Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O Governo não é fascista, por Andre Motta Araujo

Trata-se de um governo evangélico-obscurantista-autoritário, completamente fora do arco estratégico do fascismo clássico.

O Governo não é fascista

por Andre Motta Araujo

Alguns comentaristas da mídia tradicional ensaiam uma classificação de fascista no atual governo. Nada mais longe da realidade. O fascismo tinha elementos muito diferentes do atual governo brasileiro, para o mal ou para o bem tinha elementos constitutivos muito mais profundos, a saber:

1.O FASCISMO ERA ADMINISTRATIVAMENTE EFICIENTE – O fascismo pioneiro, o italiano de Mussolini, reorganizou a economia e os serviços públicos na Itália de forma razoavelmente eficiente, todo o sistema ferroviário foi ampliado, tornando-se dos mais modernos da Europa, Mussolini se orgulhava de sua pontualidade. O fascismo fortaleceu notavelmente a indústria italiana através do IRI-Istitutto per la Reconstruzione Industriale, que existe até hoje, holding de 500 empresas industriais; criou a Cassa per il Mezzogiorno, um banco regional para o Sul da Itália, que existe até hoje; fortaleceu o sistema bancário em torno dos grandes bancos estatais, a Banca di Roma, a Banca di Napoli, a Banca Commerciale Italiana, o Monte dei Pachi di Siena e mais outros bancos regionais; ampliou muito a navegação transatlântica com a fusão de quatro linhas na Italia Societá di Navegazione e seus esplendidos navios.

2.O FASCISMO DEFENDIA OS TRABALHADORES – Ponto alto do fascismo foi a Carta del Lavoro, de 1927, um código de proteção aos trabalhadores que serviu de base a inúmeras legislações trabalhistas, inclusive a do Brasil (CLT). Ao mesmo tempo, o Estado fascista criou colônias de férias, escolas para preparação de operários, assistência médica aos trabalhadores; a previdência social moderna com fundos das empresas e do Estado, base da nossa com os institutos.

3.O FASCISMO IMPLANTOU GRANDES OBRAS PÚBLICAS – Auto estradas modernas, drenagem de pântanos, ampliação e modernização de portos, pontes, hospitais, os primeiros aeroportos, ampliação de terras agricultáveis, particularmente forte foi o investimento em energia elétrica, área onde a Itália estava atrasada na década de 20, com a construção de represas aproveitando a complexa topografia da península e o degelo dos Alpes e dos Apeninos.

4.O FASCISMO TINHA GRANDE INTERESSE NA CULTURA – O vasto patrimônio cultural da Itália estava em estado de abandono quando se inaugurou o fascismo em 1923, Mussolini tinha grande orgulho da herança cultural da Itália, palácios, monumentos, termas, vias romanas, tudo foi recuperado e novas iniciativas foram promovidas como a Cidade do Cinema, a Cinecittá, a ópera foi subsidiada e promovida com entradas gratuitas para operários. Mussolini era pessoalmente culto, falava francês e alemão, gostava de história e literatura, compunha poemas, tinha grande admiração por escritores como D´Ánnunzio.

5.O FASCISMO TINHA O ESTADO COMO CENTRO DA ECONOMIA – A economia italiana do fascismo era basicamente estatal, o Estado dirigia a economia. O projeto fascista tinha no revigoramento da economia através de grandes obras públicas e da criação de holdings estatais poderosas como a Finmeccanica, a Fincantieri. Na realidade, o fascismo inventou a empresa estatal tal como a conhecemos hoje, a economia estatal é uma invenção do fascismo.

6.O FASCISMO PROTEGIA OS IMIGRANTES ITALIANOS EM TODO O MUNDO – Mussolini tinha especial interesse na sorte dos imigrantes italianos que se espalharam pelo mundo entre 1870 e a Grande Guerra. Promoveu centros de apoio aos imigrantes em todos os países onde estes se localizaram. No Brasil, grande colônia italiana, enviou em 1937, sua filha dileta, a Condessa Edda Ciano, para uma viagem de três meses. Edda visitou todas as áreas de colonização italiana do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, foi um grande evento no Brasil daqueles tempos, com vasta cobertura de imprensa.

7.O FASCISMO COMBATIA O CRIME ORGANIZADO – Mussolini acabou com as máfias do Sul da Itália, com uma política duríssima. Curiosamente, as máfias voltaram com as tropas americanas que desembarcaram na Sicília em 1943. A Itália do fascismo era especialmente segura e livre de banditismo.

8.O FASCSIMO PROMOVEU ALIANÇA COM A IGREJA CATÓLICA – O fascismo criou o Estado do Vaticano com o Tratado de Latrão de 1929. Mussolini de casaca e cartola foi recebido pelo Papa e estabeleceu com o Papado uma forte aliança política com base no tradicionalismo conservador da Igreja.

