Lula mostra como será a campanha eleitoral e seu governo, por Luis Nassif

Lula declarou que é PT, mas o governo não será PT, ou seja, apenas PT. É nessa estratégia que se insere o fator Geraldo Alckmin. Seria a prova maior de seu propósito de convocar uma grande frente nacional com vistas ao desafio da reconstrução do país.

lula vestindo um terno escuro e camisa branca sem gravata, durante coletiva de imprensa à mídia independente
Foto: Ricardo Stuckert

A entrevista concedida por Lula a portais independentes – a primeira de 2022 – ajuda a elucidar os pontos centrais de sua campanha presidencial, e o estilo que pretende adotar se eleito. 

A coletiva confirmou o que tinha antecipado no dia 20 de dezembro, no “Xadrez do início da maior campanha popular da história”. Os fatores-chave seriam os seguintes:

  • Pandemia, trazendo a sensação de orfandade em relação ao Estado.
  • Isolamento, provocando uma enorme vontade de sociabilidade.
  • Ultraje ao país, praticado diariamente pelo bolsonarismo, reforçando o sentimento de reconquista do país.
  • O desmonte de todas as políticas públicas, trazendo o sentimento de urgência.
  • Fome espalhada por todo o país, reforçando o sentimento de solidariedade geral.
  • Falta de perspectivas, responsável por uma depressão nacional.
  • E a peça central de um provável Lula 3 seria o aprofundamento da democracia e a aposta em todas as formas de gestão participativa, através da retomada das conferências nacionais e da convocação dos setores ligados a cada tema.

Na entrevista, Lula enfatizou esses pontos. Disse que no seu governo não haverá mais políticas produzidas de cima para baixo, por sábios, sem participação direta dos setores envolvidos.

Esse modelo pressupõe um amplo alargamento das bases de apoio e das alianças. Lula declarou que é PT, mas o governo não será PT, ou seja, apenas PT. É nessa estratégia que se insere o fator Geraldo Alckmin. Seria a prova maior de seu propósito de convocar uma grande frente nacional com vistas ao desafio da reconstrução do país.

Não adianta ser eleito, criar expectativas e não ter força política para implementar as mudanças, disse Lula. Só se conseguem as mudanças se houver uma base política forte no parlamento e nos estados. E seu governo terá dois grandes desafios, diz ele: colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda.

O ponto central será o foco no cidadão, especialmente nos mais desassistidos. Na entrevista, Lula deixou claro que discussões sobre política econômica, política monetária, Banco Central, irão para segundo plano. O tema central é tirar novamente o país do mapa da fome e da falta de moradia.

Não há intenção de agredir o capital financeiro, nem de inibir a participação do capital privado nos investimentos, pelo contrário. Mas haverá a necessidade imperiosa de que as demandas do mercado estejam amarradas ao objetivo de melhorar o país e a situação dos mais pobres.

Além da ampla participação da sociedade civil nas políticas públicas, Lula coloca todas as fichas de crescimento no papel do Estado, através dos investimentos públicos e da participação das estatais. Não anunciou reestatização de estatais estratégicas, mas deixou uma mensagem no ar: na época em que começaram a vender estatais alertei os compradores que, mais à frente, poderia entrar um governo com visão totalmente diferente sobre o papel do Estado. Petrobras, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica terão papel central na retomada dos investimentos, diz ele.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. Desafiou as bases em uma eleição que poderia ser ganha no primeiro turno e a base não estará sorrindo. Segundo turno será um pandemônio,irreconhecível deixa a muitos frustados, romantismo ideológico foi ter ido varias vezes a Curitiba gritar bom dia Lula sendo ameaçado nas ruas da cidade com a camiseta Lula livre, romantismo foi ir frente o fórum da barra funda e furar o pixuleco expulsando a tapas MBL e Vem pra rua,é de fato muito romântico apanhar da PM,levar spray de pimenta nos olhos e cassetete no lombo.
    O PT torna-se um Partido igual aos outros sem ideologia somente com interesse ao poder. Lamentável jamais imaginei ombrear com a pior direita do mundo e ouvir não ter problema conviver com um fascista infiltrado goela abaixo. Continuarei a combater e serei fiel aos meus princípios se essa indecência política prevalecer optarei por pagar a irrisória multa e não comparecerei a urna.
    “em outras palavras somos muito românticos”

  2. Quem assistiu a Nassif perguntar ao seu xará na coletiva sobre o papel do vice na chapa só pode pensar “mas que jornalista pessimista né? ”
    Até as pedras sabem que milícia, escritório do crime, CIA, Operação Condor com Geisel com tudo e outros espectros que rondam a trajetória nacionalista não são brincadeira, mas importa ter sorte…
    Não é somente quem se acha imune ao corona que deveria ser chamado de negacionista. Já deram tiros no busão do Lula lembram?
    Lula não vai mudar por mais mutante que o homem pode ser. Desde que começou no sindicato ele concilia, negocia, pauta e reinvindica. Na presidência se repetiu.
    Só o PT e sua base pode evitar a repetição dos erros e escolher para vice alguém que honre as lutas. No PT tudo pode acontecer, diz seu fundador.
    Lula é isso aí.
    Um homem ter que ser o que ele é.
    Cabe ao PT não ser otimista.

  3. Ignorando todas as revogações necessárias, isso não será possível sem revogação da emenda constitucional 95, da independência do banco central e da lei que dificulta a intervenção do presidente nas estatais.

  4. “Além da ampla participação da sociedade civil nas políticas públicas”, como se lê no texto do artigo, é algo muito bom e que deve ser feito.
    As políticas públicas não devem beneficiar os mesmos de sempre, ou os mesmos grupinhos de sempre.
    Não estou me referindo aos mais desassistidos, é óbvio, mas sim aos “fornecedores” dessas políticas públicas.
    Esses, nos governos do Brasil, ficam muito ricos enquanto os desassistidos continuam desassistidos.
    Por exemplo, programas de compras de livros.
    Quem escolhe?
    Aqui deveria haver realmente participação popular, liberdade de escolha.
    Mas não é assim.
    Se alguém se der ao trabalho de vistoriar a compra de livros de literatura dos últimos 20 anos, com exceção do governo desse execrável que está no poder, verá que são os mesmos de sempre os contemplados.
    Um programa assim não forma leitores, mas engorda o caixa dos contemplados de sempre.
    Espera-se que no próximo governo Lula, que trabalhamos para que ocorra, haja mais democracia na escolha de livros comprados pelo governo, dando oportunidade aos leitores e aos pequenos produtores de livros, sejam editoras ou autores.
    A grande verdade é que deixaram tudo na mão nos iluminados da Academia, mas os mais modestos professores e aqueles que querem ler de tudo (e têm o direito) – e não só aquilo que a academia unge, não tiveram vez.

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