Brasil em Transe: a grande extinção

a rendição sem resistência de Lula e a eleição consagradora de Bolsonaro são os dois grandes marcos do fim de uma era.

não apenas chega ao fim a Nova República, junto com ela se acaba a dupla gerência PTucana de um mesmo projeto neoliberal periférico.

mas resta uma Ditadura que perdura.

ao longo do tempo sempre se impondo a uma inconsistente redemocratização. de modo lento, gradual e seguro o Estado policial levanta-se redivivo de seus porões, para de novo caminhar orgulhoso entre nós.

há uma grande extinção em marcha.

a geração das Diretas Já se despede humilhada por um definitivo fracasso e acompanhada de suas últimas quimeras.

confirma seu falecimento uma quase totalidade de analistas políticos, jornalistas, sociólogos, artistas, filósofos, ativistas e militantes.

um cortejo fúnebre de melancólicas auto-ilusões e reincidentes negações da realidade. quanto mais dá errado, maior a teimosia quanto a seguir o mesmo rumo em direção ao fundo de um abismo de abismos…

restará alguém?

mesmo aquela juventude insurrecta de Junho de 2013, agora jaz cativa das pautas identitárias e confortavelmente anestesiada pelo empoderamento do lugar de fala.

a voz rebelde se deixou domesticar pelas malditas elecciones, que ficam para sempre longe demais.

a interdição da crítica promovida pelo Lulismo gerou as condições acríticas necessárias para a ascensão de Bolsonaro.

despolitização e desorganização. individualismo e consumismo. moralismo e autoritarismo. teologia das prosperidade e falência institucional.

há uma grande extinção em marcha.

trata-se de uma grande extinção de formas-de-vida. de modos de viver. de maneiras de se relacionar. portanto, vivemos no Brasil o fim de um mundo.

não haverá retorno. nenhuma pax nos salvará.

04/02/2017: uma extinção em massa povoara aquele vale dos mortos com criaturas bizarras e monstruosas. corpos sem almas vagando por uma escuridão sem forma. os anteriormente chamados de brasileiros padeciam de vários os tipos de patologias. diversas enfermidades físicas e múltiplos transtornos mentais.

se todos experimentam, de uma forma ou de outra, dissolução de seu ego denominado de “normal”, num mundo surreal e numa sociedade hiper-normalizada pode aquilo denominado de “loucura” ser um processo em direção a cura natural?

tudo que havia para ser dito, dito já o foi. tudo que havia para ser escrito, escrito já está.

11/01/2018: a criação de outros modos de viver, não encapsulados pelas formas-de-vida, implica em ficar face a face com o caos. sem passar pela fase do caos nenhuma criação é possível. para criar a si mesmo e inventar sua própria vida, é preciso enfrentar os perigos da loucura, da prisão, da doença e da morte.

25/10/2017: há também uma potência no caos. se é através da arquitetura do caos que pretendem nos destruir, é deste mesmo caos que ergueremos nossa criação.

03/08/2016: sob o peso do asfixiante sol negro da nova ditadura que desponta, enquanto os necrófilos saboreiam seu banquete, somente os antropofágicos atravessarão o vale dos mortos.

17/05/2016: quando o velho já morreu e novo ainda não conseguiu nascer, surgem os sintomas mórbidos, os fenômenos bizarros e as criaturas monstruosas.

ainda perambulamos sem direção no interior de um interregno.

jamais sairemos deste labirinto sem nos desvencilharmos por completo das correntes, como invertidos fios de Ariadne, mantendo-nos atados ao centro da armadilha: o Minotauro do Lulismo.

não há qualquer futuro para a Esquerda no Brasil caso não rompa toda e qualquer vinculação com Lula e o Lulismo.

deixemos que os mortos enterrem seus mortos. e nos dediquemos a construir coletivamente um novo modo de viver.

vídeo: Sweet Child o’ Mine – Capitão Fantastico (LEGENDADO)

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Redação

14 Comentários

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  1. Sugestão de leitura: terceira
    Sugestão de leitura: terceira parte de Origens do Totalitarismo e um texto curto chamado Política e Verdade da sempre atualíssima Hannah Arendt.
    Gostaria que Lula, o Lulismo e a juventude insurrecta das jornadas de 2013 fossem nosso problema. O novo é o velho, envelheça sem se envilecer meu amigo.

    1. Brasil em Transe: a grande extinção

      -> Sugestão de leitura

      -> O novo é o velho, envelheça sem se envilecer meu amigo.

      valeu! vou dar uma lida na Hannah Arendt.

      quanto a envilhecer, sempre é preferível morrer jovem, mesmo se muitos anos já se passaram.

      permita-me reproduzir uma pequena leitura que também postei acima:

      “Os indígenas tzeltal de Chiapas têm uma teoria da pessoa em que sentimentos, emoções, sonhos, saúde e temperamento de cada um são regidos pelas aventuras e desventuras de todo um monte de espíritos que habitam ao mesmo tempo nosso coração e o interior das montanhas, e que passeiam por aí.

      Nós não somos belas completudes egóticas, Eus bem unificados, somos compostos de fragmentos, estamos repletos de vidas menores.

      A palavra “vida”, em hebreu, é um plural, assim como a palavra “rosto”. Porque em uma vida há muitas vidas e porque em um rosto há muitos rostos.

      Os vínculos entre os seres não se estabelecem de entidade a entidade. Todo vínculo se dá de fragmento a fragmento de ser, de fragmento de ser a fragmento de mundo, de fragmento de mundo a fragmento de mundo.

      Ele se estabelece aquém e além da escala individual.

      Esta continuidade entre fragmentos é o que se sente como ‘comunidade'”

      “Agora, Motim e Destituição” – Comitê Invisível

      .

