Depois de dois anos de luta, Pinheirinho resiste como Palmares

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – O Pinheirinho tinha 1,3 milhão de metros quadrados; o Pinheirinho dos Palmares terá 645 mil. O terreno do Pinheirinho, em 2013, estava avaliado em R$ 187,4 milhões; somente as obras que começam hoje custarão R$ 169,7 milhões. O Pinheirinho já durava 8 anos; o dos Palmares começará em 2015. Falando em espaço, dinheiro e história, as contradições revelam o que cerca de oito mil moradores lutaram em um Brasil de histórica batalha por terras e lobby imobiliário.

“É lógico que essa lembrança da forma abrupta e vergonhosa com que tiraram os moradores vai ficar para o resto da vida, mas com esse empreendimento, eu tenho certeza, é uma forma de mostrar um modelo novo para tratar esse problema no país”, disse o secretário de Habitação de São José dos Campos, Miguel Sampaio, em entrevista ao GGN.

Toninho, o advogado dos moradores que os acompanha desde a primeira ocupação do grupo, prefere descrever como “para que nunca mais aconteça”.

O lançamento para a construção de 1.700 casas para as famílias do Pinheirinho que foram expulsas da ocupação, em janeiro de 2012, ocorreu hoje (25), com a presença de Dilma Rousseff, em São José dos Campos.

E é em nome desse “para que nunca mais aconteça” que o secretário de Habitação respondeu às acusações de que os ex-moradores estariam “furando fila” dos que esperam na lista do programa por moradia:

“Se estivéssemos atendendo só a um lado eu até concordava com essa afirmação. Não é verdadeira. Nós já contratamos mais de 3400 moradias para as pessoas que estão na fila, vamos contratar mais 2100 até o final de junho, vamos para mais de 5 mil. Ora, estamos resolvendo o caso do Pinheirinho e da nossa fila. Estamos trabalhando para solucionar até o final de 2015 e 2016, no máximo, uma boa parte da demanda do déficit habitacional de São José dos Campos”, anunciou o secretário.

O Pinheirinho dos Palmares terá espaços de área verde e de lazer, ruas largas, terrenos e plantas de casa maiores que os das construções padrão do programa habitacional – de 140m² passou para 160m², com casas de 46m². O bairro também será estruturado com escola estadual, centro poliesportivo, creche e unidades de saúde.

Para Sampaio, essas construções térreas do novo Pinheirinho serviram de exemplo para as próximas demandas da cidade. “O Pinheirinho acabou mostrando um novo modelo de moradia que nós passamos a exigir, modelo totalmente diferente que nós queremos apresentar para o país para a desocupação de áreas, sem precisar usar a brutalidade”, disse.

O advogado e sindicalista Toninho esteve durante todo o dia em reuniões. Por sua página em redes sociais, exprimiu no dia 22 de março – exatos 2 anos e 2 meses após a retirada das famílias – o sentimento da conquista do terreno pelos ex-moradores:

“Emocionante a assembléia do Pinheirinho hoje à tarde.
No rosto sofrido, a alegria estampada.
Muitos abraços, muita felicidade.

A vitoria é contagiante.

Lágrimas, só de alegria. Bombas, só dos fogos comemorativos.
Balas, só de caramelos. Gás, só da confiança no futuro.
Sem polícia, sem helicópteros, sem cassetetes, sem traumas.

A dor da desocupação virou cicatriz. Não se apagará.
Não será esquecida, para que nunca mais aconteça.
Lembraremos o passado para preparar o futuro.

O Pinheirinho dos Palmares é realidade.
Sua existência será sempre a prova viva de que lutar vale a pena.

Daqui algum tempo ninguém mais se lembrará do nome dos poderosos que destruíram o Pinheirinho. 
Mas saberão que o bairro é a memoria viva de uma luta.

Serão 1700 casas, serão 1700 monumentos a homenagear a capacidade de luta e resistência de um povo. 

Agora começa uma nova fase. 

Mas fica nosso compromisso de que, enquanto houver uma família que não tenha onde morar, nossa luta tem de continuar.”

A previsão para entrega das casas é dezembro de 2015, “antes do Natal, se Deus quiser”, concluiu Miguel Sampaio.

Durante a cerimônia, a presidente Dilma Rousseff pronunciou: “Quero dizer para as famílias do Pinheirinho. Quando vocês, daqui a um ano, entrarem na casa de vocês, entrem de cabeça erguida. Vocês não devem essa casa a ninguém, nem a mim, não devem ao governo federal, ao governo estadual, nem à prefeitura. Essa casa vem, primeiro, do dinheiro arrecadado do povo brasileiro. Segundo, vem também da luta de vocês. Vocês conquistaram essa casa. Vocês têm direito a ela, é uma questão de cidadania e é assim que o povo do Brasil tem de ser tratado”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. O que faz e fala um(a) estadista?

    Já havia comentado noutro post sobre Pinheirinho da beleza desta parte (último parágrafo deste post) do discurso da presidenta.