O atual governo brasileiro não pratica nenhuma das políticas centrais do fascismo, portanto chamá-lo de fascista é um erro. Trata-se de um governo evangélico-obscurantista-autoritário, completamente fora do arco estratégico do fascismo clássico. Os comentaristas que propõem uma assemelhação do atual governo com o fascismo precisam rever sua construção teórica, não é porque é autoritário que é fascista. O fascismo era uma CONCEPÇÃO DE ESTADO não era apenas autoritário, governos autoritários podem ser ditaduras primitivas, como as centenas que se implantaram desde o fim da Primeira Guerra.

NÃO CONFUNDIR O FASCISMO ITALIANO COM O NAZISMO, são duas concepções de Estado distintas, embora o nazismo parta do fascismo, este tem características específicas que não são as mesmas do nazismo. EMBORA se possa atribuir ao nazismo também grande eficiência administrativa, economia de Estado (Volkswagen), grandes obras públicas (as Autobahns), o que também afasta o nazismo de  qualquer semelhança com o atual governo brasileiro.

Esta análise é uma tentativa dentro da realidade da ciência política SEM tomar partido algum, trata-se apenas de uma análise neutra de teorização.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

48 Comentários

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    1. Acho que nessa, o André “stepped on tomatoes”.
      1) Definições de espectro político são complexas, localizadas e temporais: o fascismo italiano nos anos 20-40, que acabou” com o fim da guerra, não é idêntico ao fascismo alemão (nazismo) dos anos 30-40, ou o espanhol de Franco (e português de Salazar) ou mesmo alguns da europa oriental.
      2) Não se pode definir um sistema político por seu sucesso (ou fracasso), mas por seu “jeitão”. Ditaduras existem de direita e de esquerda. Podem ser bem ou mal sucedidas (o nazismo pré-guerra foi muito bem sucedido para a Alemanha).
      3) Até o comunismo tem facetas de sucesso e fracasso. Na Rússia (uma clara ditadura comunista até talvez Gorbachev) produziu um “sucesso” científico-militar que polarizou o mundo e a maior economia do mundo, a China, caminhando também para a liderança tecnológica.
      4) No Brasil, ditaduras como a de Vargas trouxeram evolução econômica e social. A militar, um desatre político-ssocial, manteve por algum tempo sucesso econômico, até ser subjugada pelo neoliberalismo externo, que decidiu ser melhor ter “democratas” traidores, como os fernandos.
      5) O socialismo-capitalista escandinavo é um sucesso em termos de desenvolvimento e bem estar humano, sem se submeter ao financismo ilimitado.
      6) Os exemplos de desastres do autoritarismo (ditaduras, democracias, monarquias, socialismo, capitalismo, comunismo, anarquismo, cleptocracismo, etc.) são inúmeros. Há também os de sucesso (Tito na Iugoslavia?)
      7) Portanto, “carimbar” um governo é extremamente confuso. O fato brasileiro é que:
      O governo Bolsonaro, corretamente identificado por vc como religioso-obscurantista autoritário”, tem clara INSPIRAÇÂO fascista, embora tão incompetente (Franco, Tito, Mussolini e Hitler eram competentes, ademais de suas eventuais psicopatias) que mistura tudo (neoliberalismo, etc.), dificultando (propositadamente?) seu entendimento, tornando-se apenas um grande e ridículo
      Saco de gatos.

      1. É discutível se o governo Bolsonaro tem inspiração fascista, mas para estabelecer esta comparação falta o componente essencial: o líder carismático. Bolsonaro é um tipo caricato, sem carisma.

        Ironicamente, Bolsonaro idolatra o antigo regime militar brasileiro de 1964, que seguia uma política econômica diametralmente oposta à dele.

        Concordo que “carimbar” um governo é extremamente confuso, mas no caso do governo atual, eu diria que ele promove um amálgama de teses conservadoras que são do agrado do povão das periferias, que vive acossado pelo crime e pela falta de valores cívicos e morais.

        1. 1) Nenhum dos que vc chama de “líder carismático” era líder de TODO o povo, mas exatamente da parte mais “afeita” à um líder “carismático”, exatamente como no braZil, onde os Bozistas (todos que conheço, a maioria de boa posição social e curso superior) se comportam à semelhança (por ex.) de seus “colegas “alemães, que não diziam “salve a Alemanha”, mas “Heil Hitler”…
          Por mais ridícula que seja a sua fala ou comportamento, todos eles (sem exceção) apressam-se a defendê-lo incondicionalmente, inclusive contra o mundo, que o ridiculariza! Portanto, para eles (que ajudaram a elegê-lo, junto com os conservadores comuns e os anti-petistas,) sobra “carisma” e temo que se não fosse os 45% restantes nas instituições, ele os levaria ao inferno, junto com todos. Como fizeram Hitler (que criou uma versão mais cruel do fascismo, posto que era admirador de Mussolini) e o próprio criador do (nome) fascismo (apenas um símbolo de flor de fáscio), que na verdade é o que MENOS importa. O que importa de verdade é o “jeitão” geral.
          É o que estamos ameaçados, por tentativa e erro. E incompetência, felizmente!

