O jogo cifrado do general Mourão
por Christian Edward Cyril Lynch
O artigo do vice presidente publicado hoje no Estadao faz a defesa da centralização político-administrativa e do anti-judiciarismo típicas do militarismo de Floriano, Hermes e do regime militar. Curiosamente, citando clássicos liberais americanos e brasileiros, de tendência unionista e não estadualista (Madison e Amaro Cavalcanti).
Qual o sentido desse artigo?
Aparentemente ele defende o governo Bolsonaro. Mas por que o vice faria a defesa de um governo encalacrado e cambaleante? Ele não devia estar, ao contrário, acenando para o congresso? É justo agora, com seus colegas tendo que passar pelo constrangimento de deporem em inquérito contra Bolsonaro!
Minha aposta é a de que o vice-presidente está praticando um jogo cifrado. A lealdade dele, na verdade, não é a Bolsonaro, que sequer é citado. É aos generais conservadores do Planalto e do alto comando. É governista, sem ser bolsonarista. Mourão está lhes estendendo a solidariedade política e dizendo o que eles querem ouvir: o mantra tradicional do exército como poder moderador da república e da centralização no executivo como guardião da ordem e da autoridade, garante da unidade nacional, contra as derivas judiciaristas e estadualista. Tudo isso, às vésperas da divulgação do vídeo da reunião ministerial que revelar as entranhas escandalosas do governo.
O movimento do general Mourão parece ir assim no sentido de dar segurança aos colegas militares, constrangidos de terem se manter leais a um governo incompetente e nepotista, de notórios arruaceiros, no caso de uma eventual mudança na presidência. A honra militar do vice-presidente não lhe permite trair o presidente como fez o Temer. O partido de Mourão é o Exército. O que Mourão sugere – mas nunca irá admitir – é que, na hora de desembarcarem do governo Bolsonaro, se este momento chegar, desembarcarão todos juntos.
No governo dele, Mourão, os colegas de farda ficarão tranquilos, porque prevalecerá um projeto conhecido e familiar de ordem nacional, de estilo ESG. A ordem e a unidade seriam restabelecidas tendo o Executivo federal como eixo organizador. Haveria nele espaço para acordos com o congresso, mas “sem corrupção”, e para um governo “ordeiro e de autoridade”, sem o populismo insano e polarizador de Bolsonaro. Um governo nacional, encabeçado por um general, teria moral para respeitado e acatado pelo judiciário e pelos governadores. Bom lembrar que, em declaração anterior, o vice-presudente já fez a defesa da costura de uma base parlamentar na câmara, de base programática. Cada general-presidente com sua ARENA…
Em suma, acredito que Mourão anda ultimamente acenando, não para o Bolsonaro, mas para os outros generais e para o congresso, de modo cifrado, estabelecendo as bases ideológicas e programáticas de um eventual governo dele. Menos Trump e mais Medici, menos Olavo e mais Golbery. Mourão como o verdadeiro Bonaparte do novo regime. – este Bonaparte, que sempre aparece depois da “revolução” que desestabiliza e desmoraliza as instituições (como a que vivemos entre 2013-2018, é que Bolsonaro se revela incapaz de resolver).
Resta saber se o Congresso vai morder a isca, e se está havendo efetivas aproximações entre ele e as lideranças da Câmara, para viabilizar a mudança lá na frente. Isso não é possível saber.
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O Mourão, em primeiro lugar, mostrou, para quem teima em achar outra coisa, que tá fechadinho com o boçalnaro, que pensa igual a ele.
Em segundo lugar, que quem quiser que ele participe da derrubada do 00, só cedendo mais poder, só se aceitar uma maior concentraçao e centralização de poder na mão dele.
E aí, “os setores democraticos” estão a fim? Qual a ”culpa do PT, PT, PT e da ‘esquerrrda’” pro Mourão, com pretensa erudição, falar assim, todo sobranceiro?
Pra mim não tem nada de cifrado. É a ponte para o futuro do Mourão. É plataforma de governo. Começou o apoio do exército ao impichiment. Honra militar é história da carochinha.