O marxismo cultural de Olavo de Carvalho começa antes de Marx!, por Rogério Maestri

Base de Olavo vem diretamente da extrema direita norte-americana em que Steve Bannon é um dos seus maiores representantes, e a ligação dele com o mesmo não deve ser deste carnaval.

O marxismo cultural de Olavo de Carvalho começa antes de Marx!

por Rogério Maestri

Fiquei em dúvida sobre o título do texto, pois este poderia ser substituído simplesmente por: “Decifrando a origem do pensamento de Olavo de Carvalho”, ficaria menos enigmático mas seria menos provocativo. Porém, para entendermos o que Olavo de Carvalho chama de Marxismo Cultural, não tem nada a ver com o pensamento de Marx, mas sim, talvez, por uma das leituras que o “filósofo autodidata” fez do principal texto de Marx e Engels, que foi o Manifesto do Partido Comunista e que, na desordem mental que caracteriza este autodidata, ele tenha confundido uma descrição da transição da sociedade medieval para a sociedade capitalista que está bem descrita no manifesto.

Olavo de Carvalho não faz nenhum mistério que ele acha que o apogeu intelectual da raça humana foi conseguido na Idade Média, e devido a isto ele critica todos os filósofos e pensadores que vem depois de São Tomás de Aquino. Logo, ele, nas suas leituras que devem ser feitas até no máximo um terço de livros que não lhe agradam, se fixou na descrição que o manifesto faz sobre a transição entre a sociedade medieval e a sociedade capitalista.

No manifesto encontramos na transição destes dois tipos de sociedade:

“A burguesia desempenhou na história um papel extremamente revolucionário.

Onde quer a burguesia tenha chegado ao poder, ela destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Ela rompeu impiedosamente os variegados laços feudais que atavam o homem ao seu superior natural, não deixando nenhum outro laço entre os seres humanos senão o interesse nu e cru, senão o insensível “pagamento à vista”. Ela afogou os arrepios sagrados do arroubo religioso, do entusiasmo cavalheiresco, da plangência do filisteísmo burguês, nas águas gélidas do cálculo egoísta. Ela dissolveu a dignidade pessoal em valor de troca, e no lugar das inúmeras liberdades atestadas em documento ou valorosamente conquistadas, colocou uma única inescrupulosa liberdade de comércio. A burguesia, em uma palavra, colocou no lugar da exploração ocultada por ilusões religiosas e políticas a exploração aberta, desavergonhada, direta, seca.

A burguesia despojou de sua auréola sagrada todas as atividades até então veneráveis, contempladas com piedoso recato. Ela transformou o médico, o jurista, o clérigo, o poeta, o homem das ciências, em trabalhadores assalariados, pagos por ela.

A burguesia arrancou às relações familiares o seu comovente véu sentimental e as reduziu a pura relação monetária.”

Na realidade o que Olavo de Carvalho chama de Marxismo Cultural, na realidade nada tem com o que Marx propõe ou com a proposta Marxista, mas sim com o que Marx e Engels escreveram sobre a destruição da sociedade feudal.

Poderíamos dizer que Olavo de Carvalho não é um opositor as concepções que Marx possa ter do futuro comunista da sociedade mas sim ele é um ferrenho combatente da revolução burguesa, ou seja, muitos pensam que as sua concepção do Marxismo Cultural é algum combate à infiltração do Marxismo na sociedade moderna, mas sim uma tentativa de destruição de todo o pensamento burguês surgido depois da revolução industrial.

Olavo de Carvalho não é contra os LGTBs porque os mesmos, segundo o que ele proclama, seriam originários da degradação da sociedade moderna pelo marxismo cultural, é contra simplesmente porque ele recupera uma lógica da Inquisição e da Igreja Católica quando a mesma tentou frear a própria evolução da história.

Da mesma forma ele é contra a qualquer um dos cientistas que como Newton mudaram os conceitos geocêntricos do universo, criando uma espécie de questionamento de visões bíblicas, que já tinham sido questionadas exatamente por um cônego da Igreja Católica, Nicolau Copérnico, mas que tiravam das mãos da Igreja a verdade absoluta.

Devido ao questionamento imposto pela ciência e a retirada das mãos da Igreja, assim como o controle das estruturas sociais pela progressão do capitalismo, que de forma avassaladora a burguesia pujante e poderosa reduziu o controle social da nobreza medieval sobre o servo, todos aqueles que tinham por paradigma de vida estes conceitos do passado, como bem descrito por Marx e Engels no Manifesto, ficaram órfãos de uma ideologia do passado.

Pois bem, assim como o homem crente do século XVI em diante, Olavo de Carvalho se acha o último guardião dos valores medievais e para dar uma forma mais convincente ao capitalismo e os neoliberais vinculados ao grande capital, Olavo de Carvalho, cria o que ele vem a chamar o Marxismo Cultural, uma expressão que como é de sua propriedade ele se serve dela como a quer.