          2) Quanto à visão econômica (ou qualquer outra), Bolsonaro não tem NENHUMA. Ele, como qualquer autoritário de cabeça vazia e fígado (ou intestino grosso?) carregado, privilegia os que lhe mostrem lealdade e obediência. Guedes, Moro, Weintraub, Salles, Araujo, Cristina, Alvim, Duarte, Wajngarten, etc. não precisam estar alinhados à sua visão (a menos da “ideologia de luta contra a “ameaça” socialista). Tanto faz! E tanto, que os filhos o Olavo e outros podem indicar qualquer monte de fezes, que ele não se incomoda, desde que a lealdade e obediência (coisa de hierarquia militar de que ele nunca conseguiu se livrar). Pensa que o mundo é um quartel…
          Mas daqueles que jamais foram expostos à uma guerra de verdade.

          3) Com relação ao que vc se refere como “povão das periferias” (GENTE), eles foram CONVENCIDOS pela míRdia diuturna que a culpa seria do governo Federal, quando tanto a segurança quanto o ensino básico e médio e a maior parte da saúde são responsabilidades municipais e estaduais. E não me parece que a “esquerda” (na verdade o PT é muito mais trabalhista e social-democrata) governou os 27 unidades federativas e os cerca de 5.500 municípios, com todo tipo de bons e maus, sérios e bandidos, de um extremo à outro. Mais eficaz do que se preocupar (só) com a “punição” (que é parte necessária),todos os mais de 5.500 governos no país precisam minimizar a “FABRICAÇÂO” de bandidos. Se assim não fôr, nunca teremos prisões e punições suficientes, apenas massacres inúteis.

          4) Quanto aos valores cívicos e morais, eu prefiro me preocupar com a nação do que um pedaço de pano colorido ou a mão no peito que a simboliza, Primeiro precisamos poder nos orgulhar dela LEGITIMAMENTE, depois o símbolo representará esta verdade. Isto é “civismo”

          5) Valores morais? Respeito aos valores alheios, diferentes dos nossos é um dos mais importantes valores morais. Na comparação entre uma família de pais responsáveis de mesmo sexo e outra de pais héteros, por ex. um alcoólatra violento e uma “devassa” vaidosa, o que atende melhor aos seus valores?
          Ou vc acha que “valores morais” são só os seus?

    2. Na verdade a análise dele erra grosseiramente em vários aspectos. Primeiro, reduz o fascismo ao “mussolinismo”, e especificamente a uma fase do mussolinismo – a etapa corporativista pós-Grande Depressão (que também, frise-se, foi um período de adesão ao nazi-fascismo alemão, o “Manifesto da Raça” e de aceleração do expansionismo). Ignora, por exemplo, o período de “liberalismo autoritário” que caracterizou o fascismo italiano no início, com apoio dos industriais e latifundiários e com gritante anticomunismo. Além disso, exagera enormemente algumas coisas. Por exemplo, a Carta Del Lavoro, que sequer era uma legislação comparável à CLT varguista, e no mais significou a subordinação e aparelhamento total dos sindicatos pelo partido-milícia de Mussolini. O fascismo considerava a reivindicação trabalhista uma traição à pátria e propunha converter o conflito social interno em expansionismo externo. No fundo, em boa parte o fascismo foi um “efeito bumerangue” da política colonialista que depois de testada sobre africanos e asiáticos foi repatriada e aplicada contra minorias étnicas e trabalhadores pobres na própria Europa.

  1. Pode não ser fascista no plano administrativo mas é nas práticas de intolerância com adversários, na misoginia, homofobia e racismo.

    Curiosamente também, é um governo que se diz liberal, mas busca se intrometer na vida particular das pessoas e impor costumes moralistas.

      1. Caro André, apesar da ressalva feita ao final e da resposta acima, o seu artigo funciona, sim, como uma espécie de defesa ao fascismo. Pelo menos a esse fascismo que você escolheu analisar.
        Para ser mais neutro – a neutralidade não existe nunca! – você poderia ter incluído os aspectos negativos que mesmo esse fascismo isolado que você retratou, teve também, com certeza. Como alguns comentários acima mostraram.
        Talvez você tenha incorrido na armadilha habitual de, ao tentar mostrar um equívoco dos outros, exagerar e omitir aspectos que dariam razão, em parte, a esses outros.

  2. A subestimação da História custa muito caro à humanidade, pois faz a mesma andar em círculos.

    A História deveria ter prioridade máxima na universalização do conhecimento, até para que o próprio conceito de universalização do conhecimento alcance o devido prestígio e apreço.

    1. O fascismo italiano INVENTOU a empresa estatal com a criação do IRI, antes o padrão mundial eram
      empresas privadas em ferrovias, portos, eletricidade, como era no Brasil em 1920. Nossas primeiras estatais como a Vale (1944) e CSN (1945) seguiram o modelo italiano.

    2. Eu diria que o fascismo, assim como o nazismo de Hitler que pôs fim à gigantesca crise econômica alemã, teve algum sucesso econômico e administrativo. Mas não poderia durar para sempre em razão de sua violência intrínseca, que inevitavelmente culminaria em uma guerra externa ruinosa (foi o que aconteceu) ou em uma revolução fomentada pelo ódio de todos os que foram perseguidos (o que provavelmente aconteceria se a guerra não tivesse sido deflagrada).

