O que a mãe Natureza nos diz sobre a teatralidade, por Iana Pires

Na semana do dia das mães, uma reflexão com a mãe Natureza sobre nosso exercício da teatralidade, emprestando uma breve perspectiva de Boal.

O que a mãe Natureza nos diz sobre a teatralidade

por Iana Pires

“A teatralidade é essencialmente humana”

Augusto Boal, nesta afirmação, decodificou a essência de uma existência humana experienciada em sua plenitude. Isto porque a teatralidade, na prática da vida ordinária, citadina, profissional, social, familiar, expõe as facetas necessárias do ser humano. É como dispor de instrumentos diversos de trabalho de vida.

A teatralidade é uma potência grandiosa e custa ao brasileiro assumir: Até então fomos loucos por não sacarmos nossas armas de uma bolha gigantesca fora de nossas pequenas e esdrúxulas bolhas. Fomos programados para julgar. Por isto mesmo, não experienciamos a abundância de vida proporcionada pelo ímpeto da teatralidade. No entanto, ainda assim, no nosso universo julgador, tais a abundância e camadas capazes de serem atingidas da teatralidade, esta existe, essencialmente humana. Nos vestimos da “roupa” de julgadores e críticos do mundo, teatralidade programada pelo caráter opressor dos nossos antecessores, dos nossos meios atuais, do nosso olhar contaminado pelos olhares alheios. E, então, nos deixamos tornar escravos desse polo enviesado de uma espécie de teatralidade que, na verdade, não é teatralidade – esta, na essência dita de Boal, as sacadas de instrumentos e armas puras e criativas da potência de vida. Aquela “teatralidade” nada mais é do que prisão dos nossos julgamentos.

Poderíamos realmente compreender as dimensões da vida como movimentos que partem do ser em vez de termos nos perdido nas ideias de que sempre haveria um sistema dominante e que nos amarrara. Somos loucos por não termos ainda pegado a chave da teatralidade para criar vida. Não incluem-se aqui os vieses de uma “teatralidade” das falsidades, das corrupções, das vestes dos “homens de bem” que destroem potências de vida e de subjetividades. Simplesmente é capacidade maravilhosa do ser humano de sacar suas vozes para trabalhar-se em diferentes realidades (trabalho, família, social, cultural, educacional, viagens, mudanças geográficas, rural, urbano, centros, periferias, resoluções de conflito, pioneirismo, estado de liderança ou de servir, etc.).

Uma vida moderna, urbana e hiperestimulada desconectou o ser humano de si e ele já não conhece os recursos que porta em seu corpo para sacar mais vida em cada área dela. Por outro lado, recorremos por vezes aos povos indígenas para os quais a noção de teatralidade estaria amalgamada na natureza como um todo. O indígena olha o pássaro na quietude da floresta e esse pássaro o inspira a interagir com um canto de assovio e esse assovio faz chamamentos, assim ele se posiciona no seu EU mensageiro, seu EU aprendiz do sopro do vento ou seu EU pagé. A indígena observa a (e se absorve na) águia, vem-lhe uma intuição e depois está lá ela preparando estrategicamente o terreno para fortalecer os laços já que se imantou deliberadamente do olhar profundo binocular da ave, enquanto, na esfera da luta, a águia é implacável para agilizar a superação e reorganização.

Infelizmente, quisemos ser tão convencionais para encaixarmos nas instituições, nos círculos e nos quadrados, que distorcemos toda essa noção de teatralidade sem conhecê-la por Boal, ainda que tenhamos a possibilidade de reformá-la ou destruí-la para reconstruí-la já e com pressa, presença e plenitude.

Estaremos então em vias de sacar a chama para a existência robusta, a que deve ser a verdadeira, para experimentarmos as possibilidades que a vida naturalmente dá, nos laureando tranquilamente com a TEATRALIDADE, essencialmente humana.

Iana Pires – Desenvolvedora vocal; Mestra em Ciências – USP; Especialista em Voz (CRFa/CEV)

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