O que choca os cristãos?, por Vitor Souza

Sobre o caráter cristão de seu governo, Hitler disse: “Hoje, os cristãos estão à frente deste país. Prometo que nunca me ligarei a partidos que querem destruir o Cristianismo".

O que choca os cristãos?, por Vitor Souza

Temos acompanhado a polêmica em torno do especial do Porta dos fundos em que se brinca com a sexualidade de Jesus, que é representado como gay.

Isso gerou revolta contra o grupo humorístico por parte de muitos cristãos, particularmente os evangélicos.

Interessante pensar que a homossexualidade seja algo tão imoral, enquanto grande parte dos que criticam não se chocam com o apoio à execução de menores numa favela, não se chocaram quando Bolsonaro homenageou o Cel. Ustra, que torturava mulheres com ratos na vagina, quando disse que a ditadura matou pouco, etc…

A homossexualidade é que é o grande cerne da imoralidade…

Estamos então, postando novamente um texto nosso sobre o posicionamento político dos cristãos ou da maior parte deles ao longo da História.

As imagens ao final, nos fazem pensar: o que choca os cristãos?

“DE QUE LADO ESTÃO OS CRISTÃOS NA HISTÓRIA RECENTE?

As religiões são base de parte significativa de nossa moral e visão de mundo. Portanto, nossa ética, moral, leis, etc. tem origem, em grande medida, na religião. São, portanto, definidoras em grande medida do certo e errado. Obviamente, a religião se apresenta como defensora do bem. Até porque parte importante da definição de bem e mal, vem dela.

Como sabemos, a religião tem enorme influência na política. A Igreja católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média e mesmo com poder decrescente ao longo dos últimos séculos, continuou tendo enorme poder, até os dias atuais.

Atualmente, no caso brasileiro, as igrejas evangélicas, muitas organizadas politicamente em partidos e movimentos sociais, têm enorme poder politico, como a Igreja Universal que tem um partido “quase seu”, o PRB e a Assembleia de Deus, que tem toda uma organização política para lançar seus candidatos nas eleições.

Vejamos então, quem os cristãos apoiaram politicamente em vários momentos históricos recentes.

1- A Ku klux klan era e é um movimento cristão fundamentalista e racista, que tinha como título do seu jornal a célebre frase, bem famosa entre nós, “Good citzen” (“cidadão de bem”). A KKK perseguia e matava negros libertos entre outras atrocidades. Nos anos 1920, a KKK chegou a ter milhões de membros nos EUA.

2 – A Igreja católica apoiou o fascista Benito Mussolinni na Itália para combater os infiéis comunistas. Não vamos entrar no mérito das atrocidades de Mussolini, mas ele foi um importante respaldo para outro fascista mais famoso a seguir…

3 – A Igreja Católica apoiou Hitler pelo mesmo motivo, combater os comunistas infiéis. Lembrando que Hitler foi eleito pelo voto popular e as Igrejas tinham um enorme poder de influenciar a mente das pessoas.

Sobre o caráter cristão de seu governo, Hitler disse: “Hoje, os cristãos estão à frente deste país. Prometo que nunca me ligarei a partidos que querem destruir o Cristianismo. Queremos reencher nossa cultura de espírito cristão. Queremos queimar todos os recentes desenvolvimentos imorais na literatura, teatro e imprensa, enfim, queremos queimar o veneno da imoralidade que surgiu em nossa vida e cultura pela abundância liberal no passado .”

4- A igreja Católica apoiou o general Franco que implantou uma ditadura fascista na Espanha, que durou de 1936, quando deu um golpe apoiado por Hitler, até sua morte em 1975. Franco provocou uma guerra civil na Espanha que matou centenas de milhares de pessoas.

