Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O modelo colonial de Paulo Guedes, por Andre Motta Araujo

É um modelo que abandona de forma agressiva qualquer noção de PROJETO DE PAÍS. A proposta de colonização do Brasil não é só uma consequência, mas é desejada, como objetivo.

O modelo colonial de Paulo Guedes

por Andre Motta Araujo

No Egito do final do Século XIX, sob o governo do Khediva Isamil Paxá, que reinou de 1863 a 1879, tudo no Egito era de estrangeiros, as ferrovias, as lojas, a eletricidade, o fornecimento de água, os hotéis, as indústrias e finalmente, quando não havia mais o que vender, a concessão da alfandega de Alexandria, entregue a banqueiros ingleses e franceses sob uma entidade conhecida como Caisse de la Dette, que cobrava os impostos de importação em benefício dos credores do Egito.

O último grande ativo do Khediva eram suas ações na Companhia do Canal de Suez, que lhe pertenciam por conta de ter outorgado a concessão para construção do canal. Pressionado por credores Ismail Paxá teve que vender suas ações ao Tesouro britânico, assim o governo do Egito virou uma casca sem recheio, tudo era de estrangeiros.

Finalmente, sem mais utilidade, Ismail acabou sendo deposto pelos britânicos, que assumiram de fato o controle do País, que só largaram em 1952 com a Revolução nasserista. Nasser renacionalizou tudo o que era estrangeiro no Egito, expulsando os britânicos e encerrando a Era Colonial que durou 80 anos, quando o Egito era de fato um protetorado inglês.

No período entre a deposição de Ismail e a chegada de Nasser ao poder governaram nominalmente o Egito os descendentes de Ismail, sendo o último o Rei Farouk, todos da dinastia albanesa de Mohamed Ali, governantes nominais do Egito sob tutela britânica, que tinham grandes quarteis e bases aéreas na Zona do Canal.

Mas é interessante registrar que o Egito sempre foi NOMINALMENTE independente, embora todos soubessem que os ingleses é quem controlavam o Pais que, simbolicamente, era até 1918 uma província do Império Otomano, uma combinação esdruxula que os ingleses mantinham como disfarce, quem mandava era Londres mas se fazia de conta que o Sultão de Constantinopla era o imperador do qual o Egito era uma província, interessante ficção histórica ajustada à tradicional hipocrisia britânica que praticam essa arte com maestria através dos séculos. Também controlaram a China por trás dos panos sem que esta fosse colônia.

O MODELO PAULO GUEDES segue a linha de colonização do Brasil pelo capital estrangeiro a quem serão oferecidas as refinarias da PETROBRAS, a ELETROBRAS, as concessões de todas as rodovias federais, o que resta de aeroportos, portos, pontes, florestas, parques, terrenos da União.

O capital nacional mais apto a disputar concessões estava aglutinado em torno das grandes empreiteiras, DESTRUÍDAS pela cruzada moralista, restando assim o campo aberto para arrematantes estrangeiros, alguns disfarçados de nacionais atrás de bancos de investimentos.

É um modelo que abandona de forma agressiva qualquer noção de PROJETO DE PAÍS. A proposta de colonização do Brasil não é só uma consequência, mas é desejada, como objetivo. ENTRE UM DISPUTANTE NACIONAL E UM ESTRANGEIRO a equipe econômica prefere o estrangeiro, que traz divisas e, segundo eles imaginam, tecnologia, quando o Brasil tem em muitos setores mais tecnologia do que estrangeiros, como concessão de rodovias, hidroelétricas, florestas. Mas o fascínio em ser colonizado fala mais alto, o complexo de vira-lata é muito profundo em certas camadas alucinadas com Miami e Chicago, para as quais o Brasil não vale nada e deve ser tratado apenas como plataforma de negócios, como uma grande Jamaica no Atlântico Sul.

Dos cinco BRICS o Brasil será o único que abdicou de um papel geopolítico independente para optar por um papel subordinado a um governante estrangeiro de baixa extração, um vigarista histórico, que sequer paga o aluguel do Brasil, aliás tem um imensa ficha de não pagador de nada, além de tudo um péssimo parceiro para qualquer vantagem que o Brasil posse imaginar obter desse estranho casamento.

Há momentos históricos em que nações parecem cometer suicídio, a Inglaterra de Chamberlain, os EUA de McCarthy, a China de Chiang kai Shek, a Romênia de Ceausescu. Vamos torcer para que a sanidade retorne a um dos maiores países do planeta, hoje apequenado na escala de uma pequena ilha do Caribe.