  2. Howdy

    Como está, arkx?

     

    Você realmente acredita em tudo que escreve. Se bem que… nah… eu acho que você não acredita em tudo que escreve… (por que eu acho que você não acredita em tudo?).

    .

    .

    pra falar a verdade, eu agora acho que você é um bruxo.

    .

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    Mas eu ando em uma fase meio ‘transcendental’, ando meio ‘mística’.

    E eu fui dissolvida. Dissolvida junto com a Verdade. Acho que era ela, agora eu nem sei. É meio engraçado.

    Pelo menos a dissolução tem sido ao som do Jeff Buckley cantando “Hallelujah”. Cantando qualquer coisa.

    Ele é outro que eu sinto que foi dissolvido, aliás.

     

     

    E pensar que muitos e melhores (“milvezesmente” melhores) já foram dissolvidos neste mundo. Tornados irrelevantes. Extintos. Realmente extintos.

    E, sim, eu acho que o Brasil virou um laboratório. Enorme, frio e cruel.

    Não é possível que tenha sido sempre assim. Sempre foi assim?

    😉

    1. Brasil em Transe: a grande extinção

      -> se eu tivesse visto o vídeo antes… tsc…

      mas vc não viu o filme “Capitão Fantástico”? não se deixe enganar pelo título. é um filme excelente. e extremamente atual. a cena da cremação só atinge sua dimensão plena dentro da narrativa do filme.

      o tema do filme é sobre formas-de-vida, e como configurá-las num sistema extremamente hostil como o que vivemos.

      -> pra falar a verdade, eu agora acho que você é um bruxo.

      não creio. não creio em brujos. não passo de um reles desenvolvedor de software e pouco conhecido video maker aposentado.

      -> E, sim, eu acho que o Brasil virou um laboratório. Enorme, frio e cruel. Não é possível que tenha sido sempre assim. Sempre foi assim?

      do meu ponto de vista sempre foi assim. desde os tempos encantados de Hy-Brazil.

      -> Você realmente acredita em tudo que escreve.

      -> (por que eu acho que você não acredita em tudo?).

      sim. eu acredito em tudo que escrevo. em tudo que faço. mas não exatamente de modo literal. mais valem as camadas subtendidas.

      e quanto a vc, vc acha que eu não acredito em tudo pq vc é igual a mim, mas tenta (inutilmente) ser diferente.

      não se esqueça: todo Blade Runner é um caçador de andróides.

      se já “não se trata mais de tirar a humanidade dos homens, mas de tirar o humano da humanidade”, chegou a hora de deixar de ser humano – se é que algum dia o fomos.

      “Os indígenas tzeltal de Chiapas têm uma teoria da pessoa em que sentimentos, emoções, sonhos, saúde e temperamento de cada um são regidos pelas aventuras e desventuras de todo um monte de espíritos que habitam ao mesmo tempo nosso coração e o interior das montanhas, e que passeiam por aí.

      Nós não somos belas completudes egóticas, Eus bem unificados, somos compostos de fragmentos, estamos repletos de vidas menores.

      A palavra “vida”, em hebreu, é um plural, assim como a palavra “rosto”. Porque em uma vida há muitas vidas e porque em um rosto há muitos rostos.

      Os vínculos entre os seres não se estabelecem de entidade a entidade. Todo vínculo se dá de fragmento a fragmento de ser, de fragmento de ser a fragmento de mundo, de fragmento de mundo a fragmento de mundo.

      Ele se estabelece aquém e além da escala individual.

      Esta continuidade entre fragmentos é o que se sente como ‘comunidade'”

      “Agora, Motim e Destituição” – Comitê Invisível

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      1. Hey.

        Você sabe… eu não posso escrever. Sempre que escrevo na internet usando um pseudônimo (coisa que eu não deveria fazer!), porcarias acontecem à minha volta. Digo, elas acontecem mais do que o normal. Call me paranoid. Mas que acontecem, acontecem.

        Mas vamos lá… deixa eu fingir que eu sou livre, só mais uma vez.

        -> E, sim, eu acho que o Brasil virou um laboratório. Enorme, frio e cruel. Não é possível que tenha sido sempre assim. Sempre foi assim?
        do meu ponto de vista sempre foi assim. desde os tempos encantados de Hy-Brazil.

        Pior é que talvez você esteja certo… se estiver, aí eu tenho de ser honesta e dizer pra mim: “minha querida, só do que você precisava, esse tempo todo, era de um namorado”.

        Mas eu ainda tenho minhas dúvidas, arkx… há uma diferença ‘qualitativa’ no que tem ocorrido, no modo como as coisas têm piorado nos últimos anos. Você não sente? E não só no Brasil…

        Ah, essa foto do origami… depois eu tento desvendar o que você quis dizer com ela…

        Coincidentemente, tenho lido Philip K Dick esses dias. Ubik. Razoável como quase todos os livros que ele escreveu, mas eu não julgo o cara. Ele não tinha tempo pra desenvolver as ótimas ideias, tinha de entregar os livros rápido pra pagar o aluguel.
        De todo modo, em Ubik há uma ‘cena’ ótima: uma senhora volta ao “Supermercado Gente de Sorte” (heh..) para devolver um produto estragado (um vaso com uma flor morta) e a Máquina não aceita o produto, ressaltando: “Consumidor, seja prudente!”. Haha. Ou seja: o que aconteceu com o bom e velho “O cliente tem sempre razão”? Hamm? Perdeu-se no tempo… Sem contar as cenas em que o Joe tem de pagar as portas para que se abram (e ele nunca tem trocados). Acho essas cenas ótimas…
        Dick tinha umas intuições bem interessantes. Parece “crítica anticapitalista”, mas não é. Acho que ele sabia que o Capitalismo está morrendo já há ‘algum’ tempo (1929 foi um belo golpe no capitalismo, aliás). Ele sabia que há um inferno cada vez mais próximo… o nome desse inferno não é “Capitalismo”. Nem “Comunismo”, aliás. É mais… um Controle de Vida mesmo. Um Controle Total. Mas também vai ser o ‘paraíso’ (artificial!) para bem poucos. Ou seja, é o que ocorre hoje, só que pior. SEMPRE PIOR. Imperceptivelmente pior, se é que isso é possível. Mesmo que retroceder às vezes seja necessário.
        Muito já falaram sobre essas coisas, eu sei. Mas o que me espanta é que poucos parecem realmente entender. Ou se importar.