      É por isso que Churchill dizia: a democracia é o pior dos regimes, exceto por todos os outros. Pois embora a eficiência administrativa não costume ser uma característica das democracias, só o regime democrático tem flexibilidade para permitir mudanças de rumo sem violência revolucionária. O mesmo se diz do capitalismo: é o pior de todos os sistemas econômicos… exceto por todos os outros! Pois só o capitalismo tem flexibilidade para superar suas crises sem que todo o sistema seja posto abaixo.

  3. Pois então, pelo visto este tal de fascismo era uma maravilha. Um troço danado de bom (não tropecem na ironia, por favor…). Tinha progresso econômico, social, não havia violência, promovia a cultura etc. Era um troço que tinha tudo para dar certo, seguindo a lógica do texto. Só era um pouco autoritário, mas tirando isso, tudo bem…

      1. Tem sido recurso comum e frequente. Chama-se a esse recurso “diversionismo”, algo como enfiar uma mentira, às vezes uma mera frase, no meio de algumas verdades. Sutileza em oposição ao escrachamento, por exemplo, de Olavo de Carvalho em sua fingida terraplanice, mas com a mesma orientação: tentar deixar o leitor menos atento desbaratinado, enfiar a barbárie elitista, neoliberal e anglo-estadunidense goela abaixo da gente, já que com conhecimento e reflexão os fatos são intragáveis.

        Seria perigoso caso não fosse tão primário e óbvio…

  4. Essa análise é equivocada.
    Seguindo a lógica do Andre Araujo, fascismo é algo que aconteceu na Itália (e somente lá) nas décadas de 1920, 30 e 40. Ou seja, pela lógica do artigo só será fascismo se repetir as políticas do fascismo clássico italiano.
    A metodologia para analisar se um regime atual é fascista, ou quão próximo está, tem que partir de uma análise global dos fascismos que existiram (naquelas décadas foi um fenômeno quase mundial). A partir dessa análise distinguir os elementos essenciais do fascismo. E aí sim fazer uma análise do regime atual. Entendendo que obviamente um fascismo hoje nao será idêntico ao de 100 anos atrás.
    As características econômicas que Andre Arauja elenca do fascismo italiano nao eram comuns a todos os fascismos.
    Os fascismo nao eram nem mais nem menos estatizantes ou privatistas. Jogavam com as correntes políticas… sua essência está em outro lugar, nao na economia. Como dizia um fascista francês, o fascismo é o partido da nação em cólera.

    Recomendo a obra Labirintos do Fascismo, do João Bernardo. Pode ser baixada em pdf (1400 páginas).

  5. Essa análise é equivocada.
    Seguindo a lógica do Andre Araujo, fascismo é algo que aconteceu na Itália (e somente lá) nas décadas de 1920, 30 e 40. Ou seja, pela lógica do artigo só será fascismo se repetir as políticas do fascismo clássico italiano.
    A metodologia para analisar se um regime atual é fascista, ou quão próximo está, tem que partir de uma análise global dos fascismos que existiram (naquelas décadas foi um fenômeno quase mundial). A partir dessa análise distinguir os elementos essenciais do fascismo. E aí sim fazer uma análise do regime atual. Entendendo que obviamente um fascismo hoje nao será idêntico ao de 100 anos atrás.
    As características econômicas que Andre Arauja elenca do fascismo italiano nao eram comuns a todos os fascismos.
    Os fascismo nao eram nem mais nem menos estatizantes ou privatistas. Jogavam com as correntes políticas… sua essência está em outro lugar, nao na economia. Como dizia um fascista francês, o fascismo é o partido da nação em cólera.

    Recomendo a obra Labirintos do Fascismo, do João Bernardo. Pode ser baixada em pdf (1400 páginas).

  6. Resumindo: O neofascismo é, assim como o chamado neoliberalismo, apenas mais uma das máscaras do mais nefasto neopatrimonialismo. Aos amigos do rei, tudo; aos inimigos, a Lei. A Lei do rei, é claro.

  7. O essencial do fascismo é o uso da força contra inimigos.

    Comparar a experiência real das décadas de 20 e 30 no contexto do capitalismo industrial com o estagio do capitalismo do seculo XXI é um erro.

    Outra coisa, o fato de o boçalnaro não ter conseguido implantar um regime fascista não diminui em nada a sua inclinação já declarada nos 30 anos de carreira política, dele, dos filhos, dos seguidores e do principal ideólogo, aliás.

    1. O fascismo não é apenas o uso da força, é isso é mais outros processos. O fascismo italiano foi
      POPULAR na Italia, no Brasil e na Argentina, foi admirado por Winston Churchill até 1935, quando a Italia invadiu a Abissinia e feriu os interesses colonias britanicos, Churchill era fã de Mussolini,o fascismo é um fenomeno muito mias complexo do que apenas uso da força bruta.
      Minha analise é feita em contraponto ao bolsonarismo, que é um movimento primitivo e ideologicamente confuso, onde se mistura um obscurantismo medieval com neoliberalismo dos anos
      70, desprezo por valores civilizatorios e monumental ignorancia geopolitica.

