Democracia em recesso, por Ricardo Mezavila

O negacionismo abstrai contaminados e mortos, nesses dias de cloroquina na farmácia popular, a democracia está em recesso.

Democracia em recesso, por Ricardo Mezavila

Vivemos dias completamente abstratos e sem precedentes na história da civilização moderna. O povo tinha a opção de votar em um professor, um economista, um advogado, uma ambientalista, um médico, um engenheiro, mas preferiu eleger um miliciano.

O professor, o economista, o advogado, a ambientalista, o médico e o engenheiro, segundo esse povo, praticavam a ‘velha política’, faziam parte de uma bolha ideológica que ninguém suportava mais. Era chegada a hora da mudança e viver o slogan: “Brasil acima de tudo e deus acima de todos”.

Assim elegeram aquele que acreditaram ser o ‘novo’, porque fazia discurso contundente sobre segurança pública, pena de morte, aborto, religião, família, demonizava a esquerda ‘comunista’ que implantaria kit gay e mamadeira de piroca nas escolas caso se elegesse, e entregaria o país aos interesses dos chineses.

Se esse povo se interessasse por política jamais votaria em um candidato que foi expulso do exército por terrorismo, que passou vinte e sete anos de bravatas e corrupção na Câmara dos Deputados sem apresentar projeto relevante, que encaminhou seus três filhos para o submundo das rachadinhas e do crime organizado, que ameaça e ofende mulheres, pretos, índios e homossexuais, que não tem decoro nem postura para ocupar o cargo, que não tem conhecimento sobre outro assunto que não seja o manuseio de uma arma e que não responde o porquê de Fabrício Queiroz ter depositado R$89 mil na conta de sua esposa.

Nesses dias subjetivos e estranhos, onde um veterinário assume o programa nacional de vacinas contra o coronavírus, onde o salário mínimo perde poder de compra sucessivamente, onde o negacionismo abstrai contaminados e mortos, nesses dias de cloroquina na farmácia popular, a democracia está em recesso.

Ricardo Mezavila é escritor, pós-graduado em ciência política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

Redação

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