Quem acredita na verdade já está enganado, por Marcos Villas Bôas

O conhecimento humano nos últimos séculos busca incessantemente a verdade.

Quem acredita na verdade já está enganado

por Marcos Villas Bôas

Muitos passaram a dar importância a suas crenças, pois perceberam que elas moldam a realidade, mas, devido ao paradigma racionalista prevalecente, caem em armadilhas típicas das visões lineares, reducionistas e dualistas da Modernidade, acreditando que há crenças melhores e outras piores, que há verdades e mentiras, ou o certo e o errado.

O uso mais frequente dos testes musculares de crenças data de meados do século XX, período em que surgiu a programação neurolinguística nos Estados Unidos, além de outros estudos e práticas voltados para lidar com as crenças. Hoje, métodos como o Thetahealing® (criado na última década do século XX), que obviamente se aproveitaram daquilo que já existia, trouxeram uma integração dos conhecimentos energéticos, espirituais, de consciência e sobre as crenças.

Já tratei da importância das crenças em texto anterior publicado neste blog. Esse tema foi objeto da minha tese de doutorado publicada em livro na Amazon sob o título “Direito Tributário, Pragmática e Linguagem: da incidência normativa à política tributária”.

Há avanços interessantes acontecendo no mundo nos últimos 70 anos no que toca à possibilidade de termos mais equilíbrio físico, energético, emocional e mental por conta da liberação de ilusões e crenças limitantes, com a ajuda do fortalecimento de crenças mais funcionais para a caminhada de cada um.

Pode ser utilizado hoje um paradigma mais lúcido para sentir e pensar do que aquele da Modernidade, o qual, por influência de René Descartes e outros, se tornou extremamente cartesiano, matemático no sentido formal, lógico e, portanto, rígido, engessado, limitado.

O conhecimento humano nos últimos séculos busca incessantemente a verdade. Poucos pensadores, como Blaise Pascal, Charles Peirce, Friedrich Nietzsche e outros, chegaram a questionar antes mesmo do século XX aquele paradigma que foi útil para a expansão da ciência e da tecnologia, mas que limitou em diversos ângulos a capacidade de o ser humano sentir e pensar.

Immanuel Kant, também no século XIX, trouxe na sua filosofia da consciência, ainda que de modo embrionário, a influência que o indivíduo tem na percepção da realidade.

Mais tarde, Ludwig Wittgenstein, após um período de estudos mais lógico, apresentou o que se chamou na Europa de “a virada pragmático-linguística”, ao perceber que a prática e o ser humano, com o uso da linguagem, modificam a sua percepção da realidade, deixando de lado, então, posicionamentos dele mesmo sobre a possibilidade de construir assertivas verdadeiras.

Nos Estados Unidos, o pragmatismo de Peirce e do seu amigo precursor da psicologia, o espiritualista William James, já crescia desde o final do século XIX, lembrando que a importância de uma assertiva – ou de uma crença, se preferirmos – depende do uso que ela tem na realidade prática, não havendo verdade únicas, imutáveis, sem uma coadunação sua com a situação, a pessoa, o tempo e o espaço.

Hoje, nos círculos de pensamento mais lúcidos, praticamente ninguém nega que não exista uma verdade absoluta. Muitos seres humanos não ligados à ciência e à filosofia, ou mesmo aqueles ligados a elas, já admitem essa ideia, porém, devido a tudo o que ficou arraigado na humanidade, há dificuldade de trazer isso para a prática diária.

Em outro texto, publicado em 2014, mostrei que não cabe falarmos nem mesmo numa verdade relativa, como na “verdade por consenso”, que se tornou tão aclamada a partir do meio do século XX devido a visões mais comunicacionais. O termo “verdade” está tão ligado a encontrar “UMA” resposta, que deveria ser abandonado pela humanidade, pois quase sempre leva a rigidez, disputas, desentendimentos, conflitos, impedindo uma maior cooperação no diálogo.

Na busca de consciência, muitos têm caído no engano de procurar de modo apressado liberar e instalar crenças, como se houvesse as corretas e as erradas, caindo em ilusões que podem gerar inúmeras confusões no sistema de crenças da pessoa, não a levando a colocar em prática aquela crença como pretendia, apesar de os testes talvez até confirmarem que ela já está “perfeitamente” instalada.

Em aula recente da Escola Espírito Livre, tive a oportunidade de estar assistindo-a ao vivo em São Paulo/SP, no Espaço Filhos da Libertação, e perguntei ao espírito guardião espartano Leônidas, uma das apresentações do ser conhecido por El Morya Khan, como fazemos para sair da dualidade, pois, frente à racionalidade linear, dualista, reducionista, o ser humano acostumou a ir para graus extremos das possíveis visões e alguns um pouco mais lúcidos caíram na ilusão de buscar o “caminho do meio”, como se existisse uma linha com dois extremos e tivéssemos que acertar no meio dos graus.

Incorporado no médium Maikon Pitas, o Espírito Leônidas respondeu que “caminho do meio” é você perceber que há milhares de visões possíveis e conviver com todas elas, sem apaixonar-se por nenhuma, lembrando que tudo aquilo em que cremos e até o que vemos da realidade exterior supostamente objetiva é tão somente uma interpretação da nossa mente, pois apenas dentro da mente conseguimos racionalizar e compreender.

Segundo ele, o “caminho do meio” é entender que a dualidade nos levará à contraposição até o momento em que nos desapaixonemos de tudo, ou seja, até que haja total desapego das ideias, e aí eu acrescentaria desapego de tudo relacionado com elas: lugares, pessoas, situações, coisas etc. Gautama Buda já dizia isso: o caminho para parar o sofrimento é o de não se apegar (não se apaixonar), nem ojerizar (não ter aversão por) nada.

Apesar de a afinidade ser uma lei cósmica, num planeta dual como a Terra, as pessoas que se apaixonam por religiões, filosofias, doutrinas, métodos terapêuticos, visões políticas, saídas econômicas etc. estarão atraindo para si aquelas com visões opostas, para que juntas possam ver o que ainda não veem e, quem sabe, desapaixonar-se.

Quando desapaixonam-se, segundo Leônidas, percebem que tudo o que está aparentemente fora é irreal, criação da mente. A única realidade está dentro, no sentir, e é claro que ele não falava do sentir piegas, carente, sentimentalista e apaixonado da humanidade, mas na presença do Eu Sou, na percepção da sensibilidade da alma, na manifestação da essência, sem apegos, nem aversões, apenas no natural, na autenticidade.

Sou instrutor de Thetahealing®, utilizo ferramentas do método com frequência, inclusive em mim, apesar de muitas delas virem de conhecimentos mais antigos e, às vezes, é até mais útil recorrer à fonte primária. O Thetahealing® é, portanto, útil e ajuda diversas pessoas, assim como outros métodos o fazem. Não é salutar, contudo, apaixonar-se pelo método e seguir a sua criadora como se fosse uma messias que trouxe as soluções dos problemas da humanidade.

Isso seria apenas replicar tudo o que os religiosos e outros apaixonados fizeram ao longo da história dos últimos milênios. As listas de crenças do método têm sido utilizadas pelas pessoas como meta de cura, como se aquilo fosse uma cartilha para ser mestre ascensionado.

Um dos pontos que mais pegam as pessoas é a prosperidade e a abundância, pois é aí que estão muitos dos seus apegos e consequentes medos de perder, de não ter, de não ser amado por não ter (ex. sucesso, dinheiro etc.) e assim por diante. Se alguém diz que precisa economizar, essa pessoa pode ser apenas precavida frente à realidade da sua situação financeira, mas ela pode ter muito dinheiro ainda disponível e estar sendo mesquinha. “Eu preciso economizar (ou poupar)” é sempre uma crença limitante ou é sempre uma crença abundante? Nenhum dos dois. Depende da situação da pessoa.

O cosmo é dual. Tudo se compõe em duos, mas, na medida em que a consciência se expande, a mente sai dos duos mais segregados e começa a sentir mais, percebendo a realidade de modo mais fluido, amplo, lúcido. Isso é iluminar-se. Não tem a ver com uma busca pretensiosa por ser mestre ou por ser mais abundante, nem muito menos para encontrar a suposta “alma gêmea”, mas por sentir cada vez mais o Eu Sou, vibrando e agindo pela consciência búdica e pelo sentir-se unificado, algo que se denominou “amor”, termo que causa confusões com o amor apaixonado que a imensa maioria da humanidade sente e entende.

A dualidade existe, mas a unificação também. Cada uma é mais percebida a depender do nível de consciência do indivíduo, que irá moldar para ele um nível de realidade distinto do que o sujeito em outro nível de consciência. Quanto mais ele sente e está em comunhão com o Todo, mais lúcido é.

Dentro do que Lêonidas ensinou, então, o “caminho do meio”, ou “caminho da iluminação”, é perceber que há milhares de verdades possíveis, algumas delas até mesmo dentro do mesmo nível de consciência, muitas outras existentes por conta dos milhares níveis de consciência, sabendo respeitá-las e “dançar com elas conforme a música” do tempo e espaço vivido por cada um com seus aprendizados.

Não se trata aqui de criticar ou elogiar uma pessoa ou um método, porque isso é ficar na dualidade. Trago apenas o meu sentir, a minha percepção. Se o leitor incomodar-se com esse texto, é porque se apaixonou por ideias opostas a ele. Não há porque ideias distintas gerarem desequilíbrios mentais ou emocionais, nem desarmonias entre os seus defendentes. Isso é pura ilusão das paixões do ego.

Torço desapegadamente para que, neste final de ano, os criadores de métodos e seus praticantes desapaixonem-se de suas verdades e Leis da Verdade, de seus absolutos, dos seus certos, de modo a fluírem mais em paz com todas as pessoas e suas ideias, sem pressa para chegaram a algum lugar, buscando acima de tudo a conexão com o Eu Sou, com o sentir profundo do Todo que já existe dentro de nós.

Feliz natal,

Marcos

Redação

3 Comentários

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  1. Os discípulos de Berkeley continuam propagando seu idealismo subjetivista: a realidade não existe, tudo é apenas interpretação da mente e, por isso, não existe também nenhuma Verdade.
    No entanto, se você se aconselhar com o espírito guardião espartano Leônidas, ele lhe revelará a verdade. A dele é claro. Mas se você tiver a petulância de colocar em dúvida a sabedoria do Leônidas, você pode comprar o método do Marcos Villas Bôas e então conseguirá descobrir a verdade sobre a verdade. Aquela verdade que não existe e é criação de sua mente, da mesma forma que o mundo exterior. A terra é plana ?
    Como é bom a Liberdade e cada um poder expressar sua filosofia.

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