O risco do golpe militar, por Luis Nassif

Será um penoso trabalho para limpar a imagem das Forças Armadas da sua guerra das Malvinas: o apoio incondicional a um governante inescrupuloso e sem noção.

Imagem de tanques de guerra
Imagem de tanques de guerra

Começa a se tornar consenso a interferência militar na política. No programa Roda Viva,  Steven Levitsk, autor do já clássico “Como as democracias morrem” alertou para o papel dúbio das Forças Armadas.

Dias atrás, foi noticiado que o Ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, contratou uma empresa para mapear as redes sociais, para saber quem e o quê se fala das Forças Armadas. Depois, a informação de que a Defesa pretendia ampliar a quantidade de urnas fiscalizadas.

De sua parte, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu montar uma força tarefa para acompanhar pari-passu as investigações dos militares. Sinal óbvio de que não há a menor confiança em uma suposta fiscalização técnica dos militares.

Mas as duas medidas mais efetivas contra o golpe são aquelas que afetam diretamente as pessoas físicas.

A primeira foi a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, de enquadrar os milionários que articulavam golpes. Ficou claro, a partir daí, que essa brincadeira tem implicações penais para as pessoas físicas.

A segunda medida foi a decisão do corpo técnico do Tribunal de Contas da União de solicitar ao Ministério da Defesa justificativas técnicas, com embasamento científico, para os gastos que fará com essa fiscalização das urnas. Significa uma espada de Dâmocles sobre o pescoço do general Paulo Sérgio quando houver a mudança de governo. Ele poderá responder, como pessoa física, pelos arroubos em relação às urnas. Hoje ele fala em nome da corporação. Em uma investigação do TCU responderá como pessoa física.

Mas não basta.

Como mostramos no documentário Xadrez da Ultradireita, ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e o centro de inteligência do Exército, adquiriram muitos sistemas, que lhes permitem um controle amplo sobre a vida digital do país. Esses sistemas poderiam ser acionados em uma guerra híbrida visando desqualificar o resultado das eleições.

De qualquer modo, acende-se um forte sinal amarelo em relação ao papel político dos militares.

Havendo mudança de governo, o grande desafio será todas as instituições voltarem para os trilhos da normalidade democrática. E, da parte das Forças Armadas, significa sair de toda atividade civil, recolher-se aos quartéis e discutir profissionalmente o futuro da defesa no país.

Hoje em dia, tem-se uma corporação atraída por cargos e salários, em combater supostos inimigos internos, e sem nenhuma preocupação em se modernizar para a missão da defesa brasileira, da Amazônia Verde à Amazônia Azul.

Não há a menor lógica da manutenção do modelo atual, de grandes quartéis no Rio de Janeiro, em Brasília, no Rio Grande do Sul. As guerras modernas exigem tropas enxutas, altamente tecnológicas, com poder de mobilidade.

Chegou a hora das Forças Armadas fortalecerem sua parte mais legítima, os institutos de tecnologia, de engenharia, a parceria com países vizinhos, o revigoramento da indústria de defesa.

Será um penoso trabalho para limpar a imagem das Forças Armadas da sua guerra das Malvinas: o apoio incondicional a um governante inescrupuloso e sem noção.,

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Os milicos não estão atrás de cargos e salários,estes,são somente acessórios para as grandes negociatas.
    Precisamos acabar com os milicos e termos militares,como apontado no post,qualificados e em quantidade compatível com os avanços tecnológicos.
    Um primeiro passo seria acabar com oserviço militar obrigatório,de alto custo e nenhum retorno para a sociedade,servindo apenas de penduricalho de mordomias ao oficialato,como motoristas,empregados e afins.além,é óbvio,do adestramento no lugar da educação.

  2. “Chegou a hora das Forças Armadas fortalecerem sua parte mais legítima, os institutos de tecnologia, de engenharia, a parceria com países vizinhos, o revigoramento da indústria de defesa.” De fato, já passou; mas sempre haverá tempo de recomeçar.
    Sobre o último parágrafo, darei minha opinião depois; mormente depois do período eleitoral.