Para Olavo de Carvalho, os marxistas culturais, são todos aqueles que professam desde a ideologia burguesa em seu pleno, como os verdadeiros marxistas. Ele encobre atrás deste termo desde partidos comunistas revolucionários como burgueses e grandes capitalistas que ele e seus seguidores chamam de Globalistas.

Se tentarmos entender do que compõe o agrupamento daqueles que ele chama de marxistas culturais, veremos todos no mesmo rótulo, desde cientistas famosos como Newton, Darwin, Einstein, passando por especuladores do mercado financeiro, como George Soros, chegando até a sobrar para elementos de algumas famílias reais europeias que admitiram o Estado ser governado até por trabalhistas. Porém, não podemos reduzir o nosso astrólogo somente a um neotomista, ou seja, um Escolástico clássico vinculado a igreja católica, como será provado mais abaixo.

Tudo isto pode parecer bizarro e até sob certo ponto patético, porém para quem assiste alguns vídeos das palestras do guru de um Medievalismo tardio, vê que este como “filósofo” estanca o seu discurso para seus discípulos. Tomismo e tudo que vem após isto é perversão e enganação, devido a isto e mais outros pontos outros procuram classificar Olavo de Carvalho como pertencente a Escola Perenialista, pois ele indica para seus alunos livros de René Guénon, um filósofo e esotérico francês que teve pelo menos uma ligação forte com a formação de Olavo de Carvalho, o esoterismo islâmico. Entretanto, por qual motivo ninguém sabe, ele negou parte do seu passado quando seguia uma Tarica Islâmica, mais precisamente à Tariqah de Frithjof Schuon, onde seu nome era Sidi Muhammad. As evidências das ligações deste senhor com o Islã são confirmadas pelo prêmio que o mesmo ganhou da Arábia Saudita da universidade de El-Azhar que segundo a sua própria palavra no Facebook não foi publicado por não ter sido considerado um texto islâmico (certamente os sauditas não consideram salafistas esotéricos como islamistas) mas mesmo assim foi dado o dinheiro em dobro.

Como se levantou mais acima no texto o nosso “filósofo” poderia ser um conservador católico, certamente que não, pois, por exemplo, a organização católica tradicionalista Montfort, não daria espaço a um dos seus colaboradores, Orlando Fedeli, fazer uma desconstrução violenta e extremamente bem documentada da “religiosidade católica” de Olavo de Carvalho. Quem tiver fôlego para ler é só puxar na Internet o longo texto (mas longo mesmo) denominado: “A Gnose “tradicionalista” de Rene Guénon e Olavo de Carvalho”.

Após ler o texto (tive disposição para isto), cheguei a uma conclusão diferente do autor, Olavo de Carvalho não é um adepto de Réné Guénon, apesar de toda a semelhança de alegado pensamento do “filósofo” brasileiro, ele sim é um OPORTUNISTA que achou em outro personagem ligado ao pensamento de Guénon, que possuía condições de financiá-lo, STEVE BANNON. Quem não acredita é só acessar os seguintes links Esoterismo Fascista e Arianista de Steve Bannon ou também Por dentro do segredo: as estranhas origens da fantasia nacionalista de Steve Bannon.

Em resumo, para quem não entendeu até aqui, a força de Olavo de Carvalho dentro do governo, não vem de seus alunos Olavetes, que quando em perigo ele se lixa para os mesmos, mas sim diretamente da extrema direita norte-americana em que Steve Bannon é um dos seus maiores representantes, e a ligação de Olavo de Carvalho com o mesmo não deve ser deste carnaval.

Redação

2 Comentários
  1. Caro Rogério,

    Ótima análise. A nova extrema direita fascistoide hoje, assim como os fascista de 1930 são passadistas, pois idealizam um passado mítico em que a nação ou o povo de deus vivia em harmonia. Na verdade, são anti-modernos e anti-capitalistas sem o saberem.

    Mas aí está a contradição, tanto dos fascistas antigos, quanto dos neofascistas atuais: são anti-capitalistas mas nos termos ideológicos do capitalismo: defendem a propriedade privada, o lucro (rentista ou industrial) e a dignidade do trabalho (coisa da qual os nobres e clero medievais ririam).

    Por isso é impossível eles terem algum projeto de civilização, pois não tem nem mesmo um diagnóstico minimamente plausível da realidade histórica em que vivem: o pensamento fascista de ontem e neofascista de hoje é uma barafunda de ideias totalmente sem pé nem cabeça, que serve, na prática para exprimir o medo e o ódiao de grande parcela da população, insegura ou abandonada pelo capitalismo em colapso de nossa época.

    São passadistas tresloucados, mas na realidade são profundamente atuais (diria até vanguardistas, veja o uso revolucionário que fazem das mídias: o rádio em 30 e a internet hoje) no sentido de que são frutos de nossa época de decadência capitalista em que a maior parte da população está se tornando supérflua para o capital, principalmente por conta do desemprego e subemprego estruturais, decorrentes da substituição de trabalho humano por máquinas.

    A extrema direita é a expressão do medo que se transforma em ódio e se efetiva (quando chega ao poder) como destruição e caos. É a realização da distopia capitalista que mergulha a sociedade na barbárie.

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