Os economistas de Lula, por Luis Nassif

A sinalização de um futuro Ministro da Fazenda deflagraria uma discussão infindável sobre temas econômicos, jogando para segundo plano seu foco principal, que é o combate à miséria e a retomada do desenvolvimento.

Um dos grandes desafios de Lula, em sua campanha presidencial, será administrar os egos do partido. O favoritismo do candidato já acendeu a centelha de uma disputa surda para ver quem consegue emplacar o próximo Ministro da Fazenda.

A rigor, há dois grupos em disputa, o de Aluizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo (o think tank do PT) e Gleisi Hoffmann, a presidente do partido. E há Fernando Haddad, candidato ao governo de São Paulo, mas que poderá se habilitar ao Ministério da Fazenda, em caso de derrota.

Mercadante tentou emplacar como candidato o ex-Ministro Nelson Barbosa. Mas há grande resistência no partido, depois da atuação de Barbosa em 2014 e 2015. Grupos do partido acham que ele se aliou ao mercado contra Guido Mantega e endossou acriticamente o pacote Joaquim Levy.

Lula procurou desautorizar Mercadante ao seu modo. Primeiro, incumbiu Guido Mantega de escrever o primeiro artigo sobre as propostas do candidato. Não foi apenas para reabilitar Mantega – que saiu machucado de sua atuação em 2014 – mas, principalmente, para desautorizar as tentativas de Mercadante sem sinalizar qual seria sua preferência.

Depois, na coletiva de quarta-feira, à chamada imprensa independente, levou consigo Gleise e se permitiu algumas piadas sobre Mercadante durante o almoço. Agora, há um movimento de Mercadante e Gleisi atrás de um economista ministeriável para chamar de seu. 

Provavelmente essa disputa ficará pairando no ar. Primeiro, porque Lula não necessita de um posto Ipiranga, como Michel Temer ou Jair Bolsonaro. Na coletiva ele demonstrou ter ideias claras sobre o que pretende. E uma de suas estratégias será esvaziar as discussões sobre Lei do Teto, política monetária, Banco Central etc. A sinalização de um futuro Ministro da Fazenda deflagraria uma discussão infindável sobre temas econômicos, jogando para segundo plano seu foco principal, que é o combate à miséria e a retomada do desenvolvimento.

Em relação aos temas econômicos, não haverá mais discussão sobre mercado x Estado. A onda mercadistas se esvaziou após os fracassos de Temer e Bolsonaro-Paulo Guedes. A grande discussão será sobre a forma de política de desenvolvimento, para não repetir erros de políticas passadas.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. O Lula está correto em diminuir o ímpeto do arrogante, prepotente e pouco confiável Mercadante (a parceria do Mercadante do Zé Cardozo…). Muito cuidado, Lula.

  2. Me permito discordar sobre o que será motivo de discussão. TUDO que Lula fizer será criticado pela imprensa corporativa (ou deveria dizer mercadista?), exceto se ele implantar medidas neoliberais. No Brasil o neoliberalismo está muitíssimo longe de ser assunto superado, ao contrário, é a corrente principal e dominante do pensamento econômico “main stream”. Portanto, quando e se Lula propuser o fim do teto, uma contra-reforma trabalhista, maior intervenção do Estado, etc, será motivo de crítica e contestação diuturna. Seus economistas, apesar de vários serem PHDs e respeitados internacionalmente, serão tratados pelos moleques do mercado nas tvs, rádios, jornais, revistas e internet como boçais e energúmenos. Eu mesmo ouvi um “comentarista” na rádio JB, faz uns cinco anos, chamando os ministros da Fazenda do PT por esses nomes, no rádio, em horário nobre de rádio, em tom de ódio. Isto cinco anos atrás, imagina agora, quando eles perderam totalmente a vergonha e a compostura e acham que cuspir na cara dos outros é um direito inalienável de todo burguesote fascistinha!
    O próximo governo vai ser, para a direita neoliberal e fascista brasileira, ancorada, como mostram as pesquisas, na classe média alta e na burguesia nacional, o último campo de batalha, o Armagedon deles. Ou vencem e destroem – mais uma vez – as esquerdas, ou serão engolidos por uma mudança do equilíbrio de poder que vai solapar seus privilégios e poder por ao menos uns cinquenta anos, até que todos já tenham esquecido como era antes e aceitem novamente seus discursos escatológicos, nos dois sentidos.

  3. Nassif,
    lulala é macaco velho, os resultado de seus oito anos de governo não dão margem a qq dúvida quanto à capacidade do torneiro mecânico para lidar com este tema tão difícil pra un e tão simples pra outros.
    Sem mercadista na área, fica muito mais fácil dar certo.

  4. É tão engraçado, para não dizer incompreensível, as teimosia dos detratores de Lula em afirmar que ele seria incapaz de governar este país que ele, com grande sucesso e merecido reconhecimento (mundial), já governou duas vezes e ainda fez sucessora.
    Só dois sentimentos justificariam o “pânico” de seus críticos: ou o ódio ou a inveja. O ódio é gratuito, fruto da maledicência que tantos humanos apreciam; a inveja será própria da incapacidade evidente daqueles que com ele concorrem.

  5. Num possível governo de LULA ele tem que desconstruir a má fama que os bolsonaristas lhe impingiram de ter sido no seu governo que mais se roubou nesse país. Para isso, no meu entender, acho que deve apresentar, com números e estudos comparativos entre o desempenho de seu governo e os de outros na Educação, na Saúde, no Ambiente, na Segurança, na Segurança Alimentar, na Economia Solidária, nas políticas que contemplaram as minorias( Mulheres, Pobres, Negros, Indígenas, Sem Terras, Sem Tetos e População LGBTQIA+). Além disso, divulgar todas as conferências, inclusive, das quais em muitas fui Delegada, onde a composição da delegação era de usuários, governo e empresários, onde os segmentos da sociedade levavam suas experiência nos temas tratados e de onde advinham inúmeras propostas que norteavam as Políticas Públicas necessárias para atender a toda a população. Resumindo, LULA tem que trazer o POVO para ajudá-lo a governar.

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