  8. O André está equivocado ..ele, perigosamente baseou-se num paradigma, num título, e traçou uma reta sem levar em conta os aspectos e nuances sócio econômicas dos nossos dias.

    Aliás, pra melhor sua tese, ele poderia dizer no item Nove que BOZO não é careca tal qual o era Mussolini.

    1. Este governo é autoritário e violento.
    2. Busca fazer aliança com o poder religioso
    3. Funda-se na figura dum líder carismático.
    4. Tenta aparelhar a máquina desconsiderando aspectos democráticos e republicanos.
    5. Tem forte interesse pela cultura desde que esta respeite seus valores e conceitos.
    6. Faz alianças com tendências e modelos que se opõem a modelos socialistas.
    7. Defende conceito contemporâneo que se adeque melhor ao capital hegemônico.
    8. Este governo combate facções criminosas que atrapalham os interesses das suas próprias falanges.

    Enfim, não é pq os Bozo e brazucas que os acompanham nesta loucura, não é pq todos se mostram incompetentes e não se encaixam perfeitamente num desenho, que nós devamos ignorar a estrutura clássica que se descortina a nossa frente, a de que estamos sendo governados por um bando de malucos, malandros, astutos, psicóticos, milicianos e autoritários, seres que imaginam enquadrar a sociedade dentro dum desenho de rigidez cartesiana.

    Em tempo .. aliás, intuitivamente, hj mesmo classificamos uma economia como sendo mais ou menos socialista (planificada) ou capitalista (liberal) mesmo sabendo que se bem fixados, praticamente sobrariam poucos ou nenhum exemplo no munfoo pros dois modelos ..aqui, lembro, o que nos dificulta entre o preto e o branco, são os diversos tons de cinza.

  9. Muito bom saber. Rigor teórico à parte, a pecha de fascista tem entre nós conotação ideológica muito negativa, por tudo a que levou a política fascista na Itália e países seguidores, principalmente a derrota militar, à despeito das razões econômicas apontadas.

  10. Creio que se Mussolini pudesse não ter se envolvido na guerra, ter ficado neutro como Franco na Espanha, ele teria grande chance de ter ficado mandando e desmandando na Itália até morrer – como aconteceu com Franco e Salazar.

  11. Nem nazismo nem fascismo eram primores administrativos.
    A produção de guerra na Alemanha só alcançou picos de produção graças ao trabalho escravo. Na Itália grassava durante todo o conflito o modo dual: tapeava-se sobre o que era produzido para o esforço de guerra e trabalhava-se subterraneamente no que seria produzido no pós conflito. Foi assim com FIAT , Isotta Fraschini e praticamente toda indústria italiana.
    Tanto a máquina produtiva de Hitler como a de Mussolini eram extremamente desorganizadas, havia diversas opções de produtos, e uma capacidade insuficiente para a sua produção. Nada no lado fascista se compara a capacidade administrativa do Manhattan Project ou da iniciativa soviética de produção dos mais eficientes blindados da II Guerra.
    O flerte do atual modelo é com um fascismo de extração franquista, com forte apoio de grupos religiosos, um obscurantismo terraplanista e amplamente dominado por setores rentistas. A hipocrisia no que toca às políticas de integração ressuscitariam o “Separados mas iguais” que foi formalmente extinto por um conservador, branco e sulista: Lyndon Johnson.
    Nada mais parecido com o Brasil que a Confederação…
    E sinceramente, o lugar do fascismo é na lata do lixo da História.

  12. Ainda bem que o artigo não é muito longo. Mais um pouco e o AA (esse negócio de AMA é meio esquisito, parece Andrezinho Paz e Amor) corria o risco de fazer como aquele bolsonarista que disse que a escravidão foi benéfica para os negros.

  13. Esse debate é inconclusivo. Há bons argumentos contra e favor. Tudo depende como se define o fascismo. Inúmeras experiências históricas, bem distintas entre si, são denominadas fascistas. O que importa não é identificar o que as separa, mas sim o que elas possuem em comum. Nesse sentido, ainda acho o Umberto Eco brilhante, com o conceito de UR-Fascismo, ou fascismo eterno. Não se tratam de características a-históricas, mas ela contempla muito bem todos esse conjunto de fascismos. Eu, pessoalmente, não tenho dúvidas: o governo bolsonaro é Fascista sim.

  14. “para o mal ou para o bem tinha elementos constitutivos muito mais profundos, a saber”.

    Estou morrendo de curiosidade para conhecer os “elementos” do mal, porque o autor apresentou apenas a salvação da lavoura. Basta adotarmos o fascismo clássico e estaremos todos bem?!!!

    “Mussolini era pessoalmente culto, falava francês e alemão, gostava de história e literatura, compunha poemas, tinha grande admiração por escritores como D´Ánnunzio”.

    Um verdadeiro gentleman!!!

    Tanto é que que aliou-se a outro gentleman da época né, como era mesmo o nome dele?… Adolf Hitler!!!

