O neoliberalismo voltou animado, por André Singer

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por André Singer

Os novos velhos tempos

Da Folha de S. Paulo

O governo Michel Temer começa exatamente onde o de Fernando Henrique Cardoso parou quase duas décadas atrás: tentando instituir uma idade mínima para a aposentadoria. A proposta era de 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, restrita apenas aos que entrassem no mercado após a promulgação da emenda. Foi barrada na Câmara em 6 de maio de 1998.

O atual inquilino do Planalto deve lembrar bem, pois era então o presidente da Casa, aliado de FHC. Não retrocedemos à República Velha; voltamos à idade de ouro do neoliberalismo tupiniquim. Agora a equipe temerária fala em estabelecer limite de 65 para ambos os sexos, valendo também para os que já estão na labuta.

Nesta saison retrô, duas ideias serão testadas. A primeira é minha. Por volta de 2010, argumentei que o realinhamento de 2006 poderia consolidar a proteção social existente, mesmo que a oposição viesse a ganhar eleições posteriores. É verdade que Temer não foi eleito, assumiu a Presidência graças a um golpe parlamentar. Mas julga ter base suficiente para impor o desmonte do precário Estado de bem-estar nacional.

Aqui a diferença com golpe militar cobra força. Nele, as mudanças são impostas pela força. Os que discordam são levados à prisão, ao exílio e à tortura. Os generais só prestam contas à história. Na arruaça legislativa, diferentemente, é necessário manter a maioria legislativa que derrubou Dilma e logo submeter-se ao voto popular.

Quantos deputados serão candidatos a prefeito em outubro? Quantos apoiam ou são apoiados por chefes do Executivo municipal? Como reagirão as suas bases quando verificarem que o benefício previdenciário, com o qual contavam, será adiado por X anos?

Aí está a explicação de por que escolher parlamentar ficha suja para liderar os governistas. O presidente interino sabe que apenas a metodologia rudimentar de Eduardo Cunha é capaz de tanger dezenas de políticos abespinhados por eleitores.

A segunda análise a ser repensada é aquela de acordo com a qual o lulismo foi apenas uma apresentação diferente do cardápio tucano. No fim das contas, Lula também reformou a Previdência em seu primeiro ano de mandato, um dos maiores indícios em favor do argumento da continuidade.

Ocorre que Lula optou por sacrificar os funcionários públicos — o que provocou a justificada aparição do PSOL – para depois manobrar a favor dos trabalhadores como um todo, sobretudo por meio da elevação real do salário mínimo. Temer, diferentemente, dá continuidade plena ao projeto de fazer do Brasil um espaço capitalista livre dos constrangimentos impostos pela Constituição de 1988.

O neoliberalismo retornou animado. Vejamos se veio para ficar.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Os expurgos de 2003.

    Os expurgos de 2003. Consequência lógica da carta aos brasileiros. E momento decisivo na história da esquerda no poder.

  2. talvez so uma resistencia

    talvez so uma resistencia unida e harmonisa possa reverter

    essa dita animação do neoliberlismo, animação evidentemente

    baseada na hegemonia da grande mídia golpista…

  3. Até o osso

     André Singer, colonizado até o osso, tem coluna num panfleto político de quinta categoria denominado de Folha d S. Paulo. Singer acredita que esse panfleto golpista é um “jornal” progressista e isento. Essa turma da USP…

  4. Haja moderação

    Tenho ouvido os comentaristas da “nova” Radio Usp…

    Muito moderados para meu gosto inclusive o André Singer.

    Porque será! Esperava algo mais contundente!

    Na verdade só gostei de um comentario sobre ética do professor Renato Janine.

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