Por que o Bolsonarismo odeia as Universidades, os professores e Paulo Freire?, por Rita Almeida

E o que temos nesse Governo é, exatamente, a total incapacidade para a política, que ele declaradamente, rejeita e denega.

Imagem: Luiz Carlos Cappellano-Dominio Público

Por que o Bolsonarismo odeia as Universidades, os professores e Paulo Freire?

por Rita Almeida

Esse entra e sai e fica não fica de Ministros e colaboradores no Governo Bolsonaro está ensinando, na prática, uma coisa que pouquíssimas pessoas compreendem: que uma boa gestão pública não funciona, e nem se sustenta, por um viés meramente gerencial e técnico. Bons gestores precisam saber fazer política, ou suas técnicas, ideias ou táticas de gestão não lhe servirão de nada.

O gestor que não tem experiência ou maturidade política acredita que o Discurso do Mestre funciona sem falhas. O Discurso do Mestre é o nome do tipo de laço social nomeado por Jacques Lacan, onde o Mestre, agente do discurso, vai se relacionar com o outro colocando-o na posição de escravo. O Mestre, nesse tipo de laço, é aquele que acredita que basta dar uma ordem para que o outro o obedeça: sem questionamentos, sem críticas e sem falhas. Tomando o outro como seu escravo, o Mestre precisa apenas “levantar o dedo e fazer funcionar”, se autorizando pelo seu poder e seu saber.

Obviamente que numa organização privada, o Discurso do Mestre funciona um pouco melhor, já que o Mestre pode impor mais seu poder sobre seus subordinados. Pode simplesmente demiti-los, por exemplo, quando não cumprem seu papel subserviente de “escravos”. Mas em se tratando de gestão pública, a coisa não é tão fácil assim, afinal, nesse tipo de gestão, o Mestre cumpre uma função, mas não pode encarná-la. Na seara pública republicana, um prefeito, um ministro, um presidente ou outro gestor qualquer, apenas cumpre um papel por um determinado tempo, na medida que não é dono do poder (apesar de alguns acreditarem que são).

Portanto, a gestão pública faz uma coisa bastante interessante com o Discurso do Mestre. Num fluxo de poder invertido, o Mestre vai precisar ser autorizado pelos seus subordinados. Pela via da palavra, da argumentação, do compromisso pelo trabalho, o Mestre terá que conquistar seus subalternos, funcionários ou parceiros, na medida em que eles não aceitarão passivamente a condição escravos. Na gestão pública, um líder precisa compreender que o poder está com o outro, e ele precisará conquistar tal poder para si e canalizá-lo para o bem comum. E conquistar fazendo política: política na melhor acepção desta palavra.

Isso quer dizer que gestão pública dá muito mais trabalho, pois demanda maturidade e experiência política. Demanda capacidade de articulação e argumentação, de trabalho em equipe, de respeito pelo outro e, sobretudo, de aceitação de que as coisas não funcionarão com um “estalar de dedos”. Gestão pública demanda mais desejo do que força, pois é o exercício constante do fracasso do poder. Ao contrário do que se imagina, não é um trabalho fácil. Não por acaso, as privatizações são vistas como saída para os impasses no trabalho de alguns gestores. O servidor público é a certeza do fracasso para o gestor que não sabe fazer política.

E o que temos nesse Governo é, exatamente, a total incapacidade para a política, que ele declaradamente, rejeita e denega. Aliás, Bolsonaro se elegeu prometendo exatamente isso, que botaria “ordem no caos” com sua pose de militar-macho-chefe-violento, colocando no poder um Mestre capaz de comandar pela força, sem precisar da política. Para isso, também se apoia no nome de Deus, na expectativa que nos comportemos sempre como fiéis devotados.

Mas a realidade chegou rápido para o Governo, como já se sabia. Os Ministros já esbanjam mal-estar em seus cargos, e alguns já “deram baixa”. O próprio Bolsonaro, em poucos meses, admitiu não ter nascido para ser presidente, mas para ser militar. Ou seja, admitiu que só sabe exercer o poder pela força, e que é inábil para a política. E de fato é; um desastre.

Assim sendo, não havendo desejo e nem capacidade para que este Governo se sustente pela via da política, lhe resta seguir pela via original: a da força ou a religiosa, que coloca o outro na condição de escravo, súdito, soldado ou fiel. Por isso, os professores e as Universidades são os maiores inimigos deste Governo. São os que, por sua relação com o saber/poder, não vão se submeter facilmente, e que podem ainda ensinar os outros a não se submeterem também. Esse Governo precisa de pastores e gurus, não de professores.

Isso explica também a paranoia dessa gente com Paulo Freire e sua obra. Em seu último livro – Pedagogia da Autonomia – Freire se ocupa de uma ética educativa que considera o valor, o poder, a cultura e a singularidade do educando. Um educador que faça uso da ética de Paulo Freire, deseja que seu aluno aprenda a construir seu próprio caminho, e não que siga o que ele mandar. Educar para a autonomia é educar para a impertinência, para a libertação, para a indignação. É educar para convocar o exercício da política em toda parte, tudo que esse Governo não precisa e não quer.

Paulo Freire só incomoda por ser absolutamente necessário na resistência ao Bolsonarismo.

Precisamos de Paulo Freire na veia, no café, no shampoo e pendurado na frente da porta de casa…

Paulo Freire!

Rita Almeida

Redação

17 Comentários

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  1. Me parece evidente que o vagabundo Jair Bolsonaro governa com um olho na arma e o outro no livro “A Guerra Irregular Moderna”, Friedrich August Von Der Heydte, publicado pela Bibliex. O problema é que não estamos em guerra e que aquele livro não deve substituir a CF/88.

  2. É inaceitável que alunos espanquem professores.
    É inaceitável que alunos cheguem ao quarto ano ainda analfabetos.
    Antes da pedagogia de Paulo Freire, isso não acontecia.
    Sejam sinceros e mostre, onde Paulo Freire errou?

    1. Este foi o comentário mais inteligente que li até agora sobre esse esdrúxulo texto.
      Temos que ter de volta a moral, o respeito nas escolas e principalmente o aprendizado de fato.

  3. O PAULO FREIRE ENSINA A GENTE A RESPEITAR O OUTRO…
    É TODA UM OBRA cujo prinipio basico é a democracia, o dialogo….
    martin buber ,o filosofo israelense, tb tem um livros sobre eu e o outro…

  4. O grande problema para quem almeja o domínio sobre o outro, é justamente o livre arbítrio. A ideia de não poder controlar o que o outro pensa é uma ameaça a hegemonia ditatorial. Engraçado é que a própria Bíblia , livro que tanto usam para manipular as massas evangélicas, menciona justamente isso, quando diz que ” homem domina o outro para seu próprio prejuízo”.

  5. Não odiamos ninguém, as universidades são necessárias para a evolução das pessoas, somos contra o ato que não agrega a nenhum fim de valores para a humanidade. Somos a favor da construção de uma civilização moderna, lúcida e com valores morais.

  6. Pra começar, Paulo Freire nunca foi pedagogo, sua formação está alicerçada no direito. Ninguém tem idiota de professor, mas da doutrinação a que são submetidos às crianças e jovens neste país. Escola é um ambiente de aprendizagem, busca do conhecimento e não de uma ideologia. Tendo o conhecimento, que o cidadão busque o que mais lhe satisfaz socialmente.

  7. SUA FALA É FUNDAMENTADA EM IRA E ÓDIO, SENTIMENTOS CONTRÁRIOS À TÃO MAL-FADADA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO DE PAULO FREIRE, QUE DIZ QUE ATÉ UMA CONVERSA EM SALA DE AULA NA HORA DA AULA TAMBÉM É CONSTRUÇÃO SOCIAL, O QUE NA VERDADE É UMA MORDAÇA AO PROFESSOR QUE TEM QUE SER CERCEADO NOS SEUS MAIS NOBRES DIREITOS: FALAR E TER AUTORIDADE.

  8. Eu acho bizarro que leigos venham criticar a educação, Paulo Freire e achar que existe escola sem política somos seres políticos (não confundam com politiqueiros). Todos querem dar palpites na educação. Ah vão ensinar o padre rezar a missa, ao médico como operar. Não vai rolar né?

  9. PAREM COM ESSA FALÁCIA DE QUE TEMOS PAULO FREIRE NAS ESCOLAS E QUE ISSO TROUXE ESSE ESTADO DE COISA DA EDUCAÇÃO COMO ALGO QUE DESRESPEITA A HIERARQUIA ESCOLAR, A ORDEM E A RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM. É A FALTA DA FILOSOFIA FREIREANA Q NOS PREJUDICA, NÃO SUA PRESENÇA

  10. Nada mais, nada menos do que o ambiente militar. Em qualquer das armas, mesmo aeronáutica e marinha, mais cultas, se admite a desobediência de ordens, por mais absurdas que sejam. Seria de se esperar que um mero capitão com idéias racistas e preconceituosas (quem acompanha o andamento do congresso já viu seu desempenho) fizesse algo diferente. O que não entendo é o silencio (medo) de classes legítimas e organizadas e, com certeza, apoio internacional.

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