Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Dominó de Botequim, o Retorno – Capítulo 6, por Rui Daher

Por Rui Daher

Caríssimos leitores e leitoras, podem estar estranhando retorno tão esotérico assim. Fúnebre funeral, principalmente para quem acompanhou a primeira série, leu o livro, ou ainda terá a curiosidade de lê-lo. A mudança de rumo estava prevista e foi revelada há dois anos. Ninguém percebeu? A chave estava (ainda está) no capítulo “O Especialista”, página 148.

Céu, 12 de novembro de ano nenhum, que isto não temos aqui. Lembre-se de que somos eternos e só mantemos dia e mês pra empareiácocês.

Nosso Ruizinho, aqui fala Seu Melô.

Passamos a semana tentando encontra-lo, preocupados e arrependidos com a forma como levamos a última conversa. Então, o Conselho me escolheu para escrever-lhe esta singela cartinha. Na verdade, quem me indicou foi o Ariano. Disse que como compositor de algumas bobagens “assim tipo Jovem Guarda”, em se tratando de cartinha, melhor seria eu. Aliás ele está louco pra te contar de uma palestra que fez na Estação Purgatório. O tema foi “O encontro do camelo com a cabra”. Também o Darcy insiste em falar do feriadão de Finados, que passou na Estação Inferno e voltou encantado, cheio de novidades. Tanto que está tentando convencer o Walther a passar uns dias lá para conhecer como é que “se vive e ganha dinheiro”. Disse que os brasileiros são muito bem recebidos, pois considerados especialistas em multiplicação, acumulação e queima. Eu e o Ariano demovemos o Walther da viagem. Não por medo de que ele não voltasse mais, sabemos ser empresário sério, que sabe como deve ser o capitalismo, mas ele está nos ajudando muito na captação de recursos para a abertura do botequim. O Darcy voltou de lá tão louco que, agora, tenta me convencer a fazer um show lá. Diz ser a plateia muito fogosa. Vou pensar. Tergiversei, reconheço, mas precisava ganhar fôlego para te contar a verdade sobre o Serafim. Lá vai: ufa! Fomos nós que o contratamos a peso de ouro para vir para cá. A negociação foi conduzida pelo Walther e a intermediação de seu amigo terráqueo Luiz Fernando, cara bacana. Ele custou mais caro do que o Neymar ao PSG. E com cláusula de volta quando terminar o contrato, na forma que quiser. Cachorro? Serpente? Mulher? Norueguês? Sem problema. Deus faz. Outra: conforme vocês aí vão saindo dessa pra melhor e chegando aqui para o velho dominó, já terão reservadas suas cadeiras e mesinhas cativas. Principal, o Serafim no balcão, onde sempre esteve. Podes crer, Ruizinho, ele relutou muito. Queria ficar. Todos os da antiga já estavam se acostumando a ir ao novo estabelecimento, só faltava você, estava dando dinheiro, o bolinho de bacalhau mais procurado de São Paulo. Quem, finalmente, o convenceu foi seu amigo. Não quis receber nada pela intermediação, apenas pediu que, depois que se mudasse para São Luiz do Paraitinga, vez ou outra, aparecessemos por lá para provar uma cachaça de um alambique de Jambeiro e tomar umas maltadas geladas e não artesanais, que ele é da tradição. Cara legal.

https://www.youtube.com/watch?v=FPy1xETeTZU]

Rui, contada toda a verdade, termino, com o Serafa aqui ao meu lado te mandando um beijo e um recado: “velho amigo, não se apoquente, quando aqui vier, o receberei com um rosado ovo quente”.

Do seu Melô.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=NVZb089OGVo

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Dominó de Botequim e o bar do Ceará

    1. Houve um tempo em que chamava os balcões de butecos (com u mesmo, é mais autêntico) de laboratórios de sociologia e antropologia. Atualmente, o conceito desses espaços evoluiu para Postos de Observação da Vida (POV). Não perderam a condição de laboratórios de sociologia e antropologia, os conceitos são complementares.