        Ah, avelha e boa natureza humana……………………………………..

        Mas pelo menos Dick tinha humor.

        Aliás, o tal inferno tem pouco a ver com Bolsonaro ou Trump ou qualquer… ‘político’. Tem mais a ver com o que Camus descreve em “O Homem Revoltado”. Camus, “o conservador”, o “de direita”… E viu exatamente o que Orwell viu… depois de ler sobretudo os capítulos sobre Sade e, em seguida, sobre Saint-Just – esses dois capítulos são especialmente f**** … depois disso deixei de acreditar em ‘esquerda’ e ‘direita’ de vez. A merda toda começou em 1789. Foi a primeira “primavera árabe”, bem na bunda do Luís XVI. Não que ele fosse um santo também… mas veja o que foi aquilo, a Revolução Francesa. O Terror e o Grande Terror. Também teve a “Revolução Gloriosa”….

        (…)

        mas vc não viu o filme ‘Capitão Fantástico’? não se deixe enganar pelo título. é um filme excelente. e extremamente atual. a cena da cremação só atinge sua dimensão plena dentro da narrativa do filme.

        Ok, eu vou tentar ver o filme… imagino que tenha mesmo entendido tudo errado.
        Eu pensei que o vídeo fosse algum tic niilista seu…

        Lá estava eu, ‘curtindo’ essa versão de Sweet Child Of Mine e aí eles pegam as cinzas da mãe e jogam no vaso…

        Céus, cara! Eu sou mãe e ando pensando muito em morte (eu sei. Pecado dos pecados… pecado dos pecados mesmo, porque eu amo meu filho). Mas, então… eu precisei de um sorrisal por causa daquela cena. Achei super desagradável, pois as cinzas eram bem realistas. Deu raiva de você. Mas eu também ‘gosto’ de você, por assim dizer. Então tudo bem.

        Por falar em morte, nesta semana tive (outro) sonho com ela. Sonhei que estava escolhendo um jeito de morrer. Eu não aceitava nenhum, achava todos assustadores. “Não, não não…” eu recusava. O último jeito ‘oferecido’, num caderno com folhas plastificadas (oferecido sei lá por quem), era morrer numa queda de elevador.
        Pois bem, hoje chego em casa e vejo um singelo aviso de que um dos dois elevadores do bloco passou por uma revisão porque eu-sei-lá-o-quê estava desgastado, com um baita problema.

        Ha.

        A vida é bem humorada, só que ela tem um humor mórbido. A minha pelo menos.

        o tema do filme é sobre formas-de-vida, e como configurá-las num sistema extremamente hostil como o que vivemos.
        Parece atual. Atual demais. Como eu disse, eu vou tentar assistir, obrigada.

        Não creio. não creio em brujos. não passo de um reles desenvolvedor de software e pouco conhecido video maker aposentado.
        Bom, eu ainda acho que você é um brujo (é melhor em espanhol mesmo). E muito do enigmático.

        e quanto a vc, vc acha que eu não acredito em tudo pq vc é igual a mim, mas tenta (inutilmente) ser diferente. não se esqueça: todo Blade Runner é um caçador de andróides.

        Enigmático de novo… você está tentando me levar pro lado negro da força? Vai me oferecer biscoitos? Hummmmmm……..?
        Bah, eu sei que não… não valho o esforço e talvez você não esteja no lado negro da força. Talvez nem exista um lado negro. Eu ando tão confusa…

        De todo modo, você sabia que Deckard (Harrison Ford) não é exatamente um mocinho? Às vezes ele é o vilão de Blade Runner.  
        Os andróides só queriam viver, meu bem. Eles só queriam viver.

        A palavra “vida”, em hebreu, é um plural, assim como a palavra “rosto”. Porque em uma vida há muitas vidas e porque em um rosto há muitos rostos.
        Bonito isso. Acredito nisso.
        ..

        Você conhece o conceito de “Sincronicidade”? Sem querer parecer “especial” (eu sou o oposto de “especial”!), mas tantas têm acontecido comigo nos últimos meses, que eu me senti perdendo a razão. Tive de encontrar uma explicação pra elas. Aí encontrei Carl Jung (a quem nunca dei atenção) e seu conceito de “Sincronicidade”. Estou lendo Jung, tentando entender…

        ontem, no meio da leitura, uma me aconteceu…

        Vou ler “On the Apparent Design in the Fate of the Individuall”, do Schopenhauer – mencionado pelo Jung nesse livro dele, sobre Sincronicidade. Daí volto pro Jung.

        Depois eu peço perdão a Jesus…

        No duro, depois eu peço perdão a Jesus e espero que Ele me perdoe.

        Aí vamos ver se eu recupero a razão..

