O voto útil é inimigo da democracia, por Ricardo Mezavila

Para o escritor, o voto útil é um mecanismo viciado que presta desserviço à democracia e é manipulado pelas pesquisas

Imagem: Fábio Pozzebon/Agência Brasil

Historicamente, segundo pesquisas, três em cada dez eleitores mudariam seu voto para evitar que um determinado candidato não ganhe a eleição. Assim funciona o voto útil, quando um eleitor tem um candidato, mas não parece potencialmente viável para ganhar as eleições. Então, o eleitor vota naquele que tem mais potencial de derrotar quem ele não quer ver de jeito nenhum no poder.

O voto útil é um mecanismo viciado que presta desserviço à democracia e é manipulado pelas pesquisas. O eleitorado de baixa cognição política tende a seguir o rebanho e votar em quem lidera as pesquisas, aliciado pela cultura do ‘não perder o voto’.

Um exemplo de voto útil que pode sair pela culatra pode vir acontecer nas eleições para prefeito da cidade de São Paulo. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, cresceu nas pesquisas de intenção de voto, enquanto o candidato do PT, Jilmar Tatto, caiu.

O mesmo aconteceu com Bruno Covas, PSDB, líder nas pesquisas que está crescendo em detrimento de Celso Russomanno, Republicanos, que vem caindo. Covas e Russomanno, disputam o mesmo eleitorado, assim como Boulos e Tatto.

A armadilha do voto útil pode vir a beneficiar circunstancialmente Bruno Covas, que pode vencer no primeiro turno. Isso porque o eleitor de Tatto e Russomanno podem ficar desestimulados a conquistar mais votos, ou podem ter rejeição aos outros candidatos, isso diminuiria a soma dos votos entre os candidatos dando a vitória a Covas.

As eleições dos EUA mostraram como o voto útil é pernicioso. Os norte-americanos votaram contra o Trumpismo e elegeram Joe Biden, os dois representam o capitalismo e a direita. A personalidade controversa de Donald Trump fez a diferença a favor de Biden. No Brasil, até a esquerda comemorou, esquecendo que Biden, vice de Obama, foi duro com a Presidenta Dilma no escândalo da espionagem.

Fazendo um exercício de provocação: Em um suposto segundo turno entre Bolsonaro e Moro (argh!), provavelmente Sérgio Moro teria a maioria dos votos úteis, porque Bolsonaro é uma espécie de Trump, uma pessoa estranha à humanidade.

Porém, dar voto útil a Moro é rubricar as páginas em que as indústrias brasileiras foram destruídas, é legitimar a sentença absurda que prendeu Lula deixando-o fora das eleições. Sem falar que Bolsonaro teria só mais quatro anos, enquanto Moro concorreria a uma reeleição. Sérgio Moro foi muito mais nocivo ao Brasil.

O voto é uma peça transformadora que deve ser atribuído a um candidato ou Partido por convicção e não por oportunismo e cabresto, eleição não é campeonato no qual ficamos na torcida, somos a equipe responsável pela vitória dos direitos, da democracia e do bem-estar comum. Vote consciente!

*Ricardo Mezavila, escritor, pós-graduado em ciência política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

Redação

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