    Quarta-feira, iniciei como de costume a ronda dos butecos, começando pelo bar do Ceará. Não deu nem tempo de molhar o bico e o Ceará, óculos na ponta do nariz, mostrou-me duas folhas que lhe foram entregues por uma funcionária do SESC Consolação. Era o Dominó de Botequim, o Retorno – Capítulo 1, publicado aqui em 08.10.2017, e onde o bar do Ceará é citado. O Ceará, o próprio, queria saber quem é que tinha feito aquilo, não porque estivesse bravo, mas apenas curiosidade. Depois que parei de rir, perguntei se ele não tinha reparado no meu nome ali. Aí a confusão aumentou, não entendeu mais nada. Porém, fique tranquilo, foi tudo esclarecido. É o Dominó de Botequim rompendo fronteiras e correndo o mundo;

    2. Sobre o “Hora de reagir”, do Mino, publicado aqui dia 11, lembro-me do nosso último encontro no Al Janiah, no seu aniversário, quando vc falou que achava que não tínhamos feito tudo para que o Golpe se consumasse. Discordei, alegando que sim, tínhamos feito tudo, e enumerei todos os atos e manifestações de que tinha participado ou não. E acrescento, até tribunais de mentirinha já fizeram. Mas vc tem razão, faltou sim, faltou uma última e derradeira atitude: a luta armada. É o sangue correr na calçada, como repete incessantemente o Mino Carta. No mais, podem o Mino e o Eugênio Aragão nos chamarem de bananas, porque nada vai acontecer.

    No filme Nascido para Matar (Full Metal Jacket, Kubrik, 1987), a primeira parte se passa numa academia militar, onde um sargento tem de preparar garotos mal saídos das fraldas para a guerra (Vietnã), em apenas 5 ou 6 semanas. Para isso o sargento precisa ensinar os garotos, do desajeitado e limítrofe Pyle ao intelectual que usa o símbolo hippie Paz e Amor no capacete, a matar, a odiar os “amarelos”, a apertar o gatilho, a sacar a baioneta e enfiar no peito do inimigo. É preciso desumanizar esses meninos, fazê-los animais, senão vão sucumbir no campo de batalha, onde não há espaço para a grandeza de espírito.

    O Brasil está conflagrado desde junho/2013, para quem ainda não percebeu, já são mais de 4 anos, e  vai piorar muito ainda até as eleições, se acontecerem. Eles, a direita, foram treinados pelo sargento Hartman (R. Lee Ermey), estão programados para matar, e nós parecemos egressos de Woodstock, ainda acreditamos nas flores vencendo o canhão. Estamos em guerra, para quem ainda não percebeu. Depois que acaba a munição, a baioneta existe para cravar no peito do inimigo, como último recurso para não sucumbir. Não dá para chamar o inimigo para uma conversa. Não dá.

    Quer um exemplo da nossa ingenuidade, como somos todos bichos-grilo tardios pós-Woodstock? Os organizadores do evento deixaram a Judith Butler ir embora sozinha, nenhum tipo de apoio ou proteção, depois de tudo que antecedeu a vinda e durante a estadia da escritora. A milícia treinada pelo sargento do filme sabia até o número do voo. Organização & Método. Nossas ações se limitam a nos reunirmos no vão do Masp, nos darmos as mãos e sairmos cantando e dançando pela Avenida Paulista. Lá embaixo, antes de chegar na Roosevelt, a PM está esperando com a porradaria de sempre. Afinal, precisamos, com muito estoicismo, praticar a grandeza de espírito.

    3. Esperamos vc e a Cléo em São Luiz do Paraitinga, a partir de dezembro, vou lhe apresentar o Ditão Virgílio e a fábrica da cachaça Mato Dentro, versões ouro, prata e premium. 

      1. Fernando, caro

        O tempo tem sido curto, e quando passei por aqui ainda não tinha o seu comentário. Só hoje voltei, dando uma repassada. No caso do Ceará, surpresas assim acontecem com o Dominó de Botequim. A falta de comentários nos engana. Deixa-nos pensando que ninguém leu. De repente, vem um sinal lá do Maranhão, uma cidade de que você nunca ouviu falar. Quem sabe, antes do Ditão, de Paraitinga, você me apresenta ao Ceará.

        No post sobre o Milton, alguém faz um comentário muito interessante, por mim respondido, sobre essa inação que cobramos de nós mesmos e da esquerda em geral. Nos confunde, a falta de centralidade no alvo a ser combatido. O militar do Kubrik sabia o porquê de tratar aqueles meninos daquela forma. O mesmo ocorria no Brasil da ditadura militar. O inimigo era um, explícito, atingia os jornais, juízes, políticos, cultura, deixava claro seus crimes. Hoje, não. Vamos para ruas ou para o Araguaia contra quem? Nas ruas, possível o Dória nos fazer varrer ruas. No Araguaia, os ruralistas nos fazerem plantar soja.

        Agora, o pior: a massificação pela Globo, pelas impressas, pela direita que dominou as redes sociais (só o Nassif ainda não acredita nisso; acha que com simpósios e plataformas para 100 iniciados irá mudar o rumo irreversível que fluiu para a direita), bate em que tudo está melhorando na economia. Este o fato novo. De tanto repetirem a mentira, como fizeram com Lula e Dilma, ela vira verdade.

        Abração

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador