir da revitalização dos modais de transporte.

Não há um planejamento, muito menos uma visão de futuro para o setor. Depois da greve de caminhoneiros de 2018, nada foi feito até aqui pelo atual governo para reduzir nossa dependência da matriz rodoviária. Estamos todos sujeitos ao caos de um país que sustenta sua economia nas estradas, inclusive os caminhoneiros, claramente usados como massa de manobra de um aprendiz de feiticeiro.

As cenas que encerraram a novela protagonizada pelo nosso presidente fanfarrão foram patéticas, com ele vindo a público suplicar que os caminhoneiros parassem com o movimento, uma vez que os reflexos na já combalida economia de seu governo poderiam ser catastróficos para suas pretensões (eleitorais ou, ao que tudo indica, de articulação de uma nova afronta à democracia).

É mais um capítulo nessa comédia de erros do capitão, que se revelou mais uma vez como artífice de um blefe contra todos nós – inclusive aqueles que, desafortunadamente, continua acreditando em suas bravatas.

José Manoel Ferreira Gonçalves, engenheiro, é presidente do PDT de Guarujá e da Ferrofrente – Frente Nacional pela Volta das Ferrovias. 

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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