Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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A luz amarela acendeu, por Francisco Celso Calmon

A abstenção foi a 2ª maior da história, só durante a pandemia da covid-19 foi maior, é sinônimo de desalento, desinteresse.

A luz amarela acendeu

por Francisco Celso Calmon

O processo eleitoral é sobretudo político, não se resume à contabilidade dos votos, junto com a conquista dos votos, temos que ver o saldo organizatório – quantos núcleos partidários e quantos comitês de luta foram criados, o quanto foi conscientizado o eleitorado, principalmente o seguimento popular. 

Devemos tirar lições e não pregar a fé e colocar lente de aumento no lado menos cheio do copo; a esquerda não morreu, é óbvio, mas está enferma.

O Partido dos Trabalhadores, que até o mandato de Dilma Rousseff, tinha constante aumento em números eleitorais, por exemplo, de 2004 a 2012 o partido passou de 409 para 625 prefeitos eleitos.  Caiu para 184 e alcançou neste pleito 252, sendo que em capitais foi descendo de 9, em 2004, chegou a zero em 2020 e agora um.

O PSOL que tinha um, está zerado.

Não são estatísticas alvissareiras, porém, também não são catastróficas.  

O MST foi o destaque político, elegendo 43 candidatos próprios, participantes do movimento, e apoiando outros, também vitoriosos, e comprometidos com a causa da reforma agrária.

Uma eleição corrompida pela mercantilização do bilionário fundo partidário, das emendas secretas do relator e parlamentares, da distribuição desigual pelas burocracias dos partidos, que nem as cotas cumpriram, e no fim da linha a compra de votos e a infidelidade partidária.

Poder econômico e o poder político permanecem desequilibrando a competição, de forma que não é inteiramente correto chamar o pleito de eleição democrática.

A situação da esquerda no Brasil e especialmente do PT não é conjuntural, está vindo de longe e acumulando perdas políticas, é uma crise estrutural.

Ao assumir parcelas dos poderes institucionais, a esquerda foi na mesma proporção abandonando a estratégia de transformação estrutural do sistema e seus quadros foram-se aburguesando com as benesses do poder.

O pragmatismo sem princípios é o revisionismo desses tempos pós muro de Berlim, que como uma praga foi se alastrando e destruindo os ideais de um novo mundo.

Lula abafou as bandeiras do PT e reduziu o projeto a 3 refeições.

É óbvio que sem o estomago cheio a cabeça não raciocina muito bem, contudo, para isso é necessário fomentar a consciência de luta de classe.

Em prol da frente governamental, o PT está sendo sacrificado.

Para um partido que desde o mensalão, passando pelo golpe de 2016, prisão de seu líder maior e a eleição corrompida de 2018, foi muito sacrificante ficar semivisível nestas eleições municipais, já estava convalescendo, seu sacrifício o tornou febril.

Aborto, edição de debates pela Globo, pegadinhas, armadilhas e crimes eleitorais como o do governador Tarcísio de Freitas, não são novidades, a questão é como prevenir. Como o TSE pode e deve fazer para impedir tais aberrações, como os partidos de esquerda podem e devem proagir?

Nunca vi um cafajeste atentar tanto contra o Estado democrático de direito, cometer tantos crimes, e continuar fagueiramente atingindo seu alvo principal, o Ministro do STF Alexandre de Moraes, e a PF e a PGR continuarem postergando a denúncia desse malfeitor Jair Bolsonaro. Ao postergar a denúncia desse malfeitor,  para pós-eleição, alentou à extrema-esquerda.

“O mais importante é que a democracia saia fortalecida, o eleitor respeitando as diferenças, os candidatos se respeitando, isso é muito importante. Vamos ver o saldo amanhã.” Disse Haddad, afirmando em seguida que não faria uma análise das eleições sem ter em mãos os resultados oficiais.

Se o fortalecimento da democracia implica no enfraquecimento da esquerda, então, não quero fortalecer essa democracia.

O PT vai para o centro ou vai conquistar o centro? O governo é de centro-direita e o PT vai ser de centro-esquerda? Qual é a sua identidade, afinal? 

