Paz à base de bala?, por Marcelo Uchôa

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Paz à base de bala?, por Marcelo Uchôa

Sólon, um dos Sete Sábios da Grécia Antiga, dizia: “não dê a um amigo o conselho mais agradável, mas o mais útil”. A máxima não tem sido aplicada no planejamento da segurança pública do Ceará. Para confrontar a bancada oposicionista da bala a opção tem sido franquear o aconselhamento mais agradável ao plano eleitoral, menos útil à construção de uma sociedade fraterna.

Ao assumir o mandato, em 2015, o governador Camilo Santana emprestou duas valiosas lições à prática política: decidiu não afixar seu retrato nas repartições públicas, determinando fossem os mesmos substituídos por imagens de cidadãs e cidadãos cearenses; conclamou todos os poderes e a sociedade civil a se unirem em torno de uma proposta transformadora para a segurança pública estadual, o Ceará Pacífico, integrando à perspectiva da vigilância institucional ações de infraestrutura, saúde, educação, cultura, meio ambiente, geração de renda e oportunidades, acesso à justiça, etc.

Ontem (04/07), durante a inauguração de uma nova sede do Batalhão do Raio, em Fortaleza, o governador pôs abaixo o simbolismo das duas iniciativas, ao deixar-se contaminar pelo agrado de mau gosto de uma escultura de si elaborada à bala calibre .40. A ação, deseducadora, associada à estratégia de militarização, a todo custo, do Ceará, viabilizada com vultosa convocação de policiais e multiplicação de batalhões repressivos, prestes a ser endurecida com a chegada de um “panóptico” federal, que tornará a vida civil 24h por dia vigiada, desprestigia a concepção do Ceará Pacífico.

Paz não se realiza com terror. Insistir na política do medo para aplacar a criminalidade é uma alternativa que foge à razão. É hora dos órgãos e instituições que integram o Ceará Pacífico levarem ao coletivo a discussão sobre as graves implicações de uma equivocada militarização no Estado. Ao PT cearense cabe ponderar junto ao seu mais ilustre filiado acerca das políticas de segurança em uso, inclusive as estratégias de apelo social. Antes houvesse fotos do governador em todas as repartições estaduais do que uma só imagem sua adornada com bala.

Marcelo Uchôa – Advogado e Professor Doutor de Direito/UNIFOR

 

Redação

1 Comentário

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  1. Nunca vi violencia ser

    Nunca vi violencia ser combatida sem violencia. Participo de movimento social há 25 anos e em toda manifestação que participei vi o povo tomando porrada das instituições de segurança burguesas em todos os governos. O autor do texto acima eu nunca vi nestas manifestação. Pudera, a esquerda burguesa nao quer o povo trabalhador armado isso nao seria justo, já o latifundio, politicos, juristas, burguesia pode sim.

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