Passados cinco anos, viés político de junho de 2013 é estudado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Arquivo EBC

DA RBA

Junho de 2013 é parte de um movimento político e mostra disputa de ideias
 
Pesquisadores se reúnem para entender as chamadas “jornadas de junho”. Pautas democráticas de esquerda em convívio com o avanço da extrema-direita em um momento de rupturas de velhas instituições.
 
Por Gabriel Valery

Junho de 2013 entrou para a história do Brasil como um momento de ebulição da insatisfação popular que eclodiu em uma série de manifestações. Milhões de pessoas tomaram as ruas de todo o país, não apenas nas capitais, em protestos com pautas difusas, sem ordem clara ou comando definido. Os resultados dessas mobilizações são os mais diferentes possíveis. Da ampliação do uso do espaço público e dos pedidos por maior efetividade da democracia, até a ascensão de movimentos fascistas que chegaram a derrubar uma presidente eleita sem o cumprimento dos critérios legais.

As contradições das chamadas “jornadas de junho” foram tema de um debate nesta segunda-feira (11) na livraria Tapera Taperá, região central de São Paulo. A ONG Artigo 19 divulgou estudo sobre um dos resultados mais cruéis das mobilizações: a ampliação da repressão do Estado contra a liberdade de protestos. Também na roda de conversas, o cientista político Rudá Ricci, autor de obras sobre o tema, e Daniela Haj Mussi, doutora em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Junho de 2013 fissurou a normalidade institucional, ele sincronizou insatisfações. Isso não significa que o processo confluiu para um programa concreto. Vivemos neste ano um processo similar com a greve dos caminhoneiros. Foram explosões de insatisfações sociais. Não podemos negar as contradições das ruas. Tudo que vem da rua é movimento político e, se é político, é campo de disputa”, resumiu Daniela.

Ricci apresentou um panorama histórico que construiu o caldo necessário para a ebulição social de junho de 2013. “Vimos neste século, em todo o mundo, uma cultura anti-sistema. Um ideário que acabou possibilitando a argumentação de que junho pode ter aberto as portas para a extrema-direita que ai está. Mas, mais do que isso, o que junho faz é romper com todas as estruturas modernas dos séculos 19 e 20”, disse.

“Tínhamos estruturas verticalizadas, em que todos os membros de organizações tinham seus espaços preenchidos e, de forma unificada, seguiam decisões. O que temos agora, são organizações lacunares, com buracos. As pessoas não se identificam mais com organizações, mas com os impactos delas. s organizações são mais afetivas e as pessoas são movidas por situações espetaculares que atingem não pela organização em si, mas em função do impacto que causou o chamamento. Quase sempre não vão as mobilizações em função a um chamamento. Ao contrário, vou porque alguém que conheço chamou. É mais afetivo, emocional do que racional”, completou.

Para o pensador, essas rupturas influenciam negativamente nas antigas organizações de luta de classes. “Partidos, sindicatos. O Brasil tem um dos maiores índices de sindicalização do mundo. Mas agora há uma corrosão da legitimidade. As lideranças, desse sistema, não conseguem sobreviver por mais de dois anos. Talvez a última figura nacional estável com autoridade pública seja o Lula. De alguma maneira, junho inaugura essa fase de corrosão das instituições.”

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. As Jornadas dos Asnos, o

    As Jornadas dos Asnos, o pontapé inicial para todo o caos que estamos vivendo hoje…

    Não existe massa de manobra mais bem amestrada que o brasileiro. Meu deus, que povo mais medíocre e sem noção temos.

    1. segundo pesquisas

      segundo pesquisas internacionais somos 75% de analfabetos funcionais e campeões mundiais de ignorância.

      Hoje vi no jornal a gazeta aqui  do espírito santo a seguinte manipulação.

      Havia uma charge do Lula com uma placa onde estava escrito “51%  não votam em candidato apoiado por mim”.

      Ao lado havia uma coluninha onde estava ESCRITO que “neste quesito”  o Lula chega a 51%, o alckmin a 63% e o temer a 82%.

      Por que o desenho justamente do candidato com menor índice?

      Porque o VAGABUNDO do “jornalista” SABE que o brasileiro não gosta de  ler*(ao contrário do Lula) só vê charges e quando muito lê as manchetes. Então o “leitor” do jornal ao ver o desenho conclui que o Lula é bandido mesmo.

      *por isto é analfabeto funcional e ignorante.

       

  2. E a esquerda continua amadora

    Não faz sentido um partido como o PT não ter um sistema de inteligência e segurança próprios.

