A mudança nas metas inflacionárias

Coluna Econômica

Um dos mecanismos mais perniciosos desenvolvidos no mercado financeiro foi o sistema de metas inflacionárias – não o sistema em si, mas a forma como foi implementada.

Definia-se uma meta para a inflação, com uma margem para cima e para baixo. Depois, levantavam-se as expectativas de mercado em relação à inflação nos 12 meses seguintes. Se as expectativas estivessem acima da meta, aumentavam-se os juros. Se abaixo, teoricamente, os juros seriam reduzidos.

Nem se pensava em outras formas de atuar sobre a demanda e o crédito, apenas juros que, incidindo sobre a dívida pública, canalizavam parte expressiva do orçamento para os chamados rentistas.

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Para dar mais intensidade à política, criou-se a máxima de que cada instrumento financeiro deveria buscar um único objetivo. Ou seja, com a política de metas inflacionárias, o Banco Central deveria ficar de olho exclusivamente na inflação, pouco importando as sequelas sobre a economia.

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Nem se fala do nível de juros que vigorou no Brasil nas últimas décadas, extravagantes por qualquer parâmetro que se analise – muito mais se comparado aos juros internacionais.

Seja na medicina, na economia, na gestão de empresas, vai contra qualquer norma de racionalidade definir objetivos únicos, sem se importar com as sequelas sobre outras partes da organização. Se se conferir a um auditor poderes totais para cortar despesas, ele simplesmente inviabilizará a empresa, cortando em áreas fundamentais. Assim como se permitir ao homem de marketing gastar sem limites, sem análise custo-benefício.

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Findo o período inflacionário, o universo empresarial brasileiro levou algum tempo para entender a importância da visão sistêmica da empresa, do equilíbrio entre as partes. A própria medicina evoluiu do conceito do especialista para o da visão geral do organismo. Caso contrário, uma dose maciça de antibióticos poderia curar o paciente de determinada infecção mas avariar definitivamente órgãos fundamentais.

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Apenas os Bancos Centrais persistiam nesse visão do objetivo único, muito mais para atender às demandas por juros altos do que por qualquer esforço crítico de entender os mecanismos econômicos.

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Em nenhum país essa visão míope, torta, suspeita fez mais mal à economia do que no Brasil. Desde a gestão Marcílio Marques Moreira (no governo Collor) à gestão Antonio Pallocci (no governo Lula) a economia andou à reboque do BC.

Em plena crise de 2008, com a demanda despencando, o BC aumentava os juros para enfrentar fantasmas inflacionários que só existiam nos delírios de Henrique Meirelles.

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Agora, finalmente – depois dos erros do início de 2011 – Fazenda e BC andam em conjunto. E aí aparecem os fundamentalistas de mercado exigindo a explicitação dos objetivos do BC.

Claro que deixou. Busca-se o centro da meta, sim, mas sem jogar todo o peso nos juros, sem sacrificar o crescimento – ainda mais depois dos erros crassos de 2011 -, sem permitir a apreciação excessiva do câmbio.

Finalmente o BC passou a perseguir o pragmatismo, libertando-se da prisão das planilhas e dos manuais monofásicos.

Luis Nassif

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