A ideia de que o Brasil é um cinco maiores países do mundo, com política própria, um país estrategicamente importante para todos os blocos, seja o bloco Rússia-China, o bloco União Europeia, o bloco anglo-americano, não passa pela cabeça desse núcleo de economistas, eles não têm interesse em geopolítica, em destino de País,  na vasta população largada à sorte fora do núcleo de alta renda, no papel do Brasil no mundo, nada disso interessa.

O único plano é VENDER O PATRIMÔNIO NACIONAL ATUAL E FUTURO, este representado por concessões, esse é o único plano econômico em andamento além de uma infinidade interminável de reformas, TODAS COM O MESMO OBJETIVO, sobrar dinheiro para os credores da dívida pública, ao final são do mesmo núcleo dos autores do plano. Esses são os objetivos com os quais a mídia perde tempo com detalhes irrelevantes, veem o micro e não o macro.

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16 Comentários

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  1. ( Os britânicos )só largaram em 1952 com a Revolução nasserista.

    A falta de líderes da estatura de uma Gamal Abdel Nasser impede a necessária revolução. Vamos na lenta, gradual e segura (sic) modernização conservadora.

  2. O banqueiro travestido de ministro querer destruir o Estado por dentro é compreensível…… espantoso é permitirem…….o congresso, o judiciário, abonam as loucuras do desgoverno miliciano, permitindo o desmonte da administração como se não não houvesse amanhã……o botafogo, um cidadão de baixa qualificação, que nem deveria estar no congresso, quiçá, presidi-lo, está mais preocupado em rebaixar o salário de quem ganha acima de três salários míninos, e os críticos do funcionalismo devem vibrar, do que com o futuro do pais…
    E eu ainda quero saber, se não estão gastando por causa da lei do teto, onde está o dinheiro há mais de dois anos represado? Evaporou? Ninguém se interessa em saber?
    E essa maldita dívida? Na qual se pagam um quarto do principal a título de juros e ela só cresce? Nunca se abate o principal???????? Que p…. é essa?!?!?!

  3. “(…) interessante ficção histórica ajustada à tradicional hipocrisia britânica que praticam essa arte com maestria através dos séculos. Também controlaram a China por trás dos panos sem que esta fosse colônia.”
    Só a China – e o Egito – não, né, caro André? Em verdade isso, esse novo modelo financeiro com natural reflexo político começou pra valer com a “Independência” do Brasil, em 1822, pra dar destino à montanha de ouro, capitalizá-la, junta em preparo à guerra longa contra Napoleão que se mostrou rápida em Waterloo, sete anos antes.
    É o completo retorno do Brasil a antes de 1930. Apenas com pequena diferença no centro de comando: na República Velha era Londres que mandava sozinha; agora, o comando financeiro continua em Londres, mas “as canhoneiras” que mantém a fidelidade estão do outro lado da Atlântico. São – e quase sempre foram – sócios.

  4. Valeu, AA!

    Há poucos dias, numa entrevista, o Lula afirmou:

