A incrível diplomacia que encolheu
por Gilberto Maringoni
O veto brasileiro à entrada da Venezuela no BRICS diz mais sobre Brasília do que sobre Caracas. Trata-se de gesto extremamente pesado, que erode qualquer laço de solidariedade rumo à integração latinoamericana, pauta maior da diplomacia durante os governos Lula I e II.
Ao mesmo tempo, cria arestas com o principal parceiro comercial do país, a China, em nome de interesses até agora misteriosos. A adesão do país caribenho colocaria sob abrigo do grupo quase dois terços das reservas mundiais de petróleo.
O fato das eleições venezuelanas terem sido para lá de suspeitas não é argumento válido. Se assim fosse, nosso governo deveria exigir a saída da China, Rússia, Irã e Arábia Saudita do BRICS. O Brasil não tem mandato de ninguém para conferir selo de democrata a quem quer que seja.
De outra parte, Lula não demonstra grande coerência de princípios democráticos desde que assumiu seu terceiro mandato. Exemplos não faltam.
Em 7 de dezembro de 2022, o recém-eleito presidente saudou o golpe de extrema-direita no Peru, dizendo: “Espero que a Presidenta Dina Boluarte tenha êxito em sua tarefa de reconciliar o país e conduzi-lo no caminho do desenvolvimento e da paz social”. Em 27 de fevereiro de 2024, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, o chefe do Executivo afirmou que o golpe de 1964 seria página virada e que não se deve remoer o passado. E em 12 de agosto último, lamentou a morte de Antonio Delfim Neto, czar da Economia na ditadura e signatário do AI-5 com as seguintes palavras: “Ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos”.
Ulysses Guimarães disse certa vez que todo gesto inútil em política é negativo. Qual a utilidade de se barrar a Venezuela? Qual o argumento? Quais os ganhos? O Brasil não demonstra a mesma agressividade contra o Estado terrorista de Israel, contra a ditadura cool de Nayeb Bukele, de El Salvador, ou contra o regime liberticida de Gustavo Noboa, no Equador. Por que?
O grande mistério do caso pode ser resumido numa única pergunta: que interesses até aqui pouco claros estaria o Brasil atendento para realizar essa verdadeira lacração diplomática?
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Sou pela integração latino-americana, acho que o povo venezuelano está injustiçado pela política imperialista de sempre, mas MADURO NÃO É A SOLUÇÃO para a Venezuela. Apenas um autoritário que não prepara um sucessor e, com a maior reserva mundial de petróleo (pesado) que dispõe, produz menos do que o Brasil. Vai desperdiçar está riqueza que em algumas décadas estará com muito menos valor, sem resolver os problemas sociais de seu povo.
Quem não quer se integrar é ele, que só cria confusão.
É quase um bolsonaro de esquerda. Já deu!
E qual a alternativa? Entregar o governo para aquela oposição? Regredir em tudo que já foi conquistado? E achar que a oposição não vai destruir nada?
Maduro pode não ser a solução, mas nem o texto acima trata dessa questão. Trata de outra maior e precedente.
Maduro sai , a Venezuela entrega o governo para a oposição e o petróleo vai de graça para USA. Solucionado o problema. O povo da Venezuela poderá, enfim experimentar maravilhas do capitalismo, tendo qualidade de vida e padrão americano de conforto. Depois, o Lula privatiza a Petrobrás, a Bolívia libera suas riquezas para o Elon, o Trump vence na américa e cima e o mundo será maravilhoso. Quem sabe mais adiante a China e a Rússia sofreriam fragorosa derrota e a população do bloco imploraria alimentos para a américa do norte?
O Maduro deu uma bola nas costas do Celso Amorim e o Lula: não cumpriu o acordo pré eleições de que iria disponibilizar as atas de votação – deixou o Brasil falando sozinho defendendo o resultado das eleições e não mostrou as atas. Portanto, o Maduro foi desleal e tem mais é ficar no banco esperando ser chamado, quem sabe daqui a alguns anos, e ver se ele aprende a não sacanear os amigos.
Antes é preciso pensar nos interesses do povo venezuelano. Maduro só interessa porque a alternativa colocada era pior para a grande maioria do povo. “Qual a utilidade de se barrar a Venezuela?”
Acho que essa queda que o Lula teve no banheiro de casa foi um verdadeiro livramento. O que ele pudesse dizer com a espontaneidade que lhe é característica foi substituído pela diplomacia no nosso velho e baldo “sherpa”, que se faz de ventríloquo do presidente. Lula mantém-se no governo pisando em ovos, nos próprios, aliás, e neste momento político em que se define quem assumirá o patronato sobre a américa de baixo, melhor será não se indispor mesmo. Quero crer a negativa do governo brasileiro quanto a participação da Venezuela nos BRICS tem o caráter de uma cortina de fumaça, eis que o entusiasmo com que Putin saudou o Maduro desmente a suposta má vontade do grupo.