Não sejamos colonialistas internos

Quando surgem essas discussões “respeito ao meio-ambiente da Amazônia” versus “necessidades do desenvolvimento”, será que são respeitados os interesses regionais?

Qual é a opinião das populações da Amazônia? Elas estão se sentindo devidamente recompensadas com toda essa exploração do potencial energético? Estão sentindo que os eventuais danos valem a pena?

O que as pessoas lá acham disso, dos moradores do Centro-Sul ficarem discutindo o potencial energético da Amazônia como se fosse um direito adquirido sem preocupações com o eventual rastro de destruição que pode ficar?

Os povos da Amazônia são responsáveis por sustentar o consumo de eletrodomésticos do Sudeste? Ou os aparelhos de ar-condicionado do Nordeste? A inclusão social do litoral atlântico deve ser subsidiada com a precipitação e imposição do Governo Federal aos governos estaduais?

Se a Amazônia Legal fosse um país, as ‘conversações’ não se dariam em um outro nível? 

Nós, do Centro-Sul, estaríamos anunciando investimentos, concorrendo com potenciais clientes de outros cantos. Estaríamos falando de preços justos, compensações adequadas, respeito ao meio-ambiente do país aonde ocorreriam essas obras ou explorações. Mais ou menos como foi em relação ao Paraguai e Bolívia para a exploração de Itaipu e do gás, não?

No entanto, não é isso que aparece nos comentários…

É sempre assim: o Centro-Sul precisa de energia e considera a Amazônia como o ‘quintal’ obrigado a fornecê-la. 

Fará com energia o que fez, durante os anos 1930 a 1980, com as matérias-primas do Nordeste e de outras regiões? Naquelas décadas, com a economia fechada e o câmbio centralizado, os ‘Estados’ não podiam exportar para quem quisessem, não podiam importar de quem quisessem. E, pelo menos, não a preços internacionais livres de impostos.

Quanto o PIB da Bahia, por exemplo, não teria aumentado mais se esse estado tivesse podido vender livremente ao estrangeiro o petróleo, o cacau e o café, e tivesse podido importar produtos acabados diretamente dos EUA, sem passar por todas as intermediações e apropriações tributárias de SP e RJ? Sem precisar subsidiar a diferença de custos industrias da proteção contra importações?

E a energia da Amazônia, a partir de agora, só terá canalização para o Centro-Sul, gerando uma relação intrarregional de dependência… Será a preço justo?

Os preços serão manipulados em função de mercado cativo, facilitando, mais uma vez, a concentração de desenvolvimento no Centro-Sul.

E aí ficam os Povos Indígenas desalojados, pescadores e ribeirinhos afetados, o ambiente degradado, as emissões de CO2 desequilibradas.

É necessário pensar as coisas de um modo menos colonialista.

Preço justo, recolhimento de ICMS na origem, compensações devidas e reparações totais ao meio-ambiente devem fazer parte dessa discussão, não apenas as “necessidades do desenvolvimentismo do Litoral Atlântico”…

Se o Centro-Sul precisa do potencial energético do Norte, da Amazônia, que coloque os custos sociais e ambientais na conversa!

Esta frase do post é crucial: “Consiste em admitir que qualquer intervenção impacta, sim, o meio ambiente. Mas tratar de cercar os projetos para minimizar ao máximo os impactos ambientais e sociais. Haverá um custo adicional a ser bancado por todos os consumidores brasileiros – e é justo que assim seja.”

E o justo é que o Centro-Sul pague o que pagaria (inclusive ambientalmente) se precisasse importar energia, através do uso de termoelétricas. 

Não é porque a energia hidrelétrica do Norte terá custos de obtenção mais baixos que deve ficar por isso… Afinal, não pagamos o petróleo pelo custo de extração na Arábia Saudita, certo?

Redação

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