    “(…)
    O Brasil, que queria ser exportador de derivados, agora está sendo importador de óleo diesel e de gasolina dos Estados Unidos, quando nós somos autossuficientes. São coisas sem explicação. E então, acontece a venda da Embraer, uma coisa muito grave. Um país jamais será soberano se não houver conhecimento científico e tecnológico interno. E a Embraer era uma empresa de ponta, poderia ser uma empresa que não precisaria sequer depender da Boeing ou de qualquer outra empresa para produzir aviônica. Eles venderam a Embraer para a Boeing, a Embraer era a terceira empresa de aviação do mundo. Uma empresa muito respeitada, que exportava mais do que a Bombardier. E agora querem se desfazer da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobras… O Brasil está vendendo as suas empresas públicas para as empresas públicas de outros países. Eu penso que o país precisa fazer uma nova independência. O Brasil deve ter uma boa relação com os Estados Unidos, científico-tecnológica, política e econômica, mas também deve ser independente. Nós somos um país de 210 milhões de habitantes, 8.5 milhões de km², 360 milhões de hectares de floresta tropical totalmente preservada. O Brasil não deve ser dependente, seja dos Estados Unidos ou da China, Índia ou Rússia. O Brasil deve depender da liberdade, educação, emprego e salário do seu povo. Eu penso que o país está vivendo o pior momento da sua história. Nós temos um governo subserviente. Eu me recusei a participar de fóruns internacionais durante muito tempo para não prender o Brasil, e agora o país abriu mão da sua liberdade e independência, e bate continência para o presidente americano. Acho que ninguém respeita quem não se respeita. E o Brasil precisa voltar a ser grande e, para isso, precisa ter dirigentes políticos que se respeitem, que gostem da democracia e saibam que um país que possui fronteira com dez países, como o Brasil, e uma fronteira dividida pelo Oceano Atlântico com toda a costa africana, poderia prestar muito mais solidariedade aos povos mais pobres do que presta hoje. Transferindo um pouco de conhecimento tecnológico, nós levamos a Embrapa para a África. Eu acreditava que a savana africana possuía as mesmas condições produtivas que o cerrado brasileiro. E o programa já não existe mais. Levamos para Moçambique fábricas de produção de medicamentos retrovirais para combater a AIDS. Levamos a Universidade Aberta para Moçambique. É este o papel desempenhado pelo Brasil. O programa “Mais Alimento”, que fizemos no Brasil para favorecer o pequeno produtor, e estendemos para a África e América Latina, agora está finalizado. O Brasil está ilhado e subordinado, de forma vergonhosa, aos interesses do Trump, pedindo que o Trump faça favores ao governo do Brasil quando, na verdade, nenhum governo faz favores para outro governo. Temos políticas de Estado em relação a outros Estados e isso deve ser cumprido. Então, é isso. O Brasil não está se respeitando, voltou ao tempo da colonização”.

  5. Modelo Colonial adotamos no Golpe Civil Militar de 1930 e nunca mais abandonamos. Gudin e sua doutrinação foram preservados por todas estas 9 décadas, assim como o Estado Absolutista. Alguns dizem ter sido nosso melhor momento. Alguns pequenos erros estratégicos, no meio do caminho, dizem. Ficamos de fora, por vontade e políticas próprias, da Reconstrução Mundial dos pós guerra. Momento único da História da Humanidade, que salta das caravelas para o avião à jato. Só isto. Por vontade própria não participamos do banquete. O que poderia dar errado? Que consequências poderiam acarretar no século seguinte? Para que Industrialização, para que Indústrias? A melhor Política Industrial é não tê-la?!! Então a genialidade de PUC/RJ preservada por 90 anos na figura do guru Gudin é não alavancar a Industrialização Brasileira ( E ter aqueles Paulistas, Industriais, Liberais, Democratas, Republicanos novamente no Governo?) durante a Reconstrução do Mundo e Ligações Comerciais Globais que regeriam a História Mundial do século passado e deste século !!! UM PEQUENO ERRO !!!Mas Nossa melhor fase, dizem !!! Outro gênio de ‘Correntes Gudinianas’, factóide da Família do Caudilho, torra todo Capital Nacional criando sua Disneylândia no Cerrado. Industrialização? Para que? É só pegar o Dinheiro Barato de Potências Estrangeiras Potências Estrangeiras que ainda estão se reconstruindo da maior guerra da história), amarrados aos interesses e Moeda Corrente deles. Mas com Juros irrisórios. Mas flexíveis. E abrir Nossa Economia Atrasada à sua competição e Industrias. Industrialização rápida e barata. 50 anos em 5. O que pode dar errado? Afinal, Eles só querem que o Mundo se desenvolva, não é mesmo? Os milhares e milhares de Desempregados, sarnentos, doentes, desesperados, miseráveis Alemães, Italianos, Japoneses, Russos, Suíços, Franceses, Chineses,… que chegavam à Pátria da Vanguarda, Desenvolvimento, Democracia, Trabalho, Industrialização, Liberdade,… em menos de 2 décadas tornam-se Nosso Patrões. Suas Empresas e suas Economias totalmente destruídas, tornam-se Nosso Donos. Estamos olhando e aplaudindo. Terceiro Mundo, somos rotulados, na mesma época que Industria Alemã aniquilada, como VolksWagen, chega ao Brasil para vender suas carroças. Como se dá o milagre? Para que participar e dividir este momento, não é nossa estratégia caros GV, Tancredo Neves, Dutra, Gudin, JK, Brizola, Moreira Salles,… O que poderia dar errado? Paulo Guedes continuar com este sucesso? PRIVATARIAS? Ficar rico com o bolso dos outros? Pobre país rico. Nosso melhor momento. Mas de muito fácil explicação.

