Fernando Horta
Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.
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Como se enxugasse gelo, por Fernando Horta

Como se enxugasse gelo, por Fernando Horta

Há dezesseis dias, Lula é um preso político do Estado de exceção que tomou o Brasil.

O resultado prático desta prisão, contudo, não foi bem avaliada nem pelo judiciário, nem pelos opositores políticos de Lula. O tão abominado “jeitinho” brasileiro, marca por muitos anos dos nossos políticos, agora é usado pela Justissa em sua cruzada moralista contra a esquerda. Mostra, pois, que qualquer crítica a este nosso traço cultural é apenas preconceito. Desde o primeiro grau, até Carmem Lúcia, a prisão de Lula foi concertada unicamente a partir do princípio do “eu posso, eu faço”. Desde a falta de provas, apresentações espalhafatosas para a mídia, vazamentos ilegais até a decisão vergonhosa dos três desembargadores de Porto Alegre, havia ainda, internacionalmente, um fio de respeito pelas instituições brasileiras. Diversos jornais e analistas estrangeiros se postavam com cuidado para falar do tema. Era sim, o processo brasileiro, eivado de irregularidades e claramente político, mas era custoso ao mundo ocidental olhar para o Brasil e ver a história da Europa recontada. Tudo na lava a jato é semelhante às perseguições dos tribunais nazistas e fascistas. O Velho Mundo não estava preparado para aceitar que o fascismo estava de volta, e pelas mãos dos (supostamente) mais “educados” e “cultos”.

A lava a jato perdeu de vez a luta pela narrativa internacional a partir do “jeitinho” de Carmem Lúcia, denunciado ao vivo em plenário por Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Celso de Mello, em pautar o julgamento ao invés das ações de questionamento constitucional. Ficou ainda mais evidente a imensa diferença de capacidade técnica entre a procuradora-geral e os advogados de defesa. Aos observadores internacionais ficava patente que não havia sequer o convencimento institucional da culpa de Lula. E os que ali estavam a defender isto eram, ainda, péssimos atores. O desespero de Sérgio Moro, atropelando ritos e etapas formais do direito, para mandar prender Lula, lembra o estado de ejaculação precoce de adolescentes. Moro viu uma canela, um decote e não se aguentou. Aos observadores internacionais, que aprenderam que o Direito é composto igualmente por forma e conteúdo, as ações de Moro foram outra evidência de que a fascista lava a jato não tinha qualquer legalidade.

Lula se deu ao cárcere. Apesar da resignação incontida e brilhante de São Bernardo do Campo.

Na última semana, a Justissa brasileira vem perdendo ainda mais licitude. Uma juíza, cuja legitimidade resta inteiramente num concurso com três provas, achou por bem barrar um prêmio Nobel da Paz em seu intento de visitar Lula. Do alto do conhecimento social e histórico acumulado pela Juíza para passar em seu concurso, ela acreditou que não apenas proibir as visitas, mas espezinhar Pérez Esquivel seria uma boa mensagem da Justissa brasileira para o mundo. “O problema é dele” teria dito a juíza ao negar Esquivel e Boff. A foto de Leonardo Boff, com sua bengala e barbas brancas, sentado à frente do calabouço que enfiaram Lula, na República de Curitiba, é um míssil nuclear sobre o que restava de confiança na Justissa deste país.

Hoje, ao mesmo tempo que surgem outras notícias a respeito de mais negativas dada pela juíza a senadores, personalidades internacionais, candidatos à presidência, de dentro do calabouço aparecem narrativas redentoras. Policiais que têm contato diário com Lula publicam que, em quinze dias com o presidente, começam a “ter dúvidas” sobre a vilania do preso político. Um policial inclusive, relata que Lula é simples, educado e atencioso com todos. Este mesmo policial menciona que tinha “certeza” da culpa de Lula e hoje não há tem mais.

Os resultados dos 16 dias de prisão política de Lula são assustadores, do ponto de vista interno e internacional. Internamente o Partido dos Trabalhadores assiste a uma onda de filiações que, em números relativos, supera os melhores momentos da presidência de Lula. A esquerda brasileira parece finalmente ter entendido que a união é o único caminho e até Ciro Gomes, vejam só, assina pedido de visita ao ex-presidente. Jovens trabalhadores pelo país inteiro mandam vídeos de apoio a Lula, cartas inundam o calabouço onde está preso. A vigília do acampamento à frente grita toda manhã “Bom dia presidente!”, ao que fontes confiáveis dizem que Lula, com lágrimas nos olhos responde: “Bom dia meu povo”!.

