Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Cercado por fora, minado por dentro, por Francisco Celso Calmon

Para ser revolucionário não é preciso certidão de nascimento, nem atestado de saúde e nem pedir licença a quem quer que seja, é agir

Conhecer a história e ser revolucionário ou Cercado por fora, minado por dentro

por Francisco Celso Calmon

Lula é um líder político que transcende aos seus colegas do século 21. Sua genialidade se caracteriza pela sensibilidade em perceber, intuir e aprender com a realidade, bem como em saber comunicar-se com o povo. Sua formação teórica nunca foi a de um intelectual acadêmico e sim a de um intelectual orgânico, oriundo da classe trabalhadora e a ela sempre ligado.

 Lula postula o seu agir de um elemento teleológico. O que aprende em teoria é colocada a serviço de sua práxis política. Não sendo produto da academia, Lula aprende com a sua própria história e busca transformar-se.

Toda experiência nos ensina e as vezes nos transforma.

 Ninguém deseja a prisão para ninguém, pois em si já é uma barbárie, mas, sem pudor, pois fui prisioneiro político, posso dizer que também é uma experiência que, dependendo das condições, é muito rica e produz um crescimento singular.

Lula transformou a prisão num ambiente de estudos e de exercício físico, transformou sua solidão em reflexão do passado e do que lia e assistia. 

O ativismo político do passado não lhe possibilitou o tempo que a prisão o obrigou a ter e soube aproveitar muito bem, inclusive preparando o casamento com a sua nova paixão, a hiperativa e assertiva Janja, seu esteio emocional.   

Zé Dirceu, preso, escreveu suas memórias, de enorme contribuição à história.

Lula, preso, teve um ativismo limitado, à distância, mas foram ilimitados o seu aprendizado teórico e as lições que tirou da história geral e da que viveu como protagonista. 

Sua declaração no jornal argentino P12, foi um reconhecimento e uma mensagem de um valor, em si, revolucionário, embute aí a autocrítica que muitos da esquerda esperavam e a indicação de um novo caminho.

“Eu acho que se eu conhecesse o tanto de história que eu conheço hoje há 50 anos atrás, eu teria virado um revolucionário. Por não saber, eu virei um político democrata. A diferença é que tenho lado. ” (Lula).

Conhecer tanto a história universal como a do Brasil vai ao encontro da concepção de que “A história de toda sociedade até nossos dias é a história das lutas de classe” (Marx e Engels). Conceber a história cientificamente é reconhecer que a luta de classes é o motor da evolução, transformação e revolução social. 

A academia, detentora do saber, não faz revolução, mas estudantes e trabalhadores, juntos, têm o potencial de fazer, à medida que incorporem a teoria e a transformem em força material, em armas da crítica.

Para ser revolucionário não é preciso certidão de nascimento, nem atestado de saúde e nem pedir licença a quem quer que seja, é agir na teoria e na prática para a organização e consciência da classe trabalhadora, na perspectiva de seu empoderamento, com o objetivo da superação do sistema que aliena, oprime e explora a maioria esmagadora do país.

O conhecimento é um poder libertador. Conhecer os 388 anos de escravidão e os 29 anos de autoritarismo no Brasil é formar a necessária consciência de rejeição, base para elaborar um projeto de nação e sonhar com uma sociedade antítese desse passado traumático.

Extraio também da declaração do Lula o critério para aliança programática, ou seja, com aqueles democratas que têm lado, que estão comprometidos com os interesses do povo.

Lula em liberdade mudou a correlação de forças, contudo, não bastou, é preciso saber qual é o norte, o da crença infantil na conciliação de classes ou o da luta de classes, na perspectiva de que haverá um momento da história na qual a ruptura será inevitável, contudo, pode ser para retroceder (como o golpe de 2016 e o governo bolsonarista) ou para um novo poder, um novo Estado.

Humanizar o capitalismo é impossível, vai de encontro a sua lógica, razão histórica e modo de ser, amenizar seus efeitos deletérios será sempre fruto da luta de classes, são conquistas e não benesses, como a história NOS ENSINA.

Para fazer luta de classes é necessário fazê-la em três níveis, econômico, social e político.

O viés eleitoral não deve ser prevalente, porque é um jogo sujo, trapaceiro, aético, como recentíssimo tivemos o veto do presidente derrubado, inclusive por petistas, quanto às saídas de presos, que fazem jus perante à lei, quando não foi o Lula o atingido, mas os direitos humanos a grande vítima.    

A preparação para a ruptura não se faz quando a luta de classes assumir esse estágio de antagonismo, mas desde já e sempre, através das atividades perenes de formação, organização e participação (FOP) das classes trabalhadoras e da juventude estudantil.  

A luta atual é pela recomposição do Estado democrático de direito e defesa da soberania, portanto, nela só não entram os bolsonarista entreguistas e nazifascistas.

A frente ampla eleitoral virou frente amplíssima no governo, com os próprios derrotados, qual a lógica?

O resultado é que Lula está cercado por fora, minado por dentro.

O governo não funciona como um time!

É imperativo reconhecer que a frente amplíssima governamental não gerou resultados positivos, pelo contrário, está minando a credibilidade do governo e levando os eleitores do Lula à frustração.

Se somado todos os congressistas dos partidos que estão no governo em cargos de ministros e de segundo e terceiros escalões daria uma base majoritária de 289 deputados na Câmara e 48 no Senado, entretanto, como não há fidelidade ao governo do qual fazem parte, o governo tem uma oposição majoritária em ambas as casas.

Quem são os responsáveis pelo arranjo cujo resultado depende do Lira e/ou Pacheco ou é derrota certa?

O golpe de 2016 e a intentona de 8/01 produziram males trágicos à nação, e que não pode haver perdão aos golpistas, mesmo que façam autocrítica prática, sob pena de virarmos um povo sem dignidade e uma nação com o DNA da impunidade.

Os governos progressistas no Brasil foram historicamente cercados pelo três êmes – militares, mídia, mercado. Três êmes e mais o i, o i de imperialismo. MMMI, históricos inimigos da democracia e do bem-estar social do povo.

Nesta conjuntura acresce o Banco Central, corrompido pelo seu chefe, Bob Neto, o Congresso do ilegítimo semiparlamentarismo, chefiada por Lira, o jagunço da chantagem e por Pacheco, o falso democrata.

O negacionismo à ciência gerou o genocídio de pelo menos 400 brasileiros mortos que poderiam ter sido poupados, novamente o negacionismo à ciência produziu o descaso com as previsões de fenômenos climáticos de consequências calamitosas no RS, cujos responsáveis se não forem processados continuarão a perpetuar a sobrevalência dos interesses do capital sobre a vida. 

O Lula da prisão estava mais firme, lúcido e assertivo!

Esse espirito deve voltar para dar o cavalo de pau e reformar o governo com urgência, antes que o cerco e as minas internas se transformem em forca.

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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