“Um estuprador no teu caminho”. A violência contra a mulher e a performance artística do coletivo feminista chileno Lastesis
por María Edith Guerrero Obando
No dia 25 de novembro, data do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, a performance e canção “Um estuprador no teu caminho” do coletivo de feministas chileno Lastesis, foi apresentada nas ruas das cidades de Valparaíso, Concepción, San Felipe, Antofagasta, Talca, Chillán, Santiago no Chile.
Foi interpretado pela primeira vez frente a um posto de polícia (Segunda Comisaría de Carabineros de Chile ) de Valparaíso no Chile, no dia 18 de novembro.
E já no dia 29 de novembro a performance artística se tornou viral e mundial nas ruas e nas redes sociais. Mulheres de diversas organizações feministas de várias cidades do mundo: Berlim, Madri, Paris, Barcelona, Londres, Cidade do México, Bogotá, Guayaquil, Nueva York e outras cantam nas ruas “Um estuprador no teu caminho”.
https://www.youtube.com/watch?v=5uMOG8Ekkaw
Um estuprador no teu caminho
Coletivo Lastesis
Intervenção artística (2019)
O patriarcado é um juiz
que nós julga por nascer,
e nosso castigo
é a violência que você não vê
O patriarcado é um juiz
que nós julga por nascer,
e nosso castigo
é a violência que você já vê
É feminicídio.
Impunidade para meu assassino.
É o desaparecimento.
É o estupro.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
O estuprador era você. O estuprador é você.
São os policiais,
os juízes,
o estado,
o Presidente.
O Estado opressor é um macho estuprador.
O Estado opressor é um macho estuprador.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador era você. O estuprador é você.
Dorme tranquila, menina inocente,
sem preocupar-se com o bandido
que pelo teu sono doce e sorridente
cuida a tua querida polícia.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
(Tradução da letra María Edith Guerrero Obando)
Na América Latina, o feminicídio (assassinato de mulheres por serem mulheres), mata por dia, 12 mulheres, segundo dados da ONU. Entre os 25 países com os mais altos índices de assassinatos de mulheres a região tem 14 países e 98 % dos homicídios não chegam à justiça.
Outros dados para América Latina e o Caribe, apresentados pelo Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do Caribe (OIG) em 2018, indicam que pelo menos 3.287 mulheres foram vítimas de feminicídio ou femicídio, em 15 países da América Latina e do Caribe.
As taxas de feminicídios mais altas por cada 100.000 mulheres nos países da América Latina são: El Salvador (6.8), Honduras (5.1), Bolívia (2.3), Guatemala (2.0) e República Dominicana (1.9). No Caribe, Santa Lúcia teve uma taxa de 4,4 feminicídios por cada 100.000 mulheres em 2017, em Trinidad e Tobago em 2018, a taxa foi de 3,4.
No Brasil, segundo os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, a violência contra as mulheres no Brasil aumentou no ano passado. O feminicídio aumentou em 4% em 2018 (1.206) na comparação com 2017 (1.151). Os feminicídios correspondem a 29,6% dos homicídios dolosos de mulheres em 2018. O ápice da mortalidade por feminicídio no Brasil se dá aos 30 anos. O perfil de raça/cor das vítimas revela a maior vulnerabilidade das mulheres negras: elas são 61% das vítimas, contra 38,5% de brancas, 0,3% indígenas e 0,2% amarelas.
A relação entre a vulnerabilidade social e a violência também pode ser percebida a partir da escolaridade: 70,7% das vítimas cursaram até o ensino fundamental, enquanto 7,3% tem ensino superior. E 88,8% das vítimas foram assassinadas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros.
A violência sexual também aumentou 4,1% e 81,8% das vítimas são do sexo feminino. Em relação ao estupro, quatro meninas de até 13 anos são estupradas por hora no país. Em relação ao vínculo com o abusador, 75,9% das vítimas possuem algum tipo de vínculo com o agressor, entre parentes, companheiros, amigos e outros.
O Anuário aponta também crescimento de 0,8% da violência doméstica, com 263.067 casos de lesão corporal dolosa.
O Brasil ocupa o quinto lugar em um ranking de 83 nações que mais matam mulheres.
Dezoito países da região já mudaram suas leis para punir este crime, tipificando o crime específico de feminicídio: Costa Rica (2007), Guatemala (2008), Chile e El Salvador (2010), Argentina, México e Nicarágua (2012), Bolívia, Honduras, Peru Panamá e Peru (2013), Equador, República Dominicana e Venezuela (2014), Brasil e Colômbia (2015), Paraguai (2016) e Uruguai (2017).
María Edith Guerrero Obando, antropóloga, com Mestrado em Antropologia Social, Unicamp.
Fontes: Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019 http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf
Dossiê Feminicídio
Feminicídio ou femicídio file:///C:/Users/Usuario/Desktop/Feminic%C3%ADdio%20ou%20femic%C3%ADdio%20_%20Observat%C3%B3rio%20de%20Igualdade%20de%20G%C3%AAnero.html Un violador en tu camino’ suena en Madrid, Bogotá y otras ciudades del mundo https://letraschile.com/colectivo-lastesis/un-violador-en-tu-camino
Lei Nº 13.104, de 9 de março de 2015, que ficou conhecida como Lei do Feminicídio http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm
Meta a colher, sim! Saiba como denunciar violência https://catracalivre.com.br/cidadania/violencia-domestica/
Un violador en tu camino
https://letraschile.com/colectivo-lastesis/un-violador-en-tu-camino
ONU: “nenhuma mulher deve morrer por ser mulher” https://news.un.org/pt/story/2018/09/1640152
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