    Ora, só a reforma educacional tal qual o escola sem partido de Bolsonaro e cia, eliminando da rede pública – mas mantendo nas escolas elitizadas – centenas de livros sobre história e geografia, e autores e disciplinas em artes e humanas diz muito ao que vieram!

    Nas circunstâncias em que o País ecncontra-se, apresentar uma comparação rasa dessas e que como agravante apresenta apenas “os elementos” do bem do fascismo, só desinforma.

    1. Meu caro, fiz uma analise comparativa SEM JUIZO DE VALOR, tentei explicar que o fascismo era
      uma proposta com começo, meio e fim, THINA UM OBJETIVO CLARO, enquanto este governo brasileiro NÃO TEM construçãoo ideologica minimamente coerente, misturando primitivismo
      cultural com neoliberalismo de Chicago, é uma incongruencia infinita.

  15. É nas origens do fascismo que podemos ver que a causa principal de sua ascensão foi a dificuldade e a demora na identificação do seu poder destruidor.

    começa com poucos; com políticos de partidos sem história, desconhecidos, mas que ao atrair homens de negócios de mesma mentalidade racista e predadora, arrasta todos os iguais da sociedade

    exatamente como aconteceu por aqui por terem sido identificados apenas como fascistoides lunáticos

  16. Os fascistas e nazistas sempre foram contra o comunismo e contra o capitalismo. Tanto que a 2° guerra foi entre a Alemanha e Itália contra EUA, URSS e Inglaterra. Eles se diziam uma 3° via à época. As pessoas misturam e confundem tudo aqui no Brasil. A esquerda adora Peron que foi um tremendo fascista e abrigou na Argentina milhares de fugitivos de guerra nazistas. Ao mesmo tempo, classificam Pinochet de fascista quando ele implementou um programa econômico altamente liberal à moda de Friedman e dos Chicago Boys. Ninguém lê nada e todos chutam um monte de asneiras sem ter a menor noção do que falam.

  17. É um tecnicismo talvez desnecessário. O “termo exato refere-se a” é mera formalidade. As adjetivações de proto fascista e/ou neo nazista atual desgoverno são meras semelhanças aqui e ali, que é de fato importa. Evidentemente que faltaria competência para ser um “nazismo literal” ou um “fascismo literal”, o fato é que o ultraliberalismo se dá melhor com regimes autoritários, daí a sua associação aos fanáticos religiosos e demais segmentos autoritários e moralistas. O nome acadêmico disso disso pouco importa, mas a desgraça do resultado estamos vendo…

  18. Recortes do introdutório das 14 lições de Umberto Eco para identificar o neofascismo transportado nas entranhas do nazismo eterno:
    “Se como totalitarismo entende-se um regime que subordina qualquer ato individual ao Estado e sua ideologia, então nazismo e estalinismo eram regimes totalitários. (…)
    O fascismo foi certamente uma ditadura, mas não era completamente totalitário, nem tanto por sua brandura quanto pela debilidade filosófica de sua ideologia. Ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O artigo sobre o fascismo assinado por Mussolini para a Enciclopédia Treccani foi escrito ou inspirou-se fundamentalmente em Giovanni Gentile, mas refletia uma noção hegeliana tardia do “Estado ético absoluto”, que Mussolini nunca realizou completamente.
    Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica.
    Começou como ateu militante, para depois firmar a concordata com a Igreja e confraternizar com os bispos que benziam os galhardetes fascistas. Em seus primeiros anos anticlericais, segundo uma lenda plausível, pediu certa vez a Deus que o fulminasse ali mesmo para provar sua existência. Deus estava, evidentemente, distraído. Nos anos seguintes, em seus discursos, Mussolini citava sempre o nome de Deus e não desdenhava o epíteto: “homem da Providência”. Pode-se dizer que o fascismo italiano foi a primeira ditadura de direita que dominou um país europeu e que, em seguida, todos os movimentos análogos encontraram uma espécie de arquétipo comum no regime de Mussolini. (…)
    Análogos, não iguais.
    Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram.
    Mas quem são “eles”?
    Se pensamos ainda nos governos totalitários que dominaram a Europa antes da Segunda Guerra Mundial, podemos dizer com tranquilidade que seria muito difícil que eles retornassem sob a mesma forma, em circunstâncias históricas diversas. Se o fascismo de Mussolini baseava-se na ideia de um líder carismático, no corporativismo, na utopia do “destino fatal de Roma”, em uma vontade imperialista de conquistar novas terras, em um nacionalismo exacerbado, no ideal de uma nação inteira arregimentada sob a camisa negra, na recusa da democracia parlamentar, no antissemitismo, então não tenho dificuldade para admitir que a Aliança Nacional, nascida do MSI (Movimento Social e Italiano), é certamente um partido de direita, mas tem muito pouco a ver com o velho fascismo. Pelas mesmas razões, mesmo preocupado com os vários movimentos neonazistas ativos aqui e ali na Europa, inclusive na Rússia, não penso que o nazismo, e sua forma original, esteja ressurgindo como movimento capaz de mobilizar uma nação inteira.
    Todavia, embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há, então, um outro fantasma que ronda a Europa (para não falar de outra artes do mundo)?
    (…)
    Não adianta dizer que o fascismo continha em si todos os elementos dos totalitarismos sucessivos, por assim dizer, em “estado quintessencial”. Ao contrário, o fascismo não possuía nenhuma quintessência e sequer uma só essência. O fascismo era um totalitarismo fuzzy. O fascismo não era uma ideologia monolítica, mas antes uma colagem de diversas ideais políticas e filosóficas, uma colmeia de contradições. É possível conceber um movimento totalitário que consiga juntar monarquia e revolução, exército real e milícia pessoal de Mussolini, os privilégios concedidos à Igreja e uma educação estatal que exaltava a violência e o livre-mercado?
    O partido fascista nasceu proclamando sua nova ordem revolucionária, mas era financiado pelos proprietários de terras mais conservadores, que esperavam uma contrarrevolução. O fascismo do começo era republicano e sobreviveu durante vinte anos proclamando sua lealdade à família real, permitindo que um “duce” puxasse as cordinhas de um “rei”, a quem ofereceu até o título de “imperador”. Mas quando, em 1943, o rei despediu Mussolini, o partido reapareceu dois meses depois, com a ajuda dos alemães, sob a bandeira de uma república “social”, reciclando sua velha partitura revolucionária, enriquecida de acentuações quase jacobinas.