Lula arrebenta o judiciário brasileiro. O MP racha e surgem grupos a assinar manifestações contra a flagrante prisão política. Os bravos magistrados da Associação de Juízes pela Democracia fazem o que a vergonhosa OAB de Lamachia se furta covardemente de fazer. Não surpreende a quem conhece a trajetória do presidente da OAB no RS. Advogados são desrespeitados em todo o país, o próprio Direito perde sua consistência e encontra na AJD a voz que a OAB trocou por rompantes políticos. Lula preso desmascara o “jeitinho” do STF, o populismo punitivista com “pitadas de psicopatia” de Barroso, Fux e Fachin. Lula preso, mostra que a Rosa foi sim vencida pelos canhões. E isto tudo via twitter.

Como se não bastasse, surgem evidências de que a Odebrecht teria pago Cunha para sabotar Dilma. O Karma veio imediato, a empresa foi destruída e o neto do fundador preso. Aécio, que ombreia na adolescência com Moro, descobriu como é duro e custoso acabar com a democracia. Se não foi o “primeiro a ser comido”, já está sendo cozinhado em fogo brando, juntamente com a desprotegida irmã. O MTST invade o famoso “muquifo do Guarujá” e mostra que as notas das “reformas” e “melhorias”, usadas por Moro para tentar chegar a um montante crível de corrupção, são falsas. O apartamento é mal construído, mal pensado e com acabamentos que nenhum pedreiro, com um mínimo de competência, faria pior. O famoso elevador se resume a uma portinhola que este que vos escreve pensa não conseguiria entrar.

Mas o pesadelo não terminou. Temer, acossado cada vez mais internamente por sua conhecida trajetória com desconhecidas transações e empresas, não ganhou um milímetro de apoio interno ou internacional. As exportações brasileiras caem para a União Europeia ou são até proibidas. E para o observador desatento as desculpas dadas pelos europeus parecem “técnicas”, mas são no exato modelo das condenações da lava a jato. O recado é claro, a cruzada moralista de Moro e seu culto de adoradores continuam a fazer mal ao Brasil, principalmente para a sua economia.

Nenhum candidato da direita tem chance no pleito que se segue. O primeiro colocado é Lula, que preso já ganha no primeiro turno. O próximo mais votado é “quem Lula indicar”, segundo as pesquisas. O terceiro mais votado é um tal de “brancos e nulos”, caso Lula seja proibido e decida não legitimar as eleições. O quarto mais votado é o mundialmente reconhecido “perigo para a Democracia”, Jair Bolsonaro. Que recentemente descobriu que pode recuperar a economia brasileira explorando o leite de ornitorrinco da Amazônia.

Por qualquer ângulo que se veja a prisão de Lula, ela está sendo brutalmente devastadora para a Justissa brasileira. E, enquanto Moro for tomado como Sua Santidade do judiciário, todo este poder continua afundando. Não tardará para que o Legislativo exerça sua histórica revanche. Em menos de cinco anos diversas leis contra o poder e mordomias do judiciário serão silenciosamente aprovadas. E Moro terminará numa vara a julgar pensões e aposentadorias do INSS. Bem longe dos holofotes. O que será devastador para seu inflado ego.

Uma das mais odiosas formas de tortura e punição medieval era o “emparedamento”. O prisioneiro era preso com correntes junto a um muro e outro muro de pedras era erigido na sua frente. Virtualmente se apagava o sofredor da vida material, não deixando sequer vestígios de sua existência material. A lava a jato tentou, mas é Lula quem empareda a Justissa brasileira. Prender Lula é como tentar enxugar gelo.

Bom dia, Presidente!

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

18 Comentários

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  1. Perfeitos, texto e avaliação

    Perfeitos, texto e avaliação de todo o processo da prisão de Lula.  Uma inocência é desnudada a cada dia, e a farsa que criou a condenação, idem…….

  2. Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil.

    Incontestavelmente, Lula já é herói nacional. Reconhecido no mundo como grande estadista. Os justiciceiros responsáveis pela prisão política, não terão paz.

    Enquanto isso, o usurpador, entreguista, corrupto, rejeitado pelo povo e ignorado por governos estrangeiros, ocupa a TV em cadeia nacional para pregar mentiras e ousar se comparar a Tiradentes.

  3. O Lula parece estar no seu melhor momento. Sua decisão de se ent

    O Lula parece estar no seu melhor momento. Sua decisão de se entregar possibilitou não só desmoralizar o judiciário como fez com que a prisão de seus companheiros também fosse criticada. A prisão de José Dirceu e João Vaccari são tão questionáveis quanto a prisão do Lula. Esse movimento do ex-presidente no tabuleiro político da lava jato foi um verdadeiro xeque mate!

     Acho que a bandeira defendida pelo PT deve ir além do Lula e alcançar os outros presos políticos. José Dirceu e João Vaccari Neto precisam de toda a solidariedade dos militantes do PT e dos progressistas de um modo geral. A palavra de ordem deveria ser “Lula Livre, Dirceu Livre e Vaccari Livre!”

     

  4. O texto

    O texto é espetacular, é de lavar a alma, é tudo que eu queria dizer e não sei escrever desse jeito, vc tem 100% de razão

  5. Achei que minha admiração ao

    Achei que minha admiração ao ex-presidente tivesse chegado ao ápice. Mas a cada dia sinto que ela só aumenta.
    Uma pena nossa geração não aproveitar o que de bom este homem ainda pode nos ofertar.
    Nossos descendentes ainda nos cobrarão muito por isso.

  6. Nosso Ted Bundy

    O serial killer mais famoso dos Estados Unidos Ted Bundy, foi morto na cadeira elétrica em 1989. Cometeu mais de 30 assassinatos de mulheres inocentes em vários anos de atividade criminosa. Pego anos depois quando a desgraça já estava consumada, Ted Bundy era a própria simpatia e elegância em pessoa. Por trás dessa aparência de gentleman cometeu as maiores barbaridades com suas vítimas inocentes sem dar a elas as mínimas chances de defesa, agindo sempre dissimuladamente. Dá medo ainda hoje, verificar a frieza no olhar  daquele assasino e a sua semelhança física e trejeitos com alguém que, se ainda não é um assassino de mulheres, é um assassino de reputações aqui no Brasil. Frase de Ted Bundy: “Nós estamos em toda parte”

  7. Tem uma coisa que o

    Tem uma coisa que o articulista não comentou e que me deixa extremamente preocupado: Como fazer para enfrentar a epidemia de suicidios, choro e ranger de dentes quando Lula abiscoitar o Nobel da Paz ? Haverá estrutura suficiente, visto que o País continua em desconstrução, para dar enterro aos mortos e antidepressivos aos que não tiveram coragem ? Ou os cadáveres ficarão expostos exalando um fedor detestável, felizmente não pior do que já exalam ? E a ” juiza da porteira”, estará entre os suicidas  ou permanecerá trancando a porta para a Comissão, que aqui aportará para fazer a entrega do Prêmio que não permitiram ser recebido na Noruega ? Precisamos conversar sobre tudo isso.

  8. Bem notado, caro Fernando.
    E

    Bem notado, caro Fernando.

    E fico pensando que talvez seja difícil compor um panorama nesse momento e nesse lugar – sendo brasileiro – justamente por estarmos envolvidos, por sermos parte do que está acontecendo. Mas me arrisco: o tão criticado republicanismo de Dilma e a decisão de entregar-se tomada por Lula, não sei se por deliberação racional ou por imperativo algo intuitivo, quase atávico¹, são atitudes que estão se prestando a inédita evolução tanto nas pessoas, no povo brasileiro quanto na história do mundo.

    Tirando a satiagraha de Gandhi, não me lembro de nenhum outro episódio em que a demência, a barbárie e a imoralidade ficaram tão claramente expostas. No nosso caso é ainda pior porque, se na Índia invadida ainda havia, por exemplo, lei que impedisse aos indianos obterem sal que não através da indústria inglesa ali implantada², para nós há leis que criminalizam o que a Lava Jato está fazendo. E ainda mais: como se não fosse suficientes a demência, a barbárie, a imoralidade e até a ilegalidade, já começa a ficar público que a Lava Jato, juízes de 1a. instância, de 2a. instância e daí para cima, além da promotoria, tem no mínimo em seu entorno a mão dos corruptos.

