A economia russa e as sanções econômicas, por Luís Nassif

O estudo não avança em suposições sobre os impactos da crise nas demais economias e o papel da China. Ainda há que se baixar a poeira da guerra para cenários mais conclusivos.

Estudos da Brookings Institution avaliam que não haverá como a Rússia escapar de uma profunda recessão este ano, como consequência das sanções impostas à sua economia, em represália à invasão da Ucrânia.

Desde 2014, depois de sofrer sanções por conta da invasão da Crimeia, a Rússia vinha se preparando para enfrentar sanções do Ocidente. Hoje, está em posição menos vulnerável. Mas as sanções foram muito mais radicais do que em 2014.

O país é credor líquido nos mercados financeiros internacionais. No final de setembro de 2021, tinha US $1,62 trilhão em ativos contra US $1,18 em passivos estrangeiros. Parte desse superávit foi decorrência do aumento dos preços do petróleo e dos metais, que permitiu um superávit de US $120 bilhões, mais de 7% do PIB.

Em 2014 houve fuga de capitais externos devido às sanções com a guerra da Crimeia e expectativas negativas para a economia mundial. Mesmo assim, o país trabalhou para reduzir as vulnerabilidades externas, diminuindo a dívida externa em mais de US $200 bilhões.

Também houve moderação na aquisição de ativos privados no exterior. Todo o esforço do Banco Central se concentrou na acumulação de reservas cambiais que, em janeiro de 2022, chegaram a US $630 bilhões, 1,7 vezes o nível de importações de bens e serviços.

Desse total, US $311 bilhões estavam expressos em títulos de dívida, US $95 bilhões em depósitos de outros bancos centrais e no BIS (Banco de Compensações Internacionais), US $57 bilhões em bancos e estrangeiros e US $130 bilhões em ouro.

Em relação às moedas, 30% são referenciadas em euro, metade é em dólares (depois de terem atingido 46% no final de 2017), e 13% do RMB chinês.

A segunda maior categoria de ativos externos é o investimento estrangeiro direto (IED) no exterior, passando especialmente pela praça do Chipre.

Depois vem os investimentos em carteira (ações e títulos) e “outros investimentos”, no valor de US $400 bilhões. Desse total, US$ 150 bilhões são detidos por bancos russos e o restante são ativos de empresas não financeiras.

Do lado dos passivos, a maior conta é o IDE, os US $600 bilhões de investimento estrangeiro na Rússia.

Segundo esses estudos, os números subestimam ativos mantidos no exterior por residentes russos. E a maior parte desses ativos pertencem a entidades domiciliadas em centros financeiros, dificultando a identificação e o bloqueio.

Os bancos russos são credores líquidos em relação aos bancos de outros países, enquanto o setor não financeiro é devedor líquido. Em ambos os casos, houve necessidade de ajuda do Banco Central da Rússia para enfrentar as sanções de 2014. Obviamente, agora  a capacidade do BC russo ficou comprometida com as sanções aplicadas nas reservas.

A depreciação do rublo certamente vai pressionar a inflação. Até agora, as sanções têm procurado poupar o mercado de energia.

O estudo não avança em suposições sobre os impactos da crise nas demais economias e o papel da China. Ainda há que se baixar a poeira da guerra para cenários mais conclusivos.

Luis Nassif

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