    Existiu apenas uma arquitetura nazista, apenas uma arte nazista. Se o arquiteto nazista era Albert Speer, não havia lugar para Mies van der Rohe. Da mesma maneira, sob Stalin, se Lamarck tinha razão, não havia lugar para Darwin. Ao contrário, existiram certamente arquitetos fascistas, mas ao lado de seus pseudocoliseus surgiram também os novos edifícios inspirados no moderno racionalismo de Gropius.”
    O que se pode concluir da narrativa preliminar do texto de Umberto Eco é o seguinte. Nazismo era coerência monolítica, ‘racional-totalitária’. Fascismo de Mussolini era colcha de retalho ‘emocional-contraditória’.
    Parece restar evidenciado, pois, que as diferenças e contradições que o nosso festejado mestre AMA aponta para negar o caráter fascista da governança bolsonarista são, para Umberto Eco, características do dinamismo histórico que confere permanência e eternidade ao cio da nefasta cadela.
    No Brasil, o que verificamos nos movimentos da campanha de 2018 e nos encaminhamentos atabalhoados no primeiro ano da governança é a confirmação empírica da leitura que levou Roberto Requião a sentenciar recentemente: o nazifascismo dessa turma está contaminado de ineficácia. Tá mais para circo. O inimigo, mesmo, é Guedes e o neoliberalismo!
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  19. Recortes do introdutório das 14 lições de Umberto Eco para identificar o neofascismo transportado nas entranhas do nazismo eterno:
    “Se como totalitarismo entende-se um regime que subordina qualquer ato individual ao Estado e sua ideologia, então nazismo e estalinismo eram regimes totalitários. (…)
    O fascismo foi certamente uma ditadura, mas não era completamente totalitário, nem tanto por sua brandura quanto pela debilidade filosófica de sua ideologia. Ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O artigo sobre o fascismo assinado por Mussolini para a Enciclopédia Treccani foi escrito ou inspirou-se fundamentalmente em Giovanni Gentile, mas refletia uma noção hegeliana tardia do “Estado ético absoluto”, que Mussolini nunca realizou completamente.
    Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica.
    Começou como ateu militante, para depois firmar a concordata com a Igreja e confraternizar com os bispos que benziam os galhardetes fascistas. Em seus primeiros anos anticlericais, segundo uma lenda plausível, pediu certa vez a Deus que o fulminasse ali mesmo para provar sua existência. Deus estava, evidentemente, distraído. Nos anos seguintes, em seus discursos, Mussolini citava sempre o nome de Deus e não desdenhava o epíteto: “homem da Providência”. Pode-se dizer que o fascismo italiano foi a primeira ditadura de direita que dominou um país europeu e que, em seguida, todos os movimentos análogos encontraram uma espécie de arquétipo comum no regime de Mussolini. (…)
    Análogos, não iguais.
    Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram.
    Mas quem são “eles”?
    Se pensamos ainda nos governos totalitários que dominaram a Europa antes da Segunda Guerra Mundial, podemos dizer com tranquilidade que seria muito difícil que eles retornassem sob a mesma forma, em circunstâncias históricas diversas. Se o fascismo de Mussolini baseava-se na ideia de um líder carismático, no corporativismo, na utopia do “destino fatal de Roma”, em uma vontade imperialista de conquistar novas terras, em um nacionalismo exacerbado, no ideal de uma nação inteira arregimentada sob a camisa negra, na recusa da democracia parlamentar, no antissemitismo, então não tenho dificuldade para admitir que a Aliança Nacional, nascida do MSI (Movimento Social e Italiano), é certamente um partido de direita, mas tem muito pouco a ver com o velho fascismo. Pelas mesmas razões, mesmo preocupado com os vários movimentos neonazistas ativos aqui e ali na Europa, inclusive na Rússia, não penso que o nazismo, e sua forma original, esteja ressurgindo como movimento capaz de mobilizar uma nação inteira.
    Todavia, embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há, então, um outro fantasma que ronda a Europa (para não falar de outra artes do mundo)?
    (…)
    Não adianta dizer que o fascismo continha em si todos os elementos dos totalitarismos sucessivos, por assim dizer, em “estado quintessencial”. Ao contrário, o fascismo não possuía nenhuma quintessência e sequer uma só essência. O fascismo era um totalitarismo fuzzy. O fascismo não era uma ideologia monolítica, mas antes uma colagem de diversas ideais políticas e filosóficas, uma colmeia de contradições. É possível conceber um movimento totalitário que consiga juntar monarquia e revolução, exército real e milícia pessoal de Mussolini, os privilégios concedidos à Igreja e uma educação estatal que exaltava a violência e o livre-mercado?
    O partido fascista nasceu proclamando sua nova ordem revolucionária, mas era financiado pelos proprietários de terras mais conservadores, que esperavam uma contrarrevolução. O fascismo do começo era republicano e sobreviveu durante vinte anos proclamando sua lealdade à família real, permitindo que um “duce” puxasse as cordinhas de um “rei”, a quem ofereceu até o título de “imperador”. Mas quando, em 1943, o rei despediu Mussolini, o partido reapareceu dois meses depois, com a ajuda dos alemães, sob a bandeira de uma república “social”, reciclando sua velha partitura revolucionária, enriquecida de acentuações quase jacobinas.