    Talvez a contribuição de Dilma e Lula ao processo civilizatório, através de seus despreendimentos pessoais e de suas capacidades de se manterem firmes à democracia, suas grandezas enfim, seja algo que levaremos, pessoas de todo mundo, ainda algum tempo e distanciamento para entender. Tem aquela história de que “santo de casa não faz milagre”… será que não faz mesmo? Ou será que faz mas os “de casa” não acreditam?

    (***)

    ¹ – Na prática, talvez não seja exatamente assim, ou racional ou intuitivo, e sim racional em ceta medida e intuitivo em certa medida. A gente é gente… E até para Dilma e Lula não deve ser tão fácil assim.

    ² – Esse negócio de os indianos só poderem comprar o sal que brota em solo indiano da indústria invasora inglesa me lembra da Sabesp: a gente compra a água que brota em nossa terra de investidores estadunidenses. Geraldo Alckmin ainda teve a cara-de-pau de responder, quando inquirido sobre isso, que uma parte dos investidores que detém ações da Sabesp vendidas na bolsa de valores de Nova Iorque é de brasileiros. Ou seja, o dinheiro para esses investimentos também saiu daqui.

    Outro caso que é impossível não relacionar com a história do sal na Índia é a do petróleo e dos seus derivados.

  9. Quem se abaixa muito aos opressores termina mostrando…….

    Como o Fernando Horta é bem menos tosco e grosso do que eu, concordando com o seu texto, tento resumi-lo pela seguinte expressão sobre a “justissa” brasileira:

    Quem se abaixa muito aos opressores termina mostrando a bunda aos oprimidos.

  10. OBRIGADO FERNANDO HORTA, BOM DIA PARA VOCÊ TAMBÉM.

    Fernando seu texto é poema real com tanta dose de carinho e verdade que é impossível o ler e não se emocionar, foi o melhor até agora a transcrever a loucura que o GOLPE trouxe ao país, ninguém mesmo poderia acreditar que “com supremo e com tudo” fosse mesmo o acontecimento futuro, mas o mais comovente e que nos dá uma força tão grande em saber que o nosso LULA é essa rocha de cidadania, coragem, carinho, maturidade e tudo de tão bom que nos faz rejuvenescer também em coragem. Transmita a ele o meu bom dia, todos os bons dias enquanto estiver encarcerado engradecendo o EGO FALSO E MENTIROSO do criminoso que gravou conversa da Presidenta o tal Sejimoro Savonarola de Curitiba e da Carmem do Sepultura. Bom dia grande presidente, mas um bom dia mesmo.

  11. Enxugando gelo…

    Simplesmente sensacional o artigo do Horta, aliás, como todos os que escreve, em que pese a leitura nos deixar tristes e cada vez mais com um sentimento de impotência diante de tamanha crueldade, desfaçatez, deboche e arrogância.

    Mas, esperança é coisa que não nos falta, haverá um reviravolta e  o Brasil será a nossa pátria novamente , altaneira e feliz!

  12. Sem dúvida

    Provavelmente qualquer pessoa, que não use de má-fé, já sabe: Lula jamais poderia ser condenado, como foi. Isso é ponto pacífico, o processo é uma fraude do início ao fim. Agora, resta saber se isso terá algum efeito prático. Afinal, os “ataques químicos” na Síria também foram uma fraude; as “primaveras árabes” uma armação; envenenamentos dos Skripal …; idem para eventos ocorridos nos 4 cantos do mundo: Paraguai, Costa Rica, Venezuela, Ucrânia, Nicarágua, Líbia, Afeganistão, Iraque, etc. O fato de se saber de todo esse teatro mudou algo? evitou algo?  

  13. Belo texto

    Seria essa a razão da incomunibilidade do Lulão?

    Policiais que têm contato diário com Lula publicam que, em quinze dias com o presidente, começam a “ter dúvidas” sobre a vilania do preso político. Um policial inclusive, relata que Lula é simples, educado e atencioso com todos. Este mesmo policial menciona que tinha “certeza” da culpa de Lula e hoje não há tem mais.

    LulaLivre

    No embalo: LulaLivre; ZéLivre; VaccariLivre

    Militância à luta. Há muito trabalho, muito a se fazer antes dos molotov e estilingues.

    O líder cumpre o seu papel, os parlamentares idem, a militância tem o seu a cumprir: o principal é desconstruir a narrativa da mídia oficial do poder oligarca.

    1º de Maio vem aí.

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