        Sei lá o porquê (aliás, eu faço uma ideia), essas coincidências estranhas começaram depois que me lembrei do Buckley e de “Grace”. Sabe quando vc lembra de uma música que não ouve faz mais de 24 anos? “Ah, essa música… quem é esse cantor mesmo?” E cliquei no vídeo. E como hoje é aniversário do Jeff Buckley, aka “The Hanged Man” (…), eu te sugiro “Grace”. Não sei se você gosta de rock, acho que gosta. Preste atenção em 4:51:

        https://www.youtube.com/watch?v=XjO4IenAyUw

        naquele momento ele não era deste mundo, cantando (e tocando) daquele jeito. Vai soar borderline e ridículo (até porque, eu sou uma velha, não uma adolescente), mas a música dele (e de outros anjos) tem me salvado. Tem me salvado, sobretudo, de mim.
        Cada um se salva como pode. Não é?

        1. Brasil em Transe: a grande extinção

          -> Sempre que escrevo na internet usando um pseudônimo

          seu personagem aqui é muito interessante. e qdo me refiro a “personagem” não há qualquer demérito. ao contrário.

          todos somos personagens na web. também o somos no mundo cotidiano. mas no dia-a-dia concreto nossos personagens (muitos) ficam um tanto encobertos sob um manto de invisibilidade, como se existisse em nós alguma definitiva identidade, totalidade, continuidade.

          daí a importância vital deste trecho: “Os vínculos entre os seres não se estabelecem de entidade a entidade. Todo vínculo se dá de fragmento a fragmento de ser, de fragmento de ser a fragmento de mundo, de fragmento de mundo a fragmento de mundo.”.

          mas uma coisa é ler o trecho acima para concordar e se emocionar com ele. outra coisa bem diferente é viver assim. quantas pessoas tem a coragem para este modo-de-vida? quantas de fato se arriscam para serem quem são?

          -> aí eu tenho de ser honesta e dizer pra mim: “minha querida, só do que você precisava, esse tempo todo, era de um namorado”.

          já comentei a respeito contigo (aqui neste link).

          não penso que tudo se resuma a ter um “namorado’. isto seria bom, mas não o suficiente. pois não equaciona a demanda tal como ela é. aliás, é um modo bastante pueril de lidar com ela.

          o que não só vc mas todos nós sentimos falta é de vínculos, laços. e muitas vzs não os logramos encontrar porque buscamos de modo errado. equivocados por formas-de-vida (impostas pelo Kapital) que visam exatamente a nos isolar e suprimir qualquer possibilidade de relacionamentos autênticos, harmônicos e, em última instância, vivos.

          daí novamente a importância do trecho que poste na outra réplica: “Os vínculos se estabelecem aquém e além da escala individual. Esta continuidade entre fragmentos é o que se sente como ‘comunidade'”.

          o que sentimos falta é desta “comunidade”. só ela de fato nos satisfaz, nos faz sentirmos vivos.

          -> Ah, essa foto do origami… depois eu tento desvendar o que você quis dizer com ela…

          nenhum mistério. nenhum enigma.

          o sonho de Deckard (deck of cards) com o unicórnio é uma revelação. seria o Blade Runner um caçador de si mesmo? aliás, esta questão é retomada na continuação em 2049.

          ou poderíamos mergulhar no fundo do fundo da questão: quem são os replicantes? não seriam eles aqueles denominados de “humanos”?

          num outro dia postei algo semelhante por aqui: os reptilianos são os humanos. os humanos são os alienígenas. daí sua insuperável inadaptabilidade ao meio no qual vivem, sempre trabalhando para exaurí-lo (mesmo antes do Kapital, que apenas levou ao paroxismo esta tendência).

          em outras palavras Rachel, és um replicante? cópia de quem? de Júlia1984? ou esta tb é um andróide?

          -> Os andróides só queriam viver, meu bem. Eles só queriam viver.

          todos querem “apenas” viver. só que viver além de muito perigoso, nunca é “apenas”. viver sempre é “demasiado”.

          -> eu precisei de um sorrisal por causa daquela cena. Achei super desagradável, pois as cinzas eram bem realistas.

          por isto eu afirmei que a cena só ganha sua dimensão plena no contexto geral do filme. porque eles estavam cumprindo fielmente o desejo expresso da mãe.

          a mãe queria ser cremada. mas seu pai (um típico wasp american way of life) a enterra. eles vão até o cemitério e resgatam o corpo. tudo isto é belo, corajoso e muito leal.

          -> Você conhece o conceito de “Sincronicidade”? Sem querer parecer “especial”

          conheço desde a adolescência. como todos estes tipos de conceitos, com suas correlatas experiências, conheço desde a adolescência. eu seria “especial” por causa disto?

          1. pessoas “especiais” tem enorme dificuldade de assim se assumirem. até porque sabem que este ser “especial” costuma ser não uma distinção e sim um fardo;

          2. vivemos numa época prenhe de pessoas especiais. pessoas com inteligência, e sensibilidade, muito acima da média anterior. por isto, estamos num limiar.

          -> Depois eu peço perdão a Jesus…

          sempre citado. muito pouco lido os Evangelhos. e menos ainda compreendido o personagem Jesus. não tem nada quase a ver com aquilo que dele todos falam.

          -> Jeff Buckley

          deste nunca tinha ouvido falar. minha ignorância as vzs pode ser mesmo estúpida. vou ouvir.

          -> Bom, eu ainda acho que você é um brujo (é melhor em espanhol mesmo). E muito do enigmático.

          -> você está tentando me levar pro lado negro da força?

          -> Talvez nem exista um lado negro.

          não acredito em brujos. muito menos em mujeres brujas. mas as bruxarias correm soltas pelo mundo. alguns as xamam de “sincronicidades”. outros preferem termos diversos. o mais importante é: como gerar sincronicidades?

          não existe lado negro de nada. a força é a força. o poder é o poder. existe sim uma aplicação “negra” da força. o Demônio é só a palavra que a humanidade cunhou para denominar o que vê refletido ao se encarar no espelho.

          e não pretendo levá-la para lado algum. sou apenas um interlocutor. aliás, um bom interlocutor. ao seu dispor.

          p.s.:

          “And the rain is falling and I believe My time has come”

          “Grace” – Jeff Buckley

          mas não é a cena da morte do replicante em Blade Runner?

          .

          1. Gosto de você como interlocutor.

            -> Jeff Buckley
            deste nunca tinha ouvido falar. minha ignorância as vzs pode ser mesmo estúpida. vou ouvir.

            Agora mesmo estou ouvindo o cara cantar:

            “You undo your life with too much cocoon”…

            ha.

            Pode ouvir o Jeff Buckley, ele era bom… Ele brilha mesmo é ao vivo, acústico. “Dream Brother” é linda. “So Real” (a versão acústica), “Mojo Pin”, “Morning Theft”, “Nightmares By The Sea”, “Strawberry Street”, “I Woke Up in a Strange Place”, “Mood Swing Whiskey” (lindamente dark) e “Grace” (que não é uma apologia juvenil ao suicídio, nem se resume a um desejo de morte. Ele mesmo disse que também é sobre “cozinhar no fogo/vida e aguentar”): essas são as minhas favoritas. Sem falar em algumas covers muito boas… ele chegou a cantar em Urdu uma música do Nusrat Fateh Ali Khan. Ele era um jovem com alma velha. Tragicamente lindo também. Tragicamente. E tem “The sky is a landfill” (mas essa, musicalmente, é inferior):

            “Circle around the park
            Joining hands in silence
            Watch the evil black the sky
            The storm has ripped the shelter
            Of illusion from our brow
            This power is no mystery to us now.
            (…)
            I have no fear of this machine..”

             

            não penso que tudo se resuma a ter um “namorado’. isto seria bom, mas não o suficiente. pois não equaciona a demanda tal como ela é. aliás, é um modo bastante pueril de lidar com ela.

            A questão do namorado… Não acho tão pueril. Se fosse, não doeria tanto.
            Agora, realmente, o problema não se resume a um namorado. Nisso você tem razão.
            .
            .
            .
            E… e eu não tenho ilusão quanto aos meus defeitos. Eu prefiro estar só a incomodar alguém com… comigo aqui. Mas nada de novo nisso. Há milhões de pessoas minimamente sensatas como eu. Aparentemente, vamos levando… nós, os enjeitados. A gente vai levando.
            Sabe como é, solidão com alguns confortos e distrações para amenizá-la.

            E a mídia te dando uma força, te lembrando que seu amor por você é O que vale.

            o que não só vc mas todos nós sentimos falta é de vínculos, laços. e muitas vzs não os logramos encontrar porque buscamos de modo errado. equivocados por formas-de-vida (impostas pelo Kapital) que visam exatamente a nos isolar e suprimir qualquer possibilidade de relacionamentos autênticos, harmônicos e, em última instância, vivos.

            Eu não tenho como discordar de você no que é essencial.

            Há algo de pré-concebido nisso tudo… algo de novo também, que outras sociedades em outros tempos não experimentaram.

            Por exemplo, tem qualquer coisa de novo na solidão que Hopper pintou comparada a, sei lá, à solidão que um Vermeer pintou.

            O nascimento das cidades contemporâneas criou muitas coisas, mas ferrou muitas coisas também..

            Só não acho que isso seja culpa do “Capitalismo” que, aliás, está na UTI. Muito menos do “Comunismo”, desse então… (suspiro).

            De todo modo, uma coisa que tem me intrigado desde 2015 é: por que as pessoas permitem? Ummm? Por que elas se deixam levar, obedecem, “se adaptam”? Sabendo bem no fundo que está tudo errado?

            Talvez, no fim das contas, gostemos do isolamento e dos pequenos confortos e não gostemos tanto uns dos outros. E se a maioria for assim? E se os jusnaturalistas, os iluministas, Orwell e todos os outros tiverem superestimado a “maioria”?

            Eu em geral fujo das pessoas, pois tenho medo de tudo… Mas não queria fugir. Eu sinto falta de “vínculos e laços”. Mas tem esse medo dos diabos..

            Mas deve haver quem simplesmente, genuinamente, deteste os outros. Uma boa parte desses, inclusive, parece que está mandando no mundo já há algum tempo e, céus, eles conhecem a psiquê humana muito bem..

            Mas talvez eu esteja sendo um pouco injusta aqui… as coisas sempre são tão complexas.. acho que no geral você tem uma certa razão quando diz que querem nos isolar “e suprimir qualquer possibilidade de relacionamentos autênticos”. Será possível que tenha sido sempre assim? 🙂

            -> Você conhece o conceito de “Sincronicidade”? Sem querer parecer “especial”
            conheço desde a adolescência. como todos estes tipos de conceitos, com suas correlatas experiências, conheço desde a adolescência. eu seria “especial” por causa disto?
            E eu não duvido de que você conhece Jung desde a adolescência. E, sim, eu te acho especial por isso. Mas, olha, eu não estou dando em cima de você. Fique tranquilo. Estou apenas dizendo que acho que qualquer adolescente, familiarizado com Jung, é um pouco especial.

            mas as bruxarias correm soltas pelo mundo. alguns as xamam de “sincronicidades”. outros preferem termos diversos. o mais importante é: como gerar sincronicidades?
            “Como gerar sincronicidades?”…
            Interessante essa pergunta. O Jung promete uma tentativa de explicar a razão para as sincronicidades mais ao fim do livro (cautelosamente, eu imagino).

            Ontem eu o lia e ele citava as tentativas de explicação de Avicena e Carlus Magnus… que não falavam em termos de sincronicidade, é claro. De todo modo, para os dois tudo começava nos “desejos da alma”, por assim dizer.