5- A Igreja Católica apoiou informalmente o golpe de 1964 que implantou uma ditadura de 21 anos no Brasil. A famosa “marcha com Deus pela liberdade” em 1964 foi o melhor exemplo disso. O motivo? O mesmo de sempre: combater o suposto “comunismo ateu”, o então presidente João Goulart e se opor às reformas de base, propostas por ele.

O mesmo vale para as ditaduras latinoamericanas dos anos 1960 e 1970. Mesmo que diversos setores do baixo clero, como Frei Beto, Frei Tito, e até do alto claro, como Dom Helder Câmara, tenham agido contra a ditadura.

6 – Mais recentemente na história, com o enfraquecimento da Igreja católica e fortalecimento e organização política das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, são estas que têm influenciado com mais peso a política.

As principais lideranças evangélicas do Brasil apoiaram Bolsonaro , de extrema-direita, cuja campanha usava um slogan de campanha de influência nazista (“Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Enquanto que o original nazista era “Alemanha acima de tudo”).

A poderosa Igreja Universal do Reino de Deus, do bilionário Edir Macedo, A Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e Silas Malafaia; Pastor Everaldo, líder do partido do PSC, partido de direita conservadora e diversos outros apoiaram a campanha e apoiam o governo Bolsonaro.

Bolsonaro sempre deixou claro que defende pena de morte, tortura, execução de criminosos (“bandido bom é bandido morto”). Já espalhou inúmeras fake News, que é pecado de falso testemunho, defendeu a sonegação de impostos, etc.

Homenageou o Cel. Ustra o “terror da Dilma”, segundo ele, na votação do impedimento da presidenta, que torturava entre outras formas, usando ratos nas vaginas das presas.

Nada disso impediu os cristãos, principalmente os evangélicos, apoiarem em massa Bolsonaro . Hoje, os evangélicos são uma das principais sustentações do governo Bolsonaro.

7 – O mesmo podemos dizer de Trump nos EUA, com todos os seus absurdos, que se apresenta como homem cristão e defensor dos bons costumes e teve o apoio de parte significativa do eleitorado mais religioso (cristão).

Ao observar todos esses exemplos, me pergunto: como grande parte dos cristãos pode conciliar o discurso amoroso e solidário de Jesus, com o ódio, a violência, a tortura, execução, exclusão social, etc. que na prática, teve o apoio da maioria dos cristãos?

Uma das minhas hipóteses é que o “cristianismo real” é muito diferente do “cristianismo utópico”.

Chamo de “cristianismo utópico”, aquele das falas amorosas e solidárias de Jesus e o “cristianismo real”, aquele cujo foco é a “defesa da família”, que na prática é controle social da vida das mulheres, do machismo, da aversão ao LGBT, pois a família, como célula da sociedade, seria destruída se não fosse patriarcal, machista, misógina e homofóbica.

Acrescenta-se ao cristianismo real, a manutenção das tradições de hierarquia social, do elitismo, da filantropia elitista, que não deseja conceder direitos aos pobres, do ódio ao diferente e do combate aos infiéis, aqueles que não creem no seu “deus”, como os ateus, os muçulmanos, etc.

Sei que muitos dirão que estou sendo injusto, que os cristãos não são todos assim, etc. Sei bem disso… Temos inúmeros exemplos de cristãos que se rebelaram contra todas essas atrocidades citadas acima. Vários movimentos e instituições. Martin Luther King era desses cristãos que gostava de Jesus, o Papa Francisco (tanto que ele está sendo chamado de comunista…), o movimento e Evangélicos pelo Estado de Direito, que é anti-Bolsonaro e vários outros.

Não estou generalizando os cristãos. Mas estou falando da sua maioria, ou pelo menos, da sua expressão política.

Como vimos na história, para combater os comunistas (geralmente nem era comunismo…) que eram chamados de ateus (muitas vezes nem eram), vale tudo! Vale apoiar Mussolinni, Hitler, Bolsonaro e cia…

Pra concluir me pergunto: a religião, em termos práticos, é mesmo bom para a humanidade?

Redação

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