    1. Esse Zé é xatopracar…
      Parece um zumbi da revolução neoligarquista de 32, besteirado por um charuto de maconha estragada.
      Um defunto fantasmagórico operador de metralhador giratória com munição de espoleta.
      Vai se tratar colega, tem um programa de psicoterapia gratuito para casos especiais.
      Quem sabe vc passa no “concurso”?

      Ps: Não obstante, defendo seu direito de nos encher o saco. Fá Z ô Q…

  6. O maior problema do braZil (como de outros países também subjugados hoje e na História) não é exatamente o interesse estrangeiro do império da vez, mas o interesse de braZileiros que viabilizam este domínio, “de dentro”.
    Não houvesse isso, o domínio teria que ser “hard” (pela força) e não “soft” (por esse perverso, humilhante e repugnante processo).
    O uso de poder militar é hoje o último e mais desgastante recurso de domínio, embora deva se manter sempre como retaguarda (bem) visível para impor o respeito (ou medo), como um brutamontes que estupra “sem violência”, a menos que haja resistência … senão …
    Num dos países mais ricos do mundo, seja em riquezas e condições naturais, seja em tamanho, seja em população, temos uma “elite” de capatazes (que tomam conta do país por procuração dos dominadores) e corretores (que vendem ou concedem em nosso nome e sem nos consultar tudo que podem aos dominadores interessados).
    Uma “elite” (prostituta?) que ao invés de nos conduzir ao bem estar e à prosperidade, como uma boa definição de elite, age como um amontoado de larvas de ovos de vespas aqui implantadas por um veneno que nos torna um país zumbi, nos devorando até nos tornarmos uma nação sem recheio, um país sem seu povo.
    Com características tão grandiosas, talvez sejamos um caso único de país tão facilmente dominado (e explorado), inclusive com o apoio de uma maioria eleitoral zumbi, disseminada inacreditavelmente na parte mais rica, instruída e madura desta drogada sociedade.
    Tem uma letra que se ouve por aí que diz:
    Ou ficar a pátria (amada?) livre ou morrer pelo BraSil.
    Vocês conhecem?

  7. Fica cada vez mais claro que o desejo brasileiro de deixar de ser colônia é uma fagulha de vida curta.

    Qual é o sentimento majoritário dos brasileiros com relação às metrópoles? Medo? Admiração? Os dois? Nenhum? Outro?

    Como, para mim, essa pergunta é difícil de ser respondida, resolvi questionar o assunto por outra ótica: qual o sentimento das metrópoles para com o território brasileiro? Admiração? Desprezo não parece ser, pois investidas de negócios não faltam.

    Estaríamos diante de um cenário onde as metrópoles nutrem maior admiração pelo solo brasileiro do que sua própria população? Estaria, por trás do sufocamento do apreço nacional, um apreço ainda maior vindo de fora?

    Nelson Rodrigues dizia que o Brasil era muito impopular no Brasil. Será que tal impopularidade chega a esse ponto?

    1. O Complexo de Vira-Lata acometeu o Alexandre Garcia:

      “Com esse sol, esse litoral, com esse subsolo, com esse clima, alguém teria dúvida de que os japoneses transformariam isso daqui em primeira potência do mundo em dez anos?

      Lá, eu não quero pensar. Lá não tem nenhuma riqueza mineral, zero riqueza de subsolo, litoralzinho, vulcões, terremoto, tsunami, duas bombas atômicas, solo que não dá para correr um trator assim mais de 20 metros. Lá, vamos esquecer.

      Que seja possível a gente trocar de população com o Japão, que a gente transferisse 210 milhões de brasileiros para o arquipélago japonês e trouxéssemos os 153 milhões de japoneses para o continente brasileiro”,
      Como os japoneses não virão, vocês estão reconhecendo que essa responsabilidade é nossa”. – Alexandre Garcia

      Ele vai para o Panteão dos Vira-Latas, e será introduzido pelo Vélez:

      “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”. – Vélez Rodríguez

  8. Os neoliberais radicais selvagens do governo de extrema-direita nada conservador do GOVERNO REVOLUCIONÁRIO Bolsonaro estão dando uma bela lição no Brasil e no mundo !!
    Obs:ISSO SERIA TERRORISMO ???

  9. Como foi fácil aqui, não é?
    A grande mídia e a pedagogia colonial “construíram” essa terra.
    Não precisou de tiro, nem muita grana…
    E ainda tem uma legião de fanáticos que vão defender este regime até às últimas consequências.

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