O que esperas de mim? Por Aline Botelho

Queria conseguir compor em versos, o que esperam de mulheres Negras, pesquisadoras, trabalhadoras, mães, esposa, periféricas, quilombolas, ribeirinhas, e tantas outras…mas nossa escrevivência é muito mais profunda, doída, silenciada, vivida, sentida e gritada

Foto: Stock/Adobe

do Portal Geledés

Por Aline Botelho

Porque uma Mulher Negra, periférica de luta e na luta tem que ser questionada a todo momento com um bombardeio de perguntas duvidosas: Você criou esse texto? Você copiou? De onde tirou essa ideia? Você se apropriou de algo alheio? Nossa que lindo, você que produziu? Como conseguiu?

Como todo mito, mulheres Negras figuram um desenhar de subjetividade ligado apenas a domésticas, dançarinas, serventes, faxineiras, babás, prostitutas, mulatas, vendedoras, não desqualificando nenhuma dessas magnificas identidades, mas repensando como se dá o transpor desses imaginários. 

Querer ser/viver a função de poetisa, escritora e pesquisadoras nos mostrar que romper essa lógica dói/machuca/silencia. Uma violência simbólica, contida na estrutura da sociedade ou apenas mimimi, vitimismo? 

Sim, nossa escrita é contaminada por diversas narrativas que se esparramam e se misturam na trajetória de nossas vidas, nossas/suas escrevivências. Seria isso plágio? 

Queria conseguir compor em versos, o que esperam de mulheres Negras, pesquisadoras, trabalhadoras, mães, esposa, periféricas, quilombolas, ribeirinhas, e tantas outras…mas nossa escrevivência é muito mais profunda, doída, silenciada, vivida, sentida e gritada.

Quando Conceição Evaristo diz “não nasci rodeada de palavras”, nos convida justamente a pensarmos sobre esse mito questionador que aflige a tantas de nós. E assim, ela nos convoca a continuarmos na luta para não escondermos nossas palavras/ ideias/sentimentos atrás de lágrimas salgadas que insistem em rolar em nossos rostos marcados por tantas indagações/dúvidas/silenciamentos e suposições.

Finalizo, com Conceição quando diz “espera-se que a mulher negra seja capaz de desempenhar determinações e funções, como cozinhar bem, dançar, cantar, mas não escrever…” Não esperam de nós a intelectualidade, parafraseando com Lélia Gonzales querem apenas a “preta de casa”!

Permaneçamos em uma atitude sem recuo!

Aline Botelho

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador