
Em sua palestra no World Economic Forum, o diretor da Eurasia, Ian Bremmer, matou a charada sobre o sucesso tecnológico da China: a economia da escassez. Não são recursos abundantes que estimulam a inovação, mas a falta de recursos. Quando os Estados Unidos iniciaram o cerco tecnológico à China, a reação veio na forma da intensificação de pesquisas que culminaram com a revolução do DeepSeek, a inteligência artificial chinesa.
Não apenas isso. Vem outras surpresas pela frente.
Há algum tempo surgiu a guerra pelo lítio, o chamado “ouro branco”, fundamental para a bateria dos carros elétricos. A demanda mundial chegou a 920 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente, com a indústria de baterias representando 84% do consumo. Para este ano, a previsão é de um consumo de 1.246 mil toneladas.
Nos últimos tempos, no entanto, o mercado de lítio desabou. Em parte, devido à descoberta de grandes jazidas, que aumentaram bastante a oferta. Mas, principalmente, porque a China vai colocar em produção baterias de íons de sódio, mais baratas, mais amigas do meio ambiente e com muito maior oferta do que o lítio.
Empresas como a CATL e a BYD já anunciaram início da produção. Em 22 de novembro passado, a Huawei da China anunciou uma nova patente para baterias de íons de sódio chamada “Aditivos eletrolíticos e métodos de preparação, eletrólitos e baterias de íons de sódio”.
Quais as lições para o Brasil? O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) prevê investimentos em educação, inclusão do tema no ensino médio nas escolas técnicas. Mas seria interessante reviver um movimento fantástico da primeira década do século, do qual o Brasil foi um dos líderes: o movimento do software livre.
Havia comunidades espalhadas por todo o país, que se reuniam anualmente em fóruns em Porto Alegre. Os aplicativos eram desenvolvidos em cima do Linux, um sistema operacional de código aberto. Internacionalmente, foram desenvolvidos aplicativos que concorrem com os melhores aplicativos das big techs. E o grande impulso foi dado pela adoção do software livre no sistema público brasileiro.
Por exemplo, os notebooks do Ministério Público são preparados com Open Office, um aplicativo de código aberto que substitui o Office da Microsoft.
Com o tempo, esses softwares se sofisticaram, mas tiveram que enfrentar o lobby pesado das grandes empresas de software. Já contei aqui, em outra oportunidade, o convite que o então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos me fez, para aconselhar na informatização do Judiciário. Propus um levantamento dos melhores sistemas existentes nos tribunais estaduais. Depois, convocar os técnicos para montar um grupo de trabalho e desenvolver esses aplicativos em software livre.
O movimento parou na área técnica do Superior Tribunal de Justiça, composta por coronéis da antiga SEI (Secretaria Especial de Informática) que não abriram mão dos sistemas pagos.
Um bom início para o PBIA seria o Ministério de Ciência e Tecnologia promover, de novo, uma política de software livre para o setor público. E de convocação da briosa tribo do software livre para a grande batalha tecnológica nacional.
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Temo que a fase romântica do software seja passado. Nas gerações atuais, dos trinta pra baixo, é pouco provável a existência de gente idealista. Todo mundo na velha cultura de produzir riqueza, mediante o setor primário, e no lombo de escravo; e comprar, de caixa de fósforos e enxadas a jatinhos, particulares, obviamente.
ESSE PAÍS É UM MILAGRE.
?
Sergio Amadeu e ITF, uma iniciativa que tinha tudo para dar certo mas …. o lobby da Microsoft e o dinheiro envolvido foram mais fortes que o desejo de crescermos tecnologicamente e reduzirmos os custos de TI. Como brigar contra essa máfia super poderosa mundialmente? Talvez votando melhor nas próximas oportunidades.
Fui entusiasta do movimento de software livre. Me afastei do mundo da informática e vi com pesar essa ideia não conquistar mais corações e mentes.
Linux no desktop perdeu o tempo pra dar certo, tinha que ter um sistema fácil de usar pra concorrer com XP, por volta de 2002, que foi quando eu vi a explosão de lan house, seguida de computador sendo presente na casa de praticamente qlq pessoa. Se arquivos .deb ou .rpm que instalam com dois cliques fossem realidade num sistema gratuito, teria se tornado muito popular. Depois do smartphone tomar o lugar do PC, só ainda tem um PC quem usa pra trabalhar, e sem a maioria dos softwares profissionais, é muito mais difícil ganhar popularidade. Se fosse pra ter um movimento grande, seria o governo requerer Linux nos seus PCs, até pela segurança e tal.