            É engraçado. Eu não duvido. Há uns meses atrás eu riria dessa história de alma e, mais ainda, de desejos da alma impactando, de alguma maneira, o espaço-tempo, gerando “coincidências com significado”.

            Mas houve pelo menos 5 “sincronicidades” nas últimas semanas que me causaram impressão…

            Eu ainda tendo a achar que, após a morte, a maior chance é a de que… acabou tudo. E esse silêncio negro não me assusta. O que me assusta é o ato em si de morrer. Acho a morte sempre uma coisa muito violenta. Tenho medo da dor.

            “And the rain is falling and I believe My time has come”
            “Grace” – Jeff Buckley
            mas não é a cena da morte do replicante em Blade Runner?

            É… é a cena da morte do replicante.

          2. Brasil em Transe: a grande extinção

            só agora vi sua réplica agora. depois escrevo mais. vamos ao mais importante.

            sobre sincronicidades:

            em 14/11/2018 Julia1984  -> Pelo menos a dissolução tem sido ao som do Jeff Buckley cantando “Hallelujah”.

            em 15/11/2018 arkx recebe a notícia que uma pessoa conhecida se afogou, tão estupidamente quanto Jeff Buckley.

            não somos totalidades, somos fragmentos. multiplicidades, sempre impossíveis de serem reduzidas a alguma totalidade.

            também nenhuma identidade e nenhuma continuidade. apenas fragmentação.

            pedaços das aventuras de um monte de espíritos que passeiam no interior das montanhas e em nossos corações.

            e também em cada fragmento de texto na web.

            agora, dê uma aplicação política a isto.

            é por sequer considerar nem o mais remotamente tal questão tão vital que a Esquerda fracassa, que o Comunismo se perdeu no mais grotesco totalitarismo (totalidade).

            .

          3. Albertus

            É “Albertus Magnus”.

            Céus… eu preciso voltar a dormir como um ser humano normal qualquer dia desses.

             

            todos querem “apenas” viver. só que viver além de muito perigoso, nunca é “apenas”. viver sempre é “demasiado”.

             

            Eu entendo que viver pode se tornar demasiado. De um ponto de vista pessoal… entendo bem.

             

            Mas eu não resisto a dizer – mesmo que não tenha nada a ver com o que você quis afirmar – que as pessoas andam, mais do que nunca, se sentindo na obrigação de justificar a própria existência. É uma correria, uma trabalheira danada! Você tem de justificar sua existência, pois, sabe como é, o Jusnaturalismo e todos aqueles “direitos anteriores ao Estado” estão na UTI também.

            Eu entendo que as pessoas devem se preocupar em se aprimorar. Devem se preocupar com excelência. Isso é tão claro.

            Mas quando você deturpa isso e forja uma sociedade centrada só nisso… qdo faz da “eficiência” o valor supremo, você acaba com a chance de ‘gente menos que perfeita’ (e tida como ineficiente) fazer qualquer coisa de inesperado… acaba com a arte, com quase tudo que não tem uma serventia óbvia.

            mas é claro que esse tipo de argumento tem convencido cada vez menos..

            ao que parece, só os andróides sobreviverão. 🙂

            Pra dizer a verdade, eu nem sei se esse tipo de argumento humanista convence mais nem a mim. E olha que eu sou este “bleeding heart” eterno.

            É estranho, esse endurecimento…

            mas deixa eu parar de bancar o floco de neve, este mundo é difícil. É o QG do capeta.

            .

            .

            .

            enfim, não tem nada a ver com o que vc estava dizendo, mas senti vontade de escrever mais essa obviedade, só que altamente debatível..

            regards,

          4. Brasil em Transe: a grande extinção

            -> Gosto de você como interlocutor.

            -> Mas, olha, eu não estou dando em cima de você. Fique tranquilo.

            -> A questão do namorado… Não acho tão pueril. Se fosse, não doeria tanto. Agora, realmente, o problema não se resume a um namorado. Nisso você tem razão.

            esta é uma questão recorrente em suas msg.

            mais abaixo eu retruquei sobre as sincronicidades. citei como sua referência a Jeff Buckley (de quem nunca eu tinha ouvido menção) fez parte de uma sincronicidade. o que talvez seja uma boa pista de como gerar sincronicidades.

            quanto a relacionamentos e afetividades, devo dizer:

            – mulheres hoje tem muita dificuldade com “namorados”, mais do que nunca. até porque, convenhamos, os homens estão em extinção. cada dia há mais bibas na praça. dito assim, sem qualquer preconceito, apenas constatando algo óbvio;

            – o padrão macho está em crise irreversível. para muitos homens a questão é: ou se é o machão clássico ou se vira gay. o que não é absolutamente uma alternativa, e sim incompreensão e falta de coragem para se transformar (vir-a-ser, tornar-se) algo diferente do padrão;

            – por esta “falta de homem” (isto não afeta só as mulheres, afeta também outros homens, por lhes faltarem amizades) há um aumento de lésbicas (por assim dizer, que não opero com estes estereótipos);

            – temos então uma grave crise da sexualidade, desencadeando toda esta discussão sobre gêneros: LGBTQIA+. pode até parecer algo emancipador, mas não é. considere: quanto mais no estado líquido, mas fácil de controlar e dar forma, portando: conduzir;

            – o grupo que mais cresce é o A de LGBTQIA+. os assexuados. se antes os gays eram “sexuados em demasia”, devassos loucos com suas orgias intermináveis a cada noite, hoje são cada vez mais assexuados: limpinhos, cheirosinhos, comportadinhos;

            – as pessoas perderam o tesão. adolescentes são tradicionalmente o exemplo de muito hormônio para pouco espaço. como explicar a epidemia de adolescentes assexuados? controle, reformatação da sexualidade. “sexualidade em demasia” -> rebeldia, inconformismo, insubmissão, revolução;