    Merece ou não merece a preferência do voto?

    E esta oposição medíocre, que está a anos luz desta beleza?

    Merece ou não merece desprezo?

    E que seja pelo voto!

     

  2. Eu não consigo entender porque o Governo Federal

    demorou tanto para ajudar o povo sofrido do Pinheirinho. Agora, não vai adiantar essa ajuda se o Govern Federal não condenar os resposáveis e se não dizer para o povo quem está ajudando, pois os tucanalhas podem muito bem dizer que são eles que estão ajuano as pessoas do Pinherinho. Mas como a Dilma e o PT são extremamente incompetentes no campo da comunicação com o povo, não duvdo que os tucanalhas use o PiG para dizer que são eles os que estão ajudando as pessoas do Pinheirinho.

       

  3. ““É lógico que essa lembrança

    ““É lógico que essa lembrança da forma abrupta e vergonhosa com que tiraram os moradores vai ficar para o resto da vida, mas com esse empreendimento, eu tenho certeza, é uma forma de mostrar um modelo novo para tratar esse problema no país”, disse o secretário de Habitação de São José dos Campos, Miguel Sampaio, em entrevista ao GGN”:

    Mentira.  Se fosse verdade ele nos estaria dizendo o que aconteceu com os despejados que nao tinham lugar nenhum pra ir e viraram sem-teto por varios anos.

  4. A Dilma, como sempre, com

    A Dilma, como sempre, com muita sensibilidade social provavelmente herdada do Lula. 

    Por outro lado a comunicação sempre falhando (Secom???). O noticiário se concentrou na inaugauração das casas em Baurú. Claro que o anuncio sobre Pinheirinho deveria ser no local, com pompa, em dia especial. Não quiseram melindrar o Alckmin ou o Nagi Nahas?

  5. Só espero que o PT tenha

    Só espero que o PT tenha aquelas imagens arquivadas dos moradores sendo expulsos pela policia do Alkimin.

    Durante a campanha eleitoral no programa do PT, é bom o eleitor  rever a covardia que foi feito com aquele povo sofrido.

    Quero ver o Alkimin defender o que ele fez.

  6. Vez por outra acompanho pela

    Vez por outra acompanho pela tv NBR as apresentações de Dilma em sua caminhadas Brasil afora, sempre levando a cada recanto deste país algum consolo, e dignidade, aos menos assistidos ao longo de décadas, mas essa de levar esse povo de Pinheirinho, tão sofrido pelo que fizeram com ele, foi emblemático, e deve estar fazendo um mal danado aos tucanos. Eduardo Suplicy subiiu hoje a tribuna para colocar o feito, porém não sem antes ler umas laudas sobre o passado recente do episódio triste; por fim, leu parte do discurso de Dilma ao povo, e ainda pediu que aquela papelada ficasse registrada nos autos da Casa. Suplicy, naquele jeitnho de amigo de todos, difere de Eduardo Carodoso, por exemplo, na medida em que representa bem o seu partido por convicção. 

    O fato é que a imprensa não divulga nadica sobre o papel positivo de Dilma. Se desejasse fazê-lo, matéria não faltaria, pois a cada dia a Presidenta está atuante, sempre discursando debaixo de muitos apalusos. Por essas e outras é que as pesquisas a mantem em posição de destaque, pelo menos até agora. 

  7. Mas os tucanos já querem

    Mas os tucanos já querem detonar contra Padilha por ele ter estado no palanque ao lado de Dilma. Isso mostra que Padilha já começa a incomodar muito essa tucanalha.

  8. não conseguiu!

    o melhor dessa história toda é que o governador de todos os paulistas não logrou o seu intento de transformar o Pinheirinho numa extensa plantação de chuchu.

  9. Antes tarde do que nunca, mas enfim… É p/ comemorar

    Nao quero dar ao meu comentário um tom de reclamaçao, é coisa a ser comemorada, e muito. Mas entristece pensar nesse povo desamparado esse tempo todo, e lembrar a vergonha da expulsao. 

  10. Sou de SJC e acredito que o

    Sou de SJC e acredito que o governo federal só pode atuar mais efetivamente na cidade após a posse de um prefeito do PT já que antes durante a gestão do PSDB não havia parcerias para o “minha casa minha vida”. 

    Passei aqui mais para comentar a reação de ódio que observo de vários de meus conterrâenos que comentam em jornais locais criticando a construção das casas e sua entrega aos ex moradores do Pinheirinho – provavelmente são os mesmos que aplaudiram sua remoção violenta a título de proteção do ‘direito soberano à propriedade’.

    Tudo o que questionam é ‘quem vai pagar esta conta’, que ‘tratam-se de vagabundos que não trabalharam para conquistarem sua própria casa, forasteiros’, enfim. É na imprensa externa à cidade que o assunto é tratado com profundidade, conhecimento histórico e sensibilidade. 

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