Ao noticiar fim do programa anticrack de Haddad, jornais consultam Dória e não usuários

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O fim do programa Braços Abertos, criado pelo governo Fernando Haddad na capital paulista para o combate ao crack, com o fechamento de hotel que hospedava as pessoas em tratamento e, mais recentemente, o fim da remuneração que recebiam os participantes do programa por trabalhos em serviços de varrição de ruas, jardinagem e reciclagem, impactarão 262 usuários de drogas.
 
A medida do prefeito tucano João Dória foi, após criticar abertamente durante ainda a campanha à Prefeitura de São Paulo, extinguir um dos pilares do projeto de tratamento e de combate ao consumo de crack na cidade. A bolsa de R$ 500 era oferecida, a cada mês, aos participantes que trabalhavam para a Prefeitura, além de receber o direito de moradia em hotéis e alimentação.
 
O programa foi um dos que obteve melhores resultados em todas as gestões da capital paulista para por fim à chamada cracolândia, região da capital paulista que abrigavam, nas ruas, os dependentes da droga. 
 
Nas redes sociais, o ex-prefeito e criador do programa criticou a versão dada pelos grandes jornais, como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. “Os 262 usuários de drogas que perderam seu alojamento, hoje perdem seu trabalho, sem serem consultados. Crueldade sem limites. Folha e Estadão jamais os entrevistaram. Invisibilidade total!!”, publicou Haddad no twitter.
 
A Folha, por exemplo, deu amplo espaço para a visão de Doria e também do governador Geraldo Alckmin sobre a iniciativa de remunerar os participantes sem exigir deles a abstinência. Em maio de 2017, após colocar a polícia nas ruas da cracolândia, Doria acusava o programa de “dar mesada para pessoas comprarem droga”.
 
A reportagem chegou a ouvir o psiquiatra Dartiu Xavier, ex-coordenador do Braços Abertos. Mas a única fala do especialista mencionada pelo jornal foi: “com esse modelo, o problema não é resolvido. Tem que tratar também a exclusão social. É ridículo dizer que o programa continua”, havia afirmado. Nenhum usuário e participante do antigo programa foi consultado pelo diário.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Para que ter um programa de

    Para que ter um programa de ressocialização? 

    Se isto servir de exemplo, como é que a classe média paneleira vai ter drogado furtando ou roubando, assistindo em video, nos seus smartphones?

    Como ficarão os apresentadores de programas policiais, que chamam esse grupo de “vagabundos” e “ordinários”?

    E principalmente, como ficarão os programas contra as drogas (“pau nos drogados” não fica bem) mirabolantes e realmente caros? 

    Como ficarão as empresas que vendem serviços de consultoria ao Estado, criados por, quem sabe?, ex-comandantes policiais, políticos de direita…?

    Precisamos de problemas. Até que fiquem insuportáveis. Daí, propõe-se alguma coisa que se volta até contra o povo que acha que não tem nada a ver com a história. Mas é uma prposta no nível propagandeado como “inevitável”. 

    São programas que, sobretudo, tratam de pessoas em condição de vício como “classe perigosa”.

    Mas tem uns que são respeitáveis! Nunca vi programa contra drogas oriundas de qualquer Estado que, na ponta, tomasse bancos lavadores (sic) de dinheiro, se assim fosse necessário…. 

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