            – a rigor, como quase todo mundo, vc quer um namorado, um companheiro. nada de errado nisto. mas já lhe escrevi uma vez (link): vc acredita na “familinha”, nos relacionamentos, na amizade, no trabalho, na realização pessoal. em suma: na felicidade. mas tudo isto são ilusões mórbidas;

            – não se deixe mais iludir com estas armadilhas primárias. o que não tem nada a ver a renunciar a estabelecer relações afetivas e sexuais autênticas e saudáveis. só que estas são na maior parte das vezes fragmentadas. somos todos fragmentos de um monte de espíritos. saber viver assim é sabedoria;

            – há algum tempo fiz um intenso trabalho com uma mulher mais jovem. inteligente, bonita, gostosa, sensível, intuitiva. ela sempre me dizia que por sermos homem e mulher isto a perturbava um tanto. ao que eu contrapunha que era um reducionismo. em qualquer relação, e não apenas entre homem e mulher, a questão da sexualidade e da afetividade está colocada. mesmo entre dois homens ou entre duas mulheres. onde há relação, há afetividade e sexualidade. onde há laço, vínculo e conexão, ali estarão sempre a afetividade e a sexualidade;

            – já uma outra grande amiga, esta foi assessora de relações internacionais na Palestina ocupada (entre outras façanhas de seu currículo notável – além de tb inteligente, bonita, gostosa, sensível, intuitiva e muitíssimo culta), me sussurrou pungente no dia do enterro de Marielle e Anderson: “- Querido, nós fracassamos como espécie..”;

            – fracassamos. fracassamos porque tememos ser quem de fato somos. não queremos apenas namorados, ou namoradas, queremos muito mais do que isto. mas tememos aquilo que mais ardentemente desejamos. o que desejamos é viver em demasia. e não esta besteira de “apenas viver”. a vida é demasiada. ou não é vida;

            – dito de outra forma: ao biopoder devemos afirmar a biopotência. uma indomável vontade de viver;

            – as assim chamadas sincronicidades são a expressão da biopotência (assunto complexo).

            .

          5. here I go…

            – mulheres hoje tem muita dificuldade com “namorados”, mais do que nunca. até porque, convenhamos, os homens estão em extinção. cada dia há mais bibas na praça. dito assim, sem qualquer preconceito, apenas constatando algo óbvio;

            Você sabe, eu sinto que estou correndo um risco danado aqui. De ser sumamente, talvez até maquiavelicamente, mal interpretada. Eu sei lá por quem. Ando paranóica, mas o negócio é que, além da minha paranóia, o mal também existe.

            Mas vamos lá…

            Eu não sei se os homens estão em extinção.
            Há muitas pressões e muitas coisas acontecendo que os afetam e cada um responde de um jeito, porque eles não são um bloco uníssono.

            De todo modo, eu fico com a intuição do Orwell a esse respeito (relação entre os sexos): ele demonstra, em 1984, que não é possível uma sociedade Totalitária (de “esquerda” ou de “direita”, tanto faz, já que o importante é dissolver o indivíduo em um Todo qualquer, em nome de algum valor que foi corrompido) sem o distanciamento de homens e mulheres. Sem a fragmentação das famílias em seu âmago (filhos denunciando os próprios pais ao “Grande Irmão”, etc.). Nesse sentido, o amor de Winston e Julia é subversivo.

            Por outro lado, tem a abordagem do Huxley (em Admirável Mundo Novo): para ele, não precisa haver necessariamente um distanciamento (quase físico) entre homens e mulheres, como em 1984. Apenas o barateamento das relações é suficiente: o fim dos ritos, o fim do romantismo… isso já provoca distanciamento suficiente. Mas o efeito é o mesmo: a dissolução/fragmentação dos indivíduos no Todo é mantida. Sem verdadeiro domínio sobre o próprio tempo e vida, mas ‘satisfeitos’.

            Eu acho que vivemos um mix dessas duas ‘fórmulas’ atualmente. E homens e mulheres se ressentem.
            Alguns respondem tentando voltar a modos de vida mais tradicionais – e esbarram no mundo como ele está hoje: anti-comunitário, anti-família, anti-manternidade, anti-paterno, anti-crianças. Apesar de todas as aparências…
            Aliás, é uma verdadeira luta criar filhos hoje, algo que já foi tão natural… basta ler o Philip Ariés…
            Saímos de uma armadilha (ditadura dos costumes) e estamos caindo em outra: distanciamento e/ou barateamento das relações. Solidão. Desencontro. Isolamento.

            Olha, eu não estou advogando um retorno a 1850.

            Mas há muita coisa criticável na atual configuração… muita coisa.

            – temos então uma grave crise da sexualidade, desencadeando toda esta discussão sobre gêneros: LGBTQIA+. pode até parecer algo emancipador, mas não é. considere: quanto mais no estado líquido, mas fácil de controlar e dar forma…

            Não vou cutucar muito esse vespeiro… só repito o que li de alguém uma vez (ele é gay): uma parte do movimento gay/LGBT foi infelizmente sequestrada. Deturpada.

            – dito de outra forma: ao biopoder devemos afirmar a biopotência. uma indomável vontade de viver;
            – as assim chamadas sincronicidades são a expressão da biopotência (assunto complexo).

            Interessante isso. Um dia, se der, desenvolve isso.

            mais abaixo eu retruquei sobre as sincronicidades. citei como sua referência a Jeff Buckley (de quem nunca eu tinha ouvido menção) fez parte de uma sincronicidade.

            Sim, pareceu uma sincronicidade… e muito trágica.

