Quando tiram o conteúdo da bandeira da educação
por Luis Felipe Miguel
Coluna da deputada Tabata Amaral, no jornal de hoje, reafirma a visão tecnogerencial da educação.
Critica Weintraub por sua óbvia incapacidade para ocupar o cargo em que está, o que é tarefa fácil. Uma incapacidade múltipla, como sempre digo: intelectual, moral e emocional.
Mas logo tasca: “Minha frustração principal é que, independente da visão de mundo defendida, muito pouco ou quase nada foi feito pela pasta”.
E depois arremata: o compromisso “é com a educação, e não com um lado ou outro do espectro político”.
“Educação” se torna uma bandeira desprovida de conteúdo. As visões de educação não se ligam a projetos políticos.
E o que importa é “fazer”, seja o que for. Se Weintraub tivesse avançado em seu projeto de destruição da universidade pública, por exemplo, a deputada estaria menos frustrada.
É o discurso fácil e despolitizador que nega validade à questão central: educação para quê?
Educação para gerar trabalhadores confiáveis ou para gerar cidadãos críticos? Educação para a obediência ou para a autonomia? Educação para acomodar as desigualdades ou para promover uma sociedade igualitária?
E ainda: educação como direito de todos e dever do Estado ou educação como obrigação da família, a ser comprada no mercado?
No primeiro semestre, muitos, à esquerda, bateram palmas para Tabata Amaral. Era uma “aliada” na luta contra o governo Bolsonaro.
Não é. Ela está vinculada a um projeto que é diametralmente oposto ao projeto emancipatório que deve caracterizar a esquerda.
Não basta ser contra a bizarrice e incompetência do governo Bolsonaro. Se é para pôr no seu lugar uma agenda privatista e tecnocrática, não nos serve.
Queremos educação pública, gratuita, laica, de qualidade e com compromisso social. Não dá para abrir mão de nenhum dos elementos deste slogan.
Não é a educação da Fundação Lemann ou do Itaú Social, que mede seu sucesso pela métrica da competição neoliberal. Não é a educação do Todos pela Educação – que, convém registrar, conta com a simpatia também de um Fernando Haddad.
Um das armadilhas que o desvario bolsonarista gera é a tentação para que a esquerda abra mão das próprias posições, a fim de fazer frente única com os conservadores bem-educados.
O preço a pagar é alto demais: é deixarmos de colocar nossas próprias posições no debate público.
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A Tabata enganou muita gente, mas quando as discussões avançaram, a gente pôde entender melhor sua postura: mais competência para trabalhar em favor do entreguismo.