Tiro nas costas, por Wilson Ramos Filho

Agatha morreu. Tiro nas costas. Antes dela outras crianças foram exterminadas pela PM. Adultos pobres estão sendo mortos diariamente pelas forças do Estado. Todas essas mortes decorrem de algo anterior.

Tiro nas costas

por Wilson Ramos Filho, Xixo

Witzel é ex-juiz federal. Isso explica muita coisa.

Foi eleito sem enganar ninguém. Cumpre o que prometeu. Os eleitores do RJ que já haviam elegido Crivella como prefeito, conscientemente, elegeram o ex-juiz e seu colega de chapa Flávio Bolsonaro e o pai deste último.

“Quem teme a Deus não precisa de Código Penal”, afirmou Witzel, ainda antes da posse, ao lembrar que como ex-juiz segue as leis, mas que também está alinhado com a religião.

Witzel é cristão convicto. Teme a Deus. Isso também explica muita coisa.

Teve muitos votos na elite, na zona sul, a mesma que fazia caminhadas dominicais em Copacabana, depois da missa, todos de branco, pedindo paz sempre que morria alguém da classe média, vítima de assaltos. Votaram na paz proposta por Witzel que prometia “mirar na cabecinha” de suspeitos. Crianças negras estão sendo assassinadas pela polícia e não houve caminhadas pela paz em Copacabana. Isso explica muita coisa.

Mas Witzel também foi eleito pela maioria negra, pobre, periférica, nas comunidades em que viviam as crianças assassinadas pela PM. Essas comunidades não foram enganadas. Não há uma reação dos pobres em face da política de extermínio, pelo menos não na extensão desejada pelos que se horrorizam diante da barbárie.

Os juízes federais e o MPF não precisam do Código Penal. As condenações a Lula e a posição da AJUFE e da ANPR, os sindicatos dos juízes federais e do Ministério Público Federal, a respeito da Lava-Jato são concludentes.

Agatha morreu. Tiro nas costas. Antes dela outras crianças foram exterminadas pela PM. Adultos pobres estão sendo mortos diariamente pelas forças do Estado. Todas essas mortes decorrem de algo anterior. São consequências da morte da democracia (golpe de 2016) e da morte do Direito, desde que a Direita Concursada, reformadora social, empunhando a cruz e seus próprios códigos, resolveu consertar o país. O supremo tribunal federal, sempre em minúsculas desde que assassinou a Constituição com um tiro nas costas ao impedir a candidatura Lula, permitiu que essa gente chegasse ao poder.

As Relações Indecentes, desnudadas pelas revelações do The Intercept Brasil, obscenas, vão muito além da mera desmoralização do Sistema de Justiça. Põem em questão relações sociais que estão nas comunidades baleadas a esmo, entre os que rezam pela paz trajando branco em bairros nobres, nos tementes a deus que oram pelas Ágathas e também nos nossos entornos, nas nossas famílias, nos grupos que se aglutinam por afinidades diversas.
Isso tem nome. Vivenciamos o neofascismo.

Redação

7 Comentários

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  1. Ainda tem uma deputada, que se conseguiu uma vaga na câmara, agradeça a Bolsonara, esta senhora Carla Zambelli, não faço questão de saber o nome correto, põe a culpa em Brizola, é preciso que esta imbecíl saiba, que era para evitar que isto acontecesse, não protegia bandido, mas evitava que policiais subissem o morro para trocar tiros com bandidos, achava que deveria combater a criminalidade com educação, esta idiota assistiu tanto a rede globo, que fala o que esta emissora falava, vejam quantos idiotas conseguiram se eleger as custas de Bolsonaro, pobre país.

  2. A Vida Humana, apenas usada como joguete político. 100.000 assassinatos por ano. No mesmo dia, no mesmo Rio de Janeiro, Policial também é morto. Onde está o assassino da Família e Ator do SBT? Até as pedras, sabem que ‘cupincha’ da Polícia. E a Imprensa Ideologizada e Partidária tentando tirar proveito sobre o cadáver desta Criança?!! 9 décadas de Estado Ditatorial Esquerdopata Fascista, replicados por 40 anos de farsante Redemocracia. Abutres e Hienas não querem largar da carcaça. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  3. Tá fogo…

    Não sei se serve como consolo mas a barbárie como a que vivenciamos está sendo espalhada por todos os países do mundo que baseiam suas economias no dólar dos EUA, não só mas mais intensamente depois de 2008. Poucos ou nenhum desses países têm encontrado caminhos para prosperar, seus cidadãos estão aterrorizados e selvagens. Não que o Capitalismo possa prescindir desse terror; de fato o medo – como qualquer fissura – é a porta (ferida?) aberta para simulacros de solução. “Você não está encontrando paz? Ora, compre (XYZ) que terá suas necessidades atendidas!”

    Há quem diga que isso só é possível porque o vandalismo e o terror já estavam latentes nas pessoas comuns. Não discordo mas creio que também temos, nessa altura do campeonato, potencial para a civilidade. O que vivenciamos, pois, está relacionado ao que tem sido estimulado em nós. Se o pessoal da propaganda meramente comercial depende de estarmos fissurados, junto com o produto ou serviço anunciado vem a mensagem de que é de fora – e não de dentro – que vem a “cura”.

    Pena, poderíamos estar num outro patamar civilizatório não fossem essas fissuras estimuladas…

  4. Protesto ao Nassif: Por favor, você que faz a moderação desse blog, exija que o imbecil Zé Sérgio se explique sobre o uso da expressão “esquerdopata”, ofendendo a todos nós que somos esquerdistas sim, com muito orgulho e vergonha na cara…e que somos leitores e participantes de artigos e comentários nesse blog. Esse tal de Zé Sérgio pode continuar escrevendo, tudo bem, mas deveria ser obrigado a se explicar sobre o motivo de ele misturar expressões como Estado Ditatorial e Esquerdopata. Afinal, quando a esquerda governou com ditadura aqui no Brasil? E se esse estado ditatorial é fascista, como pode ser de esquerda? Ora, deixe de ser imbecil, seu bolsonarista terraplanista de merda. Você não sabe o significado das palavras? Vá escrever na puta que o pariu, pelo menos se quer continuar com essa expressão “esquerdopata”, que ele copia do verme ex-senador Magno Malta. Vá ofender a mãe dele, aprenda a se explicar, seu imbecil. E vocês, da moderação do blog, cortem as imbecilidades de alguém que não se explica.

  5. Se a execução da menina já é triste, vê-la usando fantasia de personagem criado como instrumento de “soft power” dos EUA, ainda mais personagem relacionado à violência e ao justiçamento, é de lascar.

    Esses EUA aí são muito violentos, bárbaros e incivilizados, mesmo. Jamais deveríamos ter comprado a ideologia que personagens como o da fantasia da menina vendem…

  6. Ao justificar a eleição de fascistas, o articulista escreve: “Essas comunidades não foram enganadas”.
    Tenho uma pergunta: poderiam ter sido também ameaçadas?

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