Governo tenta, sem sucesso, retirar caminhoneiros com ações

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]


Foto: Marcelo Pinto/APlateia
 
Jornal GGN – Desde que a paralisação dos caminhoneiros teve início, a defesa do governo de Michel Temer mobilizou cerca de 100 advogados públicos para entrar com ações contra a categoria e forçar a retirada deles das rodovias do país. O resultado disso é que, até agora, 23 liminares foram obtidas pelo governo e sem muito sucesso.
 
Isso porque as decisões judiciais, que foram 23 vitórias em cinco estados brasileiros, devem ser cumpridas pela Polícia Rodoviária Federal, que ressalta que só pode atuar em casos que a obstrução ocorre na via total das estradas. Os manifestantes, contudo, têm evitado obstruir completamente as rodovias, seguindo com as paralisações nesta sexta-feira (25).
 
Em uma das liminares contra os caminhoneiros chamou a atenção, nesta quinta-feira (24), pelo teor da decisão. Tratava-se de um despacho da Justiça Federal de Niterói autorizando que o Comando do Exército atue para a retirada dos manifestantes.
 
Nas paralisações que ocorrem no trevo da rodovia Niterói-Manilha e em Campo dos Goytacazes, o juiz federal William Douglas Resinente dos Santos, da 4ª Vara Federal de Niterói, autorizou o emprego das Forças Armadas para apoiar a Polícia Rodoviária Federal no cumprimento da sentença.
 
Neste caso, tratou-se de um pedido da Autopista Fliminense, que administra mais de 300 km da rodovia. Mas outras dezenas de ações estão sendo ingressadas pelo próprio governo de Michel Temer. Para isso, a AGU mobilizou cerca de 100 advogados públicos para entrar com ações.
 
Até agora, um resultado relativamente pequeno foi obtido pelo governo Temer: 23 liminares, e nem todas cumpridas. A Polícia Federal explica que em pelo menos cinco estados não foi possível desobstruir porque não houve o “bloqueio total” das vias. 
 
A informação foi dada pelas superintendências da PRF do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Pará e Goiás ao G1. Como as decisões judicias implicavam a retirada dos manifestantes em casos de obstrução completa, quando os caminhoneiros não ocupavam todo o trecho, a polícia simplesmente não pode atuar.
 
Para isso, os manifestantes fazem bloqueios em pontos das rodovias. 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. As forças armadas e os “bois do pasto” do plano cruzado.

    As forças armadas e os “bois do pasto” do plano cruzado.

    Li a pouco numa reportagem da revista Exame, revista que é um dos arautos do liberalismo na economia, uma notícia que mais me surpreendeu devido a mesma ser o maior absurdo que só tem comparação a um fato ocorrido em outubro de 1986, o famoso caso dos “bois do pasto“ do plano cruzado. Para não dizer que estou exagerando vou colocar o título, o subtítulo e dois parágrafos básicos da reportagem:

    “Entenda como as Forças Armadas vão agir na greve de caminhoneiros” (Título)

    “Ministro Raul Jungmman disse que decreto presidencial permitirá a requisição de bens para que alimentos, produtos e insumos cheguem à população” Sub-título.

    Da Redação, com AFP e Agência Brasil access time 25 maio 2018, 19p2 – Publicado em 25 maio 2018, 19p4

    “…..

    O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmman, afirmou que o presidente Michel Temer deverá editar um decreto para permitir a requisição de bens, prevista na Constituição, para que alimentos, combustíveis, medicamentos e insumos cheguem à população, em todo o país.

    Ele acrescentou que os militares têm o respaldo legal para assumir a direção dos caminhões dos grevistas, se assim necessário. “O artigo 5, inciso 25 da Constituição Federal permite a requisição de bens, caso se faça necessário, em condições de pilotar veículo para que o desabastecimento seja contido e voltemos a ter distribuição regular.

    ……”

    A notícia é a criação de um fato político que seria motivo de riso se não fosse trágico. Esta notícia dando ciência que as forças armadas poderão assumir a direção dos caminhões dos grevistas para permitir a redistribuição de bens a população, lembra em muito um evento ocorrido em outubro de 1986, ainda no governo de José Sarney, que se transformou numa piada de péssimo gosto, que está em vias de se tornar algo pior do que isto, numa verdadeira tragédia anunciada.

    No governo Sarney a hiperinflação estava chegando a passos largos, atingia patamares em torno de 18% ao mês, e para combater-se isto se lançou um plano de congelamento de preços chamado “Plano Cruzado”.

    Além do congelamento de preços os salários foram congelados com um pequeno aumento do poder de compra e mais outros tipos de ações que em pouco tempo se mostraram ineficazes por não tocarem em princípios básicos da economia e sofrer interferência dos próprios governistas. Porém na época os brasileiros, sendo nominados “Fiscais do Sarney” ainda acreditaram no plano, que se fosse livremente modificado pelos economistas do governo durante a sua ação tinham evitado coisas bem piores que viriam mais adiante, onde a inflação chegou a atingir valores de 80% ao mês na antevéspera do famigerado plano Collor.

    Mas o que estou querendo falar não é sobre a hiperinflação e os diversos planos que surgiram para combate-la (Plano Cruzado, (Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor e por último Plano Real), mas sim por um evento que foi utilizado pelos liberais contra o congelamento de preços que foi denominado os “bois do pasto”.

    O plano consistia num congelamento de preços de produtos que impedia a remarcação do preço de qualquer produto, para burlar este congelamento o capital utilizou as mais diversas formas de farsas, tais como o lançamento de “novos produtos” que eram os mesmos que os anteriores maquiados, a cobrança de ágio por fora e por último a simples não entrega dos bens de consumo para forçar o fim do plano e poder remarcar os preços.

    Próximo ao fim do plano os pecuaristas simplesmente deixaram os bois no pasto e se recusaram a vender, para combater isto, dentro da legislação da época alguns funcionários públicos sem experiência em manejo com o gado foram enviados a algumas explorações pastoris para cataram sem a mínima experiência várias cabeças de gado. O que aconteceu que estas cabeças de gado que foram capturadas eram de bois magros que nem estavam prontos para o abate, e mais uma vez a golpista Rede Globo, filmou uma cena em que funcionários atabalhoados correndo atrás de algumas cabeças de gado para coloca-las nos caminhões.

    O resultado foi que algum tempo após, depois das eleições em que o PMDB praticamente ganhou todos os governos dos estados, o plano foi desfeito gerando um segundo surto de inflação, sucedido por outro plano e a cada plano a inflação voltava com maior vigor.

    O que o governo federal está propondo agora, segundo a reportagem da Exame, é uma reprodução da cena dos “bois do pasto”, pois simplesmente algumas centenas de motoristas do exército, assumindo a direção de caminhões parados na estrada, para transportar alguma centena de caminhões, não sabendo bem para quem ou para onde talvez melancolicamente se reproduza a nova cena dos “bois do pasto” do governo Sarney.

    Seria uma verdadeira repetição da história como farsa, pois se na época deste plano Cruzado o povo brasileiro tinha ainda confiança no plano econômico no novo “boi no pasto” será provavelmente a reprodução farsesca da história, com o agravante de colocar as forças armadas mais numa situação desmoralizadora do que salvadora.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador