O país entrou em uma armadilha econômica das piores.
No mercado, criou-se a falsa expectativa de que o estouro do teto jogará o país no inferno. E com emissão de moedas, o país cairá na hiperinflação,
Ao mesmo tempo, há uma campanha irracional contra qualquer forma de aumento da emissão de moeda. E uma submissão total do jornalismo econômico aos mantras de mercado.
Essa é a armadilha.
O mercado não trabalha com diagnósticos: trabalha com narrativas. Cria pontos de expectativa em torno dos quais movem-se as apostas. A cada jogador não interessa o mundo real, o que é bom ou ruim para a economia, mas o que os demais jogadores imaginam que seja o mundo real.
É o caso da Lei do Teto. Criou-se o jogo de expectativas tipo: se houver rumores de que a Lei do Teto vai ser superada, venda; se houver discurso a favor, compre. Pouco importa se o aumento de gastos – extrapolando a Lei do Teto – é bom ou ruim para a economia. O que o jogador precisa saber é o que os demais jogadores acham.
Se houvesse uma mídia minimamente diversificada, que trouxesse um debate mais rico, poderia arejar a discussão e permitir superar visões estereotipadas da economia. E esse debate se dá na academia, nas universidades, nos grandes centros de pensamento econômico, entre economistas voltados para a pesquisa acadêmica, não economistas de mercado, cujas análises servem apenas como reforço para as estratégias dos operadores.
Em vez de trazer os grandes debates internacionais sobre a economia, as reavaliações da teoria econômica, à luz das crises da última década, o que se vê na mídia é um desfile de papagaios repetindo bordões com a plena certeza dos ignorantes.
Tome-se o caso da emissão de moeda. Trata-se de prerrogativa de governo, um debate que ocorre entre metalistas e papelistas desde as guerras napoleônicas e, nos últimos anos, ganhou novo fôlego, à medida em que o estudo das crises recentes vem obrigando à revisão de um conjunto de dogmas.
Criou-se o mito de que emissão de moedas gera inflação, partindo de uma premissa simplória: quantidade de moedas / disponibilidade de produtos = nível de preços. Ou seja, aplicando a a lei da oferta e procura para a política monetária.
Há duas contraindicações na emissão de moedas:
1. Quando se tem uma economia aquecida, excesso de emissões pode provocar pressões inflacionárias.
2. Quando se tem uma economia enfraquecida, dependendo dos canais em que se distribui a emissão, o dinheiro pode ser canalizado para bolhas especulativas. Foi o que ocorreu na crise de 2008 e está ocorrendo na crise atual. O FED (Banco Central americano) emitiu moeda para amparar o sistema financeiro. Sem demanda por crédito, devido à crise, o dinheiro é canalizado para mercados especulativos, formando novas bolhas.
Se a emissão for direcionada para a renda básica ou para obras de infraestrutura não haverá o menor risco de inflação, dado o grau atual de recessão da economia.
Certamente haverá pressão sobre produtos básicos – alimentos, setor têxtil, etc. Aliás, é o chamado falso dilema: para impedir pressão sobre produtos básicos, matem-se os pobres de fome. Mesmo nesses setores, as maiores pressões derivam de preços internacionais, câmbio desvalorizado, e liberdade total para exportação. Bastaria definir cotas de exportação, ou impostos de exportação, para a pressão inflacionar refluir.
No momento, está em andamento a estagflação – fenômeno para o qual alertamos há meses. De um lado, aumento em vários produtos básicos – alimentos, algodão, produtos químicos etc. – devido à política imprudente de não definir nenhum teto para as exportações. De outro, queda da demanda impedindo repasse de preços. Tudo isso cria uma margem extremamente crítica para as empresas dessas setores. Não se trata de reduzir margem para vender, mas simplesmente de não conseguir repassar os custos.
Se não houvesse a saída das exportações, os produtores seriam obrigados a reduzir o preço para continuar vendendo. Mas com o mercado internacional aberto, os produtos escoam para o exterior. Com esse movimento, cria-se uma dinâmica irreversível de estagflação, que não será resolvida com a volta da renda emergencial capada em 50%.
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