    Existiu apenas uma arquitetura nazista, apenas uma arte nazista. Se o arquiteto nazista era Albert Speer, não havia lugar para Mies van der Rohe. Da mesma maneira, sob Stalin, se Lamarck tinha razão, não havia lugar para Darwin. Ao contrário, existiram certamente arquitetos fascistas, mas ao lado de seus pseudocoliseus surgiram também os novos edifícios inspirados no moderno racionalismo de Gropius.”
    O que se pode concluir da narrativa preliminar do texto de Umberto Eco é o seguinte. Nazismo era coerência monolítica, ‘racional-totalitária’. Fascismo de Mussolini era colcha de retalho ‘emocional-contraditória’.
    Parece restar evidenciado, pois, que as diferenças e contradições que o nosso festejado mestre AMA aponta para negar o caráter fascista da governança bolsonarista são, para Umberto Eco, características do dinamismo histórico que confere permanência e eternidade ao cio da nefasta cadela.
    No Brasil, o que verificamos nos movimentos da campanha de 2018 e nos encaminhamentos atabalhoados no primeiro ano da governança é a confirmação empírica da leitura que levou Roberto Requião a sentenciar recentemente: o nazifascismo dessa turma está contaminado de ineficácia. Tá mais para circo. O inimigo, mesmo, é Guedes e o neoliberalismo!
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  20. Senhores, o artigo é bom, os apontamentos não estão incorretos, esmiuçá-los tentando revelar os seus se nãos, demandaria um livro. De qualquer maneira, aqui pulularam as divagações, quando, na verdade, jamais existirá um sistema político irretocável.
    Quanto a este “governo” tresloucado que nos impõem, é óbvio que atende aos interesses de quem o estabeleceu, os financistas especuladores (bancos e afins) os mesmos os quais, inclusive o PT, se curvou em nome da governabilidade. O que importa o “ismo”? Seja qual for, deve-se atentar ao seguinte: Por quem, ou pelo quê seus sinos dobram?

  21. Gostaria de ressalvar que evangélico não é cabível a esse governo, posto que toda sua conduta diverge dos reais ensinamentos de Jesus, contidos nos Evangelhos e a serem praticados pelos que se dizem seguidores de Cristo e, assim, evangélicos.
    Sou evangélica, não compactuo com esse (des)governo e oro para que se abram os olhos e entendimento dos evangélicos que o apóiam e defendem.

  22. Por isto que o movimento reacionário atual é neofascista: em essência, reproduz a violência de classe contra os trabalhadores como política; mas não é a mesma coisa, até porque é refém do neoliberalismo como promoção do sistema.

  23. Sou Sociólogo e estou estudando o fenômeno fascista a um ano e meio. O texto seria perfeito se não fosse por um motivo: O Fascismo no Brasil ainda não esta consolidado. O processo de consolidação está atendendo a um principio básico: o Ódio ! Pelo andar da carruagem, se nada for feito, teremos a receita clássica de fascismo aqui no Brasil e que atenderia a 90% das características apontadas no texto. Sendo assim, só poderemos falar em fascismo no Brasil quando todas as características sociais e politicas elementares se consolidarem, coisa que ainda não aconteceu graças a resistência dos poderes Legislativo e Judiciário. Talvez isso nunca venha a acontecer graças as limitações intelectuais do nosso “Duce” que consegue apenas processar aquilo que está ali, na sua retina. Nem mesmo as forças armadas, que poderiam ser um braço do golpe fascista, levam a serio essa figura. Abçs

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