O Ken humano
por Felipe Bueno
Tirando Elon Musk e mais uma meia dúzia de pessoas, a verdade é que somos todos, eu e você incluídos, gente comum e invisível. Qual seria então nossa importância?
Experimente consultar o diretor britânico Ken Loach, 88 anos, que vem repetidamente dando respostas a essa pergunta faz mais de meio século – Kes, sua primeira obra para o cinema, é de 1969.
Vinte e cinco anos atrás, Loach lançou um de seus melhores trabalhos, À Procura de Eric. Pintado com o vermelho do clube de futebol Manchester United, o filme tem no elenco o mais britânico dos jogadores franceses, Eric Cantona, como ator e personagem, fazendo o papel de si mesmo e ajudando um carteiro a reencontrar a razão de viver.
Um filme sobre futebol?
Sim. Não.
Como em suas demais obras, Ken Loach conta uma história, real mesmo quando fictícia, próxima mesmo quando distante, cujas personagens são pessoas com existências ordinárias em suas lutas cotidianas por emprego, saúde, lazer, paz, voz, reconhecimento, pequenas vitórias e modestas felicidades – em suma, sobrevivência e dignidade.
Os cenários e os temas de Ken Loach são os mais variados: a guerra civil da Espanha; a independência da Irlanda; a violência do Estado britânico contra o cidadão comum a qualquer tempo; a uberização do trabalhador em qualquer lugar do mundo.
Quem conhece o trabalho de Loach encara cada filme com angústia: sabe que um novo título é uma certeza de bom cinema, mas com uma razoável probabilidade de a “história” não terminar bem. Muitas vezes, de fato, não termina.
Neste ano em que seu mais recente trabalho, O Último Pub, chega ao Brasil, há quem afirme que já conquistamos a estupidez irremediável; a violência, a intolerância e a pobreza de argumentos não são ameaças: fazem parte de nosso dia-a-dia, seja nos parlamentos tropicais, seja na campanha eleitoral doméstica em curso. Assim é aqui, igualmente lá fora.
Mas a esperança não pode morrer e precisamos lutar até o fim. Ao artista cabe descobrir caminhos e conduzir.
Premiado nos círculos cinematográficos para além do tapete vermelho, falta a Ken Loach ser conhecido e reconhecido como pensador obrigatório da sociedade contemporânea. Antes que seja tarde.
Segue uma pequena e modesta lista de cinco importantes filmes de Loach, enumerados por ordem cronológica:
Terra e Liberdade, 1995
Ventos da Liberdade, 2006
À Procura de Eric, 2009
Eu, Daniel Blake, 2016
Você Não Estava Aqui, 2019
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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Ken Loach é gigante. Indispensável. Destacaria também Riff Raff. Com ele nao tem filme ruim.