            Mas bem-vindo ao clube dos que vivenciam sincronicidades por causa do Jeff Buckley.

            Outro dia eu li um cara dizendo que ele estava dirigindo, ouvindo um som e tal (no player havia mais de 300 músicas, de várias bandas e, segundo ele, as músicas estavam sem ordem, tocavam aleatoriamente). O céu estava escuro e começou a ficar carregado enquanto ele se aproximava de uma ponte que cruza o Mississipi  (onde o corpo do Jeff Buckley foi encontrado). No exato momento em que ele entra na ponte, logo “Grace” começa a tocar. O cara disse que, por algum motivo, sentiu um frio na espinha.

            Eu acredito.

            Eu tive meu número de sincronicidades. Queria descrevê-las, mas é melhor não. Já pareço ridícula o bastante.

            De todo modo, as tais sincronicidades (nem todas relacionadas ao Buckley, diga-se de passagem) têm me causado certa impressão.

            Esse tipo de “coincidência significativa”, quando se repete demais, faz você querer acreditar em anjos, demônios, teoria da simulação, matrix, o diabo a quatro.

            Mas é bom ter cautela. O próprio Jung era bem cauteloso…

            Tudo pode ser simplesmente minha depressão. Meu cérebro tentando criar um mundo menos árido como tática de sobrevivência. Eu sei lá.

            Ou é a sua “biopotência” (cara, como você é pós-moderno…).

            Agora, eu não sei se o Jeff Buckley  se afogou “estupidamente”…

            Como um fã escreveu uma vez, ninguém nunca vai saber exatamente o que aconteceu naquele fim de tarde, a não ser que você acredite piamente no depoimento de uma única testemunha que, aliás, os outros membros da banda nem conheciam ou reconheciam como roadie ou “amigo”.

            Certamente, o fato do corpo dele ter flutuado contra a corrente é um pouco estranho.

            A última foto dele não parece a de alguém super excitado e feliz, pronto pra fazer uma loucura, tipo pular em um rio com roupas e sapatos, cantando Led Zeppellin. Ele me parece apreensivo e cabisbaixo:

            https://www.reddit.com/r/lastimages/comments/41ofek/the_last_photo_of_jeff_buckley_right_just_a/

            Eu tenho minhas dúvidas quanto a mais essa narrativa, até por conta de certas coisas que ele disse/escreveu… ele chegou a mencionar ameaças.

            E os posicionamentos políticos dele também eram muito ‘explosivos’.

            Pode ser que a narrativa oficial esteja correta, é claro. Pode ser que eu esteja ‘superinterpretando’ de novo… tenho esse tic.

            Mas músicos influentes que falam demais e são (verdadeiramente) anti-stablishment têm essa tendência estranha de morrer cedo e tragicamente, nesta nossa sociedade altamente “livre”. Isso bem antes de John Lennon.

          6. Brasil em Transe: a grande extinção

            -> Mas bem-vindo ao clube dos que vivenciam sincronicidades por causa do Jeff Buckley.

            -> Eu tive meu número de sincronicidades. Queria descrevê-las, mas é melhor não. Já pareço ridícula o bastante.

            -> – as assim chamadas sincronicidades são a expressão da biopotência (assunto complexo).

            -> Interessante isso. Um dia, se der, desenvolve isso.

            sincronicidades podem acontecer o tempo todo. depende da biopotência. o que é só um jeito de se referir, um termo não necessariamente pós-moderno.

            todas as tradições milenares e culturas não ocidentais se referem de alguma forma a este poder. inclusive sempre enfatizando-o como o gerador das sincronicidades, coincidências significativas, etc…

            exemplo:

            na hora do almoço caminhava eu despreocupado, embora muito preocupado, pelas ruas centrais do Rio de Janeiro – habitadas hoje por todo tipo de destroços, principalmente o humano.

            uma cena me impactou.

            um morador de rua brincava alegremente com sua cachorrinha. esta corria de uma lado a outro pela calçada, com uma curiosa girafa de borracha na boca.

            com seus pelo negro brilhante, a cadela era a expressão de uma improvável felicidade em meio ao caos.

            biopotência. sempre em demasia, além da conta, do controle.

            com sua energia transbordante, o animal preenchia a vida sem sentido de seu dono: um mendigo desdentado, com longas barbas brancas e visivelmente transtornado.

            ainda assim, visto do outra lado da calçada (ou seja: da outra margem) a cena era um pequeno e fugaz pedaço de paraíso, quase invisível, rodeado pelo inferno urbano de uma megalópole em decomposição.

            atravessei a rua. dobrei e redobrei uma nota de R$ 10. com discrição total, passei-a para a mão do cara, assim como quem comete um crime.

            ele agradeceu, pedindo para Deus me abençoar.

            à noite, sem motivo algum, resolvi entrar numa lanchonete. não fazia sentido, pois eu tinha acabado de jantar.

            pedi para viagem um delicioso pastel integral de frango com ameixa. puxei conversa com a mulher que me atendeu. sempre gosto de conversar com os “invisíveis”, os atendentes, os humildes e desprezados “serviçais”.

            acabei comentando sobre a cena da hora do almoço com a cachorrinha. ela achou interessante e deu um franco e bonito sorriso.

            sai da loja. percorri a galeria até a rua. dobrei à direita. quem estava sentado na calçada?

            o cara com a cachorrinha negra!

            conversei com ele. com alguma dificuldade lembrou-se de mim. então começou a rir. agradeceu novamente.

            voltei até a lanchonete. contei o que acabara de acontecer para a mulher. muito naturalmente, ela ficou bem espantada.

            com sincronicidades não se deve deixar nenhuma ponta em aberto. todas devem ser conectadas. é justo por isto que aqui para você registro o que me aconteceu.

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