    A luta ideológica foi deixada de lado por muito tempo,  é preciso radicalizar nesta área, sem a  qual, a direita fascista e os neoliberais continuarão a ditar a agenda do país.

    O que aconteceu no Brasil, desde o caso do mensalão deveria ter servido para uma mudança de postura das forças da esquerda. Espero que ainda haja tempo.

     

    1. Verdade. E mais que isso, o

      Verdade. E mais que isso, o PT deveria repensar toda sua estrutura… deixar de ser um partido democrático e se tornar um partido revolucionário.

      É isso ou a extinção.

  3. Pós Venda do golpe!

    Os golpistas estão vendo a redução dos simpatizantes do golpe!

    O PIG seguindo esse linha de avaliações de 2013, estão usando as análises das manifestações para fazer, digamos algo como um trabalho de “Pós Venda do Golpe”!

    Estão distorcendo a bel prazer, misturando alhos com bugalhos para demonstrar que o veio depois, o golpe foi acertado!

    É incrível!

    Então saibam que o PIG continua vendendo a tese do golpe, que foi para melhor…

    Pelo menos para os bancos sabemos que foi…

  4. 2013 foi o início do caos. O

    2013 foi o início do caos. O movimento passe livre foi apenas usado para abrir a brecha ao fascxismo com aquela história dos vinte centavos. Mas fica a lição. O excesso de cobrança por direitos pode levar a falta de consciência de que nem tudo pode ser conseguido de um minuto para o outro. Se tivessem entendido que naquele mometo o Haddad não podia manter o preço da passagem do ônibus como estava, talvez não tivessem dado a senha pro iníco deste caos que vivemos. Talvez!

    1. Gostaria MUITO de saber por

      Gostaria MUITO de saber por onde andam e o que fazem os tais “líderes do movimento” passe livre daquela época.

      Por que não fazem uma reportagem mostrando isto para todos nós?

  5. Forçando a história

    O post tenta unir as manifestações de 2013 com o golpe atual, numa costura algo forçada e, ainda, atravessando o tempo em forma desconexa. No mesmo ano de 2013 Dilma chamou algumas dessas lideranças a Brasília e acertou duas boas cobranças destes movimentos: Incremento do programa “Mais Médicos” e destinar recursos do pré-sal para a saúde e educação. Isso esfriou o movimento. Ainda, tivemos as eleições de 2014, onde  Dilma voltou a ganhar. Ou seja, fatos relevantes interrompem historicamente qualquer narrativa trazida desde 2013. Embora houvesse a criação, financiamento e apoio (Lemann e outros) para movimentos de rua da direita como o MBL e outros que hoje reforçam as manifestações da direita.

  6. Jabuti na árvore

    Até hoje, vemos inúmeras tentativas de explicar as tais “jornadas de junho” como se aquelas manifestações tivessem algo de espontâneo, como movimentos nascidos naturalmente de dentro da população.

    A meu ver, as jornadas foram claramente financiadas por riquíssimo aparato bancado por empresários. Grupos como MBL, Vem pra Rua, Revoltados Online, etc. receberam muito dinheiro e apoio logístico.

    O Cartel da Mídia se mobilizou como nunca, não apenas na cobertura, para direcionar a narrativa, mas também para veicular milionárias campanhas como “O Gigante Acordou”, da marca Johnnie Walker, e “Vem, Vamos Pra Rua”, da Fiat.  Descobriu-se que o grupo Vem pra Rua era financiado por JP Lemann, o mesmo q apoiou o lockout dos transportes rodoviários na época.

    Evidentemente,  há muito mais por baixo do pano do que se pode enxergar a partir desses sinais óbvios. Portanto, a explicação para o jabuti na árvore é simples: alguém colocou ele lá. Só resta saber quem foi.

    O ponto de partida para solucionar o mistério é a velha dica: “follow the money”.

  7. Alguém do MPL participou do

    Alguém do MPL participou do evento para explicar se foi por má intenção, por analfabetismo político ou ingenuidade que o MPL acendeu o estopim da bomba que explodiu em 2016? No mais, pra que perder tempo debatendo as “jornadas de junho”. É só esperar mais 45 anos que a CIA abre os arquivos de 2013 e os brazileiros, reduzidos à miséria absoluta em 2063, saberão de tudo.

  8. Descobri por anda o pessoal

    Descobri por anda o pessoal do MPL: estão aqui em peso dando uma estrelinha para cada comentário que eles não gostam.

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