O PT não está morto, está torto que nem a torre de pisa da Itália, o conserto não é horizontalizar, como Genoíno propôs, não funcionará, da mesma forma que os penduricalhos não funcionaram como desejado, é construir outra torre paralela, como este diagrama ilustra.

O povo necessita sonhar com um projeto de país, a esquerda precisa apresentar esse projeto, que seja alternativo ao sistema vigente, isto é: contraponto à democracia capitalista.

A abstenção foi a 2ª maior da história, só durante a pandemia da covid-19 foi maior, é sinônimo de desalento, desinteresse. Essa alienação é muito perigosa para a democracia brasileira.

Não podemos permitir que a esquerda leve a pecha de guardiã do capitalismo e da democracia burguesa. 

Ter como eixo a luta de classes é realizar o exercício permanente de FORMAÇAO, ORGANIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO – FOP – e, para tanto, a estrutura de comunicação pública de rádios e TVs devem ter uma programação diária sobre a história do Brasil, porque conhecer a verdadeira história do país, produz uma consciência de rejeição ao pretérito da colonização, escravidão, golpes e ditaduras.

Os partidos de direita, que estão no governo, se locupletam da existência do PT e do Lula nessa coalização e não o contrário.

Ambos já cederam os anéis e pouco a pouco estão indo os dedos.

Resgatar a identidade socialista e revolucionária da esquerda, o que significa também ter como nossa a luta contra a corrupção, inerente ao sistema, rever critérios de coalizações e estabelecer eixos consensiais de atuação, ter filtros de RH para ocupantes de cargos públicos, ter hegemonia qualitativa na condução do governo, consoante ao programa vencedor nas urnas das eleições presidenciais.

E sobretudo governar com o povo. Para isso, mobilizar periodicamente a população para fazer balanços das realizações e vetores futuros.

Modernizar o desenvolvimento organizacional da esquerda, reformar o ministério do governo federal, criar uma concertação dos partidos da centro-esquerda e elaborar uma estratégia para enfrentamento da extrema-direita.

Nem o golpe “com o STF e tudo mais”, nem a lava a jato, nem o resultado dessas eleições, nem a sanha extremista e golpista expressa em “Estamos varrendo a esquerda”, palavras do bolsonarista raiz, Tarcísio de Freitas, conseguirão nos eliminar, porque a esquerda jamais morrerá enquanto viger o capitalismo.

Não farão com o PT o que fizeram com o PTB.

Isso porque o partido ainda tem forte capilaridade, tem história de gerações e sabe se recuperar.

Da crise nasce a luz, a postura do avestruz e as técnicas de marketing é que não cabem nesse balanço. 

Kassab, um estrategista, Tarcísio, um operador tático do fascismo, são os vitoriosos e perigosos adversários.

A luz amarela está acessa!

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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3 Comentários

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  1. A mídia, toda ela, não cobriu eleição municipal.

    Cobriu São Paulo, cidade, apenas.

    Lula X Bolsonaro.

    Voto em Niterói/RJ, quase não vi notícias, mesmo na local, quando vi foi Lula x Bolsonaro.

    Os assuntos das cidades não foram discutidos.

    Que diferença faz votar ?

  2. O PT é vetor do projeto de sociedade democrática, seu fracasso é fracasso do movimento democrático!!! Essa análise é importante: burguesia é a negação da democracia, ela disfarça e engana com um liberalismo sob controle… Parabéns!

  3. O PT perdeu o rumo com as eleições de Lula. A cada eleição Lula mais se aproximou do centrão.
    Hoje um governo marcadamente de centro.
    O PT e a esquerda perderam o vigor da luta, da participação, do engajamento.
    A juventude está ligada no celular e foi abandonada, os velhos lutadores se acomodaram e a luta pelo sonho de um país grande, justo e inclusivo não existe.
    O discurso global reina sozinho sem contraposição.
    A quantas anda a comunicação social do governo ?
    Onde o povão será esclarecido sobre as meias verdades/mentiras completas dos globais ?
    Saudades de Brizola e sua tenacidade.
    Lula ? Vi manchete assustadora: O MAIOR DIPLOMATA DO SÉCULO . . .

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