A Valve ajudou muito trazendo os jogos pro Linux de maneira fácil, ainda n é o msm de ter os jogos nativos, mas foi um grande passo
Acho lindo alguém lembrar de nós depois de todo esse tempo…. Mas assim, o Movimento Software Livre morreu por falta de financiamento e daí seus membros mais ativos foram presas fáceis para o mercado. Comprados, silenciados e convertidos.
Hoje em dia não há mais “índios” nem tribos à disposição. A única forma disso se tornar realidade seria cobrindo os passes do mercado, pagar preço de Diamante e agir em duas frentes: produção de software e formação de uma nova geração de apaixonados por Software Livre onde seria considerado crime contra a segurança nacional mencionar as palavras Open-source ou código aberto.
Impossível.
Há anos estivemos juntos em um retiro Vipássana, e a leitura desse artigo me fez lembrar de você. Grata surpresa em encontrar aqui seu comentário! Sejamos otimistas, ainda tem muito por vir. Grande abraço!
Achei esse interessante: https://www.infomoney.com.br/colunistas/convidados/o-fenomeno-deepseek-nao-ha-lei-da-fisica-que-dite-que-ia-deve-ser-cara-diz-ceo-da-ibm/
Desenvolvedor de software tem boleto para pagar …
Até podem usar algum tempo livre para um 0800 mas no geral precisam de grana.
Se houver um financiamento para pagar o(a)s memino(a)s sai coisa boa.
Fora isto fica a dever para as bigs e começa a pressão pelo pago.
Mas não sei se tem clima, nem no governo para forçar software livre, na primeira “distração” rola uma licitação para comprar pago.
Muito bem colocado!
Embora tenha um erro comum no texto:
” Os aplicativos eram desenvolvidos em cima do Linux, um sistema operacional de código aberto. ”
Linux é só o núcleo de sistenas operacionais. Existem duas pilhas (de abstrações) principais que usam o Linux: o Android e o GNU (também chamado de GNU/Linux).
O GNU é propositalmente chamado de maneira errônea de “Linux” pelas Big Techs a fins de desviarem a atenção da luta por software livre, a qual a palavra “GNU” remete. Como “Android” remete ao Google e à gigantes mal reguladas, não chamam o Android de “Linux”, mas é Linux também.
Logo, ainda se desenvolvem muitos aplicativos para “Linux”, visto que o Android/Linux ainda é o SO mais utilizadl no mundo.
O movimento do Software Livre nunca parou, pensando em nível mundial. Se vc localiza o movimento do software livre ele pode até minguar num lugar ou outro, mas a nível mundial não vejo esse freio. É só ver o quanto se desenvolveu em relação à softwares de redes sociais, chats mais seguros, etc. Eu acho que o que falta é entrar na batalha ideológica. E um investimento em infraestrutura. Não creio mesmo que o problema esteja na parte de software (não só e nem é o principal). A luta é política mesmo, de tipo de sociedade que a gente quer viver.
Nassif, ainda ontem o judiciário Brasileiro anunciou lançamento de ferramenta de Inteligência Artificial para escrever decisões trabalhistas, com apoio do Google, o Chat-JT.
A notícia de hoje na Carta Capital é que o Google abandonou as políticas de diversidade para se adequar a Trump.
Como que vai ser o uso de um algoritmo fechado e proprietário, wue ninguém sabe o viés, quando o Google anuncia o abandono do Princípio do respeito àDiversidade que a Constituição Brasileira manda?
O momento é preocupante, ess a história de AI está virando uma Constituinte disfarçada para subverter a CF/88, no momento que os EUA adotam um viés fascista.
Deveriam interromper essas iniciativas de IA até que haja software livre, aberto e auditavel. Até o momento só o DeepSeek cumpre o minimo desses objetivos.
Boa tarde, prof. Nassif
Países como Reino Unido (MI6) China(MSS), Alemanha (BND), França (DGSE), Índia(RAW), Russia(FSB), Israel(Mossad), dentre outras agências substituiram seus sistemas de inteligência de softwares proprietários para Open Source.
No Brasil a Aeronáutica e a Marinha usam softwares de código aberto. O Exército ainda usa uma aplicação no seu Centro de Instrução em Guerra Eletrônica – CIGE em Microsoft SQL Server.
A migração está bem difícil.