  3. Manifestação lúcida do blog, mais uma vez.
    Igualmente me parece que é hora de repensar as instituições militares e suas funções.
    Passou o tempo do imaginário confronto com nossos vizinhos.
    Definir constitucionalmente suas funções de forma clara: a defesa do território, a soberania sobre nossa parte no Atlântico e na Antártica.
    Na realidade não há razões para a manutenção de tropas e instalações ainda sob a visão do passado.
    Hoje os grandes efetivos só servem para drenar recursos que poderiam ser melhor aproveitados numa visão moderna de usos e recursos de nossas FFAA.
    Treinamento, mobilidade e poder de fogo já eram decisivos desde séculos passados.
    Quais regiões são, hoje, mais sensíveis ?
    Amazônia e litoral.
    Exército e FAB com efetivos mais numerosos no centro do país.
    Marinha do Brasil centrada no Rio de janeiro.
    Na Amazônia efetivos altamente móveis em bases de porte menor a permitir ações de rapidez e contundência.
    Centros de estudos vinculados a universidades públicas e apoio à indústria de apoio às FFAA.
    Sendo leigo, me permiti estes comentários.

  4. Os militares permitiram, de forma omissa e cúmplice, que os alucinados das CACs se armassem para uma guerra civil;
    Foram coniventes com todas os desmandos do bozo, em troca dos privilégios da mamata livre (milhares de cargos e salários acima do teto constitucional, aposentadoria diferenciada e etc.);
    Trabalham continuamente para desacreditar as urnas eletrônicas, fabricando uma apuração paralela esdrúxula;
    Tudo está armado para que o caos se instale no país logo após a vitória do Lula.
    Aí, os militares mamadores se apresentarão como “redentores” para colocar ordem no caos urdido por eles mesmos de forma dissimulada. Se livram da pecha de golpista, viram a mesa e as regras do jogo, e asseguram a mamata da caserna, que é o que verdadeiramente interessa a esses “patriotas” hipócritas.
    Pode estar em curso um dos golpes mais sujos da história do Brasil.

  5. Li um artigo de um americano uma vez , a tese dele era que os militares deles nunca se meteram em política (golpes) pois sempre estiverem ocupados com guerras , nem que seja entre eles mesmos, e depois de uma guerra ficam um tempo discutindo sobre ela.

  6. Não precisamos limpar a imagem das forças armadas. Precisamos extingui-las é criar outras no lugar. As que temos agora são irrecuperáveis, pois estão inteiramente tomadas por sociopatas parasitas que tem como objetivo pilhar o país e escravizar e exterminar o próprio povo.

  7. Emulando Roberto Piva em o Século XXI me dará razão (se tudo não explodir antes):
    O século XXI me dará razão, por abandonar a crença de que precisamos de forças armadas, com sua tecnologia de extermínio & ferro velho, seus computadores de controle, sua moral miliciana, seus generais babosos, seus caça fantasmas internos, suas mordomias obscenas, seus salários pornográficos, seus foguetes&próteses penianas, suas explosões de adrenalina, seu terrorista presidente, seus torturadores venerados, seus ministros ignorantes, suas fardas vitoriosas, suas medalhas brilhantes, seus tanques fumacentos, sua Viagra superfaturada, seus rios de leite condensado, suas marchas de desgosto, seus quarteis embalsamados, seus mares de lama, seus mananciais de desespero.

  8. Tem que criar uma Guarda Nacional bem pequena e na qual seja ensinada o que é patriotismo de verdade (POVO e justiça social e não símbolos). Depois é só fazê-la crescer lentamente, tirando os R$s das FFAA.

  9. O MUNDO SE DESPEDAÇA
    ? Agora, nesse exato momento, todas as FFAAs do planeta estão atentos ao possível enfretamento catastrófico entre Rússia e a OTAN. Tal conflito não ficaria restrito apenas ao território da antiga URSS, mas se espalharia até as bases da OTAN, Europa inclusa.
    É possível realizar eleições no meio dessa situação?
    Estou perguntando. Mais importante que saber a resposta, é compreender a pergunta.

  10. trabalho árduo. Não só as forças armadas vão precisar de reformas. Tem bastante trabalho também a ser feito no judiciário e no ministério público.

  11. Nassif, o comentário está perfeito é pertinente ao que as forças armadas do Brasil estão fazendo e agindo, fora de suas atribuições.
    Um fraterno abraço

  12. Minha preocupação é outra, Nassif.

    O país precisa se preparar para um banho de sangue, pois milhares de fanáticos psicológica e emocionalmente dependentes do encantador de assassinos Jair Bolsonaro ficarão inconsoláveis com a derrota do seu mestre. Muitos deles cometerão suicídio. Alguns, poucos suponho, cometerão homicídios. O próprio Bolsonaro e seus filhos podem inspirar uma catástrofe se matando por causa do medo de ser ENJAULADOS em 2023.

  13. Principal paragrafo do artigo é: não há a menor logica…..é óbvio q esse sistema de defesa já morreu faz muito tempo. Se militares quiserem se manter uteis q migrem rapidamente para Amazônia e outras áreas de fronteira.

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