Um abraço
Muito boa a matéria O Brasil passou na década de 80 por uma reserva de mercado que promoveu o desenvolvimento de muitas empresas de software atendendo inclusive a área do Unix com o Xenix. Muito disso foi assimilado e alguns editores de texto, planilhas foram promovidas pelo nosso mercado. Posterior pouco se desenvolveu. Vivemos agora uma realidade de insegurança de dados e a mercê de sistemas desconhecidos. É a hora de despertar para a ideia de tecnologias próprias.
AARON SCHWARTZZ VIVEEEE !!!
O Software Livre é uma necessidade gritante, e, cedo ou tarde, de adoção obrigatória.
Para a segurança de qualquer país no mundo, a adoção de software livre será imprescidível.
A ganância pelo controle das informações e abuso da manipulação, especialmente na “guerra
dos feeds” nas mídias sociais.
O controle do “feed” é a grande batalha das big techs. Os governos mundiais se quiserem continuar a serem soberanos, terão todos que adotar a plataforma do software livre.
Os entusiastas do SL estão de cabelos e barbas brancas com mensalidades de escola e boletos.
O SL foi um sucesso, mas, não para modificar o status quo e o colonialismo digital e sim para fortalecer e quem pode melhor usufruir disto, foram as BigTechs, simples assim.
Sr. Luiz F, você saberia e poderia explicar como o sucesso do Software Livre foi monopolizado pelas Big Techs? O que você acha que poderia ter sido feito contra essa apropriação privada de um esforço/sacrifício coletivo?
Falta uma rede social do governo , democrática, acessível e com qualidade científica e educacional, mas mais povão, no estilo Paulo Freire
Talvez poderia começar com uma rede social simplesmente educacional, voltada a servir como complemento das escolas
Seria interessante
Um. Ler que o Ministério Público ainda usa OpenOffice indica um erro de sua parte ou o MP não tem a menor noção de informática, por que o OpenOffice morreu há 10 anos e não tem atualizações de funcionalidades e de segurança desde então. Seu sucessor é o LibreOffice que vai muito bem obrigado, acaba de lançar sua versão 25.2 [1] [2] [3].
Dois. Apelar pela tribo do software livre é uma infeliz volta ao passado da época em que se achava que software livre era a panaceia do orçamento apertado e da oportunidade de dar um coice no Império do Mal. Malandros foram os administradores de sistemas do governo que enfiaram software “di gratis” em seus sistemas e pediram suporte pra “comunidade” na base do bejim-beijim. “di gratis até ônibus errado” diz a sabedoria dos morros cariocas. Embarcaram no ônibus errado.
Tres. Falharam as estratégias pilotadas pelo governo federal ao não criar uma círculo de negócios em software livre que pudesse blindar as iniciativas de SL do lobby da industria norte americana e seus representantes no Brasil, incomodada esta com a sistemática perda de receita e dano a sua imagem corporativa feita pela nossa querida “tribo”. Tanto fez que uma semana depois de assumir, Temer assina com pompas um contrato de laboratório de segurança Microsoft em Brasilia.
Quatro. “tempus fugit”: Estamos em 2025 e a industria de TI mundo afora já absorveu o que é bom e descartou o que é ruim do software livre. Não há mais espaço para tribos. O negócio é “business”, com ou sem custo de licença (“di gratis”). Inclui a solidez das empresas e das comunidade que suportam o software (base instalada). Já entenderam que software livre e software é tudo a mesma coisa, licença é custo marginal da solução completa. Ninguém pões missão crítica em software sem suporte ou empresa responsável séria.
Cinco. Como já comentado, há contas a pagar. É um equivoco achar que se escreve SL na base do amor à Humanidade. Balela. Escreve-se software livre por que há um problema a resolver (scratch your itch) e tendo o código fonte, pode-se consertar ou melhorar. Também se escreve SL para aprender ou mesmo ganhar alguma satisfação pessoal. Dali a achar que vai mudar o mundo com um pedaço de código escrito num domingo chuvoso vai uma distância.
Finalmente, com a quase totalidade do setor publico em nuvens das big-techs, somada ao setor de defesa calcado em tecnologias e serviços estrangeiros (starlink, sistemas israelenses, etc…), falar em soberania tecnológica via tribos de software livre é uma viagem e tanto. Lamento.
[1] https://pt-br.libreoffice.org/sobre-nos/historia-do-libreoffice/
[2] https://pt-br.libreoffice.org/baixe-ja/libreoffice-novo/
[3] https://books.libreoffice.org/pt-br/
Obrigado! Mensagem inspiradora, com muitas lembranças boas!
Acabei dando vazão e escrevendo a respeito também:
https://fsfla.org/blogs/lxo/pub/ainda-estou-aqui